terça-feira, 27 de dezembro de 2011
2012
No Alentejo a rede é reduzida e, por essa singela razão, neste final de ano a produção desblogueada reduziu-se em grande escala fazendo com que, pela primeira vez em cinco anos, no final do ano haja menos posts do que no final do ano anterior. De qualquer forma, o prazer em manter este blog mantém-se inalterável e, unicamente por essa razão, na ausência de algo extraordinário, para o ano cá continuaremos. Desejo a todos os que me lêem um 2012 em grande e com, esperemos, mais motivos para sorrir do que para desesperar. Até para o ano.
POUPANÇA EM TEMPOS DE CRISE
Para ter uma ligação de televisão por cabo - cheia de canais desinteressantes, dos quais, na maior parte, nem sequer o nosso olhar lá passa e quando passa é para ver séries desconchavadas ou desactualizadas - acompanhada de acesso à internet com uma velocidade decente e capacidade ilimitada de downloads para que, de facto, se possa ter acesso à produção televisiva de jeito que se faz por esse mundo fora, fica-nos a instalação gratuita e uma mensalidade na ordem dos 50€ por mês (onde se inclui uma ligação telefónica de rede fixa). Abdicando da televisão por cabo, adquirindo uma antena por 30€, fica-se com os quatro canais gratuitamente e por apenas 19€ por mês tem-se a tal internet que nos liga à cultura decente que por esse mundo é transmitida (e ainda se mantém o tal telefone de rede fixa). É uma poupança de quase 400€ anuais. Para os mais aguerridos do zapping, investe-se cerca de 80€ num prato-antena e, mais uma vez, fica-se com acesso gratuito a todos os canais por satélites de sinal aberto, por exemplo o ASTRA onde se incluem coisas como o Eurosport, a CNN ou a SKY News. Ao caminho da libertação do lixo com que nos inundam a mente ainda se soma a satisfação de passar pelos Oliveirinhas da vida e, de dedo do meio bem estendido, gritar bem alto: daqui vocês não levam nada.
REVOLUÇÃO TRANQUILA
A grande vantagem de nos revoltarmos contra a prepotência e a incompetência das operadoras de cabo recusando os seus serviços e limitando-nos a uma antena que nos oferece os quatro canais é, precisamente, perceber que os outros canais, e estes também, não fazem assim tanta falta. Mas tu queres ver que há uma data de coisas que assumimos como fundamentais que não são assim tão importantes?: é a pergunta que fará tremer o mundo.
OS GUARDIÕES DO INFERNO
Quando vejo as imagens televisivas dos lares de idosos repletos de seres humanos que, na sua desgraça, já apenas esperam, inunda-me uma tristeza e uma revolta: tristeza, por aquele destino trágico que, sendo agora o deles, não deixará também de, daqui a uns anos, ser o de todos nós que lá chegarmos; revolta, por aquela gente que não respeita nada nem ninguém, nem mesmo aqueles que lhes deram a vida; são esses os verdadeiros inimigos da sociedade: os guardiões do Inferno. Talvez tenham o mesmo destino.
A CEGUEIRA NATALÍCIA
Apressados, decididos e orgulhosos os consumidores acumulam sacos e saquinhos pintados com as cores que agora, inadvertidamente, na sua pressa, na sua decisão e no seu orgulho, ostentam e publicitam, tal como um outdoor de dois por dois, o orgulho, a decisão e a pressa que os senhores do mundo têm em vender mais pressa, mais decisão e mais orgulho: é a modernidade. No entanto, mal sabem eles, os consumidores ávidos da novidade, que a sua pressa, a sua decisão e o seu orgulho derivam apenas da sua ignorância de que a pressa é inútil, a decisão uma ilusão e o orgulho uma vergonha. Só falta darem uns high five's valentes e sorridentes nas mãos calejadas e envelhecidas que, do chão, embrulhadas em velhos cobertores esburacados, se lhes estendem numa súplica desprezada: a ignorância, acima de tudo, é cega.
NÃO LUGAR
Numa certa deambulação natalícia, dei por mim à porta das nossas memórias e por entre a tristeza constatei o óbvio: o cemitério é o sítio onde os mortos também não estão.
PORTUGALIDADE
Como Português eu sou mais europeu do que africano, mais europeu do que asiático e mais europeu do que sul ou norte-americano; no entanto, como Português, sou também africano, asiático e americano. E isto os bárbaros do norte da europa não sabem nem conseguem perceber o que é.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
A FOLIA DO CAOS
Comecei, juntamente com os meus dilectos amigos Francisco Corboz e Francisco Felizol, um novo projecto bloguista, de seu nome A Folia do Caos, e por ali andaremos a passear por terras mais ou menos ligadas à filosofia.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
RUIVO, O ANTIGO
Ao subir a Rua da Atalaia, três crianças ocupavam-se a dar chutos mais ou menos acrobáticos numa bola meio cheia rumo a uma baliza imaginária. Dada a excitação e a energia, a brincadeira não durava certamente há muito. Um, mais baixo, ruivo e com o cabelo áspero e grosso, acerca-se da bola e numa pirueta mais afoita, pontapeia-a imaginando, decerto, um dos ângulos superiores da dita baliza; no entanto, contrariamente aos seus intentos, o pé acerta mal no esférico e a bola ao invés de subir vertiginosamente rumo ao indefensável ponto idealizado, acaba por, numa rosca, rodopiar sobre si própria e mal sair do sítio de onde estava. O autor do remate, encavacado, ferido no orgulho, assume com coragem "Xiiiii que mal...", e abdica voluntariamente, por força do seu desaire, de disputar a próxima jogada. Um dos outros dois, apropria-se da bola, chuta com maior eficácia do que a do ruivo e, após o golo celebrado com a camisola por cima da cabeça, pergunta, a suar e arfando da excitação, ao terceiro elemento da troika futebolística: "Tu és o Messi, não é?". Já o outro, quase ofendido, responde-lhe que não, não é o Messi mas sim o Ronaldo. "Ah, okai... Então sou eu o Messi" decidiu o goleador. Nesse momento tanto o Ronaldo como o Messi voltam-se para o ruivo que, à parte, se mantinha calado, como que sem identidade. "E tu quem és?", perguntou-lhe o Ronaldo. "Eu?", começou ele para ganhar tempo. "Eu... eu sou o Ronaldinho". E num assomo de dignidade acrescentou: "mas o antigo", como quem dissesse 'o dos velhos tempos'. E dessa forma astuta saiu ele da impossibilidade de partilhar o trono da glória futebolística contemporânea onde, fruto da realidade empírica, apenas havia espaço para dois. Escolhendo o antigo, escolheu outro tempo e, fora do tempo, já não tinha de partilhar a glória com ninguém. Confiante, Ruivo, o antigo, correu para a bola e, disputando o próximo lance com a galhardia dos invencíveis, jurou para sim mesmo que no próximo remate não voltaria a falhar.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
A NECESSIDADE DA CRENÇA
"A fé da bem-aventurança. A virtude só dá felicidade e uma espécie de bem aventurança àqueles que têm fé na sua própria virtude, mas não àquelas almas mais subtis, cuja virtude consiste numa profunda desconfiança de si próprias e de toda a virtude. Donde, afinal, também aqui «a fé dá bem-aventurança» - e não a virtude, note-se bem!"
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
CLASSE
"As mal sucedidas. O sucesso falha sempre àquelas pobres mulheres que se mostram inquietas e inseguras e que falam demasiado em presença daquele que amam. Pois aquilo que seguramente mais seduz os homens é uma certa ternura discreta e fleumática."
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
LA FLORIESTA NEGRA
- És uma raposa velha...
- Raposa velha? Qual quê... raposa antiga.
Rimos. O táxi continuou a rolar pelas ruas de macadame rumo ao Largo do Caldas. Entretanto, uma dúvida assaltou-me: - Mas... diz-me: fizeste a tropa nos states?
- Fiz, pois - respondeu ele com prontidão e, mantendo aquela ponta de gozo que caracterizava o seu discurso, não deixou de escapar a um certo orgulho que conferia maior seriedade àquela afirmação.
Interessei-me definitivamente pela questão: - Ah foi? Em que especialidade? - indaguei.
- Em minas... reconhecimento de minas - respondeu. Exprimi a minha admiração e, talvez por assaltar-me a dúvida quanto à veracidade de tais afirmações permaneci calado. O motorista, atento e curioso, resolveu entrar na conversa: - Então e fazia o quê? - perguntou ele enquanto fazia uma curva mais apertada.
- Ia lá... e púnhamos uns identificadores nos lugares que nos mandavam para os aviões irem lá depois bombardear - esclareceu.
Pareceu-me demasiada acção para um recruta.
- Mas falas de bombas tu? Fizeste alguma operação especial? - perguntei antecipando uma negativa.
Pareceu-me demasiada acção para um recruta.
- Mas falas de bombas tu? Fizeste alguma operação especial? - perguntei antecipando uma negativa.
- Fiz pois - afirmou ele com toda a naturalidade; e acrescentou: - A do Noriega.
- Estás a gozar... Tu participaste na deposição do Noriega?? - perguntei incrédulo. Imediatamente, pleno de satisfação orgulhosa e como se fosse a coisa mais natural do mundo, declarou: - Claro.
Ri-me e calei-me. Como se a minha reacção denotasse algum cepticismo, passados uns segundos acrescentou: - Posso dizer-te o nome de código e tudo.
Ri-me e calei-me. Como se a minha reacção denotasse algum cepticismo, passados uns segundos acrescentou: - Posso dizer-te o nome de código e tudo.
Fiquei curioso: - Qual era?
- La floriesta negra.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O ESPÍRITO GREGÁRIO
O argumento do isolamento. A reprovação da consciência, mesmo entre os mais conscienciosos, é fraca em comparação com o seguinte argumento: «Isto ou aquilo é contrário aos costumes da tua sociedade.» O olhar frio, a boca contraída de parte daqueles entre os quais e para os quais a pessoa foi educada, eis o que mesmo o mais forte teme. Que é que ele verdadeiramente teme? O isolamento! Este argumento é capaz de abalar mesmo os melhores argumentos para uma pessoa ou para uma causa. Assim se exprime, em nós, o espírito gregário."
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)
DA LUCIDEZ
"Não podia haver fórmulas para fixar as pessoas em si mesmas, senão quando as pessoas, no medo de perderem a segurança das causas, as inventassem, e se atribuíssem a si mesmas motivações que não tinham ou que não eram exactamente aquelas. Sendo assim, não havia diferença alguma entre os imbecis e os lúcidos, entre os honestos e os patifes. Ou só uma diferença: o quererem ser lúcidos, e o quererem ser leais. Era então muito pouco o que restava: uma lucidez sempre imperfeita, e uma lealdade sem objecto seguro."
Jorge de Sena, Sinais de Fogo
Jorge de Sena, Sinais de Fogo
DA GREVE
Ontem, pela manhã, um automóvel relativamente novo, ornamentado com duas bandeiras vermelhas e equipado com uns altifalantes poderosos, passava uma voz rouca que afirmava que "os trabalhadores da função pública não são responsáveis pelo despesismo, que os trabalhadores não são responsáveis pelo estado a que as coisas chegaram". Talvez concorde. Em parte. No entanto, não deixo de concordar também que trabalhadores que têm um vínculo de trabalho permanente, um sistema de acesso à saúde fantástico e beneficiado de condições que mais ninguém beneficiou (estou a pensar nos aumentos salariais de 2009, por exemplo) não poderiam deixar de ter o reverso da medalha: trabalham para um patrão falido. E contra o poder imponderável da realidade - não há dinheiro - sobra, de facto, a questão da responsabilidade; e essa afere-se de forma muito simples: em quem andaram os trabalhadores da função pública a votar nos últimos quinze anos? É que a responsabilidade de facto não mora unicamente num pretenso curso de "filosofia" em Paris.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
FORA A CHINA
Fora a China! A China é má! O comunismo é mau! Abaixo o Hu Jintao! Chop suey é uma bosta! A bandeira chinesa é feia! O hino pior! Cheira mal na China! Lixem-se os comunistas chineses!
Ah, adoro o cheiro a liberdade pela manhã.
Ah, adoro o cheiro a liberdade pela manhã.
CENSURADO
Acabei de descobrir que este blog, com certeza devido aos ataques aqui proferidos contra a nação chinesa, está bloqueado - censurado, portanto - na China. Uma maravilha a ditadura, não é?
terça-feira, 22 de novembro de 2011
DO LEGALISMO (VII)
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Os problemas desta tentativa progressista de construção de um novo homem e a consequente regulamentação de todas as cambiantes da vida humana são muitos variados: estatismo, corrupção, violação das liberdade individuais, endividamento (o estatismo carece de meios), enfraquecimento da sociedade, perda de valores morais sociais, etc. No entanto, o maior dos problemas, como se estes já não fossem mais do que suficientes - e evidentes como se pode ver pelo actual estado das coisas -, é a sua completa impraticabilidade. No fundo, aquilo que acaba por dividir a esquerda da direita é a noção ontológica que cada uma entende sobre o Homem: onde a esquerda vê um animal imperfeito que no seu optimismo urge aperfeiçoar e resolver, a direita vê um animal imperfeito que será sempre imperfeito pois não podem seres imperfeitos resolverem as suas imperfeições e atingirem a perfeição. Assim, o caminho do progresso deve ser orientado para o bem-estar e a força da comunidade deve residir na sociedade e nos indivíduos, os únicos que podem - e devem - ser responsabilizados pelos seus próprios erros. Um indivíduo erra e sofre as consequências; o Estado erra e todos sofrem as consequências. Uma sociedade dependente do Estado é, portanto, uma sociedade enfraquecida que corre o enorme risco de se auto-destruir quando o rumo traçado, como todos, se revelar finalmente inadequado, insuficiente ou simplesmente errado: assim foi com todos os sistemas políticos que fizeram a sociedade vergar-se perante o poder do Estado e um desígnio que entendiam superior. Neste sentido, a liberdade e a responsabilidade individuais serão sempre as pedras basilares de uma comunidade forte e saudável. Tudo o resto são falácias, as quais, que nem cantos de sereias vendedoras de facilidades, confortos e certezas inexistentes e infantis, vão infelizmente seduzindo os mais incautos e desprotegidos. Até ao dia em que a realidade, como sempre, lhes bater à porta.
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Os problemas desta tentativa progressista de construção de um novo homem e a consequente regulamentação de todas as cambiantes da vida humana são muitos variados: estatismo, corrupção, violação das liberdade individuais, endividamento (o estatismo carece de meios), enfraquecimento da sociedade, perda de valores morais sociais, etc. No entanto, o maior dos problemas, como se estes já não fossem mais do que suficientes - e evidentes como se pode ver pelo actual estado das coisas -, é a sua completa impraticabilidade. No fundo, aquilo que acaba por dividir a esquerda da direita é a noção ontológica que cada uma entende sobre o Homem: onde a esquerda vê um animal imperfeito que no seu optimismo urge aperfeiçoar e resolver, a direita vê um animal imperfeito que será sempre imperfeito pois não podem seres imperfeitos resolverem as suas imperfeições e atingirem a perfeição. Assim, o caminho do progresso deve ser orientado para o bem-estar e a força da comunidade deve residir na sociedade e nos indivíduos, os únicos que podem - e devem - ser responsabilizados pelos seus próprios erros. Um indivíduo erra e sofre as consequências; o Estado erra e todos sofrem as consequências. Uma sociedade dependente do Estado é, portanto, uma sociedade enfraquecida que corre o enorme risco de se auto-destruir quando o rumo traçado, como todos, se revelar finalmente inadequado, insuficiente ou simplesmente errado: assim foi com todos os sistemas políticos que fizeram a sociedade vergar-se perante o poder do Estado e um desígnio que entendiam superior. Neste sentido, a liberdade e a responsabilidade individuais serão sempre as pedras basilares de uma comunidade forte e saudável. Tudo o resto são falácias, as quais, que nem cantos de sereias vendedoras de facilidades, confortos e certezas inexistentes e infantis, vão infelizmente seduzindo os mais incautos e desprotegidos. Até ao dia em que a realidade, como sempre, lhes bater à porta.
DO LEGALISMO (VI)
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Infelizmente, o excesso de leis é apenas uma das várias consequências do ideal progressista e positivista que vai norteando a sociedade contemporânea. O ideal de que o Homem sendo imperfeito carece de melhoramentos e que esses melhoramentos cabem ao Estado conduzi-los é o arauto máximo desta ideologia que, quanto a mim, une o centro-esquerda, a esquerda e a extrema-esquerda numa coincidência de objectivos: a resolução dos conflitos sociais através da "descoberta" das soluções para os problemas que atravancam a sociedade, a utilização do progresso tecnológico como arma para alcançar tal objectivo, a igualdade como o valor máximo de uma sociedade perfeita, a uniformização cultural (apesar do apelo à "diversidade" aparentar o oposto) como forma de harmonização conflitual universal e a rejeição da diferença como forma de identificação, seja ela individual (religiosa, ideológica ou até sexual), social (recusa da hierarquia) ou cultural (multiculturalismo). Para esta corrente ideológica - apesar de se assumir como pós-ideológica - as diferenças são para se aniquilar, as discriminações são a sua bandeira e a igualdade de facto o seu argumento. Ora, não há instrumento mais poderoso para tais desígnios do que a lei e o acesso ao monstro legalista: é este instrumento que dá poder ao Estado, é este instrumento que sujeita os indivíduos e é este mesmo instrumento que regula a sociedade e os seus comportamentos. Como vimos, não há lei que não seja moral e ideológica (partes I e II), portanto é através da lei que a ideologia progressista igualitária se impõe. Ou seja, com o advento contemporâneo desta sociedade hiper-regulamentada ao invés de serem as leis a reflectirem a moral (a fronteira entre o bom e o mau comportamento) da sociedade é a sociedade que se vê amordaçada por um estatismo legalista que, mostrando uma face protectora (o Estado paternal) e solidária (o Estado Social), esconde uma determinada ideologia que, a pouco e pouco, vai moldando a sociedade para um rumo novo. Como o estatismo enfraquece a sociedade, assim o progressismo vai construindo o seu novo Homem.
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Infelizmente, o excesso de leis é apenas uma das várias consequências do ideal progressista e positivista que vai norteando a sociedade contemporânea. O ideal de que o Homem sendo imperfeito carece de melhoramentos e que esses melhoramentos cabem ao Estado conduzi-los é o arauto máximo desta ideologia que, quanto a mim, une o centro-esquerda, a esquerda e a extrema-esquerda numa coincidência de objectivos: a resolução dos conflitos sociais através da "descoberta" das soluções para os problemas que atravancam a sociedade, a utilização do progresso tecnológico como arma para alcançar tal objectivo, a igualdade como o valor máximo de uma sociedade perfeita, a uniformização cultural (apesar do apelo à "diversidade" aparentar o oposto) como forma de harmonização conflitual universal e a rejeição da diferença como forma de identificação, seja ela individual (religiosa, ideológica ou até sexual), social (recusa da hierarquia) ou cultural (multiculturalismo). Para esta corrente ideológica - apesar de se assumir como pós-ideológica - as diferenças são para se aniquilar, as discriminações são a sua bandeira e a igualdade de facto o seu argumento. Ora, não há instrumento mais poderoso para tais desígnios do que a lei e o acesso ao monstro legalista: é este instrumento que dá poder ao Estado, é este instrumento que sujeita os indivíduos e é este mesmo instrumento que regula a sociedade e os seus comportamentos. Como vimos, não há lei que não seja moral e ideológica (partes I e II), portanto é através da lei que a ideologia progressista igualitária se impõe. Ou seja, com o advento contemporâneo desta sociedade hiper-regulamentada ao invés de serem as leis a reflectirem a moral (a fronteira entre o bom e o mau comportamento) da sociedade é a sociedade que se vê amordaçada por um estatismo legalista que, mostrando uma face protectora (o Estado paternal) e solidária (o Estado Social), esconde uma determinada ideologia que, a pouco e pouco, vai moldando a sociedade para um rumo novo. Como o estatismo enfraquece a sociedade, assim o progressismo vai construindo o seu novo Homem.
DO LEGALISMO (V)
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
A abissal diferença de poder entre o Estado e o cidadão é alimentada pelo excesso legalista: a lei é o caminho de comunicação directa entre os dois, pois é através dela que o primeiro regula os segundos tal como é através dela que os segundos se defendem dos abusos cometidos pelo primeiro bem como dos cometidos entre eles próprios. Desta forma, quanto maior for o monstro legal e menor for a capacidade dos cidadãos controlarem esse mesmo monstro legal, maior é capacidade de o Estado, sem escrutínio, controlar eficazmente a vida dos cidadãos. De igual modo, cada lei ou decreto, cada norma ou regulamento, cada portaria ou directiva é mais uma forma de o Estado interferir directamente na vida dos indivíduos. Ora, como a lei é a única defesa que os indivíduos têm em relação à interferência do Estado nas suas vidas privadas e quanto maior for o monstro legalista menor é a capacidade de os cidadãos terem acesso a essa defesa, então podemos concluir que o excesso de leis prejudica também a defesa da liberdade individual.
Parte II
Parte III
Parte IV
A abissal diferença de poder entre o Estado e o cidadão é alimentada pelo excesso legalista: a lei é o caminho de comunicação directa entre os dois, pois é através dela que o primeiro regula os segundos tal como é através dela que os segundos se defendem dos abusos cometidos pelo primeiro bem como dos cometidos entre eles próprios. Desta forma, quanto maior for o monstro legal e menor for a capacidade dos cidadãos controlarem esse mesmo monstro legal, maior é capacidade de o Estado, sem escrutínio, controlar eficazmente a vida dos cidadãos. De igual modo, cada lei ou decreto, cada norma ou regulamento, cada portaria ou directiva é mais uma forma de o Estado interferir directamente na vida dos indivíduos. Ora, como a lei é a única defesa que os indivíduos têm em relação à interferência do Estado nas suas vidas privadas e quanto maior for o monstro legalista menor é a capacidade de os cidadãos terem acesso a essa defesa, então podemos concluir que o excesso de leis prejudica também a defesa da liberdade individual.
DO LEGALISMO (IV)
Parte I
Parte II
Parte III
O emaranhado legal que deriva directamente da ambição de tudo legislar motivada pela crença de que o Homem tudo pode controlar (progressismo), não tem apenas como consequência nefasta oferecer uma posição de vantagem aos poderosos que têm acesso ao sistema: principalmente esse triunfo legalista oferece uma posição de vantagem ao maior de todos os poderosos: o Estado. É o Estado que controla o aparelho legal, adapta-o às suas necessidades e quando alguma dessas necessidades não é satisfeita rapidamente, porque legislar é banal e em tanta norma e regulamento mais uma lei ou duas passa despercebida, lá vem mais uma portaria ou um decreto alimentar o monstro legalista. E perante o monstro, o cidadão individual, desprotegido, incapaz de fazer face à complexidade ou sem meios para a influenciar, vê-se sujeito às maiores obrigações e sujeições legais, as quais não compreende ou sequer aceita mas contra as quais nada pode. Por outro lado, aqueles que têm acesso à máquina do Estado, quer por dela fazerem parte ou conhecerem alguém que a ela tenha acesso, melhor e rapidamente vêem os seus problemas resolvidos. Claro está que este acesso à máquina legalista tem custos e por isso rapidamente se fixa um preço para tais serviços. Ou seja: o excesso de leis beneficia tanto a desigualdade no acesso à justiça bem como a corrupção.
Parte II
Parte III
O emaranhado legal que deriva directamente da ambição de tudo legislar motivada pela crença de que o Homem tudo pode controlar (progressismo), não tem apenas como consequência nefasta oferecer uma posição de vantagem aos poderosos que têm acesso ao sistema: principalmente esse triunfo legalista oferece uma posição de vantagem ao maior de todos os poderosos: o Estado. É o Estado que controla o aparelho legal, adapta-o às suas necessidades e quando alguma dessas necessidades não é satisfeita rapidamente, porque legislar é banal e em tanta norma e regulamento mais uma lei ou duas passa despercebida, lá vem mais uma portaria ou um decreto alimentar o monstro legalista. E perante o monstro, o cidadão individual, desprotegido, incapaz de fazer face à complexidade ou sem meios para a influenciar, vê-se sujeito às maiores obrigações e sujeições legais, as quais não compreende ou sequer aceita mas contra as quais nada pode. Por outro lado, aqueles que têm acesso à máquina do Estado, quer por dela fazerem parte ou conhecerem alguém que a ela tenha acesso, melhor e rapidamente vêem os seus problemas resolvidos. Claro está que este acesso à máquina legalista tem custos e por isso rapidamente se fixa um preço para tais serviços. Ou seja: o excesso de leis beneficia tanto a desigualdade no acesso à justiça bem como a corrupção.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
DO LEGALISMO (III)
Parte I
Parte II
Compreendendo que não existe uma fórmula mágica para a resolução dos problemas humanos infere-se obrigatoriamente que não pode uma lei geral e abstracta ser capaz de, cegamente, discernir o que está certo do que está errado: apenas o discernimento humano pode definir a fronteira entre o que é um comportamento bom e o que configura um comportamento errado. Essa fronteira, sempre subjectiva, não é por isso universalmente válida pois não podemos esperar que um aborígene Australiano, uma católica Polaca ou um nova iorquino new age a definam da mesma forma: variando a cultura de uma comunidade assim varia o seu sentido de certo e errado. A moral, é portanto, relativa a cada comunidade, fazendo por essa razão variar o entendimento sobre a forma como essa mesma comunidade se deve organizar. Assim, como não há uma lei universal acessível aos humanos que todos aceitem como verdadeira, sobra a noção de que é sempre, por mais leis que se façam, o espírito moral de cada comunidade que se encontra por detrás dessas mesmas leis. Ora, não sendo outra coisa que o código moral (algo que o progressismo na sua pretensão universalista multicultural tende a rejeitar) que alimenta o sistema legal de uma comunidade como poderemos nós esperar que a interpretação desse sistema legal seja feita de outra forma que não a interpretação do espírito que preside à norma? Naturalmente assim é e por isso mesmo as grandes disputas não se fazem acerca do que determinada norma diz mas acerca do que essa mesma norma significa. E assim compreendemos que a legislação desmedida acaba por ser inútil pois a discussão acerca do seu próprio significado é eterna e que varia a interpretação desse significado consoante o interesse das partes envolvidas. Neste sentido, assumindo tal coisa como uma fatalidade da vida, forçosamente se terá de aceitar que o trabalho do juiz - ou do júri - deveria ser, como intérpretes do sentido de certo e errado de determinada comunidade, aferir se determinado comportamento é correcto ou não muito mais do que meramente aferir se determinada lei (cujo único propósito a priori seria garantir um comportamento correcto) é cumprida ou não: se é verdade que a lei em excesso prejudica a justiça, também é verdade que a lei não basta à justiça.
Parte II
Compreendendo que não existe uma fórmula mágica para a resolução dos problemas humanos infere-se obrigatoriamente que não pode uma lei geral e abstracta ser capaz de, cegamente, discernir o que está certo do que está errado: apenas o discernimento humano pode definir a fronteira entre o que é um comportamento bom e o que configura um comportamento errado. Essa fronteira, sempre subjectiva, não é por isso universalmente válida pois não podemos esperar que um aborígene Australiano, uma católica Polaca ou um nova iorquino new age a definam da mesma forma: variando a cultura de uma comunidade assim varia o seu sentido de certo e errado. A moral, é portanto, relativa a cada comunidade, fazendo por essa razão variar o entendimento sobre a forma como essa mesma comunidade se deve organizar. Assim, como não há uma lei universal acessível aos humanos que todos aceitem como verdadeira, sobra a noção de que é sempre, por mais leis que se façam, o espírito moral de cada comunidade que se encontra por detrás dessas mesmas leis. Ora, não sendo outra coisa que o código moral (algo que o progressismo na sua pretensão universalista multicultural tende a rejeitar) que alimenta o sistema legal de uma comunidade como poderemos nós esperar que a interpretação desse sistema legal seja feita de outra forma que não a interpretação do espírito que preside à norma? Naturalmente assim é e por isso mesmo as grandes disputas não se fazem acerca do que determinada norma diz mas acerca do que essa mesma norma significa. E assim compreendemos que a legislação desmedida acaba por ser inútil pois a discussão acerca do seu próprio significado é eterna e que varia a interpretação desse significado consoante o interesse das partes envolvidas. Neste sentido, assumindo tal coisa como uma fatalidade da vida, forçosamente se terá de aceitar que o trabalho do juiz - ou do júri - deveria ser, como intérpretes do sentido de certo e errado de determinada comunidade, aferir se determinado comportamento é correcto ou não muito mais do que meramente aferir se determinada lei (cujo único propósito a priori seria garantir um comportamento correcto) é cumprida ou não: se é verdade que a lei em excesso prejudica a justiça, também é verdade que a lei não basta à justiça.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
DO LEGALISMO (II)
Parte I
O triunfo desta visão positivista e a decadência da importância do discernimento humano na avaliação dos comportamentos humanos detecta-se na forma como as grandes empresas actuam defendendo os seus interesses tal como o cidadão individual na sua pequena função decide se determinado comportamento é aceitável ou não. No entanto, acima de tudo, em nenhuma função é mais evidente do que na actividade política: aí tudo vale desde que se respeite a 'ética republicana', ou seja: a ética da lei. E para cada vez que se antevê que determinado comportamento lesivo do bem público é possível torneando, interpretando, muitas vezes de forma abusiva, a lei escrita, lá vem uma nova lei, um novo regulamento para resolver o problema. E, depois, mais interpretações e mais reinterpretações gerando um emaranhado de leis confusas, apenas acessíveis aos especialistas, onde quem dominar a especialidade leva o seu intento a bom porto e quem não a dominar é derrotado. No final, em nome do povo e do poder do povo, fazem-se todas essas leis que acabam por configurar um sistema legal ultra-complexo ao qual apenas os poderosos retiram vantagens porque apenas eles possuem os recursos que permitem contratar os especialistas. Pelo caminho se os comportamentos em julgamento são bons ou maus nem sequer interessa, nem sequer se sabe, apenas se estão conforme a lei ou não é o que os juízes podem julgar. Ou seja: quanto mais leis existirem, menor é a capacidade de aplicar-se a justiça.
O triunfo desta visão positivista e a decadência da importância do discernimento humano na avaliação dos comportamentos humanos detecta-se na forma como as grandes empresas actuam defendendo os seus interesses tal como o cidadão individual na sua pequena função decide se determinado comportamento é aceitável ou não. No entanto, acima de tudo, em nenhuma função é mais evidente do que na actividade política: aí tudo vale desde que se respeite a 'ética republicana', ou seja: a ética da lei. E para cada vez que se antevê que determinado comportamento lesivo do bem público é possível torneando, interpretando, muitas vezes de forma abusiva, a lei escrita, lá vem uma nova lei, um novo regulamento para resolver o problema. E, depois, mais interpretações e mais reinterpretações gerando um emaranhado de leis confusas, apenas acessíveis aos especialistas, onde quem dominar a especialidade leva o seu intento a bom porto e quem não a dominar é derrotado. No final, em nome do povo e do poder do povo, fazem-se todas essas leis que acabam por configurar um sistema legal ultra-complexo ao qual apenas os poderosos retiram vantagens porque apenas eles possuem os recursos que permitem contratar os especialistas. Pelo caminho se os comportamentos em julgamento são bons ou maus nem sequer interessa, nem sequer se sabe, apenas se estão conforme a lei ou não é o que os juízes podem julgar. Ou seja: quanto mais leis existirem, menor é a capacidade de aplicar-se a justiça.
DO LEGALISMO
A ideia legalista, o triunfo da norma geral e abstracta, onde se defende que a lei tudo consegue definir, sendo portanto soberana e fundamental, também faz com que se escondam os piores comportamentos por detrás da capa da legalidade: se a lei não proíbe determinado comportamento então, independentemente de ser bom ou mau, aquele é aceitável. Esta visão tem uma causa e uma consequência. (1) A causa é o ideal positivista com a sua transposição da matemática e da geometria para o terreno da sociedade e a intuição de que o racionalismo humano nos permite a todos organizarmo-nos numa forma perfeita e harmoniosa: se, tal como na matemática, uma resposta para uma equação não pode ser simultaneamente verdadeira e falsa então, também na vida, uma resposta racional para um problema não pode entrar em conflito com outro problema; assim, se a uma lei for racional ela deverá orientar racionalmente a sociedade para a harmonia universal. Daqui decorre a soberania da lei. (2) A consequência é que, sendo a lei aquilo que nos rege, deprecia-se o instrumento que é o discernimento humano: eu não tenho que pensar se o comportamento A ou B é certo ou errado, apenas me interessa se ele é legal ou não. Ou seja: o legalismo positivista excessivo tenderá a gerar uma sociedade amoral.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
POBREZA INTELECTUAL
Esclarecedor é ler um artigo num jornal online e depois, já sabendo o que nos espera, ir dar uma olhadela nos comentários ao dito artigo. Nunca vi tanta ignorância, tanta mania da certeza (tendem a andar juntas estas) e tanto ódio destilado. Por outro lado, basta-nos mudar para um jornal internacional para ver que o tom e o conteúdo dos comentários é muito mais elevado. Conclusão: ou o nosso nível civilizacional é muito mais baixo ou o nível de moderação jornalística dos comentários o é. Das duas uma, e não são assim tão diferentes.
DA DIGNIDADE
"Daí vem o caso, talvez único na Europa, de um povo que, não só desconhece o patriotismo, que não só ignora o sentimento espontâneo de respeito e amor pelas suas tradições, pelas suas instituições, pelos seus homens superiores; que não só vive de copiar, literária e politicamente, a França, de um modo servil e indiscreto; que não só não possui uma alma social, mas se compraz em escarnecer de si próprio, com os nomes mais ridículos e o desdém mais burlesco. Quando uma nação se condena pela boca dos seus filhos, é difícil, senão impossível, descortinar o futuro de quem perdeu por tal forma a consciência de dignidade colectiva."
Oliveira Martins, História de Portugal (1879)
Oliveira Martins, História de Portugal (1879)
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
DO PESSIMISMO OPTIMISTA
O medo, a indiferença e a burrice fazem deste país uma choldra chique a valer.
Quanto pior a choldra, mais saborosa a vitória.
Quanto pior a choldra, mais saborosa a vitória.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
ALENTEJANANDO
Lá fora, o vento uiva, a chuva bombardeia e os trovões explodem; cá dentro, no silêncio de uma luz amarela e amena, apenas perturbada pelos instantâneos dos relâmpagos, as sombras de labaredas dançam pela janela da salamandra enquanto o leve som do crepitar da madeira inunda a sala com os seus estalidos. A cadela, aos meus pés, dormita serenamente com a cabeça apoiada nas patas dianteiras e, agradecida pelo abrigo da tormenta, lança um longo suspiro enquanto eu viro mais uma página do meu livro.
DOS EMPRÉSTIMOS
"O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única preocupação dos ministérios era esta - «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar..."
Eça de Queiroz, Os Maias (1888)
Eça de Queiroz, Os Maias (1888)
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
ANO IX
Passou-me despercebido mas há umas semanas atrás este blog entrou no seu nono ano de existência. e enquanto houver ventos e mar, enquanto houver estrada para andar, cá vamos continuar.
DA IRRELEVÂNCIA
Subitamente, reparei que passavam onze minutos das onze horas e que hoje era o décimo primeiro dia do mês de Novembro do ano de dois mil e onze. A repetição do número onze, a perfeição numérica do momento, divertiu-me e recostei-me, a sorrir, pensando que nada fazia aquele momento diferente de qualquer outro para além da arbitrária capacidade humana de numerar tudo o que existe. Depois apercebi-me que principiava a chover e, por isso, apressei-me a levantar-me para ir fechar a janela do quarto que sabia estar aberta.
DAS IMPORTAÇÕES
"Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos da Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas..."
Eça de Queiroz, Os Maias (1888)
Eça de Queiroz, Os Maias (1888)
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O TRIUNFO DO IGUALITARISMO
Porque será que, num tempo em que se afirma a mais badalada liberdade e se assiste ao triunfo da vontade individual, essa vontade se manifesta querendo todos as mesmas coisas?
terça-feira, 25 de outubro de 2011
ANATOMIA DE UMA FRAUDE
Estamos em Julho de 2005. O local é Cascais e decorrem eleições para a Comissão Política e Mesa do Plenário da Concelhia de Cascais da JSD que irá suceder à Comissão Política até aí por mim presidida. Fui, portanto, um observador atento do acto eleitoral bem como de tudo o que o envolveu. Nesse dia jogava o Sporting um importante jogo europeu pelo que o normal ajuntamento de pessoas à porta da sede era menor do que uma eleição com a importância daquela faria antever. A afluência foi fluida, talvez um pouco abaixo do acto eleitoral anterior. O ambiente era frio e pesado pois a fricção política entre as duas listas candidatas era grande no entanto tudo decorria na maior calma e serenidade até ao momento em que aquilo que nunca tinha sido visto em Cascais aconteceu: repentinamente, em fila, três carrinhas de nove lugares completamente cheias de pessoas param à entrada da sede; delas saem vinte e tal indivíduos, nunca antes vistos em Cascais, imediatamente identificados por militantes que ali estavam como sendo habitantes de um bairro social de Oeiras. Com estupefacção assistimos àquele conjunto de pessoas, em barda, a entrar na sede para exercer o seu direito de voto. Os militantes que habitualmente frequentavam a sede e que lá se encontravam, incomodados e alguns assustados mesmo, apressaram-se a abandonar a sede face a um conjunto de pessoas que, pelo comportamento e atitude, pareciam ameaçadores. Em seguida, depois de votarem em grande algazarra e confusão, dando mesmo a impressão que alguns desses militantes aproveitavam o tumulto para trocar de camisolas e bonés como se quisessem, com outro BI, votar mais do que uma vez, entraram nas carrinhas e desapareceram. Trinta minutos depois, novamente aparecem as três carrinhas e o filme repete-se da exacta mesma forma. Sob o protesto de quem entendia que aquilo era uma evidente transferência de militantes de Oeiras para Cascais unicamente com o propósito de oferecerem peso eleitoral (e por essa razão perverter a verdade democrática), a eleição continuou e a ordem manteve-se. As três carrinhas eram conduzidas por três diferentes militantes do PSD; um deles, afoito e apoquentado, de telemóvel na mão e dando ordens a diversos subalternos, coordenava todo o processo: era o Miguel Pinto Luz, agora candidato a Presidente da Distrital de Lisboa do PSD.
A prática da transferência de militantes, os chamados “sacos de voto” é antiga e conhecida. Não é ilegal. Mas nem por isso pode ser facilmente aceite. Pelo menos por mim. Faz parte do discurso socializante da narrativa política actual a noção da ética republicana que, seja qual for o significado de tal coisa, assenta basicamente na ideia, progressista e socialista na sua origem, de que “se está dentro da lei – se é legal – então é correcto”. Da mesma forma, os caciqueiros de algibeira assumem que se os estatutos não proíbem então é justo, aceitável e correcto. Os resultados desta interpretação estão à vista: a excelsa regulamentação, legislação e codificação, geral e abstracta, mostra-se incapaz de impedir as maiores atrocidades porque, com os meios suficientes, qualquer um consegue demonstrar que qualquer acto acaba por cair no indemonstrável, no indefinível e no inclassificável. Infelizmente, na vida, não são as leis que fazem a justiça mas sim a vontade com que os homens aplicam essas mesmas leis. Por isso mesmo, numa abordagem mais conservadora do que liberal é certo, acredito que o fundamental de uma norma reside no espírito que a cria: aquilo que o legislador entende com a norma, aquilo que com bom senso se compreende que era o objectivo dessa norma, e isto conta mais do que dois anos de discussão interminável entre grupos de advogados que apenas pretendem tornear, confundir e esfumar o espírito da lei de forma a nela acomodar os seus interesses particulares. Na política o mesmo ocorre. E porque um critério codificado sobre o que é bom e o que é mau (aquilo que os estatutos pretendem ser) é sempre insuficiente para definir o que é um bom e um mau comportamento, apenas os valores éticos e morais de cada um, aquilo que nos faz distinguir o bom do mau, podem efectivamente julgar os comportamentos políticos. Pode não haver forma eficaz de punir os “sacos de votos”, a clientelização eleitoral e as trocas de favores inter-concelhios através dos estatutos; mas sobra-nos, sem margem para dúvidas, a obrigação moral de julgar esses comportamentos quando deles temos conhecimento. A invasão a Cascais de militantes arrebanhados em bairros carenciados do concelho de Oeiras (sabe-se lá a troco de quê), instrumentalizados face a objectivos pré-definidos é o grau zero - e a morte – da política partidária democrática: a partir do momento em que estas práticas são toleradas, apenas aqueles que têm dinheiro e meios para arrebanhar incautos e influenciáveis cidadãos, apenas aqueles com os meios financeiros para lhes pagar as quotas, apenas aqueles com meios financeiros para alugar carrinhas, podem vencer eleições. Ou seja: quem tiver os meios tem vantagem; pior: entre opositores com meios semelhantes vencem os que estiverem dispostos às más práticas. E porque essas práticas para serem frutuosas precisam de muito investimento, não é difícil de compreender que é precisamente nesta ausência de escrúpulos e de moral que começam as nebulosas ligações entre os obscuros financiamentos partidários e os interesses camarários e políticos. Num país falido, com uma classe política desacreditada é aqui, na conduta partidária que a redenção principia. Ou pelo menos deveria principiar.
Eu não faço ideia onde foi o Miguel Pinto Luz financiar as suas carrinhas de militantes importados de Oeiras. No que me diz respeito, foi aos seus próprios fundos, ou, quiçá, ofereceram-lhe, não sei e, precisamente porque não sei nem posso saber, não me interessa. Interessa-me sim, que a conduta dele – e dos seus demais correligionários em Cascais e Oeiras – é inaceitável num partido democrático. Podem os estatutos não prever nem punir este tipo de práticas mas – precisamente por isso – devem os militantes não as tolerar dando voz e peito à alma, gritando bem alto que: a política não é isto, que a política não deve - nem pode - ser isto.
Mas a história daquelas eleições naquele fatídico dia não se fica por aqui. Depois das controversas carrinhas o ambiente aqueceu com debates acesos e acusações de parte a parte. A afluência, no entanto, não aumentou e chegada a hora do fecho das urnas, o Presidente da Mesa que organizava e supervisionava o sufrágio (por questões estatutárias a personagem em questão foi um indivíduo de seu nome Alexandre Luz, à altura Presidente do Conselho Distrital da JSD) pontualmente encerrou as urnas e, fechada a porta, apenas acompanhado da sua Mesa e dos dois delegados de lista, começou a contagem dos votos. Devo acrescentar que as eleições anteriores (um ano antes) onde a lista por mim presidida venceu tinham sido as mais disputadas e participadas de sempre com 345 votantes (Lista A: 175 – Lista B: 170). Estranhamente, no entanto, o resultado eleitoral desta feita foi de 320 votos para a lista B e 170 para a lista A. Devo dizer que nunca presenciei tão estranho espectáculo: depois da maior “cacetada” eleitoral da história da JSD de Cascais, perante resultado tão espectacular, nem os próprios apoiantes da lista B festejaram, pois a ideia generalizada no impacto do momento - aos apoiantes de ambas as listas - foi a de que haveria algum engano em tão estapafúrdio resultado. Os acontecimentos precipitaram-se então, com o Alexandre Luz (que presidia ao acto) a correr para fugir da sede de cadernos de descargas e votos debaixo do braço e o delegado da lista A a afirmar a toda a gente que apenas tinha contado 342 votantes (e nunca os 490 que apareceram na urna). Questionada, também a delegada da lista B confirmou que apenas tinha contabilizado 343 votantes. Discrepâncias de um, dois ou três votos é perfeitamente normal, os homens não são máquinas e se nem estas são perfeitas os homens ainda menos. Agora, 150 votantes escaparem a ambos os delegados de lista é algo que, no campo da realidade, me permito a considerar impossível. A única pessoa que poderia esclarecer o “mistério” seria, como evidente será, o Presidente da Mesa Alexandre Luz porque era o único detentor do caderno de descargas oficial que, obrigatoriamente, teria de conter 490 militantes votantes assinalados. Quando, meses mais tarde, instado pelo Conselho de Jurisdição a apresentar tal prova como forma de clarificar os acontecimentos, o Alexandre Luz afirmou tê-lo “perdido”. E o caso foi arquivado. E a lista B tomou posse. E passados dois ou três meses indicou o Miguel Pinto Luz para a lista do PSD candidata à vereação da Câmara Municipal de Cascais.
Eu não sei quem é o autor material daquilo que foi uma fraude evidente. Sei, no entanto, quem foi o responsável. Não poderá ser outra pessoa que não o Alexandre Luz: ou porque a cometeu, o que faria dele um falsificador de eleições e um corruptor da verdade democrática; ou então, não a tendo cometido, revelar-se-ia um manifesto incompetente que ou não foi capaz de impedir que um malabarista prestidigitador inserisse 150 boletins de voto na urna que tinha à frente dos seus olhos, ou, num segundo cenário onde os 490 votantes existissem de facto, um inapto ainda maior para, uma vez acusado à boca cheia por todo o distrito de ser o autor de uma fraude eleitoral, se revelar imbecilmente incapaz de guardar - não perder, portanto – o caderno de descargas que provaria a sua inocência. Quer seja por culpa própria, quer seja por manifesta incompetência o responsável directo pela vergonha daquelas eleições é, sem margem para dúvidas, Alexandre Luz.
Talvez por mera coincidência, nos últimos anos, os dois Luzes que tão alto brilharam no firmamento político naquela noite eleitoral de 2005 têm prosseguido brilhantes carreiras políticas no aparelho do PSD de Lisboa - e sempre de braço dado. Um, o Miguel, com o tempo acedeu a Vice-Presidente da Câmara de Cascais e membro da Comissão Política Nacional do PSD; o outro, o Alexandre, acumulou funções na Câmara Municipal de Oeiras ao mesmo tempo que, mais uma vez, conseguia o impossível: vencer a Concelhia de Oeiras do PSD (de onde provinham os militantes que povoavam as tais carrinhas conduzidas por, entre outros, o Miguel Pinto Luz) depois de ter feito campanha por Isaltino de Morais, o independente pelo IOMAF. O Miguel Pinto Luz e o Alexandre Luz são hoje as principais forças eleitorais que sustentam o projecto político que tem liderado a distrital de Lisboa do PSD nos últimos 4 anos e, precisamente por isso, juntos assumem agora um novo passo com a candidatura do Miguel Pinto Luz à Distrital.
E assim nasceu um projecto político no sinuoso e conturbado aparelho político do meu partido, o PSD: com votos venham eles de onde e como vierem.
Serei, certamente, criticado por muitos por abertamente relatar o que assisti – eu e muitos mais – com os meus próprios olhos. Mas considero que também é precisamente por estes comportamentos eleitorais internos dos partidos passarem impunes e serem bem sucedidos que o país acaba governado por gente medíocre e sem escrúpulos como o foi nos últimos 6 anos de josé sócrates (para sempre com letras minúsculas). É da ausência de valores de alguns que, de fraude em fraude, de “saco de votos em saco de votos” ou através da distribuição de benesses, honrarias e lugares no aparelho de estado que se controlam os mecanismos internos dos partidos rumo aos interesses particulares de uns em detrimento do Bem Comum. São precisamente os compadrios, as trocas de favores, os comportamentos obscuros e menos claros que se transformaram em coveiros desta falência pré-anunciada. Por isso mesmo não é de bonitos discursos ou grandes projectos nacionais que o país precisa: Portugal precisa acima de tudo de seriedade, honestidade e transparência, principalmente nos seus processos políticos. Sem ela não poderão os Portugueses aceitar os sacrifícios que se lhes exige porque ficarão sempre com a sensação de que andam muitos a pagar muito para safar uns poucos. Em altura de crise – e sempre mas principalmente em altura de crise porque as consequências de um falhanço são mais graves – a transparência e as boas práticas políticas são a espinha dorsal da capacidade de um povo se reorganizar e encontrar um novo rumo para o seu destino. E como não há estatutos ou leis que garantam as boas práticas nos partidos políticos sobra única e forçosamente a responsabilidade dos militantes desses mesmos partidos políticos em impedir que as más práticas sejam bem sucedidas. A questão que coloco ao leitor social-democrata é, portanto, muito simples: poderemos nós ter a confiança numa equipa liderada por militantes que no passado agiram da forma que aqui relatei? A minha resposta será um retumbante ‘não’.
Temos hoje no governo pessoas que me parecem sérias e empenhadas em recuperar o país. Acredito que o Governo fará, pelo menos, o melhor que puder e souber. Concordo genericamente com as propostas que têm vindo a ser feitas ansiando ainda, é certo, por um maior ênfase no desmantelamento do infindável conjunto de institutos e fundações que alimenta um nebuloso – mas evidente - polvo de interesses e benesses indevidas. No entanto, a participação política partidária não pode – nem deve – esgotar-se no mero apoio ao Governo. Escolher as lideranças políticas partidárias, hoje os interlocutores do partido com o Governo, é o dever dos militantes. Poderemos nós, nesta altura de verdadeira emergência nacional, onde conter e reduzir o monstro estatal é precisamente um desígnio nacional, confiar os destinos da Distrital de Lisboa a um projecto político liderado por alguém que não dá garantias de nada a não ser de que quando quer vencer a todo o custo está disposto a fazer aquilo que não podemos sequer tolerar como admissível? A minha resposta é um retumbante ‘não’.
Uma Distrital que já foi presidida por figuras como Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes, José Pacheco Pereira, António Pinto Leite, Marcelo Rebelo de Sousa ou Paula Teixeira da Cruz merece muito mais e muito melhor. E o partido, o país e, principalmente, os Portugueses também.
Nuno Freire dos Santos Lebreiro
Militante do PSD n.º 37 698
Addendum: Caso algum dos factos aqui relatados seja por alguém contestado aviso, desde já, que estou plenamente à vontade para os relatar de novo em tribunal, sob juramento, e devidamente acompanhado de, pelo menos, vinte outras pessoas que, estupefactos tal como eu, assistiram àquilo que aqui se reproduziu.
Nota: Foi a primeira vez que, em oito anos deste blog, aqui abordei questões partidárias internas. Não tenciono repetir.
sábado, 22 de outubro de 2011
terça-feira, 18 de outubro de 2011
COISAS QUE ME IRRITAM
Os ernegúmenos grafiteiteiros que, não satisfeitos com decorar os comboios à sua vontade, ainda se preocupam em pintar as janelas e impedir os passageiros de gozar a magnífica vista que a linha de Cascais - Cais do Sodré nos oferece. Uma coisa é arte decorativa outra coisa é simples falta de respeito pelos outros e pelos bens públicos. Eu nem vos digo o que lhes fazia mais às suas latinhas de spray.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
DOS INDIGNADOS
Anda tudo muito excitado com os indignados desde que os indignados chegaram aos Estados Unidos; agora é que vai ser, pensam muitos, vão mudar o sistema, acabar com os podres e "libertar" o futuro. Eu aconselho cautela: nos anos 60 os princípios e valores dos "rebeldes" eram melhores ainda, as ambições mais nobres ainda, as razões de queixa (guerra, pobreza) maiores ainda e no que deu tal coisa? Venderam-se, transformaram-se de hippies em yuppies e fizeram muito pior do que aqueles que criticavam. O mal do mundo não está num sistema de liberdades e garantias: está na ausência de valores que norteiem e limitem essas mesmas liberdades e garantias. E não são, com certeza, estes indignados de iphone na mão que vão oferecer esses valores ao mundo.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
GRATIDÃO
Tenho muitas razões para estar grato. Explicá-las? Enumerá-las? Não interessa: it's beside the point, como dizem os Ingleses. No entanto, a verdade é que tenho mesmo muitas razões para estar grato. E, por ter essa noção perfeitamente estabelecida dentro de mim, curvo-me duas vezes e abro os braços e o peito em profunda humildade: uma vez para cima, para o Universo que, de algum misterioso modo, se espelha nesta particular forma em mim; uma segunda vez, olhando para o lado, e pensando no meu Pai e na minha Mãe: porque sem eles eu seria nada. A gratidão é fodida e ao mesmo tempo maravilhosa porque transpira da única coisa que temos, que poderemos vir a ter e que permite tudo o resto: porque nos permite a nós.
A IDENTIDADE E A LIBERDADE (LUSITANA)
Hoje Portugal faz oitocentos e sessenta e oito anos de vida. Pelo caminho ficou o árduo processo de independência e a luta pela preservação da nossa liberdade. Que liberdade era esta? Era a liberdade de sermos Portugueses e não sermos forçados a ser outra coisa além disso, qualquer que seja o significado disso e qualquer que fosse o significado de ser essa estranha outra coisa que não fosse sermos Portugueses. Sermos livres seria, portanto, termos a possibilidade de sermos aquilo que já éramos: a manutenção de uma identidade e a recusa de uma outra identidade que outros pretendiam impor. A nossa liberdade vertida na sagaz e corajosa luta pela independência face aos invasores era, e outra coisa não poderia deixar de ser, a manifestação de um desejo profundo de manter um determinado modo de vida, alicerçado numa língua e numa cultura, que se entendia como distinto, único e auto-determinado - para utilizar um linguarajar modernista -; tínhamos, portanto, o direito a existir como uma comunidade livre e independente e por esse auto-intitulado direito nos batemos e - provavelmente - graças a essa força fomos vencedores. Ainda hoje a liberdade é, e sempre será, a capacidade de se ser aquilo que se é: a tal manutenção de uma determinada identidade. Claro está que num mundo onde a superficialidade impera, analisar as impenetráveis funduras do espírito humano em busca de uma identidade é objecto raro e que passa despercebido: hoje a identidade é o estilo de roupa, o penteado, os acessórios, o automóvel ou a orientação sexual; a liberdade é, por consequência, o poder vestir, falar e fornicar como a cada um lhe apetecer. Felizmente, tal como os quilos de antidepressivos vendidos todos os anos demonstram, a identidade humana é bem mais fecunda do que os modernistas progressistas igualitários ávidos de transformar o Homem numa única raça, com um género indistinto e cheio de iguais direitos nos querem fazer acreditar. Não somos, de facto, todos iguais; pelo contrário: somos todos diferentes. E é dessa diferença, da desigualdade portanto, que deriva a nossa capacidade de podermos ser quem somos. O progresso superficial que igualiza a espessura identitária à finura bidimensional de um rectângulo de pixéis pode ser o corolário evidente de um processo de harmonização das diferenças identitárias num mundo globalizado, no entanto, porque é ele próprio um processo superficial, nunca poderá dar resposta aos maiores anseios das profundezas da vontade humana sendo que estes anseios, estarão, como sempre, intrinsecamente ligados à identidade ontológica de cada um. Vivemos num mundo que não se questiona e não busca dentro de si próprio a primordial questão da identidade porque se preocupa a fazer de conta que essa profundidade é igual para todos: somos diferentes por fora (cada um com o seu brinco ou o com seu boné) mas somos todos iguais por dentro. Não há culturas: há uma multicultura. E é essa a essência totalitária do igualitarismo multiculturalista: ao deixar-nos meramente parecer aos olhos dos outros o que nos apetecer impede-nos de sermos de facto aquilo que somos - intrinsecamente diferentes - porque da celebração da multicultura vem a homogeneização identitária: somos todos iguais. O problema é que isto não é verdade e nada demonstra melhor a celebração da diferença identitária do que a raça, a geografia ou, no nosso caso: a fronteira entre Portugal e Espanha. Os Portugueses são diferentes dos Espanhóis e foi em nome da manutenção dessa heteronomia que lutaram pela sua independência. A nossa independência é uma manifestação de liberdade porque nos permitiu continuar a ser Portugueses e não nos transformou em Espanhóis, algo que não seria coerente porque, para os Portugueses, ser Português e ser Espanhol não é a mesma coisa. A luta pela nossa nação é, portanto a luta pela nossa identidade, algo que apesar de ser único a cada um, nos aproxima uns dos outros com maior profundidade do que outros mais distantes e menos ligados: ser Português é um laço identitário de uma comunidade de pessoas que se distinguem das demais. Por estas razões todas, os países celebram o seu aniversário tal como as pessoas exultam com mais uma volta do planeta em volta do Sol. Nestas alturas difíceis, de falência e desespero, de tristezas e apertos, lembrarmos o nosso passado comum assente numa identidade milenar que desde os Lusitanos até aos dias de hoje partilha e vive uma comunidade seria uma grande mais valia. No entanto - e infelizmente - vivemos os estertores finais do pós-marxismo onde o igualitarismo multicultural não nos permite isso porque isso seria a selagem do seu próprio falhanço. Um mundo internacional, multicultural, transgenérico e igual, a mecanização harmónica e perfeita, o velho sonho racionalista dos progressistas, não lida bem com o caos desorganizado da muitas vezes paradoxal confrontação das diferentes identidades; o velho mundo marxista não funciona na realidade da complexa profundidade humana. e por essa razão tentam tranformar-nos num novo Homem. Não serão bem sucedidos porque o homem é o que é; no entanto dessa tentativa pode bem resultar a destruição da nossa sociedade comunitária. Que país não celebra o seu aniversário?, é a questão que sobra. E a resposta é: um país milenar que, no melhor exemplo da autodestruição politicamente correcta Europeia, soçobra face aos boçais cantos das sereias populistas da extrema esquerda: cantam os nosso políticos ufanos de cravo ao peito as maiores hossanas à liberdade quando no dia em que se celebra o nascimento do nosso país, ou seja aquilo que nos permite vivermos como somos, em liberdade portanto, se calam revelando os ignorantes que realmente são. Não há maior exemplo da estúpida decadência nacional do que o cinco de Outubro. Malditos sejam.
TELEVISÃO
Na minha nova morada ainda não mora a televisão; não fosse o Benfica e alguns momentos onde a cerimónia comunitária telejornaleira até oferece alguma ilusão de partilha e acabava por a mandar embora de vez. Já estive mais longe.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O EFEITO EASTWOOD
When a man's got money in his pocket he begins to appreciate peace. E por um punhado de dólares e alguns traumas de infância se faz a guerra em nome do Bem; ou, pelo menos é o que o Homem Sem Nome nos ensina em A Fistful of Dolars (1964).
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
PUZZLE
A vida é como um puzzle onde, sem ter uma imagem de partida, a cada vez que se pensa que já faltam poucas peças e que finalmente se conseguirá discernir a figura que se está a criar, se descobre, com surpresa, que afinal na caixa ainda estava escondido mais um saco cheio de pequenas e incompreensíveis peças; e de repente, a imagem torna-se mais misteriosa do que nunca e percebemos que nunca vislumbraremos o fim de um problema que não tem solução.
BREVIDADE
É profundamente comovente a forma cuidadosa, preocupada, por vezes obsessiva, com que os humanos se ocupam a tratar das suas coisas. Como se elas durassem. Nada dura, nada sobrevive, tudo acaba: e para nos esquecermos disso passamos a vida a arrumar, a ordenar e a guardar aquilo que nos é querido como se houvesse algum rumo, alguma ordem ou alguma posse nas coisas que, tal como nós, num abrir e fechar de olhos, aparecem e desaparecem no breve e tumultuoso caos que é a existência.
TENSÃO
Fica cada vez mais ténue a linha que separa os dois campos em tensão: por um lado, a vontade de largar tudo; por outro lado, a necessidade de agarrar qualquer coisa.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
PASSOS PERDIDOS
Cheio de poderosos sonhos que alimentam os meus titubeantes passos por territórios que desconheço, a lembrança dos passos perdidos torna evidente - e incontornável - o vazio que transporto em mim. Nada pesa mais do que o vazio.
domingo, 4 de setembro de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
CONTRA A IGUALDADE (II)
A marcha da igualdade representará porventura o maior embuste da história da civilização ocidental: a ideia de que somos iguais, podemos, por essa razão, ser todos tratados por igual e, pior, temos de ter por igual. Até os sexos hoje em dia são tratados como iguais. Há uma grande diferença entre tratar o que é diferente como igual e tratar o que é diferente com igual dignidade mas respeitando (e celebrando) a diferença que os separa. O que os progressistas igualitários ainda não compreenderam é que aquilo que nos une é precisamente aquilo que nos diferencia. E é precisamente por esta razão que uma senhora deve sempre passar à frente numa porta e que a androgenia metrossexual que tanta gente entusiasma como expoente máximo da igualdade (a sexual) não é mais do que o triste soçobrar do que mais de diferenciador uma comunidade tem: o sexo. Talvez sociedades reproduzidas por tubos de ensaio, todos iguais, todos produzidos da mesma forma e educados por igual, vestidos por igual, mandados por igual, escravizados por igual seja o futuro; e não é exagero: inapelavelmente a escravidão será sempre o arauto do progressismo igualitário pois a liberdade significará sempre a possibilidade de ser diferente. Talvez triunfe esse progressismo igualitário acéfalo e ignorante mas se assim for não deixará também de ser o estertor final de uma civilização que um dia resolveu detestar-se a si própria. Podem inventar muita coisa; poderão até intentar a tal igualdade com que tanto sonham. Agora, juntá-la à mágica receita da felicidade é que será tarefa impossível: onde não há liberdade não há felicidade.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
CONTRA A IGUALDADE
A melhor forma de explicar porque o princípio da igualdade é uma mera utopia é abrir o sítio do jornal A Bola, ler alguns comentários e escolher um apropriado:
"acho que o mas correto era tu t dimitires,tu e mas os teus digirente o Arsenal é um grande merece ser dirigido por pessoas conpetentes.e voces rieram com um projecto que a mas de 4 anos não da certo e digo mas,este projecto não vai dar serto nunca porque pq estão sempre a vender jogadores."Não, lamento mas não: não somos todos iguais.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
GEOMETRIA FRACTAL
Os conceitos de geometria fractal demonstram a capacidade para, simultaneamente, o todo conter a parte e a parte conter o todo.
DO PRESENTE E DO ETERNO
Conseguir um humano definir o que é o presente é tarefa impossível. Talvez seja a melhor forma pensá-lo como o tempo que não é nem passado nem futuro. Daqui saem duas coisas curiosas: a primeira é a noção de que a definição para o momento presente é igual à noção de eternidade: tanto o primeiro como a segunda não têm nem passado nem futuro, simplesmente são. A segunda coisa curiosa decorre da primeira: se o momento presente - o que é real, portanto - é aquele momento sem passado nem futuro então todas as nossas memórias (o passado) e todos os nossos sonhos (o futuro) representam nada mais além do que o manto de irrealidade ilusória com que nos separamos do eterno. A vida será, portanto, o sonho do que fomos e uma projecção do que seremos; e destas abstracções se faz o carrossel da existência que, propulsionado pela ilusão de que há sequer um tempo, nos faz esquecer o eterno, ou seja: o que existe de facto. Nas palavras proféticas de Bill Hicks: a vida é apenas um sonho, a morte não existe e nós somos a imaginação de nós próprios.
DA IMAGINAÇÃO
O facto de eu nunca conseguir experimentar ser outra coisa que não eu impede-me de vislumbrar sequer a mais ínfima conclusão acerca da realidade universal: são sempre precisos dois pontos para desenhar uma recta. Sobra-me, portanto, a imaginação e, consequentemente, a possibilidade de felicidade.
AS THE DAYS KEEP TURNING INTO NIGHTS
Alexi Murdoch, 'All of My Days', Time Without Consequence (2006)
DA UNIDADE DAS ALMAS
Desde Platão até aos mais diversos autores, o Ocidente tem por hábito falar nas almas como sendo a parte espiritual dos homens; porque teria a alma, a existir, de ser múltipla e única a cada indivíduo é que me parece uma ideia que nunca foi bem explicada: tão válido seria afirmar que a alma é uma, una e universal - o objectivo divino, portanto - e que se manifesta subjectivamente através da matéria. Desta forma, aquela sensação de individualidade que todos transportamos, o que nos faz sentir como um eu, seria a mesma sensação para todos porque, no fundo, seria o mesmo eu que se revelava em diferentes formas. E de repente, o divino viveria de facto em nós, sendo que este nós na génese seria, tal como tudo o resto, um único eu apenas que disfarçado pelas infinitas máscaras da existência.
sábado, 23 de julho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
domingo, 26 de junho de 2011
sábado, 25 de junho de 2011
DA INTUIÇÃO
Se aceitarmos a noção de que a identidade individual é uma subjectividade então somos forçados a igualmente aceitar a ideia de que nunca lhe poderá caber - à identidade - qualquer objectividade: o subjectivo não pode ser objectivo porque aquele é, forçosamente, parte deste: é, portanto, mais pequeno e dentro do mais pequeno não cabe o maior (a parte não pode compreender o todo). Assim sendo, um dado que a subjectiva identidade tenha como certo nunca poderá ser um facto (os factos são objectivos por natureza). Chegamos assim à óbvia conclusão de que o mundo dos factos e das certezas está reservado ao objectivo, ao todo; ao absoluto, portanto. É este o fado dos homens, compreendermos que a nós, os subjectivos, apenas nos é permitido chegar aos factos (ao real) se por alguma arte mágica conseguirmos alcançar o absoluto. No entanto, imaginando que tal coisa possa ser possível - e é uma suposição - a parte ter a capacidade de conhecer (conhecer é diferente de compreender) o todo (porque dele faz parte) só poderá ocorrer no limite do cognoscível e para lá das regras que entendemos como banais: a parte não pode compreender o todo, porque não o abrange, no entanto a parte pode saber o todo, porque dele faz parte, porque são o mesmo. A partir daqui sobra a ideia de que o verdadeiro conhecimento - o absoluto -, a poder existir, e disso não podemos estar certos (tal como de mais nada), então tal conhecimento apenas poderá ser intuído e nunca verdadeiramente compreendido: assim, a intuição será o conhecimento absoluto e universal que, tal como o ADN, permanece dentro de todas as pequenas partes que compõem o todo.
A VIDA ETERNA
"E todavia, agora que me descubro vivo, agora que me penso, me sinto, me projecto nesta noite de vento, de estrelas, agora que me sei desde uma distância infinita, me reconheço não limitado por nada mas presente a mim próprio como se fosse o próprio mundo que sou eu, agora nada entendo da minha contingência. Como pensar que «eu poderia não existir»? Quando digo «eu», já estou vivo... Como entender que esta iluminação que sou eu, esta evidência axiomática que é a minha presença a mim próprio, esta fulguração sem princípio que é eu estar sendo, como entender que pudesse «não existir»? Como pensar que é nada? A minha vida é eterna porque é só a presença dela a si própria, é a sua evidente necessidade, é ser eu, EU, esta brutal iluminação de mim e do mundo, puro acto de me ver em mim, este SER que irradia desde o meu mais longínquo jacto de aparição, este SER-SER que me fascina e às vezes me angustia de terror... E todavia eu sei que «isto» nasceu para o silêncio sem fim..."
Vergílio Ferreira, Aparição
Vergílio Ferreira, Aparição
terça-feira, 21 de junho de 2011
O EFEITO RIZZO
A mulher perfeita? Emily Mortimer em City Island. Perdida mas resoluta, frágil mas corajosa, arrojada mas fugitiva. Tudo temperado com uma certa dose de loucura própria da angústia escondida. Genuína, portanto.
O DESTINO
Assumimos o destino como sendo algo com peso, com força: é um desígnio, uma fatalidade. E é este peso que transportamos para as nossas vidas, para as escolhas que fazemos questionando-nos acerca do sentido que as coisas têm e se determinada coisa estará ou não destinada. Não é à toa que o destino se aborda com dois tempos, o passado e o futuro, e que ao primeiro corresponde uma afirmação plena de convicta certeza enquanto que ao segundo cabe sempre uma interrogação: se algo ocorreu porque assim tinha de ser, foi o destino; se algo vai acontecer porque assim terá de ser, será o destino? A verdade é que do futuro ninguém sabe e por isso do destino também não. O destino é a consequência lógica da compreensão humana acerca do tempo: é a noção hoje de que o amanhã vai acontecer; e como o amanhã vai acontecer independentemente da nossa vontade, à efectivação das nossas escolhas (sejam elas livres ou não) conferimos a nobreza do destino: a sensação de que o futuro, apesar de nos estar vedado, já aconteceu.
AS ESTÁTUAS
As pessoas gostam muito de "guardar os momentos" e para isso utilizam a tecnologia fantástica que é a fotografia. E assim os vemos, aos humanos, nas mais diversas poses, nos mais diversos locais, estáticos que nem esculpido mármore, à espera da imortalização daquele momento. Não consigo deixar de sentir uma certa tristeza nesta vã tentativa de agarrar o tempo: quando vemos os álbuns das vidas passadas lá estão as pessoas, passando-lhes os anos pelas caras, sempre com os mesmos sorrisos, sempre a olhar plenos de actuada felicidade para o olho mecânico que lhes vai guardar aquele momento. E é precisamente isso que é triste: os momentos dos homens são dinâmicos, são de acção, são de coisas que acontecem, de emoções que se vivem; por esta razão, as boas fotografias são aquelas que apanham o desprevenido, o acontecimento: aquelas que captam a emoção. Quanto às outras, as das poses, essas onde os humanos estáticos olham ansiosamente para a posteridade perguntando-se intimamente se irão ficar bem ou mal na fotografia, quanto a essas fotografias não captam momento algum a não ser sempre o mesmo sorriso forçado de quem na ânsia de captar os momentos da sua vida e os guardar num ficheiro fotográfico se esqueceu de viver aquele.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
DA CONSCIÊNCIA
Poderíamos dizer que felizes são os inconscientes que usufruem a todos os momentos do seu tempo a vida eterna porque da morte não têm conhecimento nem dela se apercebem. No entanto, o pesado fardo da consciência da própria finitude, porque deriva do conhecimento de si próprio e do mundo, representa também a excelsa oportunidade de contemplar de forma consciente o próprio infinito. Voltando-se a consciência para o imenso e para o todo e, forçosamente, será superior a sensação daquele que contempla em relação àquele outro que meramente usufrui. Ou pelo menos desta ilusão intuição (que a capacidade de consciência é proporcional à capacidade de contemplação) se faça o nosso contentamento: a cada consciência a respectiva chave que, única no seu código de ranhuras, abra a contemplação do infinito e, consequentemente, nos permita o vislumbre da felicidade e que quanto maior for a chave, maior seja esse vislumbre. Dessa forma, apesar de sem sentido, todo este pensamento consciente - e a angústia do conhecimento -, pelo menos, serviria para qualquer coisa.
VISLUMBRE
A única verdadeira fórmula de felicidade é, ao contrário do que os especialistas de marqueting nos garantem, absolutamente fugaz e momentânea e passa pela capacidade de, a espaços, verdadeiramente ter a oportunidade de contemplar o milagre da vida e do mundo: nesse momento o infinito (o todo) é sentido por nós (a parte). E isso não se passa num anúncio de televisão.
GARANTIA E POSSIBILIDADE
Compete ao estado oferecer, não a felicidade para todos - porque não a pode garantir - mas sim a igual possibilidade de obtenção de felicidade que caberá a cada um aproveitar (ou não). E compreender e assumir esta pequena distinção faz toda a diferença e oferece muito mais possibilidades de felicidade para todos.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
DAS MÁSCARAS
Parece-me grande a capacidade luso-humanóide para ofender-se com a forma sem compreender que o que conta é o conteúdo: aquilo que, por trás da forma aparente, realmente está a ser dito. Há quem, com formas agradáveis, impolutas e afáveis passe a vida inteira sem se dar a conhecer a ninguém e seja capaz das maiores e mais dissimuladas faltas de respeito. Há, depois, as pessoas genuínas, aquelas com as quais se pode contar porque, de facto, espraiam-se no mundo, de peito aberto, mostrando quem e o que realmente são. Gosto mais destas, de facto. Já quem prefere as primeiras fica, parece-me, a perder o real: não se ofende, irrita, toca, ou chateia, satisfazendo-se meramente com a hipócrita e superficial rede de compostas e simpáticas actuações sociais: o eterno baile de máscaras. É curto para viver, penso eu, gastar a vida a tentar agradar aos outros. Terão esses, com certeza, muito mais com que entreter as suas horas (escassas como a todos) do que gastá-las a aturar-me a mim. Felizmente: que eu para bailes de máscaras já nem para o Carnaval tenho grande paciência.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
MOMENTO POLÍTICO
Não posso afirmar com plena e certa convicção sobre o que vem aí. Mas tenho esperança. E só isso já é muito.
TURBILHÃO
Inundado de memórias, acossado por anseios e iludido pelos sonhos: a alma liberta-se e, finalmente, respira. Deve ser do tempo.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
quarta-feira, 1 de junho de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O SENTIDO DA VIDA DOS HOMENS
Se queremos compreender o nosso universo, o dos homens, imaginemos pois duas linhas paralelas, como as de um comboio, que se prolongam num plano infinito: não têm, portanto, nem princípio nem fim, nunca se tocam, apenas existem sempre, não lhe conhecendo nós nem de onde vêm nem para onde vão. Se imaginarmos essas linhas pairando no infinito vazio, compreendemos que, sendo essas duas linhas a única coisa que existe, sem início nem final, nenhuma dessas linhas saberá sequer, em relação uma à outra, qual delas é a da esquerda ou qual delas é a da direita. No infinito, sem final ou princípio, não se sabe sequer qual o lado para o qual elas se dirigem. Assim, será preciso que um humano nelas viaje para que se convencione qual delas é qual. Ao dizer o homem que a da direita é a da direita e que a da esquerda é a da esquerda, oferece-lhes ele uma relação que, forçosamente, apenas existirá em relação ao viajante: tivesse o viajante virado de cabeça para baixo e a da esquerda já seria a da direita e a da direita a da esquerda. Ou seja: todo o relacionamento entre as duas linhas e tudo o que lhes diz respeito apenas é de determinada forma porque é essa a forma que o viajante nelas vê. Quer isto dizer: é sempre o caminhante dessas infinitas linhas que as define, as relaciona e sem ele, elas, não se tocando, não se relacionariam nunca; elas relacionam-se por intermédio daquele que as interpreta. Imaginemos agora que estas duas linhas paralelas e infinitas representam as duas dimensões do nosso universo intelectual: a razão e a emoção; se assim for, é apenas no homem que elas, não se tocando, mas nele se manifestando, interagem uma com a outra e lhe oferecem um ponto de vista, uma interpretação, um pensamento: uma visão do universo. No entanto, para que possa este universo fazer sentido, não basta o ponto de vista humano pois se um homem caminhar a vida toda por essas duas linhas infinitas poderá ele definir qual delas é a da direita e qual delas é a da esquerda mas não saberá ele para onde vai pois não lhes conhecendo o início (o infinito negativo) nem o final (o infinito positivo), apenas indo em frente, sem qualquer ponto de referência exterior às linhas - como quem diz, sem conhecimento exterior ao da razão e ao da emoção - sem sequer saber se está virado para cima ou para baixo ou, ainda, tombado para um lado ou para o outro, sem fazer ideia de onde assentam as linhas, não poderá ele alguma vez sequer descortinar se vai para a frente ou se vai para trás, se vai para cima ou se vai para baixo, se vai para esquerda ou se vai para a direita. Na realidade, esse conhecimento é impossível de obter pois no plano da infinitude não há frente nem trás, simplesmente há... a infinitude. Se nos imaginarmos num comboio percebe-se melhor o ponto: apenas conhecendo o final e o início poderemos saber para que extremidade nos dirigimos; apenas sentindo a gravidade sabemos para que lado estamos virados e, na viagem que é a vida, ao longo de duas misteriosas linhas paralelas, sem essas informações fundamentais flutuamos sempre num infinito que, não sabendo nós sequer se vai do princípio para o fim ou se vai do fim para o princípio, não nos oferece qualquer sentido. É por esta razão que passamos a vida a tentar descortinar de onde vêm ou para onde vão as linhas que suportam a nossa existência, não nos ocorrendo, no entanto, que, sendo elas infinitas, forçosamente nem virão de nenhum lado como também não irão para lado algum. Se pensarmos no ponto de vista humano do universo - o nosso universo - como o ponto que ocupamos nessas duas linhas, percebemos que ele só ganha sentido (uma direcção, um objectivo, um desígnio) se oferecermos ao nosso posicionamento nessas duas linhas paralelas e infinitas precisamente um final; ou seja: somente se julgarmos conhecer o início das linhas como também apenas se lograrmos compreender para onde tendem elas e onde terminarão - para onde nos dirigimos, portanto -, apenas aí o nosso universo ganhará um sentido. Somente se soubermos de onde vimos e percebermos para onde vamos poderemos compreender onde estamos. Na realidade é preciso oferecer um limite à infinitude universal. Apenas aí poderemos então afirmar que sabemos para onde vamos. No entanto, como a presente metáfora pretende elucidar, esse conhecimento único que nos pode oferecer um sentido para o nosso caminho não está empiricamente disponível: é incognoscível. Dessa forma, quem pretender saber com toda a certeza para onde se dirigem os trilhos da existência humana encontrará apenas desilusão e tristeza pois esse supremo e infinito conhecimento não poderá alguma vez ser apreendido por seres finitos e ínfimos como nós: apenas um ser infinito e universal poderá compreender o infinito universal. Estamos então perdidos para sempre? Será a insatisfação humana um desígnio impossível de ultrapassar? Estaremos nós condenados a pairar sem ter alguma vez terreno firme onde assentar os pés? Com certeza que não pois que nos sobra o sonho. Sonhar o que somos e o para onde vamos permite-nos oferecer um limite compreensível para a infinitude da existência. O sonho sendo maior do que os homens mas sendo - porque é inventado por nós - menor do que o infinito, permite-nos imaginar um limite universal que será forçosamente superior que o nosso mundo (satisfazendo-nos) mas forçosamente inferior à realidade (sendo, por isso, alcançável). Apenas pelo sonho e pela intuição poderemos imaginar de onde vêm e o que são essas duas linhas, por isso poderemos crer de onde vimos; da mesma forma, apenas pelo sonho e pela imaginação poderemos intuir para onde vão as linhas e almejar um desígnio que nos ofereça sentido à nossa própria vida. A verdade é que nessa viagem sobre essas duas linhas infinitas que é a vida humana, todos saímos sempre antes do fim da linha, a vida continua sempre, as linhas continuam sempre para aqueles que nos sobrevivem, para quem nelas permanece, sobrando apenas para aqueles que dela saem as crenças e os sonhos que nela transportaram. Nenhum homem alguma vez verá o fim das linhas, da mesma forma como homem algum alguma vez lhes vislumbrou o início. E desse desconhecimento se faz o mistério da existência que sendo infinitamente insondável nos permite oferecer à nossa mísera existência - através do sonho - o sentido que muito bem nos aprouver: não podendo conhecer-se nada pode sonhar-se tudo! e é precisamente essa construção individual sobre o para onde vamos e o porque vamos (o mundo particular e único de cada um) que nos define como aquilo que de facto somos: os nossos sonhos, os nossos anseios e as nossas vontades. Neste sentido, a nossa ignorância representa a nossa suprema liberdade.
ELOGIO ÀS MULHERES (II)
"Sem a mulher, a aurora e o ocaso da vida seriam sem socorro, e o meio-dia sem prazer."
S. Barreto
In Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
S. Barreto
In Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
ELOGIO ÀS MULHERES
"É mister que os povos se embruteçam
em seus braços, ou se civilizem a seus pés
...............................................................
É em vossa alma, jovens esposas, que
repousam os destinos do género humano."
Aimé Martin
in Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
em seus braços, ou se civilizem a seus pés
...............................................................
É em vossa alma, jovens esposas, que
repousam os destinos do género humano."
Aimé Martin
in Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
terça-feira, 24 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
CONTRA OS CENSORES DO POLITICAMENTE CORRECTO
"Atacar a independência do pensamento, a liberdade dos espíritos, é não só ofender o que há de mais santo nos indivíduos, mas é ainda levantar mão roubadora contra o património sagrado da humanidade - o futuro-. É secar as nascentes da fonte aonde as gerações futuras têm de beber. É cortar a raiz da árvore a que os vindoiros tinham de pedir sombra e sossego. É a atrofiar as ideias e os sentimentos das cabeças e dos corações que têm de vir. O contrário disto tudo é que é a bela, a imensa missão do escritor. É um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras. Para isso toda a independência de espírito, toda a despreocupação de vaidades, toda a liberdade de jugos impostos, de mestres, de autoridade, nunca será de mais."
Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto, Carta a Castilho (1865)
Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto, Carta a Castilho (1865)
INSTITUTIONELE ADVERTENTIE
Dames en Heren, uit Rotterdam, ik geven u: Maudy met Cosmic American (2011)
sexta-feira, 20 de maio de 2011
A VERDADE
Tenho sido todos os dias importunado com panfletos do Bloco de Esquerda. A cada um que me é estendido, eu tenho respondido, com educação, que "não muito obrigado" porque "sou defensor do direito à propriedade privada". Nenhum dos panfletários negou a acusação implícita de que o Bloco de Esquerda é anti-propriedade privada. Pois é, é a falar com eles que se lhes tira o capachinho e deixa à mostra a careca totalitária.
FRED & SAU
Quem quiser seguir uma maravilhosa aventura pelo sudoeste asiático (por ora, depois não apenas) podem sintonizar a sua actividade cibernética para o blogue dos meus amigos Fred e Sau. A Sau tem costelas asiáticas por isso está como peixe na água, agora o tótó do Alfredo vai ser giro de ver a livrar-se das osgas, escorpiões e afins... Não percam, grande história, excelentes estórias e muito boas fotografias num blogue extremamente bem feito.
DA MUDANÇA
Faz parte da vida dos homens encontrar soluções que pensa serem eternas para problemas dos seus dias e, dessa forma, construir um mundo presente que o acolhe e satisfaz. No entanto, inapelavelmente, mais tarde ou mais cedo essas soluções esgotam-se em novos problemas e aquilo que parecia uma certeza salvífica tarde ou cedo se torna num problema a carecer de resolução. A mudança perpétua é a única certeza dos tempos dos homens porque a sua interacção não é estática e repetitiva, pelo contrário, é antes dinâmica e criativa e, por esta razão, de tempos a tempos, o mundo muda e o presente já não é solução para o futuro. Claro que mudar de vida assusta: é preciso colocar em causa o que se julgava certo, aceitar a perenidade das certezas e abraçar o risco do desconhecido; receio é o mínimo que a prudência dos vivos aconselha. Mas é aí que se vê também a verdadeira coragem dos homens: fazer repetidamente aquilo que acriticamente se "sabe" ser uma receita vencedora nada tem de corajoso, é um automatismo; já arriscar no desconhecido munido apenas com a esperança de construir um mundo novo exige a suprema coragem e valentia daqueles que construirão - forçosamente - o amanhã que se erguerá resplandecente das cinzas do mundo presente que agora entra em colapso. É preciso coragem mas, acima de tudo, inteligência para compreender que ter a coragem de mudar é a única solução: a alternativa é colapsar juntamente com o mundo que agora entra em colapso. Sintetiza Antero de Quental este sentimento com a sua prosa única e distinta quando se refere à mudança sentida em Portugal no Século XVI:
"Este mundo desarmónico tinha contudo uma extraordinária força de vitalidade. Firmava-se no que há de mais tenaz e resistente no mundo: o mal e a ignorância; a miséria e a superstição. E, como o abuso e a tirania também têm os seus fiéis, e o erro e a ilusão os seus crentes, a Idade Média, ao soar a sua última hora, tinha ainda muito quem a amasse, quem dela e por ela vivesse, respirando contente suas névoas ainda as mais pesadas. As almas viram-se nuas, despojadas do brando conchego das antigas crenças. As tradições quebraram-se uma a uma e os homens, deixando de suster nas mãos esses fios condutores no labirinto da vida, sentiram-se isolados e fracos. A lousa caiu, pois, sobre o cadáver da idade passada no meio de um coro tristíssimo de soluções, dos suspiros e das lamentações dos seus fiéis desolados. Por outro lado o futuro parecia incerto e cheio de dúvidas."
Antero de Quental, O Futuro da Música (1865)Se substituirmos onde se lê "Idade Média" por "Socialismo de Estado" temos um perfeito relato sobre a decisão que se impõe agora perante os Portugueses: continuar a insistir num modelo pejado de direitos garantidos (independentemente da sua correspondência com os respectivos deveres) que sobrevive através do movimento perpétuo de criação de dívida (até ao colapso inevitável) e que nos impõe uma constante e exasperante pobreza sistémica ou compreender que é preciso acompanhar o mundo da produtividade, competitividade - e correspondente riqueza - criando um novo modelo de direitos e deveres assente na liberdade individual (e o risco que esta comporta), no mérito e no trabalho. Ou seja: enfrentamos a escolha entre, por um lado, entrar em colapso económico agarrados a certezas do passado (que se tornam evidentemente erradas ao levarem-nos à bancarrota sócrates) ou, pelo outro lado, ter a coragem de começar a criar um mundo novo em que estar entre os melhores não seja uma mera quimera mas uma real possibilidade. Uma possibilidade que terá de ser conquistada com esforço, dedicação, coragem e, principalmente, muito trabalho. Acima de qualquer gosto pessoal, institnto de simpatia ou antipatia por este ou por aquele, acima de tudo o resto, é exactamente esta a decisão que temos pela frente no próximo dia 5.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
MEMÓRIA CURTA
Agora toda a gente fala nas PME: ele é o Louçã, ele é o Portas, ele é anúncios na televisão. E da Manuela Ferreira Leite, lembram-se?
DO DEVER
"O homem sente em si mesmo um forte contrapeso contra todos os mandamentos do dever que a razão lhe representa como tão dignos de respeito: são as suas necessidades e inclinações, cuja total satisfação ele resume sob o nome de felicidade. Ora a razão impõe as suas prescrições, irremitentemente, e também como que com desprezo e menoscabo daquelas pretensões tão tumultuosas e aparentemente tão justificadas (e que se não querem deixar eliminar por qualquer ordem). Daqui nasce uma dialéctica natural, quer dizer uma tendência para opor arrazoados e subtilezas às leis severas do dever, para pôr em dúvida a sua validade ou pelo menos a sua pureza e o seu rigor e para as fazer mais conformes, se possível, aos nosso desejos e inclinações, isto é, no fundo, para corrompê-las e despojá-las de toda a sua dignidade."
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
terça-feira, 17 de maio de 2011
DIREITO À INDIGNAÇÃO
Em cada Português que por esse país fora, à passagem de sócrates, o pequeno, se erga e exclame em audível e inflamado ensejo: mentiroso!, eu vejo um Português da fibra dos que fizeram a grandeza lusitana: o direito à indignação é o refúgio último de quem foi roubado, espoliado e falido sem hipótese de defesa.
ANÁLISE DA SITUAÇÃO POLÍTICA
Não tenho conseguido ver os debates políticos em que josé sócrates, o pequeno, participa: ver alguém a mentir daquela forma, vil e torpe, nojenta mesmo, revolta-me. Volto a repetir: a única forma de nos vermos livres desta ignóbil criatura é ter uma maioria absoluta de centro-direita no Parlamento. É um imperativo nacional, caso contrário: com um governo PSD\CDS minoritário o escroque não se demitirá de secretário geral do ps (minúsculas intencionais enquanto esse partido for liderado por uma clique de criminosos) e permanecerá no Parlamento a minar a recuperação económica do país (tentando evitar o cumprimento das medidas BCE\FMI) para causar novas eleições e recuperar o poder. Quanto à sua recusa (a do fora-da-lei sem-vergonha) de um governo maioritário PSD\CDS caso o ps tenha nem que seja mais um voto do que o PSD devo dizer-lhe que aí ficará a gritar da rua, o aldrabão: o Presidente da República ouve os partidos eleitos e, normalmente convida o líder do partido mais votado a formar governo; no entanto, se houver uma maioria estável que assuma que chumbará o programa do governo desse partido mais votado e que apresente (com maioria, repito) disponibilidade para formar ela própria um governo (que com maioria aprova facilmente o seu programa) então o Presidente não tem alternativa a convidar essa maioria para formar governo pois apenas ela (configurando uma maioria absoluta) tem a capacidade de chumbar ou aprovar programas de governo. O aldrabão salafrário não compreende - não quer compreender - o funcionamento básico do nosso sistema semi-presidencial. Possa haver essa maioria que nos livre deste coveiro corrupto e que o mande chafurdar na lama pantanosa debaixo da pedra de onde nunca deveria ter saído: traição à pátria, é do que se trata.
[repito: sócrates, esse cacique trauliteiro, criminoso de colarinho branco, deveria ser julgado por traição ao povo Português e cumprir pena; ele e os da sua clique criminosa que, sem pejo, assaltaram o o país nos últimos anos tirando a todos, aniquilando o estado, falindo o país e distribuindo os nossos impostos por dívida criada para com os amigos parasitas que vivem à custa do estado sem nada produzir e, pior ainda, para com as empresas dos interesses económicos que servem; se isto não configura traição à pátria então não sei o que poderá ser traição à pátria]
[repito: sócrates, esse cacique trauliteiro, criminoso de colarinho branco, deveria ser julgado por traição ao povo Português e cumprir pena; ele e os da sua clique criminosa que, sem pejo, assaltaram o o país nos últimos anos tirando a todos, aniquilando o estado, falindo o país e distribuindo os nossos impostos por dívida criada para com os amigos parasitas que vivem à custa do estado sem nada produzir e, pior ainda, para com as empresas dos interesses económicos que servem; se isto não configura traição à pátria então não sei o que poderá ser traição à pátria]
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