quinta-feira, 5 de maio de 2011

COMO O CENTRALISMO ORGANIZACIONAL LEVA À DÍVIDA

"O que o cidadão deixa de fazer por si fá-lo o estado por meio dum organismo novo, porque a sua força e complexidade estão na razão da força e do desenvolvimento da esfera de acção de cada cidadão. Ora a força do estado não pode existir senão organizada; isto é, não existe sem repartições e sem empregados, repartições tanto mais complicadas quanto mais perfeita é a organização, empregados tanto mais remunerados quanto são mais importantes os negócios de que se ocupam. O funcionalismo é pois o triunfo da centralização, a sua expressão mais completa, e pode sem ironia dizer-se que uma nação centralizada não chega à sua plenitude, não é, por conseguinte, perfeita, enquanto uma metade dos cidadãos não estiver constantemente ocupada em vigiar, governar e corrigir a outra metade... Mas toda essa gente vive: vive, absorve... e não produz. A ruína das nações centralizadas começa por aqui. Não há relação entre o que sai do trabalho e o que exige o consumo. Para acudir às necessidades do dia é preciso hipotecar o futuro. Mas o futuro há uma hora em que chega a ser presente, e nessa hora aparece por tal forma enfraquecido e sobrecarregado, que já para viver precisa pedir a um outro futuro mais longínquo o dobro e o triplo do que lhe tinham pedido a ele. Eis a progressão terrível da dívida pública! Progressivamente, não proporcionalmente, crescem as exigências do estado: e progressivamente, não proporcionalmente, diminuem os recursos do país, onerado, comprometido numa razão matematicamente assustadora. É neste momento que o fisco, até ali simples organismo como os outros, se desmascara e deixa ver o monstro cruel, tirânico e disforme que é realmente. Nesse momento de brutal fraqueza, toda a política se resume numa única palavra: dinheiro!"

Antero de Quental, Portugal Perante a Revolução de Espanha (1868)

Nenhum comentário:

Postar um comentário