quinta-feira, 4 de setembro de 2008

RICARDO ARAÚJO PEREIRA, "BOCA DO INFERNO"




















"Em duas páginas de entrevista, César das Neves usa cinco vezes a palavra deboche e condena o aborto, o preservativo, a homosexualidade, a masturbação e tudo o que, de um modo geral, ele calcula que possa dar prazer a alguém. Só há uma coisa que não se desculpa ao entrevistador, José Eduardo Fialho Gouveia: o facto de não ter perguntado a César das Neves qual é a marca de fósforos que usa nos seus autos-de-fé. Continuamos sem saber, e é pena.
A tese fundamental de César das Neves é esta: «o acto sexual não é só uma questão de prazer». E, se for excluida a intenção de procriar, o sexo transforma-se numa coisa mecânica, animal». A ideia de que o sexo para procirar é humano e o sexo pelo prazer é «uma coisa animal» é interessante, e a Natureza confirma-a:quais são os animais para quem o sexo serve o propósito da procriação? Raríssimos, se é que há algum. Mas quantas vezes não vimos já, no programa National Geographic, um urso a chegar à toca, cansado de um dia de trabalho, apenas para encontrar a ursa mergulhada numa banheira de espuma enfeitada com pétalas de rosa e velas a toda a volta, convidando o macho para uma noite de simples prazer animal? Tantas.
No fundo, é por causa de pessoas como César das Neves que o sexo é tão bom. Sem aquela noção de pecado, de transgressão, de malandrice perversa, o sexo teria muito menos graça. Por isso peço desculpa por dizê-lo tão cruamente, mas a verdade é esta: João César das Neves dá-me tesão. (...)"

in "Boca do Inferno", crónica "César das Neves, o sex symbol", pp 21-2

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