
Já tinha tido a oportunidade de ler o "Equador", romance de estreia de Miguel Sousa Tavares. Achei fraco mas com algum interesse. Não adiantou nada à minha vida, as personagens pareceram-me ocas, descontinuadas e incoerentes mas a vivacidade do relato africano permitiu-me disfrutar do romance e não dar o meu tempo como completamente perdido. No Natal passado recebi como prenda o "Rio das Flores", o segundo romance do mesmo autor e grande acontecimento mediático pois, pela primeira vez em Portugal, a sua primeira edição cifrava-se nuns módicos 100 000 exemplares. Talvez os sete meses que demorei a lançar-me no trabalho de começar a ler este segundo romance de Miguel Sousa Tavares possam atestar o pouco entusiasmo que "Equador" me transmitiu mas nada me preparou para a catacumba de inabilidade literária em que me vi enfiado nos últimos dois ou três dias em que me forcei a terminar a leitura deste segundo romance. Numa palavra: péssimo. Numa segunda palavra: fraquíssimo. Numa terceira palavra: irritante. As personagens são completamente desprovidas de profundidade, ocas e superficiais, lançadas em diálogos de uma descontinuidade e infantilidade absolutamente constrangedoras e inseridos numa narrativa que só acompanha o absoluto desinteresse literário com alguns relatos de cariz histórico, mas que nem sequer isso o são porque o autor não consegue deixar de se arrogar em mensageiro da verdade e de nos atirar à cara com aquilo que são as suas opiniões. Um narrador será sempre, pela importância que tem numa narrativa, dos desafios mais complexos que o escritor tem pela frente. Um narrador opinativo e metediço (como Saramago o consegue fazer exemplarmente) será tarefa ainda mais complexa, agora Miguel Sousa Tavares oscila de forma descontinuada e literariamente incoerente entre o narrador imparcial que conta uma história e o comentador de terça feira da TVI onde dispara atoardas sobre os momentos que não aprecia da história do século XX português, esquece por completo a imparcialidade histórica e, pior ainda, não acrescenta nada de novo ou de particularmente interessante. Se o narrador falha rotundamente, os diálogos são tenebrosos. Trocas de palavras infantis, superficiais, forçadas e pejadas de lugares comuns fazem lembrar, a espaços, as imbecis (palavra que Miguel Sousa Tavares usa e abusa na sua narrativa para qualificar tudo e nada)trocas de palavras do expoente máximo da cultura comtemporâneza portuguesa que são as personagens da telenovela "Morangos com Açúcar". Em suma, consigo perceber que a triste política editorial que parece prevalecer neste mundo moderno, controlado pela ânsia da venda e não pela qualidade literária, leve a que tanto e tão mau se publique, percebo também que se imprimam 100 000 exemplares porque o marqueting tratará de os impingir como leitura obrigatória, percebo ainda que muitos portugueses possam ir ao engano e perder o seu tempo com este livro, agora gostar dele, isso só se quisermos mesmo mesmo mesmo muito saber o que é que o Miguel Sousa Tavares pensa sobre tudo e sobre nada. Em conclusão, um hino ao ego de um comentador fatalista, do mais negativo que temos na nossa praça e uma triste amostra de capacidade literária portuguesa. Com certeza que a Oficina do Livro, que entre outras pérolas nos oferece o brilhantismo da Margarida Rebelo Pinto, não deixará de continuar a imprimir cópias deste livro, talvez um dia seja o mais vendido de sempre em Portugal, que o exportem e mostrem a esse mundo que na capacidade de publicar banalidades, nós os portugueses, não ficamos atrás de ninguém.
Bravo!!! Não sei porquê (talvez por não gostar muito dele como comentador) mas não tinha sentido nenhum impulso para ler os livros desse senhor e quase me sentia ignorante cada vez que me perguntavam: Ainda não leste o Equador? Bom bom foi o último livro que li "A escrava de córdova" de Alberto S.Santos, além de histórico é absolutamente delicioso :-)
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