Faz parte da vida dos homens encontrar soluções que pensa serem eternas para problemas dos seus dias e, dessa forma, construir um mundo presente que o acolhe e satisfaz. No entanto, inapelavelmente, mais tarde ou mais cedo essas soluções esgotam-se em novos problemas e aquilo que parecia uma certeza salvífica tarde ou cedo se torna num problema a carecer de resolução. A mudança perpétua é a única certeza dos tempos dos homens porque a sua interacção não é estática e repetitiva, pelo contrário, é antes dinâmica e criativa e, por esta razão, de tempos a tempos, o mundo muda e o presente já não é solução para o futuro. Claro que mudar de vida assusta: é preciso colocar em causa o que se julgava certo, aceitar a perenidade das certezas e abraçar o risco do desconhecido; receio é o mínimo que a prudência dos vivos aconselha. Mas é aí que se vê também a verdadeira coragem dos homens: fazer repetidamente aquilo que acriticamente se "sabe" ser uma receita vencedora nada tem de corajoso, é um automatismo; já arriscar no desconhecido munido apenas com a esperança de construir um mundo novo exige a suprema coragem e valentia daqueles que construirão - forçosamente - o amanhã que se erguerá resplandecente das cinzas do mundo presente que agora entra em colapso. É preciso coragem mas, acima de tudo, inteligência para compreender que ter a coragem de mudar é a única solução: a alternativa é colapsar juntamente com o mundo que agora entra em colapso. Sintetiza Antero de Quental este sentimento com a sua prosa única e distinta quando se refere à mudança sentida em Portugal no Século XVI:
"Este mundo desarmónico tinha contudo uma extraordinária força de vitalidade. Firmava-se no que há de mais tenaz e resistente no mundo: o mal e a ignorância; a miséria e a superstição. E, como o abuso e a tirania também têm os seus fiéis, e o erro e a ilusão os seus crentes, a Idade Média, ao soar a sua última hora, tinha ainda muito quem a amasse, quem dela e por ela vivesse, respirando contente suas névoas ainda as mais pesadas. As almas viram-se nuas, despojadas do brando conchego das antigas crenças. As tradições quebraram-se uma a uma e os homens, deixando de suster nas mãos esses fios condutores no labirinto da vida, sentiram-se isolados e fracos. A lousa caiu, pois, sobre o cadáver da idade passada no meio de um coro tristíssimo de soluções, dos suspiros e das lamentações dos seus fiéis desolados. Por outro lado o futuro parecia incerto e cheio de dúvidas."
Antero de Quental, O Futuro da Música (1865)
Se substituirmos onde se lê "Idade Média" por "Socialismo de Estado" temos um perfeito relato sobre a decisão que se impõe agora perante os Portugueses: continuar a insistir num modelo pejado de direitos garantidos (independentemente da sua correspondência com os respectivos deveres) que sobrevive através do movimento perpétuo de criação de dívida (até ao colapso inevitável) e que nos impõe uma constante e exasperante pobreza sistémica ou compreender que é preciso acompanhar o mundo da produtividade, competitividade - e correspondente riqueza - criando um novo modelo de direitos e deveres assente na liberdade individual (e o risco que esta comporta), no mérito e no trabalho. Ou seja: enfrentamos a escolha entre, por um lado, entrar em colapso económico agarrados a certezas do passado (que se tornam evidentemente erradas ao levarem-nos à bancarrota sócrates) ou, pelo outro lado, ter a coragem de começar a criar um mundo novo em que estar entre os melhores não seja uma mera quimera mas uma real possibilidade. Uma possibilidade que terá de ser conquistada com esforço, dedicação, coragem e, principalmente, muito trabalho. Acima de qualquer gosto pessoal, institnto de simpatia ou antipatia por este ou por aquele, acima de tudo o resto, é exactamente esta a decisão que temos pela frente no próximo dia 5.
Pena que mais eleitores não possam ter acesso a este post, seguramente capaz de os inspirar a mudar! Fantástico, adorei!
ResponderExcluir"Tão eu".
ResponderExcluirS.