"O «liberalismo», embora lentamente, criou uma nova ordem política e jurídica e uma nova administração. Mas de «liberal» teve pouco. Por causa da sua intrínseca fraqueza e do seu isolamento na sociedade portuguesa viveu até muito tarde sob a tutela do exército e, depois, sob uma forma de «fusão», ou seja, sob a tutela de partidos sem espécie de legitimidade, que na prática não se distinguiam e governavam por vontade do rei. Na essência um importação (às vezes forçada, às vezes voluntária), o «liberalismo» foi sempre buscar a França e a Espanha ideologias, modelos, métodos de acção e até programas. Nisto não se distinguiu da natureza imitativa da cultura letrada nacional.
Infelizmente, continuou também as tradições do «antigo regime». Um Estado que fez mais centralizado, despótico e intrusivo; a tendência para sustentar com dinheiro público uma classe média burocrática e «parasitária»; e uma constante intervenção na economia, em parte imposta pela ausência de capital privado, em parte por simples penúria financeira. Isto trouxe, como trouxera no fim do antigo regime, um défice permanente e uma dívida nacional sem proporção com pobreza e a dimensão do país."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e de Política
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