Parte I
O triunfo desta visão positivista e a decadência da importância do discernimento humano na avaliação dos comportamentos humanos detecta-se na forma como as grandes empresas actuam defendendo os seus interesses tal como o cidadão individual na sua pequena função decide se determinado comportamento é aceitável ou não. No entanto, acima de tudo, em nenhuma função é mais evidente do que na actividade política: aí tudo vale desde que se respeite a 'ética republicana', ou seja: a ética da lei. E para cada vez que se antevê que determinado comportamento lesivo do bem público é possível torneando, interpretando, muitas vezes de forma abusiva, a lei escrita, lá vem uma nova lei, um novo regulamento para resolver o problema. E, depois, mais interpretações e mais reinterpretações gerando um emaranhado de leis confusas, apenas acessíveis aos especialistas, onde quem dominar a especialidade leva o seu intento a bom porto e quem não a dominar é derrotado. No final, em nome do povo e do poder do povo, fazem-se todas essas leis que acabam por configurar um sistema legal ultra-complexo ao qual apenas os poderosos retiram vantagens porque apenas eles possuem os recursos que permitem contratar os especialistas. Pelo caminho se os comportamentos em julgamento são bons ou maus nem sequer interessa, nem sequer se sabe, apenas se estão conforme a lei ou não é o que os juízes podem julgar. Ou seja: quanto mais leis existirem, menor é a capacidade de aplicar-se a justiça.
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