segunda-feira, 17 de novembro de 2008
JOSÉ GIL, "PORTUGAL HOJE: O MEDO DE EXISTIR"
"A televisão portuguesa é como toda a gente sabe (e com raríssimas excepções, que toda a gente também conhece) uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação de iliteracia. E a rádio e a imprensa (sempre com excepções que há em tudo)fecham constantemente as aberturas mínimas, as fendas e brechas por onde algum ar fresco, alguma força livre pudesse passar ainda.
(...)O espaço público deveria ser aberto, mas fechando-se, limitando-se, permite que o telespectador, o ouvinte e o leitor sejam imediantamente absorvidos pela sombra branca ou dupla realidade com que se deparam. Por um lado estão ali, o mundo agora, o seu país, a sua cidade ou a sua aldeia, numa abertura virtual de imagens sem fim; por outro é apenas aquilo, com o sentido com que deve ser já pensado, as notícias, os comentários semanais dos comentadores, os pensamentos que confirmam o meu pensamento antes de o ter, a minha existência reduzida a uma massa pastosa que engole as imagens e nunca treme realmente com o que vê ou com o que lê.
É desta forma que a minha vida se insere na vida do mundo, não se inscrevendo nela. O espaço público, essencial à democracia, foi-me roubado. Roubado pelo sistema partidário, pelo sistema representativo, pelo sistema mediático transcendente. DE uma vida nada se inscreve, nela nada sucede por efeito «dos acontecimentos» mundiais ou nacionais que o espaço dos média «reportam» ou «comunicam». É, pois, um acontecimento «para se comunicar» não para eclodir no curso da minha vida. Nada mudou. A sombra estende-se e cobre o mundo inteiro que é Portugal."
in "Portugal, Hoje. O medo de existir", pp 31 - 32.
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