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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

MOMENTO AFRICANO (EXCERTO DO SEGUNDO LIVRO)


Imagem tirada daqui.

"Eram sete e meia da noite. Estava noite. Quente. A lua, essa entidade que nos habituámos a apelidar de mentirosa, já em África reformula-se, desdiz-se e mostra-nos que, afinal, não tem hábitos de mentira, pelo menos ali; pelo contrário, tal como tudo aquilo que rodeia quem coloca o seu pé em África, qualquer um dos dois, seja o esquerdo ou o direito, seja quando for, aquilo que se sente, de imediato, sem tempo a perder, sem hesitações, é a honestidade que nos bate directa e violentamente no peito, é um continente que grita, exclama a sua existência e a sua essência, espalhando-a aos quatro ventos, oferecendo-a aos seus deuses e ficando nós, os seus visitantes, com os ecos das oferendas que nos inundam de sensações novas, não estamos habituados, não estamos não senhor, não estamos habituados a honestidade franca e directa do que é bruto, forte e sem rodeios, da falta de maneiras, da ausência de pudor em revelar as suas misérias. Miséria há no mundo inteiro. Mas nessa Europa ela esconde-se envergonhada, ela vira atrás de uma esquina perdida e invisível, não assumida e disfarçada. Em África ela assume-se com abertura e naturalidade. Porque talvez a riqueza faça ainda mais do que esconder os que atrás dela andam mas não lhe chegam, talvez ela faça pior, não saberemos nunca se é dos tempos ou das vontades, não sabemos se é da terra ou riqueza, sabemos nós que os tempos de fausto e soberbo consumismo são também tempos de apagada e vil tristeza, são tempos de triste e apagada degeneração; mas não em África. Em África não. E é no momento que respiramos aquele ar pela primeira vez que tal, estranho e surpreendente facto nos apanha, desprevenidos e incautos, a olhar de esguelha, o que é que se passa aqui, onde estou eu, quem sou eu. Logo. Ali. Naquele primeiro e inesquecível momento. E o facto de África não perder tempo a dizer-nos o que é só atesta mais a sua profunda honradez. Moça proba, íntegra e séria, pejada de dignidade e virtude, pura e casta na sua pudica decência mostra-se orgulhosa da sua honestidade. E tamanha honestidade é essa que nem a lua nos mente. E era essa lua modesta, leal e incorruptível que banhava de luz quem se atrevesse, naquele início de noite, a experimentar o mistério das trevas espessas de Moçambique, trevas invadidas pelo calor opaco e pastoso áfrico. E não só: é uma noite inundada pelo receio
próprio de quem não é dali
de ser picado pelo célebre mosquito, o malárico, o malandro, o mensageiro da doença e a eterna personificação do desconhecido. Medo do medo. Medo de tudo e de todos. Medo de nós próprios. Medo do vazio. Mas, tal como tudo na vida, assim se fazem as estórias de cada um, desde os mais pequenos infantes até aos mais velhos anciães, é precisamente de superar os medos e aprender a gozar os riscos da vida que se fazem as felicidades, sejam elas pequenas ou grandes, pensadas ou sentidas, ou ainda, sonhadas ou vividas, sejam elas quais forem, a única coisa que as une na sua essência, aquilo que lhes é comum é precisamente o facto de se ter que superar o medo para se ser feliz, ou, melhor ainda: o facto de não haver pessoa feliz tolhida pelo medo. E era essa transcendência do medo que alimentava aquela lua verdadeira e, nela reflectida, resplandecia o reflexo de um continente perdido no tempo, algures entre o passado de colonial fausto
para quem coloniava
e o incerto futuro sem destino escolhido. E era esse sentimento latente, que brotava, tal como todas aquelas acácias em flor, do chão encarnado que inundara xxxxx ao longo dos últimos dias e que, mesmo no auge da sua divagação, lhe transmitia a estranha e paradoxal impressão de estar em casa. Estava em casa porque também ele se sentia verdadeiro, honesto e à vontade consigo próprio. Também ele não tinha agora um destino definido. Também ele tinha um fausto passado. Também ele estava perdido no tempo."

sábado, 18 de julho de 2009

HIPO

Lago Mburo, Uganda; Maio 2009
Foto AVP
Passam o dia dentro de água para se proteger do sol e saiem à noite para buscar alimento. O Lago Mburo representa o paraíso na terra para os hipopótamos, dos quais, aliás, andámos a fugir. Para quem possa pensar que o simpático bicho não faz mal a uma mosca, desengane-se, fique já aqui a saber que o hipopótamo é o animal que mais humanos mata por ano em África.

MBURO

Lago Mburo, Uganda; Maio 2009

Também fomos dar uma volta num barquito, a beleza, a calma e a tranquilidade africanas atingem o seu expoente máximo no tranquilo Lago Mburo.

NO CENTRO DO MUNDO

Buwama, Uganda; Maio 2009

Foto AVP
Fizemos a experiência com a água a rodar por um ralo quer no Hemisfério Norte, quer no Hemisfério Sul, quer em cima do Equador e devo dizer que ou fomos muito bem aldrabados ou o mito confirma-se...

MOMBASA - NAIROBI

Quénia, Maio 2009


Fotos AVP
Fomos em primeira classe, no post abaixo falo das aventuras da viagem. Realce para a carruagem restaurante da primeira classe com os seus talheres de prata originais do início do Século XX (os que sobram, mais ou menos metade) e as toalhas brancas de pano. Apoquentem-se bem os românticos que gostam destas coisas, parece que a linha ferroviária vai fechar, se querem ter esta experiência absolutamente única e fantástica apressem-se que isto não dura para sempre.

KILIMANJARO

Tsavo West, Quénia; Maio 2009
Foto AVP
Entre Mombasa e Nairóbi, na melhor viagem de combóio da minha vida, fui acordado com esta visão. De realçar que só vimos o Kilimanjaro porque na noite anterior estivemos parados cerca de quatro horas, por avaria da locomotiva, parados à espera de uma nova locomotiva (que também viria a avariar) se não teríamos passado no Kilimanjaro de noite e não veríamos nada. Não fossem as avarias das locomotivas (e dos travões que bloquearam a determinada altura) e a viagem teria demorado metade do que demorou (23 horas) mas não teríamos visto o Kilimanjaro e não teria tido metade da piada. Mais uma vez, tivemos muita sorte.

INTRÉPIDOS AVENTUREIROS

Samburo, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Naquele que foi um dos pontos mais altos de toda a aventura africana, acampámos a beira de um rio onde existiam crocodilos e hipopótamos. Como se esses não bastassem, uma vez que não havia qualquer espécie de protecção - divisão em relação à reserva, a qualquer momento poderia aparecer-nos um leopardo ou leão. Sentimo-nos mesmo na aventura do mato africano, que nem os intrépidos aventureiros que nos auto-intitulámos e, como sempre, tivemos sorte, tudo correu bem, a registar só mesmo a maior cautela com as saídas da tenda a meio da noite para alguma necessidade. Posso garantir que alguns recordes de rapidez foram batidos.

O MONTE SEM NOME

Samburo, Quénia; Maio 2009
Foto AVP
África no seu melhor.

GIRAFA

Samburo, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP

BÚFALO

Nakuro, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Resolvemos enfrentar esta manada de búfalos com os nossos rugidos de leão. O impasse durou alguns segundos, ainda pareceu que eles quereriam investir contra nós mas acabaram por se ir embora, com medo. Os intrépidos aventureiros White Masai venceram o combate mas, atenção, com o carro já a funcionar e pronto a arrancar, não fosse o búfalo tecê-las... Mal sabíamos nós que nos íamos atolar mesmo em frente do resto da manada. Bem feito que é para não andar a chatear os búfalos.

LAGO NAKURO (II)

Nakuro, Quénia; Maio 2009
Foto AVP

FLAMINGO

Nakuro, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP

LAGO NAKURO

Nakuro, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Entre o Mount Kenya (que dá o nome ao país) e a capital Nairóbi (que significa local de água fresca) reside o Lago Nakuro. Aí fomos atacados por macacos ladrões, ficámos atolados à frente de uns búfalos, passeámos livremente no meio de flamingos e, depois, lá em cima, êxtase com a vista que nos entrava pelo cérebro dentro. As manchas cor de rosa são flamingos. Muitos flamingos.

RINOCERONTE

Nakuro, Quénia; Maio de 2009

CHITA

Masai Mara, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Só tinha visto chitas em cativeiro na África do Sul no Cheetah Project. Aqui apanhámos não uma mas três, mãe e prole.


Ficámos por ali bem mais de meia hora a observar as crias a brincar enquanto a mãe perscrutava a envolvente à procura de potencial alimento. Acabámos por ter de nos obrigar a ir embora com receio de estarmos a prejudicar a sua busca de caça. Mais uma vez tivemos muita sorte.

ZEBRAS

Masai Mara, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Distorção animal provocada por visionamento massivo de equídeos Dolichohippos, vulgo Zebras.

REIS DO MASAI MARA

Masai Mara, Quénia; Maio de 2009
Foto AVP
Atraídos por uns abutres que pairavam a um quilómetro de distância fomos descobrir uma carcaça de uma girafa, devidamente acompanhada por um leão que descansava debaixo de uma árvore. Os intrépidos aventureiros na ânsia de comunicar com ele colocaram em elevado som uns rugidos de leão na aparelhagem da carrinha e não é que aparecem mais dois felinos, Reis do Masai Mara, leões de idade e porte respeitável, venerandos gatos que patrulham aquele território já há mais de uma década. Tivemos sorte, ajudada por algum engenho, aqui fica o testemunho destes três leões com cara de quem pergunta, o que é que raio estão estes humanos para aqui a dizer em linguagem de leão?

AVESTRUZ

Masai Mara, Quénia; Maio de 2009

Foto AVP
Ao contrário de alguns que lhes chamam "stupid birds" tenho especial simpatia pelas avestruzes. São bem feias mas conseguem uma graciosidade que não está ao alcance de qualquer um.