quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

UM MUNDO CATITA (II)

Não resisti. Aqui fica a primeira cena do primeiro episódio. Deliciosa...

CHEQUER'S (II)

UM MUNDO CATITA

Ora aqui fica uma série de seis episódios, neste momento a passar na inigualável RTP2, esse refúgio único, último reduto da qualidade televisiva portuguesa. "Um Mundo Catita" estava pensado inicialmente para o cinema mas acabou em série de TV. Tenho de dizer que não me lembro de produção televisiva desta qualidade há muitos anos, mais de década seguramente. É um conceito inovador para Portugal, uma espécie de Herman José meets Larry David. Já tinham havido algumas tentativas, andam aí pela net os websódios do Nuno Markl, mas com esta qualidade e pensada para o grande público (se bem que nunca será grande público porque malucos do riso só aprecem de vez em quando???) ainda não tinha visto. Fica aqui o trailer, para quem quiser acompanhar os episódios estão disponíveis no youtube, basta pesquisar em "Um Mundo Catita".

POPPER MAGO

ode imortal (soltem os prisioneiros motif II)

Vimos.
Estamos.
Partimos.
E os outros que ficam,
choram as mágoas
pelos sentimentos que não se repetirão;
pelos abraços e beijos que não voltarão
daquele confim mágico
da nossa imaginação.
Fica o que ficou,
enquanto eu cá ficar.

E depois também isso deixará de ser.
E outros virão.
E outros partirão.
E no fim nada nem ninguém ficará,
a não ser a imortalidade
do incessante aproveitamento
do inevitável momento.

(Em momento que escorre,
sempre sem parar,
pensemos agora,
onde ele vai parar.)

Em cada um.
Por cada um.
A cada um os seus momentos.
Aproveitados, vividos e experienciados,
algures se amontoarão,
e aí ficarão.

sábado, 6 de dezembro de 2008

CHEQUER'S

É como uma núvem que, lá de cima, de forma agradável, inunda o espaço vazio que me rodeia e, dessa maneira, preenchendo-o, me envolve fazendo-me esquecer a minha solidão e granjeando-me com a esplendorosa companhia do meu, único e irrepetível, próprio momento. É o sentir que se liberta. É a identidade racional que se dissolve, efervescente, na identidade real, a minha, aquilo que eu já sentia mas que ainda não sabia que sentia, ou seja, o encontro do pensar e do sentir, duas faces de uma mesma moeda, opostos complementares, yin e yang, água e azeite, a poção mágica da vida, a chave do Presente mágico que é o momento.
Esse moemnto passa, constituido não sei por quantos momentos, a ansiedade espreita e eu rio-me, pelo menos por agora, por estes tempos plenos de momentos parece que consigo afugentá-la. A inquietude não dura. Mas e se durasse? O momento passa, seja ele de serena quietude ou de inquieta vontade. Passa. E de paz e de inquietude se faz a vida. E é maravilhosa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

REPARARAM?

Eu, por acaso reparei mas não me apercebi do que seria, foi preciso encontrar a explicação no blog "Abrupto", do José Pacheco Pereira, para conhecer o que causara tão estranha visão. Se foi giro aqui em Portugal, nas Maldivas (foto) parecia que os deuses sorriam. Engraçado.


"Nas Maldivas. 1 de Dezembro às 18:11 aproximadamente a Lat 4º N e Lon 73º E. (Fernando Miranda)"

In Abrupto, 1.12.08

"Da página do Observatório Astronómico de Lisboa:

Dia 1/12 conjunção entre a Lua, Vénus e Júpiter

Certamente já reparou que nos últimos tempos, ao anoitecer, surgem no céu, a sudoeste, dois pontos brilhantes. São os planetas Vénus (o mais brilhante) e Júpiter que lentamente se têm vindo a aproximar um do outro.

Como pode constatar na página de efemérides do OAL, os dois planetas vão-se aproximar até cerca de 2º (equivalente a 4 diametros da Lua) na madrugada do dia 1 de Dezembro. Na mesma página também pode verificar que ao longo do dia a Lua se vai juntando ao par, passando, durante a tarde, a menos de 1º de distância de Vénus.

Isto significa que ao anoitecer de dia 1 de Dezembro iremos ter muito próximos no céu os 3 corpos: Lua, Vénus e Júpiter. Se as condições meteorológicas o permitirem, será certamente uma bela visão."

(Fernando Correia de Oliveira)"

in Abrupto, 1.12.08

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

PEDRA FILOSOFAL



Manuel Freire canta António Gedeão

"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."

In Movimento Perpétuo, 1956

domingo, 30 de novembro de 2008

A PRISÃO DO PENSAR VS A LIBERDADE DO SENTIR

ode delfiniana (soltem os prisioneiros motif)

A madrasta enganadora,
do irreflectido cobiçar,
ensinou-nos no passado,
que a vida seria o pensar.
De tijolo em tijolo,
feitos de nobres pensamentos,
edificámos gigante muro
que ali nos veio cercar.
E se o pensar se faz de tijolos,
até quantos tijolos poderá o mundo pensar?
Sendo muitos, certamente,
não serão tantos quanto seria de desejar.
Por isso, por mais que se construa,
a matéria prima estará, sempre,
condenada a escassear.
E se batemos na cerca,
no invisível limite do nosso pensar,
há que ter calma,
porque da base da vida,
ainda falta algo analisar.
É do sentir que falamos agora,
e desse ninguém nos falou outrora;
é tão nobre acto quanto o pensar,
e há muito mais onde procurar;
há um planeta, uma lua e uma estrela,
há um infinito universal:
Havendo tanto que sentir,
e tão pouco que pensar,
da vontade de perguntar,
porque dá o pensar tão pouco que sentir,
e o sentir tanto que pensar.

JOY DIVISION (III)

CHIADO

A cada dia que passa, me convenço mais que a profunda vida de uma cidade está mais nos seus excluídos, naqueles que cantam, gritam, pedem e actuam para sobreviver, vivem das suas artes, dos seus engenhos; está mais naquelas estórias inverosímeis e anormais que nunca se inscrevem na História, do que no conjunto amorfo de seres perfeitos, belos, que fazem o que acham que devem fazer, pejados de pessoas veneradas, futuras estátuas de mármore branco, normais, em tudo iguais uns aos outros e que quando passam pelos excluídos anormais, viram a cara com a indeferença própria de quem habituado a tanta "normalidade" já nem sequer reconhece a humanidade noutro ser.

VALOROSO COMBATENTE DA INJUSTIÇA INFORMÁTICA-FASCIZANTE

BREVE QUESTIONÁRIO SOBRE A SINTAXE PROGRAMÁTICA DA VIDA SINTÉTICO-SINÉTICA

1. E se a História do Homem for algo pequeno demais para ser contado?

2. E se, por mais que remarmos, nos dirigirmos unicamente para o ponto de partida?

3. E se formos tão pequeninos que por mais que tentemos não chegamos a ser significantes?

4. E se tudo o que conhecermos e tivermos como certo não for mais do que uma singela e dourada (ou negra) ilusão?

5. E se não formos mais do que almas perdidas que se espraiam por este planeta, livres (ou prisioneiras) como o vento (ou como uma criança num carrocel infinito) e que só sopram uma vez?

6. E se não houver vida para lá da vida, que é como quem diz: e se a morte é mesmo aquilo que aparenta ser, ou seja, a ausência de vida?

7. E o que fazemos nós (cada um do respondedor do questionário na sua liberdade pessoal, não refugiado num "nós" que obrigando a todos, não obriga a ninguém, talvez fosse mais correcto perguntar "o que fazes tu") quando compreendemos que todo este mundo que os homens inventaram só faz sentido se respondermos a todas as questões anteriores com as respostas que, de todas, fazem menos sentido?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

THE ANIMALS SAVE THE PLANET!

Ficam aqui um conjunto de pequenas animações, feitas em plasticina, absolutamente deliciosas sobre pequenas coisas que podemos fazer para impedir a rápida degeneração a que se vem assistindo no nosso planeta. Vale mesmo a pena ver e para quem quiser ver em melhor pormenor pode mesmo aceder aqui.
Vejam e passem aos vossos amigos!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

JOSÉ GIL, "PORTUGAL HOJE: O MEDO DE EXISTIR" (II)


"Vê-se que o o espaço público falta cruelmente em Portugal. Quando há diálogo, nunca ou raramente ultrapassa as «opiniões» dos dois sujeitos bem personalizados (cara, nome, estatuto social) que se criticam mutuamente através das crónicas nos jornais respectivos (ou no mesmo jornal). O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso. É uma espécie de de argumento de autoridade invisível que pesa na discussão: se é X quem o diz, com a sua inteligència, a sua cultura, o seu prestígio (de economista, de de sociólogo, de catedrático, etc.), então as sua palavras enchem-se de uma força que não teriam se tivessem sido escritas por um x qualquer, desconhecido de todos. Mais: a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano de prestígio mediático - que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-o como o melhor, o mais competente, o que realemnte merece estar no palco do mundo.
A não existência de um espaço anónimo de devir das ideias e das obras retira, além do poder de criação, o dispositivo necessário (a mediação) que dessubjectiva o discurso e imperde o choque dos «sujeitos». SE, na maioria dos casos, a crítica, em Portugal, descamba no insulto pessoal, no embate imediato de dois «fulanos» - ou no elogio sobrevalorizante - é por ausência de um terceiro termo que medeie a relação dos dois interlocutores. O elogio desrealizante tem idêntica origem: agora não é o choque se procura, mas o seu avesso, a osmose admirativa máxima, sem mediação, com o outro - duas vertentes de um mesmo tipo de relação."

in "Portugal Hoje: O medo de Existir", pp 28-29

JOSÉ GIL, "PORTUGAL HOJE: O MEDO DE EXISTIR"


"A televisão portuguesa é como toda a gente sabe (e com raríssimas excepções, que toda a gente também conhece) uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação de iliteracia. E a rádio e a imprensa (sempre com excepções que há em tudo)fecham constantemente as aberturas mínimas, as fendas e brechas por onde algum ar fresco, alguma força livre pudesse passar ainda.
(...)O espaço público deveria ser aberto, mas fechando-se, limitando-se, permite que o telespectador, o ouvinte e o leitor sejam imediantamente absorvidos pela sombra branca ou dupla realidade com que se deparam. Por um lado estão ali, o mundo agora, o seu país, a sua cidade ou a sua aldeia, numa abertura virtual de imagens sem fim; por outro é apenas aquilo, com o sentido com que deve ser já pensado, as notícias, os comentários semanais dos comentadores, os pensamentos que confirmam o meu pensamento antes de o ter, a minha existência reduzida a uma massa pastosa que engole as imagens e nunca treme realmente com o que vê ou com o que lê.
É desta forma que a minha vida se insere na vida do mundo, não se inscrevendo nela. O espaço público, essencial à democracia, foi-me roubado. Roubado pelo sistema partidário, pelo sistema representativo, pelo sistema mediático transcendente. DE uma vida nada se inscreve, nela nada sucede por efeito «dos acontecimentos» mundiais ou nacionais que o espaço dos média «reportam» ou «comunicam». É, pois, um acontecimento «para se comunicar» não para eclodir no curso da minha vida. Nada mudou. A sombra estende-se e cobre o mundo inteiro que é Portugal."

in "Portugal, Hoje. O medo de existir", pp 31 - 32.

TEMPOS DE ESCRITA

Escrever é viver. À medida que a caneta rola pelo papel, à medida que a tinta vai escorrendo por páginas a fio, o tempo flui, não penso em mim, vivo o presente e gasto as angústias do meu ser numa sequência, infelizmente finita, de pequenos presentes que se perpetuam.
Pudesse eu escrever corajosamente a todo o momento, que o momento, sendo a única diomensão da minha existência, seria, igualmente, o paraíso infinito da ausência do medo e da ansiedade, emoções que só são sentidas quando, numa psicose racional e humana perdemos o nosso tempo e, ridiculamente, pior ainda: achamos que conseguimos viver fora do presente. Imaginamo-nos, e viajamos ao futuro. Lembramo-nos e viajamos ao passado. Ansiamo-nos. Entristecemo-nos. Sentimos. Ou, talvez mais correctamente, sabemos que sentimos. Porque sentirmos, sentimos sempre. E mais ainda quando disso não nos apercebemos no imediato.
Não há maior contradição do que a escrita, essa torrente de sentimentos sentidos mas disso não sabidos até serem lidos.
Que se faça o Presente de escrita sentida. E que a leitura do que escrevemos seja a lembrança do que sentimos. E o Futuro, não ansiado, aquele pequeno e breve instante que vai do momento em que tal pensamento aflora a nossa mente até aquele outro momento, imediatamente subsequente, em que tal pensamento passa a sentido latente num qualquer pequeno pedaço de papel.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

SUAZILÂNDIA (V)

Mbabane, capital da Suazilândia, Dezembro de 2007

Foto de AVP

SUAZILÂNDIA (IV)

Auto-estrada, Suazilândia, Dezembro de 2007

Foto de AVP

SUAZILÂNDIA (III)

A caminho de Mbabane, Suazilândia, Dezembro de 2007

Foto de AVP

SUAZILÂNDIA (II)

Vendedores, Suazilândia, Dezembro de 2007

Foto de AVP

SUAZILÂNDIA

A seguir à fronteira. Depois de uma grande aventura (esperem pelo vídeo) entrámos no paraíso africano. Qual Suiça... Dezembro de 2007

Foto de AVP

ÁFRICA DO SUL (V)

Momentos em que perdíamos a respiração. A caminho da fronteira com a Suazilândia, África do Sul, Dezembro de 2007

Foto de AVP

ÁFRICA DO SUL (IV)

Eu a caminho da fronteira com a Suazilândia. No topo do mundo! Foi dos melhores momentos que já vivi. Sala ni Chikwenbo!

Foto de AVP

ÁFRICA DO SUL (III)

Talvez aqui se veja aquilo de que tanto se fala em relação a África e das coisas que mais senti e mais me impressionou: Espaço. Isso e o cheiro a queimado. E o laranja vivo da terra, cor de barro, barro vivo, quase parece que, em África, tudo se faz de terra, de barro, sejam as casas, as coisas, as pessoas...

Kruger Park, África do Sul, Dezembro de 2007

Foto de AVP

ÁFRICA DO SUL (II)

Kruger Park, África do Sul, Dezembro de 2007

Foto de AVP

ÁFRICA DO SUL

Kruger Park, África do Sul, Dezembro de 2007

Foto de AVP

MOÇAMBIQUE (II)

Av. Mao Tse-Tung, Maputo, Dezembro 2007

Foto AVP

MOÇAMBIQUE

Praia, Maputo, Dezembro de 2007

Foto de AVP

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

FERNANDO PESSOA

"Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

OS PORTUGUESES DESCOBRIRAM A AUSTRÁLIA?

"O australiano Peter Trickett defende terem os portugueses descoberto a Austrália 250 anos antes do capitão James Cook e está a preparar um documentário televisivo. O autor mostrou-se convencido de que, pela experiência que já teve com o seu livro Para além de Capricórnio, em que procura demonstrar que os portugueses aportaram aquelas paragens antes do capitão James Cook em 1770, "o público em geral irá ter grande interesse". A tese da descoberta portuguesa da Austrália "tem um bom acolhimento por parte do leitor, que a aceita bem. O mesmo não acontece no meio académico, que acha que não é possível e não pode ser verdadeira, apesar das provas apontadas", disse Trickett.

Segundo defende, terá sido o navegador Cristóvão Mendonça, por volta de 1522, o primeiro português a avistar as costas australianas, quando navegava na zona por ordem de D. Manuel I, que o enviara em busca da "ilha de Ouro" citada nos relatos de Marco Pólo. Trickett fundamentou a sua afirmação em mapas portugueses que cartografaram parcialmente a Austrália no século XVI, chamando-a "Terra de Java".

Mendonça terá ancorado ao largo da actual Botany Bay, que cartografou, referindo as "montanhas de neve", dunas de areia branca que ali existiram. O estudioso menciona os cerca de 150 topónimos australianos "de clara origem portuguesa". "Que explicação se pode dar para tal?", questionou. Além dos mapas de origem portuguesa, Trickett aponta o aparecimento em mares australianos de dois potes de cerâmica de estilo português. Um datado do ano 1500, o da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, o outro aguarda datação. Cita-se ainda a descoberta de um peso de pesca com 500 anos, em Fraser Island, no Estado australiano de Queensland.

A política de sigilo das monarquias ibéricas dos reis D. João II e D. Manuel I, e que terá encoberto o conhecimento do Brasil, foi praticada para esta "Terra de Java", a Austrália actual. Tudo aponta, seguindo Trickett, para "uma clara antecipação da descoberta da Austrália pelos portugueses, a mando de D. Manuel I na busca da ilha de ouro". Hoje, a Austrália é o 3º maior produtor mundial de ouro. Para Trickett, "a natureza humana é o que é, não aceita ter-se enganado ou dizer que errou, tanto mais quando se trata de académicos, com teses e trabalhos teóricos publicados sobre o assunto".

"É certo que dizem que a tese é errada, insustentável, mas não fizeram qualquer crítica séria do ponto de vista científico. Acham que a minha tese é difícil de combater e preferem não dizer nada de concreto", sublinhou.

O estudioso afirmou à Lusa que continua a investigar o assunto e que o seu editor projecta editar esta obra em Espanha e na Holanda, onde há uma tese que refere que navegadores holandeses terão também avistado costas australianas antes de James Cook. LUSA"

in DN 29.10.2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

GEORGE CARLIN

Secção dos grandes comediantes

UNIVERSAL MIND

"I was doing time
In the universal mind,
I was feeling fine.
I was turning keys,
I was setting people free,
I was doing alright.

Then you came along,
With a suitcase and a song,
Turned my head around.
Now I'm so alone,
Just looking for a home
In every place I see.

I'm the freedom man,
I'm the freedom man,
I'm the freedom man,
That's how lucky I am..."

The Doors

terça-feira, 21 de outubro de 2008

BABYLON CIRCUS



"J'aurais bien voulu"

A CRÓNICA DE UM HAMSTER CHEFE DA RODA

Era uma vez um pequeno hamster que vivia numa gaiola com muitos outros hamsters. Ele gostava muito de viver na gaiola. Talvez porque não percebesse que vivia numa gaiola. A gaiola era muito grande e dava para andar de um lado para o outro. Tinha uma casa para si e para a sua família, o pai hamster e a mãe hamster. A casa era cheia de comida e de brinquedos. Passava o dia a brincar e a saltar. Era muito feliz. Mas chegou a altura de o pequeno hamster arranjar a sua própria casa. Só podiam ficar na gaiola gigante aqueles hamsters que chegados a determinada altura arranjavam a sua própria casinha. E para arranjar a sua própria casinha ele tinha de encontrar uma função na gaiola. Os hamsters que não tinham função na gaiola não podiam continuar a viver ali. Assim, o pequeno hamster arranjou uma função. Ele tinha de se montar numa roda e andar e andar e andar para fazer a roda girar. Ao princípio o pequeno hamster gostou muito da sua função. Chamavam-lhe emprego. Ele gostava muito do seu emprego porque gostava de andar na roda. Era como um carrossel. Dava voltas e voltas e voltava a dar voltas. Era muito divertido. Como ele era um bom andarilho, a roda dava muitas voltas e isso queria dizer que ele era muito bom na sua função. E por isso conseguiu arranjar a sua própria casinha. E depois de arranjar a sua própria casinha entreteve-se a decorá-la toda. Foi às melhores bancadinhas da gaiola e levou para a sua casinha muita palha para se deitar, muitas uvas para mordiscar e muitos brinquedos para brincar. Também, porque fazia a roda girar muito, podia comer tudo o que quisesse. E foi ficando mais gordinho. Mesmo assim continuava a conseguir girar a roda muito bem. Chamavam-lhe o chefe da roda porque de todos os hamsters que giravam as suas respectivas rodas, ele era o melhor de todos. E por isso pode mudar de casa. E passou a ter a melhor casa, com os melhores brinquedos e com a melhor ração para comer. O pequeno hamster era muito feliz. A girar, girar e girar. A rodar, rodar e rodar.
Passado alguns anos o pequeno hamster começou a querer fazer coisas diferentes. Estava aborrecido por a única coisa que tinha para fazer ser girar a sua roda. Ele gostava muito da roda mas precisava de se entreter com mais qualquer coisa. Quando dizia aos outros hamsters que precisava de mais alguma coisa os outros ficavam muito admirados porque não percebiam porque é que ser o chefe da roda não era suficiente para o pequeno hamster ser completamente feliz. É que todos os outros hamsters queriam ser o chefe da roda. E a maior parte deles nem sequer gostava de fazer girar a roda. Por isso é que o pequeno hamster é que era o chefe da roda. Porque ele gostava mais do que todos os outros de andar na roda. Mas com os outros hamsters não era assim. Eles andavam na roda porque também queriam ter uma casinha e muita palha para se deitarem. E queriam ser o chefe da roda para também terem uma casa tão grande e tão boa como só o chefe da roda poderia ter. E assim, eles viam o chefe da roda ter tudo o que eles queria ter e não percebiam porque é que o pequeno hamster não era feliz. O pequeno hamster também não sabia porque é que não era feliz. Então começou a ler muitos livros para tentar saber muitas coisas e depois, finalmente, poder perceber como poderia ser outra vez feliz. Tal como quando era pequenino e andava na roda só para brincar. Tal como quando era pequenino e no seu coraçãozinho cabiam todos os sonhos do seu pequeno mundo. Então o pequeno hamster aprendeu muitas coisas. Percebeu a história da gaiola, como tinha sido feita, quem a tinha construído e porque é que ele tinha de dar voltas na roda. E ficou muito triste. Porque percebeu que o verdadeiro chefe da roda não era ele. O chefe da roda era o dono da gaiola. E esse hamster nem sequer vivia na gaiola. O pequeno hamster nem sequer sabia quem ele era. E também percebeu que sabia muitas mais coisas do que os outros hamsters. E viu que não era preciso andarem todos a dar voltas nas suas rodinhas porque dar voltas nas rodas só servia para acumularem mais palha e mais brinquedos do que aqueles de que os hamsters precisavam. Brinquedos com que os hamsters nem sequer podiam brincar porque estavam sempre a dar voltas nas suas rodinhas. E o pequeno hamster percebeu que se todos os hamsters soubessem disso podiam todos brincar uns com os outros e serem todos muito felizes porque finalmente poderiam ser todos iguais, ninguém seria o chefe da roda, ninguém quereria ser o chefe da roda e todos eles poderiam ser amigos, tal como quando eram pequeninos. E o pequeno hamster tentou avisar os outros hamsters. Mas nenhum lhe deu nehuma atenção porque todos acharam que o pequeno hamsters os estava a tentar enganar para ser ainda mais chefe da roda. E foi aí que o pequeno hamster percebeu que a roda era uma coisa má porque fazia os hamsters serem inimigos uns dos outros em vez de serem amigos. Passou a não gostar da roda. E passou a não gostar da gaiola. Assim, foi andar à volta da gaiola para ver se podia sair. E viu que a gaiola era guardada por seguranças muito maus que trabalhavam para os chefes da gaiola. Mas um dia conseguiu fugir da gaiola. Levou comida para muitos dias e preparou-se para uma grande aventura.
Assim que saiu da gaiola o pequeno hamster viu quem eram os chefes da gaiola. E achou-os muito feios. Só queriam saber se as rodas andavam e não se importavam nada se algum dos hamsters que andava na roda se tinha magoado. Eram hamsters que gostavam mais das rodas do que dos hamsters que faziam as rodas girar. E não deixavam os hamsters ver como era o mundo fora da gaiola porque se toda a gente visse o mundo fora da gaiola não haveria mais ninguém para fazer girar as rodas. E, assim, o pequeno hamster fugiu para muito longe. E no caminho encontrou muitas gaiolas onde muitos hamsters giravam as suas rodinhas. E ele não queria mais ser o chefe da roda. Ele queria que todos gostassem dele por ser o pequeno hamster e não por ser o chefe da roda. O pequeno hamster agora sentia-se livre dos chefes da gaiola. Podia fazer o que quisesse fora da gaiola. Ele brincou muito, leu ainda mais livros e ficou a saber ainda mais coisas sobre as gaiolas. Porque se vê melhor e se aprende mais sobre as gaiolas quando se está fora da gaiola do que quando se está lá dentro. E passou assim algum tempo. Feliz e despreocupado porque não devia nada a ninguém, ninguém lhe devia nada a ele e porque sentia que sabia muito. Foi descobrir o mundo fora da gaiola. Viu muitos rios e mares, montes e montanhas, céus e infernos, paraísos e desesperos. Viu muitas pessoas, camelos e gorilas. Viu abelhas e lagartixas. Viu barcos e arranha céus. Viu casas e carros e sois e luas. Viu dias e noites, estrelas e luares, viu e sentiu tristezas e alegrias, músicas de sonhar e de adormecer. Até que começou a achar que já tinha visto muita coisa. E percebeu que quanto mais coisas tivesse para ver mais outras diferentes lhe apareciam para poder ver. E foi assim que percebeu que o mundo era infinito. E que ele por mais que soubesse era muito pequenino ao pé desse mundo infinito. E foi então que quis voltar para casa para poder dizer aos outros hamsters que havia tantas coisas bonitas para se ver fora da gaiola.
Quando o pequeno hamster voltou para a sua gaiola viu que tudo continuava na mesma tirando que o chefe da roda era agora um outro hamster. Foi com ele que primeiro foi falar mas o novo chefe da roda não o quis sequer ouvir porque pensou que o pequeno hamster só lhe queria roubar o lugar de chefe da roda. E mais ninguém quis ouvir o pequeno hamster porque o chefe da roda proibiu todos os hamsters de falarem com ele. O novo chefe da roda não queria deixar de ser o chefe da roda. E nem quando o pequeno hamster explicou que ser chefe da roda não era nada comparado com as coisas que havia para descobrir fora da gaiola ele se demoveu. E quanto mais o pequeno hamster tentava falar mais era mandado calar até que foi perseguido e se viu obrigado a fugir da gaiola. Foi aí que o pequeno hamster ficou muito triste outra vez. Porque percebeu que não tinha ninguém com quem falar. Não podia falar com ninguém dentro da gaiola porque não o queriam ouvir e não podia falar com ninguém fora da gaiola porque estava sozinho. E o pequeno hamster chorou. Chorou muito porque não queria estar sozinho. Fora da gaiola ele olhava lá para dentro e via muitos hamsters a darem voltas na roda. E já tinha saudades do tempo em que isso bastava para se ser feliz. Apeteceu-lhe esquecer tudo o que tinha aprendido e ser só mais um dos hamsters. Nem precisava de ser o chefe da roda. Mas depois lembrava-se de como o mundo era tão bonito e já não queria esquecer nada. Queria era partilhar essa beleza com alguém. Mas fora da gaiola não vivia ninguém.
E o pequeno hamster viveu sozinho durante muito tempo. Sempre sozinho. Debaixo das estrelas e da beleza do mundo. Cantava muito para adormecer. E assim foi durante muitos anos. Até que quando um dia lhe faltaram as forças deixou de cantar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

RICARDO ARAÚJO PEREIRA, "BOCA DO INFERNO"




















"Em duas páginas de entrevista, César das Neves usa cinco vezes a palavra deboche e condena o aborto, o preservativo, a homosexualidade, a masturbação e tudo o que, de um modo geral, ele calcula que possa dar prazer a alguém. Só há uma coisa que não se desculpa ao entrevistador, José Eduardo Fialho Gouveia: o facto de não ter perguntado a César das Neves qual é a marca de fósforos que usa nos seus autos-de-fé. Continuamos sem saber, e é pena.
A tese fundamental de César das Neves é esta: «o acto sexual não é só uma questão de prazer». E, se for excluida a intenção de procriar, o sexo transforma-se numa coisa mecânica, animal». A ideia de que o sexo para procirar é humano e o sexo pelo prazer é «uma coisa animal» é interessante, e a Natureza confirma-a:quais são os animais para quem o sexo serve o propósito da procriação? Raríssimos, se é que há algum. Mas quantas vezes não vimos já, no programa National Geographic, um urso a chegar à toca, cansado de um dia de trabalho, apenas para encontrar a ursa mergulhada numa banheira de espuma enfeitada com pétalas de rosa e velas a toda a volta, convidando o macho para uma noite de simples prazer animal? Tantas.
No fundo, é por causa de pessoas como César das Neves que o sexo é tão bom. Sem aquela noção de pecado, de transgressão, de malandrice perversa, o sexo teria muito menos graça. Por isso peço desculpa por dizê-lo tão cruamente, mas a verdade é esta: João César das Neves dá-me tesão. (...)"

in "Boca do Inferno", crónica "César das Neves, o sex symbol", pp 21-2

MANIFESTO CARROSSELIANO

Perdidos na noite e encontrados nas madrugadas, aos primeiros laivos do sol, ou ao primeiro sinal sonoro daquela passagem de nível, ou, pior, mau, nada bom, ao sinal sonoro daquele despertador, ou aos primeiros vizinhos que usam o elevador, perdidos nos sonhos, acordados na realidade, dura, fria ou quente, depende dos sonhos, dos pesadelos, perdidos nos sonhos desvairados, encontrados nas manhãs ansiadas.
Encheste-me de sonhos, sonhos quesntes do dia, não os sonhos frios e perdidos do luar, enches-me de esperança, afinal Índia, afinal Tailândia, afinal o mundo, fora o frio cortante de mais uma rotunda, e mais uma volta, toquem o sino, riam-se madrastos feiticeiros porque já percebi que na frieza gélida do sonho nocturno nada é menos real do que na ilusão manhosa do mundo que vocês inventaram. Mais uma rotunda, mais uma espera, bora andar de carrossel, é tão giro giro giro andar a penar para lado nenhum.
E vai mais uma volta!
Uhuhuhuhu!
É uma volta infinita, nunca mais acaba, é eterna porque sem andar para trás quando chega ao fim, chega-se ao princípio, é essa a ilusão! Vejam! Vejam bem! É essa a ilusão, nada é finito, o infinito não existe, existem esferas perdidas que quando chegam ao fim afinal vão começar a começar.
Agora rio-me eu!
Deixem-me rir!
Deixem-me esperar!
Vamos no carrossel, vamos, vamos!
É só uma viagem...

THIS IS THE END

sexta-feira, 25 de julho de 2008

LARRY DAVID

Secção dos grandes comediantes

INVASÃO DE MEDUSAS REVELA MEDITERRÂNEO DOENTE

in DN 25.07.2008

"Cada vez em maior número, as medusas regressam todos os anos por esta altura às águas do Mediterrâneo. Nas ilhas Baleares, os veraneantes apercebem-se do problema, porque estes seres gelatinosos lhes estragam os banhos de mar. Mas a questão é mais profunda. A presença crescente destas criaturas marinhas na região denuncia, afinal, o desequilíbrio ecológico ali existente.

O diagnóstico é de uma equipa de biólogos marinhos da organização Greenpeace e do Instituto de Ciencias del Mar (ICM), em Espanha, que fizeram nas últimas semanas uma campanha de observação a bordo do navio Artic Sunrise, da organização ecologista.

"As medusas são o paradigma do desequilíbrio ambiental das nossas águas", afirmou a propósito a bióloga Dacha Atienza, do ICM espanhol, citada num comunicado da organização ambientalista.

"Sabe-se muito pouco sobre a ecologia das espécies mais comuns no Mediterrâneo e a falta de estudos científicos é uma parte do problema", notou a mesma especialista, chamando a atenção para a "necessidade de investigar de forma mais intensiva os fundos marinhos na região das Baleares e as comunidades biológicas ali existentes". Sem essa informação, diz a especialista espanhola, "é impossível garantir protecção adequada a essas espécies das profundidades".

Mas há outras causas para a proliferação das medusas naquela, e noutras zonas, do Mediterrâneo, adiantam os ecologistas. Entre elas, com a maior fatia de responsabilidades, estão "uma maior afluência de nutrientes às águas do mar", a pressão da "urbanização costeira" e da agricultura intensiva, que geram essa contaminação, a diminuição da entrada de água doce na bacia oceânica, devido aos caudais mais reduzidos dos rios que ali desaguam e outros desequilíbrios do ecossistema.

Com esta campanha de observação a bordo do Arctic Sunrise, que incluiu mergulhos a diferentes profundidades com um ROV para observação dos ecossistemas do fundo marinho, biólogos e ecologistas quiseram também chamar a atenção para "a necessidade de combater as causas que originam a presença crescente de medusas nas costas baleares a cada novo ano, como única forma de resolver o problema".

Entre essas causas está também a diminuição crescente, ao longo dos últimos anos, dos predadores das medusas. Esses predadores são espécies de maior parte, como o atum e as tartarugas marinhas.

Os primeiros têm sido sujeitos a uma pesca intensiva, o que acabou por provocar uma queda acentuada nos efectivos da espécie. As segundas, além de afectadas pela poluição, são também sensíveis ao aumento da temperatura das águas, registada nas últimas décadas devido às alterações climáticas. E esta é outra questão para a qual biólogos e ecologistas chamam agora inevitavelmente a atenção.

Desde o século XIX, as águas superficiais do Mediterrâneo sofreram um aumento de temperatura da ordem dos 0,6 graus, o que é outro incentivo importante para as medusas. É que estes seres gelatinosos, que são nocivos para outras espécies mais vulneráveis, como é o caso dos corais, "gostam" muito de águas quentes.|- F.N. "

sexta-feira, 18 de julho de 2008

E O PRÉMIO DESBLOGUEADO PARA O PIOR LIVRO DE 2007 VAI PARA...



Já tinha tido a oportunidade de ler o "Equador", romance de estreia de Miguel Sousa Tavares. Achei fraco mas com algum interesse. Não adiantou nada à minha vida, as personagens pareceram-me ocas, descontinuadas e incoerentes mas a vivacidade do relato africano permitiu-me disfrutar do romance e não dar o meu tempo como completamente perdido. No Natal passado recebi como prenda o "Rio das Flores", o segundo romance do mesmo autor e grande acontecimento mediático pois, pela primeira vez em Portugal, a sua primeira edição cifrava-se nuns módicos 100 000 exemplares. Talvez os sete meses que demorei a lançar-me no trabalho de começar a ler este segundo romance de Miguel Sousa Tavares possam atestar o pouco entusiasmo que "Equador" me transmitiu mas nada me preparou para a catacumba de inabilidade literária em que me vi enfiado nos últimos dois ou três dias em que me forcei a terminar a leitura deste segundo romance. Numa palavra: péssimo. Numa segunda palavra: fraquíssimo. Numa terceira palavra: irritante. As personagens são completamente desprovidas de profundidade, ocas e superficiais, lançadas em diálogos de uma descontinuidade e infantilidade absolutamente constrangedoras e inseridos numa narrativa que só acompanha o absoluto desinteresse literário com alguns relatos de cariz histórico, mas que nem sequer isso o são porque o autor não consegue deixar de se arrogar em mensageiro da verdade e de nos atirar à cara com aquilo que são as suas opiniões. Um narrador será sempre, pela importância que tem numa narrativa, dos desafios mais complexos que o escritor tem pela frente. Um narrador opinativo e metediço (como Saramago o consegue fazer exemplarmente) será tarefa ainda mais complexa, agora Miguel Sousa Tavares oscila de forma descontinuada e literariamente incoerente entre o narrador imparcial que conta uma história e o comentador de terça feira da TVI onde dispara atoardas sobre os momentos que não aprecia da história do século XX português, esquece por completo a imparcialidade histórica e, pior ainda, não acrescenta nada de novo ou de particularmente interessante. Se o narrador falha rotundamente, os diálogos são tenebrosos. Trocas de palavras infantis, superficiais, forçadas e pejadas de lugares comuns fazem lembrar, a espaços, as imbecis (palavra que Miguel Sousa Tavares usa e abusa na sua narrativa para qualificar tudo e nada)trocas de palavras do expoente máximo da cultura comtemporâneza portuguesa que são as personagens da telenovela "Morangos com Açúcar". Em suma, consigo perceber que a triste política editorial que parece prevalecer neste mundo moderno, controlado pela ânsia da venda e não pela qualidade literária, leve a que tanto e tão mau se publique, percebo também que se imprimam 100 000 exemplares porque o marqueting tratará de os impingir como leitura obrigatória, percebo ainda que muitos portugueses possam ir ao engano e perder o seu tempo com este livro, agora gostar dele, isso só se quisermos mesmo mesmo mesmo muito saber o que é que o Miguel Sousa Tavares pensa sobre tudo e sobre nada. Em conclusão, um hino ao ego de um comentador fatalista, do mais negativo que temos na nossa praça e uma triste amostra de capacidade literária portuguesa. Com certeza que a Oficina do Livro, que entre outras pérolas nos oferece o brilhantismo da Margarida Rebelo Pinto, não deixará de continuar a imprimir cópias deste livro, talvez um dia seja o mais vendido de sempre em Portugal, que o exportem e mostrem a esse mundo que na capacidade de publicar banalidades, nós os portugueses, não ficamos atrás de ninguém.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

DES-ILUSÃO

E subitamente aquilo que eu tinha visto, pensado ver, sonhado ver
não sei
quem sabe
ali no final da rua, aquilo que eu tinha querido ver, desejado ver,
sei lá que queria eu
ali depois de tudo, no final de tudo, a seguir a tudo. Ali. Eu percebi que o que eu pensava ter percebido não era mais do que o oposto do que efectivamente seria suposto eu ter percebido.
Loop cerebral.
Rewind.
Volta atrás,
mentira
não há voltar atrás quando já se sabe que não se pode ir.
Máscaras de fumos.
Jogos distorcidos.
Traumas perdidos.
Espelhos partidos.
Anseios trocados.
E aquilo que poderia ser não foi, nunca o teria sido, ilusão perdida, ilusão iludida, disilusão sentida.

Os ornatos disseram que viram mas não agarraram, eu vi mas não agarrei, eu vi mas não havia nada para agarrar.

Ainda bem, antes mãos que não se esticam do que dedos cheios de nada.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CANTIGA DO AMIGO ANSIOSO

ode talveziana

Talvez seja mesmo suposto ser assim.
Se a incerteza é a única coisa certa,
então o talvez será certamente em mim,
a única palavra que o meu Eu aperta.

Talvez seja mesmo suposto assim ser.
Mas muitas vezes não gosto do talvez
porque a ansiedade insiste em ler
a incerteza dos meus porquês.

E depois de tanto ansear,
anseia-se por tudo e por nada,
até que mesmo ao deitar,
pesadela-se com o sonho da trovoada.

E quando o leve descansar,
nada mais é do que noite anseada,
o cérebro começa a rebentar,
em aivos de respiração arquejada.

Mas ao novo dia o astro rei lança
raios de calma e de brancura,
talvez a pesadélica nocturna dança,
mais não seja que o lavar de alma impura.

Talvez assim seja, assim poderia ser.
Talvez seja o fim desta ansiedade,
Que alegria traria esse crescer,
Até seria benvinda a malfadada da idade.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

POLAR BEARS














I've signed the We Campaign's petition to put polar bears on the federal Endangered Species list. Will you join me? Just go to:
http://www.wecansolveit.org/page/s/polarbears

The We Campaign is an effort launched by Al Gore and the Alliance for Climate Protection to promote solutions to the climate crisis. It's an urgent issue, but the climate crisis is also solvable if we work together and unite our leaders around solutions like renewable power and enhanced energy efficiency. We can leave the next generation a healthy climate.

Thank you.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

ZECA AFONSO

"Traz outro amigo"



Não sendo o 25 de Abril o poço de virtudes que tantos lhe querem atribuir, do muito que teve de bom também muito permitiu de menos bom, tal como tudo na vida aliás, mas não deixa de ser a razão pela qual posso dizer isto mesmo sem me preocupar com quem ouve a minha opinião. Não é a única razão, tivessem muitos dos que tentaram influenciar o rumo de Portugal no pós-25 de Abril triunfado e provavelmente não poderia mesmo dizer aquilo que penso, mas para que esses não se arroguem do património da liberdade que contra ela tanto conspiraram por esse PREC fora, para que a liberdade seja mesmo património de Portugal, aqui fica uma homenagem a esses ventos de mudança que com tudo o que de bom e mau lhe adveio fizeram de ontem o Portugal de hoje. E que em tempos que continuam de apagada e vil tristeza, não nos esqueçamos que para se ser livre não basta apregoar a liberdade é preciso exercê-la, com genica, força e responsabilidade.

De qualquer forma reduzir o Zeca Afonso e a sua obra ao 25 de Abril e à Revolução também me parece hipócrita, é a mesma coisa que não ler Saramago porque o senhor é do Partido Comunista. Azares do destino, a cada um o seu fado, fica aqui a anotação ao dia que mudou o nosso país, mas também, e valendo por si só, a homenagem ao homem que nos deixou um legado musical que só honra Portugal e a lusofonia.

JOAQUIM PAÇO D'ARCOS, "HERÓI DERRADEIRO" (II)




















"À memória de Carlos Burnay da Cruz Sobral, português leal e destemido, morto aos 26 de Novembro de 1926, no Hospital de Caia, na Zambézia, em consequência dos ferimentos recebidos num combate corpo a corpo com um leão."

Dedicatória de Joaquim Paço d'Arcos no seu romance "Herói Derradeiro"

JORGE PALMA

"Encosta-te a mim"

JOAQUIM PAÇO D'ARCOS, "HERÓI DERRADEIRO"




















"Numa tarde de Julho de 1926 atravessava as florestas de Cheringona, no território da Companhia de Moçambique, um expresso de uma só carruagem da Trans-Zambézia Railway.
Regressava da Zambézia à Beira o governador do Território. Acompanhavam-no, além dos seus ajudantes, o autor destas linhas e uma pessoa estranha à comitiva: Carlos Sobral.
Carlos Sobral era ao tempo director em África da «Mozambique Industrial & Commercial Coy. Ltd.», um desdobramento, para fins comerciais, da Companhia de Moçambique.
Naquele pequeno salão da carruagem de caminho-de-ferro conversaram durante longas horas da monótona viagem, esses dois homens, tão profunda e apaixonadamente portugueses, que o destino por ironia, mas por útil ironia, colocara a dirgir interesses que meses mais tarde se haviam de patentear tão opostos aos nacionais.
Eram homens de diferentes idades: o governador aproximava-se dos cinquenta, Carlos Sobral andaria pelos trinta. (...)
Mourejando por terras onde frequentemente o português se avilta, adoptando os hábitos de indolência a que o clima convida, os usos mesquinhos próprios dos meios pequenos, esses dois homens, ao contrário, mantinham íntegras em si as melhores qualidades da raça. Eram dois verdadeiros portugueses.
Carlos Sobral estava em conflito aberto com os dirigentes londrinos da companhia que superintendia em África. Admitia como muito provável a hipótese de repudiar a situação em que trabalhava. Era um lugar magnífico, e muitos outros homens, em circunstâncias idênticas, transigiriam em tudo para não perder a situação que usufruíam. Ele não transigia em nada e ao perguntarem-lhe o que iria fazer no caso de se encontrar desempregado, respondia tranquilo, cheio de confiança e de optimismo: trabalhar. E já se expandia por todo um projecto de se dedicar à cultura do solo, à criação de gado, na vida rude e fatigante do mato, que ele tanto amava.
É preciso conhecer certos territótios de África e a eterna dependência em que o português ali vive do Estado ou das grandes companhias, alheado por completo das qualidades de iniciativa que fazem dele um elemento tão útil no Brasil, é preciso conhecer aqueles meios de parasitagem e de covardia, para admirar em todo o seu valor a serena confiança com que Carlos Sobral, por ser português de «antes quebrar que torcer», trocava uma cómoda e rendosa situação pela tão mais humilde e ingrata profissão de pequeno agricultor.
Nessa tarde - curiosa coincidência do acaso! - esses mesmos homens perante cuja arrogância Sobral não cedia, assinavam em Londres o terceiro e último contrato sobre o porto da Beira. Meses decorridos, por uma triste e dolorosa fatalidade, Carlos Sobral morria na Zambézia, vítima de si próprio, da sua coragem magnífica.
Alguns dias depois do seu falecimento chegavam à Beira, para conhecimento do governador, e para serem executados, os contratos do porto.
O Governador não os executou. Era a vez dele, agora, num assunto de muito maior gravidade, assumir a atitude para a qual, meses atrás, serenamente, dignamente, Carlos Sobral se encaminhava.
A minha observação fora exacta. Aqueles dois homens haviam-se estimado porque ambos possuíam, entre a degradação e a vileza quase gerais, essa rija fibra moral dos portugueses de outro tempo.
Ao retratar a figura primacial deste pequeno romance eu não quis biografar Carlos sobral, pois que a sua vida foi muito diferente da do protagonista. Este é solteiro e Carlos Sobral era casado com uma nobilíssima senhora que foi a mais dedicada e a mais inteligente auxiliar da sua vida aventureira e trabalhosa.
Eu não quis fazer História, pretendi escrever umas páginas poucas em que focasse a miséria duns e a grandeza de outros.
E dar-me-ei por feliz se no decorrer destas linhas transparecer, em homenagem a Carlos Sobral, alguma coisa do seu espírito audacioso e cavalheiresco e da sua alma tão grande e tão justa."

in INTRODUÇÃO, "Herói Derradeiro" de Joaquim Paço d'Arcos

ANDREW BIRD

"Imitosis"

IDENTIDADE (III)

"A cada hora mudo o meu ser,
e assim exerço o meu despótico poder."

"Fausto", Goethe

SPOON

"The Underdog"

IDENTIDADE (II)

"Eu sou aquele que poderia ter sido,
e o meu nome é Nunca Mais."

Dante Gabriel Rossetti

sábado, 19 de abril de 2008

IDENTIDADE

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

in Tabacaria, Álvaro de Campos

quinta-feira, 3 de abril de 2008

INDIANA JONES

Vídeo removido

ANA MOURA

Aqui há uma semana ou duas tive a oportunidade de ir jantar à "Casa de Linhares", por muitos conhecida como o "Bacalhau de Molho". Ouvimos um cartaz de fadistas fantásticos, jantámos muito bem e os minutos deram em horas e, sem dúvida, foi uma grande noite à portuguesa, daquelas que nos lembraremos sempre.

Mas se há algo a destacar é a voz e a alma da Ana Moura. Fantástica, aliás a sua carreira vai de sucesso em sucesso, para muitos (onde eu humildemente me insiro) a melhor fadista portuguesa da actualidade, tem uma voz espectacular e, mais do que isso, uma alma que nos inunda quando temos a oportunidade de a escutar. É de ouvir, sentir e elevarmo-nos no ar, curvados perante o talento puro de quem faz aquilo que nasceu para fazer. Delicioso!

Aconselho vivamente a experiência de a ouvir ao vivo, sem microfones, e a uns míseros metros de distância, se bem que agora terão de esperar porque a Ana Moura anda por terras estado-unidenses em digressão.

Aqui fica um fado para apreciar:

"Os Búzios"

ONE MILLION STRONG

Climate change is an urgent issue that requires immediate solutions. That's why I've joined with Al Gore and others across the country and around the world who want to halt global warming.

We're on the verge of being over one million strong and I'm asking you to join us. Please click here today to become part of the solutions to global warming:

http://wecansolveit.org/alliance

If leaders in business and government are going to make stopping climate change a priority, we need to send a loud message that we want action now. That's why I'm asking you to get involved today:

http://wecansolveit.org/alliance
Together, we can stop global warming.

JOAQUIM PAÇO D'ARCOS, "ANA PAULA, PERFIL DE UMA LISBOETA"





















O romance "Ana Paula" foi premiado pela Academia das Ciências com o Prémio Ricardo Malheiros 1938. No entanto, a par da distinção, a academia divulgou um parecer onde criticava "as imperfeições, deslizes de semântica, erros de gramática, defeitos de expressão, incorrecções de grafia, expressões francesas ou afrancesadas" bem como condena a "expressão deturpada que ameaça tornar-se endémica na expressão literária portuguesa de hoje".

Nesse mesmo dia, 25 de Novembro de 1938, o autor, Joaquim Paço d'Arcos, enviou à Academia das Ciências a seguinte missiva:

"Ex.mo Sr. Secretário Geral da Academia das Ciências,

Soube pelos jornais da tarde de ontem que a classe de Letras da Academia deliberou conferir-me o Prémio Ricardo Malheiros 1938. Fui concorrente e não sou tão imodesto que possa, em boa verdade, dizer não me ter sido agradável receber essa honrosíssima distinção. Mas a notícia de ontem não era completa; vi hoje que o prémio não me fôra concedido por me ter sido reconhecido o direito de conquista e sim por muita indulgência e graciosa atenção dessa Academia.
Aprecio muitíssimo as dádivas dos Mecenas mas não costumo implorá-las.
E nas condições em que o prémio foi concedido a minha dignidade literária não me permite aceitá-lo.
Confiado em que V.Ex.a compreenderá o direito que me cabe de dar esta carta a publicidade dada ao parecer da Academia, subscrevo-me de

V. Ex.a
Com a mais alta consideração
At.º V. Obg.º
Joaquim Paço d'Arcos"

A resposta não se fez esperar e em 16 de Dezembro do mesmo ano, a Academia, pela mão do seu Presidente, o Sr. Dr. Júlio Dantas, lamentou a "resolução do moço e ilustre escritor, esperando que, esclarecidos os factos" não manteria a decisão de desistência do prémio.

Na tréplica o autor, o Sr. Joaquim Paço d'Arcos, manteve a sua decisão e fez notar o seguinte:

"Mas a língua é o que o povo e os artistas fazem dela e não o que os gramáticos querem. Correspondessem as minhas obras exactamente ao espírito da época em que foram escritas e à linguagem vulgar nela falada, ganhassem elas o favor do público pelos anos fora e os meus netos ainda haveriam de assistir ao divertido espectáculo de a Academia, no ano 2000, em parecer condenatório de um moço escritor que pretendesse laurear, abonar, com passos da "Ana Paula", o vernáculo de uma lei transgredida. O que hoje é condenado entraria assim na gaiola térrea em que os gramáticos obstinados pretendem enclausurar para todo o sempre o génio da língua em permanente evolução".

E termina dizendo:

"Passada a celeuma eu voltarei ao silêncio da minha vida, cautelosamente afastado dos vossos prémios. E nesse silêncio, com a ajuda de Deus, tentarei prosseguir a minha carreira, utilizando a língua portuguesa e servindo-a, não como seu escravo, mas como um dos seus mais humildes lavrantes".

Com um estilo irónico, de uma quase paradoxal inocente perspicácia, foi um prazer ter conhecido a literatura do Joaquim Paço d'Arcos. Recomendo vivamente e agradeço à Ana (ver o blogue da Ana aqui) que mo apresentou.

sexta-feira, 28 de março de 2008

PORTISHEAD LX 27.03.2008 (II)










Eu tomei conhecimento dos Portishead através de uma música ("Roads")que configurava a banda sonora de um obscuro filme de 1995, "Little Criminals". Comprei então o album "Dummy" e rendi-me aos encantos do recém-nascido trip hop, devo ter passado largos meses a ouvir esse álbum quase todos os dias. Quando em 1997 sai "Portishead", fiquei igualmente deslumbrado tornando-se para mim evidente que os Portishead configuravam uma das minhas bandas preferidas. A seguir o regalo de ouvi-los com a orquesta de Nova Iorque (1998). E depois dez anos até sair o novo álbum. Aliás, o álbum ainda não saiu (sai dia 28 de Abril), mas o mundo mudou e agora com a internet e o peer to peer ja podemos ouvir o que a banda de Bristol tem para nos dizer. A música está diferente, admito que não estava à espera, estão mais experimentais, mais agressivos, por isso se a primeira impressão quando comecei a ouvir as novas músicas foi de alguma surpresa, essa surpresa resultou em novo encanto depois de ver e ouvir o concerto de ontem. Fantástico. Para mim o dia 27 de Março, porque nunca se sabe o que a vida nos traz a seguir, há-de ser sempre o dia em que vi os Portishead ao vivo. Espero poder repetir.

"We Carry On" Live



E já agora descobri aqui perdido pelos recantos e encantos do YouTube, um clip do filme "Little Criminals" onde, precisamente nesta cena, ouvi os Portishead pela primeira vez. Aqui fica.


"Roads" em "Little Criminals




Fica o agradecimento à banda de Beth Gibbons (voz fantástica, podemos também encontrá-la no álbum "Cinema" de Rodrigo Leão), de Geoff Barrow (deu o nome à banda da sua cidade natal)e de Adrian Utley (guitarra). Para acabar aqui fica o single frontal de "Third", uma música em que o seu título demonstra tudo. Primeiro estranhei, depois entranhei. Mas ao vivo foi fantástica, pôs o Colisu a vibrar.

"Machine Gun"



E, claro: OBRIGADO RAQUEL! Grande prenda!

quarta-feira, 26 de março de 2008

PORTISHEAD LX 27.03.2008

Amanhã cá estarão os Portishead no Coliseu de Lisboa (hoje é no do Porto)a lançarem a sua digressão mundial de apresentação do seu primeiro disco nos últimos dez anos chamado "Third", com lançamento previsto para o próximo dia 28 de Abril, que sucede assim a Dummy (1994) e Portishead (1997). É uma honra pra nós e um prazer para mim que lá estarei...

Aqui ficam dois novos temas do novo álbum ja apanhado pela net:

"The Rip"



"Hunter"

terça-feira, 25 de março de 2008

BLONDE REDHEAD (II)

"Dr Strangeluv"

LIFE 4 SALE










In DN, 25.03.2008

"Comprador ficará com emprego e amigos de Usher

"Olá, o meu nome é Ian Usher e estou farto da minha vida", é a frase com que o britânico que decidiu vender a sua vida na Internet recebe os visitantes no site www.alife4sale.com. Aos 45 anos, o homem garante não estar a pensar suicidar-se, apenas já não suporta os objectos que lhe lembram a vida que tinha com a ex-mulher na Austrália. E, por isso, decidiu colocar tudo à venda. Mas quem entrar no leilão no site eBay a 29 de Junho não pode comprar só móveis e quadros. Pode levar a casa, o carro, o emprego e até os amigos de Usher.

A base de licitação será de um dólar australiano (60 cêntimos de euro). Mas basta olhar para as fotografias da vivenda do britânico, em Perth, na zona ocidental da Austrália, para ver que os lances vão subir.

"Quando o leilão terminar, vou sair de casa apenas com a roupa do corpo, a carteira e o passaporte", garante Usher, que promete manter os internautas informados sobre o seu destino. Este homem nascido em Darlington, Nordeste de Inglaterra, diz querer mesmo começar do zero.

Mas não hesita em revelar o passado. Depois do liceu, Usher viajou para Israel, onde trabalhou num kibbutz (aldeia comunitária). Formado em Educação, trabalhou para os caminhos-de-ferro antes de se instalar por conta própria. Homem dos sete ofícios, visitou a Austrália pela primeira vez com a namorada, Laura. Casaram em 2000 e, um ano depois, mudaram-se para Perth.

Depois do que define como um "choque", Usher vive agora "sozinho numa casa que foi construída para viver" com a mulher. Mas está empenhado em livrar-se dessas memórias.

E não só. Usher vai "vender" também os amigos. No site, estes explicam como os convenceu a alinhar numa "ideia original" e garantem "estamos ansiosos por fazer novos amigos".

Quanto ao emprego, Usher convenceu a empresa onde trabalha como comercial na venda de tapetes a dar uma oportunidade a quem comprar a sua vida. O vencedor do leilão, terá direito a duas semanas à experiência, renováveis por três meses. Se correr bem, pode obter um emprego fixo. Uma oferta aliciante, cujo desfecho será conhecido a 29 de Junho, quando o leilão terminar."

ANNIE HALL

Um dos maiores filmes de sempre.

HARUKI MURAKAMI, "CRÓNICA DO PÁSSARO DE CORDA"




















"Fui até ao jardim, levantei a tampa do poço e espreitei. Lá dentro reinavam as mesmas trevas profundas de sempre. Conhecia agora muito bem o poço, como se fosse uma extensão do meu próprio corpo: a sua escuridão, o seu cheiro, o seu silêncio haviam-se convertido numa parte de mim. Num certo sentido, conhecia melhor o poço do que conhecia Kumiko. Era evidente que bastava fechar os olhos para me recordar dela, de cada pormenor do seu rosto, do seu corpo, para trazer à memória os seus gestos, a sua maneira de andar. Tinha vivido seis anos com ela na mesma casa. Ao mesmo tempo, porém, tinha a sensação de que havia coisas que diziam respeito a Kumiko que era incapaz de recordar com nitidez. Ou, se calhar, não estava assim tão certo das minhas recordações.
(...) Passava das onze quando, não arranjando mais nada em que pensar, desci pela escada até ao fundo do poço. Como de costume, enchi os pulmões de ar, para verificar a atmosfera: era a mesma de sempre, cheirava a mofo, mas dava para respirar. Às apalpadelas, pus-me a procurar o taco que tinha deixado encostado à parede. O taco não estava lá. O taco não estava em lado nenhum. Tinha desaparecido sem deixar rasto.

Sentei-me no chão, no fundo do poço, e encostei-me à parede.
Suspirei várias vezes. Eram uns suspiros vazios, sem ponta de esperança, como o vento que sopra caprichosamente atravessando por entre vales áridos e sem nome. Depois de ter suspirado tudo, esfreguei as bochechas com ambas as mãos. Quem poderia ter levado dali o taco? Canela? Era a única possibilidade que me vinha à ideia. Mais ninguém sabia da sua existência, e só ele poderia descer ao fundo do poço. Por que carga de água se lembraria Canela de levar o meu taco? Decididamente, era uma coisa que não conseguia compreender - melhor dizendo, era apenas uma das muitas coisas que eu não conseguia compreender.
Não tinha outro remédio senão passar sem o taco. Não havia de ser nada. Vendo bem, o taco não passava de uma espécie de talismã protectos. Mesmo sem ele, de certeza que ia correr tudo bem. «Da primeira vez também não tive problema nenhum para chegar até aquele quarto quarto sem levar protecção, pois não?», pensei para comigo mesmo. Depois de me convencer a mim mesmo, puxei a corda e fechei a tampa do poço. A seguir entrelacei os dedos das mãos em torno dos joelhos e fechei lentamente os olhos no meio da escuridão profunda."

in "A Crónica do Pássaro de Corda" de Haruki Murakami.

ALBERT CAMUS, "O ESTRANGEIRO"




















"Acordei, porque alguém roçou por mim. Por ter fechado os olhos, a sala pareceu-me ainda mais branca. Na minha frente não havia uma única sombra, e cada objecto, cada ângulo, todas as curvas se desenhavam com uma pureza que me fazia mal aos olhos. Foi neste momentoque entraram os amigos da minha mãe. Ao todo, eram uns dez, e passavam em silêncio, nesta luz tão crua. Sentaram-se sem que uma só cadeira rangesse. Eu via-os como nunca vira ninguém até então, e nem um pormenor das suas caras ou dos seus fatos me escapava. Não os ouvia, no entanto, e custava-me crer que fossem reais. Quase todas as mulheres usavam um avental e o cordão que as apertava na cintura mais lhes realçava a barriga inchada. Nunca havia notado que as barrigas das mulheres velhas eram tão grandes. Os homens eram quase todos muito magros e traziam bengalas. O que me impressionava nas suas fisionomias era que eu não lhes via os olhos,l mas unicamente uma luz sem brilho, no meio de um ninho de rugas.Quando se sentaram, a maioria deles olhou-me e abanou a cabeça embaraçadamente, os beiços comidos pelas bocas desdentadas, sem que tivesse percebido, ao certo, se me estavam a cumprimentar ou se era apenas um tique. Julgo que me cumprimentavam. Foi nesse momento que reparei que estavam todos em frente de mim, balançando as cabeças, em volta do porteiro. Por instantes, tive a impressão ridícula de que estavam ali para me julgar.
Pouco depois, uma das mulheres começou a chorar. Estava na segunda fila, escondida pelas outras, e eu não a via muito bem. Chorava dando pequenos gritos, regularmente: parecia-me que nunca mais pararia de chorar. Dava a ideia de que os outros não ouviam. Estavam encolhidos, tristes e silenciosos. Olhavam o caixão, a bengala ou qualquer coisa, e não tiravam os olhos desse único objecto. A mulher continuava a chorar. Eu estava muito admirado porque não a conhecia. Gostaria de não a ouvir mais. Não o ousava dizer, porém. O porteiro debruçou-se sobre ela, falou-lhe, mas ela sacudiu a cabeça, disse qualquer coisa e continuouo a chorar com a mesma regularidade. O porteiro veio então para o meu lado. Sentou-se ao pé de mim. Ao fim de um longo momento, informou-me, sem me olhar: «Era muito amiga da saenhora sua mãe. Diz que era a única amiga que tinha e que fica sem ninguém agora.»
Ficámos assim durante longos instantes. Os suspiros e soluços da mulher iam-se fazendo mais raros. Por fim, calou-se. Eu já não tinha sono, mas estava cansado e doíam-me os rins. Era o silêncio de todas aquelas pessoas que me era penoso, agora. De tempos a tempos, ouvia apenas um ruído estranho e não conseguia compreender de que se tratava. Acabei por adivinhar que alguns dos velhos chupavam o interior das bochechas, deixando escapar esses barulhos esquisitos. Estavam tão absortos nos seus pensamentos que nem davam por isso. Tinha mesmo a impressão de que esta morta, ali deitada, nada significava para eles.Mas, hoje, creio que se tratava de uma impressão falsa."

in "O Estrangeiro" de Albert Camus.

segunda-feira, 10 de março de 2008

THE DECAPITATOR



Londres procura Jack, decapitador de anúncios

por Maria João Espadinha

In DN, 10.03.2008

"Um artista anónimo está a "encher de sangue" as ruas de Londres. O desconhecido está a modificar os anúncios da cidade graças ao Photoshop (software para tratar fotografias), em que corta a cabeça dos protagonistas dos anúncios, dando-lhes um aspecto sangrento e macabro. E nem sequer David Beckham, célebre futebolista inglês, escapa, como se vê nas imagens.

Procura-se Jack, o decapitador de anúncios, diz o jornal El Mundo. O motivo que move o autor é desconhecido, que até agora não se pronunciou sobre a sua "arte". A única evidência é que quiosques, outdoors e até jornais aparecem manchados de sangue. Nenhum espaço publicitário escapa impune ao decapitador, que ataca anúncios de qualquer temática: fast-food, perfumes, seguros, telecomunicações e até filmes.

O artista conseguiu, inclusive, danificar a contracapa do jornal britânico The London Paper, e colocou no YouTube um vídeo em que explica o processo de elaboração do seu feito (http/www.youtube.com/watch?v =1IfGjXibDQs). Encapuzado durante todo o vídeo, este demonstra como não é difícil modificar a contracapa de um jornal para que apareçam por toda a cidade diferentes versões da mesma edição. No original, aparece um sorridente Beckham a promover um novo telemóvel; na versão alterada, o futebolista está decapitado.

O processo é fácil. Tudo começa com o sequestro de um exemplar do jornal. O decapitador digitaliza a página e, graças ao Photoshop, cria a nova imagem do anúncio, com o protagonista sem cabeça. Imprime várias vezes esta imagem e cola-a em vários exemplares do periódico. O último passo consiste em intercalar, antes da distribuição dos jornais nas ruas, alguns destes exemplares falsos entre os jornais originais, fazendo com que o ardina realize o resto do trabalho sem perceber o que aconteceu.

Graças a esta técnica, o decapitador conseguiu que o protagonista do filme Bee Movie, o cozinheiro do KFC e a protagonista do anúncio da Moët &Chandon tenham algo em comum com Beckham: a cabeça cortada.

Na Internet, esta arte tem sido identificada com détournement, um conceito criado pelo capitalismo, distorcendo-o para lhe dar um significado criativo. Há ainda quem ache que se trata de uma acção de marketing viral."

ver os outros ataques do Decapitador aqui

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

MARLANGO

"Madness"

AL GORE, "O ATAQUE À RAZÃO" II




















"A relação entre a fé, a razão e o medo assemelha-se por vezes àquele jogo infantil da pedra, do papel e da tesoura. O medo neutraliza a razão, a razão contesta a fé, a fé supera o medo.
(...)

O medo, porém, pode perturbar o equilíbrio fácil entre a razão e a fé - especialmente o medo irracional de um tipo que a razão tem mais dificuldade em dissipar. Quando o medo prevalece sobre a razão, muitas pessoas sentem uma necessidade maior da certeza reconfortante da fé absoluta. E tornam-se mais vulneráveis aos apelos de dirigentes seculares que manifestam uma confiança absoluta em explicações simplistas, apresentando todos os problemas como expressões da luta entre o bem e o mal.(...) Em termos simples, quando o medo e a ansiedade desempenham um papel mais importante na sociedade, a lógica e a razão têm um papel menor no nosso processo de decisão colectivo."

RODRIGO LEÃO

"Rosa"

AL GORE, "O ATAQUE À RAZÃO" I




















"A comunicação baseada na psicologia foi investigada pela primeira vez por um outro austríaco da geração de Hitler, Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud. Bernays adptou as ideias revolucionárias do seu tio para criar a moderna ciência da persuasão de massas - tomando como base, não a razão mas sim a manipulação de sentimentos e impulsos subconscientes.

(...) Um dos primeiros êxitos de Bernaysesteve ligado ao seu trabalho para a American Tobacco Company, que o levou a entrevistar psicanalistasa fim de descobrir por que razão na década de 1920 as mulheres não fumavam cigarros. Ao tomar conhecimento da opinião dos psicanalistas de que as mulheres viam os cigarros como símbolos fálicos do poder masculino, considerando-os, como tal, impróprios para pessoas do seu sexo, Bernays contratou um grupo de mulheres para se vestirem e comportarem como sufragistas. Pô-las a desfilar pela Quinta Avenida em Nova Iorque, numa marcha a favor dos direitos das mulheres, e, ao passarem pelos repórteres fotográficos, elas deviam puxar de cigarros, acêndê-los e dizer que eram «tochas da liberdade». A estratégia resultou e venceu a resistência das mulheres aos cigarros.

Uma segunda vitória envolveu uma empresa que produzia misturas para bolos da marca Betty Crocker. Barnays descobriu que as mulheres não estavam a comprar misturas para bolos porque tinham vergonha de apresentar aos maridos um bolo que exigia tão pouco esforço. Aconselhou que se modificasse a fórmula de modo a ter de se acrescentar um ovo fresco, e, mais uma vez, a estratégia resultou. As mulheres passaram a sentir que acrescentar um ovo era suficiente para merecerem elogios pelos seus dotes culinários, e a mistura para bolos passou a vender-se muito bem.

O sócio de Bernays, Paul Mazur, percebeu que as novas técnicas de persuasão de massas tinham um significado mais amplo. "Temos de fazer com que a América deixe de ser uma cultura de necessidades para se tornar numa cultura de desejos", disse Mazur. "É preciso treinar as pessoas para desejarem, para quererem coisas novas mesmo antes de as coisas que já têm terem sido inteiramente consumidas. Temos de formar uma nova mentalidade. Os desejos do homem têm de se sobrepor às suas necessidades".

"Fazer publicidade", segundo uma frase frequentemente citada de George Orwell, "é agitar um pau dentro de um balde de comida para porcos". No meio de todos estes termos sublimes, vale a pena lembrar do que é que estamos a falar.

Aquilo que se deveria ter considerado mais preocupante quando estas novas técnicas foram introduzidas era o perigo que representavam para a lógica interna do capitalismo. A mão invisível de Adam Smith começava a dar lugar a uma marioneta invisível manipulada por operadores de mercado que estavam agora em posição de fabricar procura."

in Al Gore, "O Ataque à Razão", pp 113-114.