quinta-feira, 5 de maio de 2011

DA COMUNIDADE

A minha vizinha, octogenária convicta, tem por costume - que a princípio estranhei - comentar comigo a chegada da conta da água, da luz ou do gás. Diz-me ela que "tenha atenção que já chegou a conta", não vá eu esquecer-me de a pagar. Num desses moderníssimos e mui distintos prédios pejados de pessoas novas e modernas tal coisa seria impossível: é que antes - por oposição a hoje - vivia-se em comunidade, partilhando-se a vida e os seus pequenos e grandes acontecimentos. O individualismo excelso é uma novidade, essa sim moderna, e que, temo, quando passar, deixando finalmente vísivel o seu rastro de destruição impiedosa, não deixará saudade alguma, apenas remorso, pobreza e infelicidade. Gosto muito da minha vizinha.

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