"O «liberalismo» fora imposto por um exército (na origem, meio mercenário), pela banca inglesa, e, secundariamente, pela francesa, pelo apoio das Potências e por um príncipe mais brasileiro do que português. Fora das cidades (no fundo, de Lisboa e do Porto), ninguém o pedira e ninguém o percebia.
(...) No meio do tumulto, o «liberalismo», que não ignorava a sua fraqueza, tentou chegar a uma unidade que lhe permitisse governar o país. Sem resultado. Em 24 de Setembro de 1834, D. Pedro, o único «liberal» teoricamente acima das facções, morreu com uma encenação melodramática ao gosto da época. Ea partilha dos despojos consumou as velhas divisões do «movimento». A substância dos bens nacionais, à volta de 87 por cento vendida por «papel» (ou seja, por títulos da dívida pública ou por títulos da dívida do Estado a servidores, que D. Miguel demitira ou que se haviam juntado à causa da rainha na emigração ou na guerra) e muito abaixo do seu valor real, acabou nas mãos de três centenas de privilegiados. O resto ficou para alguns milhares de pequenos proprietários, que comparavam mais caro e quase sempre metálico. Numa palavra, os chefes do «liberalismo» inauguravam o seu reino com a fraude e o arbítrio para se enriquecer a si mesmos."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e Política
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