sexta-feira, 27 de maio de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O SENTIDO DA VIDA DOS HOMENS
Se queremos compreender o nosso universo, o dos homens, imaginemos pois duas linhas paralelas, como as de um comboio, que se prolongam num plano infinito: não têm, portanto, nem princípio nem fim, nunca se tocam, apenas existem sempre, não lhe conhecendo nós nem de onde vêm nem para onde vão. Se imaginarmos essas linhas pairando no infinito vazio, compreendemos que, sendo essas duas linhas a única coisa que existe, sem início nem final, nenhuma dessas linhas saberá sequer, em relação uma à outra, qual delas é a da esquerda ou qual delas é a da direita. No infinito, sem final ou princípio, não se sabe sequer qual o lado para o qual elas se dirigem. Assim, será preciso que um humano nelas viaje para que se convencione qual delas é qual. Ao dizer o homem que a da direita é a da direita e que a da esquerda é a da esquerda, oferece-lhes ele uma relação que, forçosamente, apenas existirá em relação ao viajante: tivesse o viajante virado de cabeça para baixo e a da esquerda já seria a da direita e a da direita a da esquerda. Ou seja: todo o relacionamento entre as duas linhas e tudo o que lhes diz respeito apenas é de determinada forma porque é essa a forma que o viajante nelas vê. Quer isto dizer: é sempre o caminhante dessas infinitas linhas que as define, as relaciona e sem ele, elas, não se tocando, não se relacionariam nunca; elas relacionam-se por intermédio daquele que as interpreta. Imaginemos agora que estas duas linhas paralelas e infinitas representam as duas dimensões do nosso universo intelectual: a razão e a emoção; se assim for, é apenas no homem que elas, não se tocando, mas nele se manifestando, interagem uma com a outra e lhe oferecem um ponto de vista, uma interpretação, um pensamento: uma visão do universo. No entanto, para que possa este universo fazer sentido, não basta o ponto de vista humano pois se um homem caminhar a vida toda por essas duas linhas infinitas poderá ele definir qual delas é a da direita e qual delas é a da esquerda mas não saberá ele para onde vai pois não lhes conhecendo o início (o infinito negativo) nem o final (o infinito positivo), apenas indo em frente, sem qualquer ponto de referência exterior às linhas - como quem diz, sem conhecimento exterior ao da razão e ao da emoção - sem sequer saber se está virado para cima ou para baixo ou, ainda, tombado para um lado ou para o outro, sem fazer ideia de onde assentam as linhas, não poderá ele alguma vez sequer descortinar se vai para a frente ou se vai para trás, se vai para cima ou se vai para baixo, se vai para esquerda ou se vai para a direita. Na realidade, esse conhecimento é impossível de obter pois no plano da infinitude não há frente nem trás, simplesmente há... a infinitude. Se nos imaginarmos num comboio percebe-se melhor o ponto: apenas conhecendo o final e o início poderemos saber para que extremidade nos dirigimos; apenas sentindo a gravidade sabemos para que lado estamos virados e, na viagem que é a vida, ao longo de duas misteriosas linhas paralelas, sem essas informações fundamentais flutuamos sempre num infinito que, não sabendo nós sequer se vai do princípio para o fim ou se vai do fim para o princípio, não nos oferece qualquer sentido. É por esta razão que passamos a vida a tentar descortinar de onde vêm ou para onde vão as linhas que suportam a nossa existência, não nos ocorrendo, no entanto, que, sendo elas infinitas, forçosamente nem virão de nenhum lado como também não irão para lado algum. Se pensarmos no ponto de vista humano do universo - o nosso universo - como o ponto que ocupamos nessas duas linhas, percebemos que ele só ganha sentido (uma direcção, um objectivo, um desígnio) se oferecermos ao nosso posicionamento nessas duas linhas paralelas e infinitas precisamente um final; ou seja: somente se julgarmos conhecer o início das linhas como também apenas se lograrmos compreender para onde tendem elas e onde terminarão - para onde nos dirigimos, portanto -, apenas aí o nosso universo ganhará um sentido. Somente se soubermos de onde vimos e percebermos para onde vamos poderemos compreender onde estamos. Na realidade é preciso oferecer um limite à infinitude universal. Apenas aí poderemos então afirmar que sabemos para onde vamos. No entanto, como a presente metáfora pretende elucidar, esse conhecimento único que nos pode oferecer um sentido para o nosso caminho não está empiricamente disponível: é incognoscível. Dessa forma, quem pretender saber com toda a certeza para onde se dirigem os trilhos da existência humana encontrará apenas desilusão e tristeza pois esse supremo e infinito conhecimento não poderá alguma vez ser apreendido por seres finitos e ínfimos como nós: apenas um ser infinito e universal poderá compreender o infinito universal. Estamos então perdidos para sempre? Será a insatisfação humana um desígnio impossível de ultrapassar? Estaremos nós condenados a pairar sem ter alguma vez terreno firme onde assentar os pés? Com certeza que não pois que nos sobra o sonho. Sonhar o que somos e o para onde vamos permite-nos oferecer um limite compreensível para a infinitude da existência. O sonho sendo maior do que os homens mas sendo - porque é inventado por nós - menor do que o infinito, permite-nos imaginar um limite universal que será forçosamente superior que o nosso mundo (satisfazendo-nos) mas forçosamente inferior à realidade (sendo, por isso, alcançável). Apenas pelo sonho e pela intuição poderemos imaginar de onde vêm e o que são essas duas linhas, por isso poderemos crer de onde vimos; da mesma forma, apenas pelo sonho e pela imaginação poderemos intuir para onde vão as linhas e almejar um desígnio que nos ofereça sentido à nossa própria vida. A verdade é que nessa viagem sobre essas duas linhas infinitas que é a vida humana, todos saímos sempre antes do fim da linha, a vida continua sempre, as linhas continuam sempre para aqueles que nos sobrevivem, para quem nelas permanece, sobrando apenas para aqueles que dela saem as crenças e os sonhos que nela transportaram. Nenhum homem alguma vez verá o fim das linhas, da mesma forma como homem algum alguma vez lhes vislumbrou o início. E desse desconhecimento se faz o mistério da existência que sendo infinitamente insondável nos permite oferecer à nossa mísera existência - através do sonho - o sentido que muito bem nos aprouver: não podendo conhecer-se nada pode sonhar-se tudo! e é precisamente essa construção individual sobre o para onde vamos e o porque vamos (o mundo particular e único de cada um) que nos define como aquilo que de facto somos: os nossos sonhos, os nossos anseios e as nossas vontades. Neste sentido, a nossa ignorância representa a nossa suprema liberdade.
ELOGIO ÀS MULHERES (II)
"Sem a mulher, a aurora e o ocaso da vida seriam sem socorro, e o meio-dia sem prazer."
S. Barreto
In Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
S. Barreto
In Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
ELOGIO ÀS MULHERES
"É mister que os povos se embruteçam
em seus braços, ou se civilizem a seus pés
...............................................................
É em vossa alma, jovens esposas, que
repousam os destinos do género humano."
Aimé Martin
in Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
em seus braços, ou se civilizem a seus pés
...............................................................
É em vossa alma, jovens esposas, que
repousam os destinos do género humano."
Aimé Martin
in Antero de Quental, Educação das Mulheres (1859)
terça-feira, 24 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
CONTRA OS CENSORES DO POLITICAMENTE CORRECTO
"Atacar a independência do pensamento, a liberdade dos espíritos, é não só ofender o que há de mais santo nos indivíduos, mas é ainda levantar mão roubadora contra o património sagrado da humanidade - o futuro-. É secar as nascentes da fonte aonde as gerações futuras têm de beber. É cortar a raiz da árvore a que os vindoiros tinham de pedir sombra e sossego. É a atrofiar as ideias e os sentimentos das cabeças e dos corações que têm de vir. O contrário disto tudo é que é a bela, a imensa missão do escritor. É um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras. Para isso toda a independência de espírito, toda a despreocupação de vaidades, toda a liberdade de jugos impostos, de mestres, de autoridade, nunca será de mais."
Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto, Carta a Castilho (1865)
Antero de Quental, Bom Senso e Bom Gosto, Carta a Castilho (1865)
INSTITUTIONELE ADVERTENTIE
Dames en Heren, uit Rotterdam, ik geven u: Maudy met Cosmic American (2011)
sexta-feira, 20 de maio de 2011
A VERDADE
Tenho sido todos os dias importunado com panfletos do Bloco de Esquerda. A cada um que me é estendido, eu tenho respondido, com educação, que "não muito obrigado" porque "sou defensor do direito à propriedade privada". Nenhum dos panfletários negou a acusação implícita de que o Bloco de Esquerda é anti-propriedade privada. Pois é, é a falar com eles que se lhes tira o capachinho e deixa à mostra a careca totalitária.
FRED & SAU
Quem quiser seguir uma maravilhosa aventura pelo sudoeste asiático (por ora, depois não apenas) podem sintonizar a sua actividade cibernética para o blogue dos meus amigos Fred e Sau. A Sau tem costelas asiáticas por isso está como peixe na água, agora o tótó do Alfredo vai ser giro de ver a livrar-se das osgas, escorpiões e afins... Não percam, grande história, excelentes estórias e muito boas fotografias num blogue extremamente bem feito.
DA MUDANÇA
Faz parte da vida dos homens encontrar soluções que pensa serem eternas para problemas dos seus dias e, dessa forma, construir um mundo presente que o acolhe e satisfaz. No entanto, inapelavelmente, mais tarde ou mais cedo essas soluções esgotam-se em novos problemas e aquilo que parecia uma certeza salvífica tarde ou cedo se torna num problema a carecer de resolução. A mudança perpétua é a única certeza dos tempos dos homens porque a sua interacção não é estática e repetitiva, pelo contrário, é antes dinâmica e criativa e, por esta razão, de tempos a tempos, o mundo muda e o presente já não é solução para o futuro. Claro que mudar de vida assusta: é preciso colocar em causa o que se julgava certo, aceitar a perenidade das certezas e abraçar o risco do desconhecido; receio é o mínimo que a prudência dos vivos aconselha. Mas é aí que se vê também a verdadeira coragem dos homens: fazer repetidamente aquilo que acriticamente se "sabe" ser uma receita vencedora nada tem de corajoso, é um automatismo; já arriscar no desconhecido munido apenas com a esperança de construir um mundo novo exige a suprema coragem e valentia daqueles que construirão - forçosamente - o amanhã que se erguerá resplandecente das cinzas do mundo presente que agora entra em colapso. É preciso coragem mas, acima de tudo, inteligência para compreender que ter a coragem de mudar é a única solução: a alternativa é colapsar juntamente com o mundo que agora entra em colapso. Sintetiza Antero de Quental este sentimento com a sua prosa única e distinta quando se refere à mudança sentida em Portugal no Século XVI:
"Este mundo desarmónico tinha contudo uma extraordinária força de vitalidade. Firmava-se no que há de mais tenaz e resistente no mundo: o mal e a ignorância; a miséria e a superstição. E, como o abuso e a tirania também têm os seus fiéis, e o erro e a ilusão os seus crentes, a Idade Média, ao soar a sua última hora, tinha ainda muito quem a amasse, quem dela e por ela vivesse, respirando contente suas névoas ainda as mais pesadas. As almas viram-se nuas, despojadas do brando conchego das antigas crenças. As tradições quebraram-se uma a uma e os homens, deixando de suster nas mãos esses fios condutores no labirinto da vida, sentiram-se isolados e fracos. A lousa caiu, pois, sobre o cadáver da idade passada no meio de um coro tristíssimo de soluções, dos suspiros e das lamentações dos seus fiéis desolados. Por outro lado o futuro parecia incerto e cheio de dúvidas."
Antero de Quental, O Futuro da Música (1865)Se substituirmos onde se lê "Idade Média" por "Socialismo de Estado" temos um perfeito relato sobre a decisão que se impõe agora perante os Portugueses: continuar a insistir num modelo pejado de direitos garantidos (independentemente da sua correspondência com os respectivos deveres) que sobrevive através do movimento perpétuo de criação de dívida (até ao colapso inevitável) e que nos impõe uma constante e exasperante pobreza sistémica ou compreender que é preciso acompanhar o mundo da produtividade, competitividade - e correspondente riqueza - criando um novo modelo de direitos e deveres assente na liberdade individual (e o risco que esta comporta), no mérito e no trabalho. Ou seja: enfrentamos a escolha entre, por um lado, entrar em colapso económico agarrados a certezas do passado (que se tornam evidentemente erradas ao levarem-nos à bancarrota sócrates) ou, pelo outro lado, ter a coragem de começar a criar um mundo novo em que estar entre os melhores não seja uma mera quimera mas uma real possibilidade. Uma possibilidade que terá de ser conquistada com esforço, dedicação, coragem e, principalmente, muito trabalho. Acima de qualquer gosto pessoal, institnto de simpatia ou antipatia por este ou por aquele, acima de tudo o resto, é exactamente esta a decisão que temos pela frente no próximo dia 5.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
MEMÓRIA CURTA
Agora toda a gente fala nas PME: ele é o Louçã, ele é o Portas, ele é anúncios na televisão. E da Manuela Ferreira Leite, lembram-se?
DO DEVER
"O homem sente em si mesmo um forte contrapeso contra todos os mandamentos do dever que a razão lhe representa como tão dignos de respeito: são as suas necessidades e inclinações, cuja total satisfação ele resume sob o nome de felicidade. Ora a razão impõe as suas prescrições, irremitentemente, e também como que com desprezo e menoscabo daquelas pretensões tão tumultuosas e aparentemente tão justificadas (e que se não querem deixar eliminar por qualquer ordem). Daqui nasce uma dialéctica natural, quer dizer uma tendência para opor arrazoados e subtilezas às leis severas do dever, para pôr em dúvida a sua validade ou pelo menos a sua pureza e o seu rigor e para as fazer mais conformes, se possível, aos nosso desejos e inclinações, isto é, no fundo, para corrompê-las e despojá-las de toda a sua dignidade."
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
terça-feira, 17 de maio de 2011
DIREITO À INDIGNAÇÃO
Em cada Português que por esse país fora, à passagem de sócrates, o pequeno, se erga e exclame em audível e inflamado ensejo: mentiroso!, eu vejo um Português da fibra dos que fizeram a grandeza lusitana: o direito à indignação é o refúgio último de quem foi roubado, espoliado e falido sem hipótese de defesa.
ANÁLISE DA SITUAÇÃO POLÍTICA
Não tenho conseguido ver os debates políticos em que josé sócrates, o pequeno, participa: ver alguém a mentir daquela forma, vil e torpe, nojenta mesmo, revolta-me. Volto a repetir: a única forma de nos vermos livres desta ignóbil criatura é ter uma maioria absoluta de centro-direita no Parlamento. É um imperativo nacional, caso contrário: com um governo PSD\CDS minoritário o escroque não se demitirá de secretário geral do ps (minúsculas intencionais enquanto esse partido for liderado por uma clique de criminosos) e permanecerá no Parlamento a minar a recuperação económica do país (tentando evitar o cumprimento das medidas BCE\FMI) para causar novas eleições e recuperar o poder. Quanto à sua recusa (a do fora-da-lei sem-vergonha) de um governo maioritário PSD\CDS caso o ps tenha nem que seja mais um voto do que o PSD devo dizer-lhe que aí ficará a gritar da rua, o aldrabão: o Presidente da República ouve os partidos eleitos e, normalmente convida o líder do partido mais votado a formar governo; no entanto, se houver uma maioria estável que assuma que chumbará o programa do governo desse partido mais votado e que apresente (com maioria, repito) disponibilidade para formar ela própria um governo (que com maioria aprova facilmente o seu programa) então o Presidente não tem alternativa a convidar essa maioria para formar governo pois apenas ela (configurando uma maioria absoluta) tem a capacidade de chumbar ou aprovar programas de governo. O aldrabão salafrário não compreende - não quer compreender - o funcionamento básico do nosso sistema semi-presidencial. Possa haver essa maioria que nos livre deste coveiro corrupto e que o mande chafurdar na lama pantanosa debaixo da pedra de onde nunca deveria ter saído: traição à pátria, é do que se trata.
[repito: sócrates, esse cacique trauliteiro, criminoso de colarinho branco, deveria ser julgado por traição ao povo Português e cumprir pena; ele e os da sua clique criminosa que, sem pejo, assaltaram o o país nos últimos anos tirando a todos, aniquilando o estado, falindo o país e distribuindo os nossos impostos por dívida criada para com os amigos parasitas que vivem à custa do estado sem nada produzir e, pior ainda, para com as empresas dos interesses económicos que servem; se isto não configura traição à pátria então não sei o que poderá ser traição à pátria]
[repito: sócrates, esse cacique trauliteiro, criminoso de colarinho branco, deveria ser julgado por traição ao povo Português e cumprir pena; ele e os da sua clique criminosa que, sem pejo, assaltaram o o país nos últimos anos tirando a todos, aniquilando o estado, falindo o país e distribuindo os nossos impostos por dívida criada para com os amigos parasitas que vivem à custa do estado sem nada produzir e, pior ainda, para com as empresas dos interesses económicos que servem; se isto não configura traição à pátria então não sei o que poderá ser traição à pátria]
segunda-feira, 16 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
ELOGIO DA FILOSOFIA
"Por acaso subiu já o leitor ao cume de um monte suficientemente alto para que toda a paisagem lhe aparecesse, à vista, fundida a ponto de não distinguir uma árvore de um casal, nem um rio de um vale sem curso de água? Pois sucede assim nas campinas da história do pensamento humano, quando as olhamos das cumiadas luminosas da crítica. Vêem-se as cousas na sua essência, não importam os acidentes. O fetiche que o selvagem adora, a imagem perante a qual se prostra o comum dos crentes, o arquitecto universal dos pensadores livres, e finalmente esse quid inominado a que a filosofia moderna chamou Inconsciente - tudo isso é igualmente Deus: sòmente é Deus percebido pela imaginação infantil, Deus percebido pela inteligência vulgar, Deus percebido pelo saber incipiente, e Deus finalmente incompreendido, mas sentido, pela sabedoria. E todas essas modalidades de uma mesma impressão, recebida e representada de forma diversa, consoante a natureza e o estado de educação dos homens, são igualmente verdadeiras, igualmente santas e igualmente humorísticas, para aquele que tem coração para sentir as cousas por dentro, e olhos para as ver de fora... Eis aí a suprema liberdade do espírito, o Nirvana apenas intelectual, a que eu prefiro chamar impassibilidade subjectiva: um estado que permite compreender todas as cousas, analisando-as e classificando-as, sem todavia nos transmitir essa espécie de frialdade de coração, própria dos naturalistas quando estudam uma rocha, uma planta ou um animal. O filósofo, impassível ao analisar e classificar os fenómenos do espírito humano, há-de misturar ao sorriso que provocam todas as vaidades e ilusões, o amor que merecem todos os sentimentos ingénuos e fundamentalmente bons."
Oliveira Martins, Antero (1886)
Oliveira Martins, Antero (1886)
CRÍTICA AO POSITIVISMO CIENTISTA
"O que lhe falta é o que falta à inteligência científica. A inteligência científica, sendo positiva, tem de se colocar, e sem nunca sair dele, no terreno dos factos; sendo precisa, tem de ir procurar debaixo dos fenómenos complexos e cambiantes aqueles elementos irredutíveis e constantes, os únicos susceptíveis de avaliação rigorosa; sendo realista tem de aceitar esses elementos tais como eles se apresentam, sem indagar se nessa ideia imediata que deles forma não haverá porventura alguma grande ilusão, se ela não envolve algum fundo problema ontológico, que lhe escapa. Desta atitude em face da realidade resulta um ponto de vista limitado, o que quer dizer incompleto. É a experiência no seu máximo de organização, mas é sempre a experiência. A base do seu edifício é estreita: generaliza impressões e delas tira inferências, mas os resultados mais elaborados desse processo lá trazem sempre o cunho da origem, que é sensual. Daí, o ponto de vista por excelência sensual, o do mecanismo. O mecanismo é o máximo grau de abstracção de que a inteligência é capaz dentro dos limites e com dados de sensibilidade, mas é só isso. Reduzindo tudo, por este processo, a elementos mecânicos, reduziu tudo aos elementos primitivos da sensibilidade e nada mais. Limitou por conseguinte o ser à sua esfera primeira e inferior. Por mais que faça e quanto mais fizer é só isso o que há-de achar no fundo do seu formidável cadinho. O universo da ciência. feito à imagem dessa inteligência que opera só sobre dados primitivos e elementares, é pois um universo inferior e elementar: foi como que amputado dos seus órgãos mais nobres. (...) É um universo que se move nas trevas, sem saber porquê nem para onde. Não o alumia a luz das ideias, não lhe dá vida a circulação do espírito. Paira sobre ele um mudo fatalismo. A inerte serenidade, que inspira a sua contemplação, é muito semelhante ao desespero. A sua beleza puramente geométrica tem alguma coisa de sinistro. Nada nos diz ao coração, nada que responda às mais ardentes aspirações do nosso sentimento moral. Para quê, um tal universo? E para quê viver nele? Nada alimenta tanto o mórbido pessimismo dos nossos dias como o gélido fatalismo soprado pela ciência sobre o coração do homem."
Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890)
Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890)
quinta-feira, 12 de maio de 2011
DEDICADO AOS SENHORES CHEIOS DE CERTEZAS (PROGRESSISTAS, OPTIMISTAS E DEMAIS REVOLUCIONÁRIOS)
"Duvidar não é só uma maneira de de propor os grandes problemas: é já um começo de resolução deles, porque é a dúvida que lhes circunscreve o terreno e que os define: ora um problema circunscrito e definido é já uma verdade adquirida e uma preciosa indicação para muitas outras verdades possíveis. É pela dúvida que a filosofia concebe, é a dúvida que a torna fecunda e a sua relatividade é, afinal, toda a sua razão de ser. Iludem-se então os que procuram a verdade na filosofia? Sim e não. Iludem-se, por certo, se procuram na filosofia a verdade total e definitiva, a fórmula completa, nítida e inalterável da lei suprema das coisas, esse segredo transcendental que, uma vez conhecido, se isso fosse possível, os tornaria deuses, segundo a expressão bíblica, ou, segundo o nosso modo de ver, os tornaria inertes, ininteligentes, moralmente decrépitos, adormecidos beatificamente à sombra da árvore da ciência. Saber tudo equivaleria a nada saber. Uma filosofia definitiva, feita e assente uma vez para todo o sempre, implicaria a imobilidade do pensamento humano: o absoluto anestesiá-lo-ia. Essa tal verdade, aspiração ingénua de espíritos incultos, pode animar os crentes e exaltar os entusiastas: nos domínios do puro pensamento nunca produzirá senão vertigem e ilusão."
Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890)
Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890)
DIÁRIO DO PAPEL (Incursão à Feira do Livro, Pt1)
Ora, devassado o lado esquerdo da Feira, a recolha foi alargada a tudo menos o planeado: para começar a História de Portugal de Oliveira Martins, primeiramente editada em 1879 e um monumento à compreensão da portugalidade através dos olhos do pessimista e decadente final do Século XIX. Da mesma altura, no seguimento do meu profundo interesse por Antero de Quental vêm os seus Sonetos Completos minorar o desalento por nenhum stand ter qualquer edição das suas Prosas. Deparando-me com a mui badalada biografia de Salazar de Filipe Ribeiro de Meneses não pude deixar de a adquirir, complementando a dita com o único texto ideológico escrito - organizado de entrevistas, discursos, etc.- pelo biografado, o polémico Como se Reergue um Estado, editado em Francês em 1936 e agora disponível em Português. No campo das ideias, de Descartes adquiri o seu Discurso do Método e um livro, do qual já li excertos, que me entusiasma para lá da mera excitação, entusiasma-me mesmo porque nele leio o que penso e intuo: As Vantagens do Pessimismo, a bíblia do conservadorismo contemporâneo de Roger Scruton. Dos romances, porque não dei ainda vazão aos que adquiri durante o ano literário que agora termina, fugi a sete pés mas não consegui deixar de comprar, porque me importunaram com os seus lamentos acusatórios acerca da minha ignorância por neles não ter ainda discorrido a minha mente, dois clássicos: Aparição de Vergílio Ferreira e Moby Dick, de Herman Melville [Eu sei, uma vergonha]. Comprei, ainda, mais um romance da Camilla Lãckbeck, já é o segundo, a "nova Agatha Christie Sueca", um policial para oferecer à minha mãe que, aparentemente, adorou o primeiro que lhe ofereci no Natal. Amanhã vou lá cheirar o restante da Feira.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
DA CRIAÇÃO
O criador se se deixar enredar demasiado pelo objecto do seu estudo, seja através da idolatração, seja através da repulsa, tornar-se-á um fiel reprodutor de um conjunto de ideias pré-existentes e será incapaz de produzir conhecimento novo: quanto muito interpreta o que foi pré-criado de uma forma nova, tornar-se-á um especialista em algo já existente e poderá ascender aos mais altos vôos académicos calcando bem e de forma segura os pés no edifício intelectual de terceiros. Sucesso garantido! Já o criador deverá, ao contrário do que à primeira vista pudesse parecer mais aconselhável, de forma egoísta e - quiçá - pouco saudável, aproveitar a cada instante tudo o que estuda e aprende, roubando aqui e ali, pilhando acolá, sempre com o intuito de alicerçar o seu próprio edifício intelectual, de servir-se do que existe para servir a sua própria vontade: pensar pelas suas próprias palavras, mais importante: pelos seus próprios conceitos. É fora das escolas, livre de grilhos, que a ponderação, por vezes intuitiva e pouco respeitosa para com o passado, sobre o conhecimento estudado poderá servir o seu próprio sentir. E do seu sentir advirá um novo pensar.
terça-feira, 10 de maio de 2011
DIÁRIO DO PAPEL
Ora, profícuo, muito profícuo: via internet, vindos do outro lado do oceano, três obras de Michael Sandel: Justice: What's the Right Thing to do?; Public Philosophy; e ainda uma colectânea de textos clássicos sobre a justiça de seu nome Justice (ideal para bibliografia de uma disciplina de teoria política contemporânea). A caminho, numa oportunidade de preço, vem On Liberty de John Stuart Mill. Por coincidência, ontem pelos passos perdidos da Faculdade de Letras dou de caras com uma feira do livro com obras a dois euros. Pois. O primeiro que peguei foi o mesmo On Liberty, só que desta feita, Sobre a Liberdade, fico com uma tradução Portuguesa também. Entusiasmei-me e comprei mais três livros de consulta, duas antologias de filosofia e uma dissertação sobre Kant. Para temperar, dois livros de Alberto Morávia, o grande, que ainda não tinha: o primeiro, um romance, de seu nome O Desprezo; o segundo, uma colectânea de contos, muitos, chamada O Autómato. Amanhã vou à feira do livro.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
DECLARAÇÃO
Considerando o estado do país, a forma como é gerido e o ataque à liberdade individual (utilização da propriedade privada dos cidadãos visando o interesse particular de uns quantos) que o estado do nosso estado significa venho por este meio declarar que deixarei de utilizar maiúscula quando me referir à entidade "estado".
COISAS QUE OS PORTUGUESES DEVEM SABER
A propósito do vídeo do post anterior gostaria de dizer três coisas: primeiro, quando vi o vídeo percebi imediatamente que iria fazer furor nas redes sociais e achei que era uma iniciativa interessante apesar de notar um ou outro dado que me pareceu pouco rigoroso. Brincar com a situação onde vivemos como forma de não nos deixarmos enlevar pelo derrotismo castrador ou afundar em complexos de inferioridade tão tipicamente Portugueses pareceu-me - e ainda parece - uma coisa boa. Segundo, o nível de furor que a coisa fez verdadeiramente surpreendeu-me; e aqui é que a porca torce o rabo: uma coisa é vermos um vídeo engraçado, tecnicamente bem feito e que, de forma provocante, representa uma brincadeira (semi) educativa, outra coisa é fazermos dessa brincadeira o novo hino nacional. Ele é as televisões, ele é os comentadores, os jornais; ele é toda a gente a exprimir "orgulho" e pronta para pegar em espadas (que provavelmente também inventámos algumas) contra os malandros dos Finlandeses. E aqui vem o terceiro ponto: é que os Finlandeses até têm razão. Uma coisa é brincarmos de uma forma simpática, outra coisa é esquecermos que enquanto os Finlandeses andaram os últimos anos a trabalhar e transformaram o país "pobre, faminto e periférico" que eram em 1940 num país rico e desenvolvido, nós andámos a cantar de cigarra e a dormir à sombra da bananeira. Fazerem da "auto-estima" (que conceito irritante) a salvação de Portugal não é mais do branquear o nosso desnorte, a nossa culpa e a vergonha que é o desgoverno socialista que nos trouxe até aqui. Esta ajuda, meus caros, não é merecida: é a prova do nosso fracasso. E esse fracasso tem responsáveis: o partido socialista e a grupeta socretina que o dirige. É bom que não se esqueçam disso.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
quinta-feira, 5 de maio de 2011
ALÍVIO
Admito que, apesar da vergonha e da humilhação, a entrada dos estrangeiros no país ofereceu-me um alívio imenso: a noção de que os maníacos, alucinados e aldrabões que nos governam já não podem fazer tudo. Venha a civilizada Europa que a nação Portuguesa segue dentro de momentos quando ajustarmos contas com o bando de ladrões que escancarou as portas do nosso venerando castelo.
DA COMUNIDADE
A minha vizinha, octogenária convicta, tem por costume - que a princípio estranhei - comentar comigo a chegada da conta da água, da luz ou do gás. Diz-me ela que "tenha atenção que já chegou a conta", não vá eu esquecer-me de a pagar. Num desses moderníssimos e mui distintos prédios pejados de pessoas novas e modernas tal coisa seria impossível: é que antes - por oposição a hoje - vivia-se em comunidade, partilhando-se a vida e os seus pequenos e grandes acontecimentos. O individualismo excelso é uma novidade, essa sim moderna, e que, temo, quando passar, deixando finalmente vísivel o seu rastro de destruição impiedosa, não deixará saudade alguma, apenas remorso, pobreza e infelicidade. Gosto muito da minha vizinha.
COMO O CENTRALISMO ORGANIZACIONAL LEVA À DÍVIDA
"O que o cidadão deixa de fazer por si fá-lo o estado por meio dum organismo novo, porque a sua força e complexidade estão na razão da força e do desenvolvimento da esfera de acção de cada cidadão. Ora a força do estado não pode existir senão organizada; isto é, não existe sem repartições e sem empregados, repartições tanto mais complicadas quanto mais perfeita é a organização, empregados tanto mais remunerados quanto são mais importantes os negócios de que se ocupam. O funcionalismo é pois o triunfo da centralização, a sua expressão mais completa, e pode sem ironia dizer-se que uma nação centralizada não chega à sua plenitude, não é, por conseguinte, perfeita, enquanto uma metade dos cidadãos não estiver constantemente ocupada em vigiar, governar e corrigir a outra metade... Mas toda essa gente vive: vive, absorve... e não produz. A ruína das nações centralizadas começa por aqui. Não há relação entre o que sai do trabalho e o que exige o consumo. Para acudir às necessidades do dia é preciso hipotecar o futuro. Mas o futuro há uma hora em que chega a ser presente, e nessa hora aparece por tal forma enfraquecido e sobrecarregado, que já para viver precisa pedir a um outro futuro mais longínquo o dobro e o triplo do que lhe tinham pedido a ele. Eis a progressão terrível da dívida pública! Progressivamente, não proporcionalmente, crescem as exigências do estado: e progressivamente, não proporcionalmente, diminuem os recursos do país, onerado, comprometido numa razão matematicamente assustadora. É neste momento que o fisco, até ali simples organismo como os outros, se desmascara e deixa ver o monstro cruel, tirânico e disforme que é realmente. Nesse momento de brutal fraqueza, toda a política se resume numa única palavra: dinheiro!"
Antero de Quental, Portugal Perante a Revolução de Espanha (1868)
Antero de Quental, Portugal Perante a Revolução de Espanha (1868)
terça-feira, 3 de maio de 2011
A GÉNESE (II)
"O «liberalismo», embora lentamente, criou uma nova ordem política e jurídica e uma nova administração. Mas de «liberal» teve pouco. Por causa da sua intrínseca fraqueza e do seu isolamento na sociedade portuguesa viveu até muito tarde sob a tutela do exército e, depois, sob uma forma de «fusão», ou seja, sob a tutela de partidos sem espécie de legitimidade, que na prática não se distinguiam e governavam por vontade do rei. Na essência um importação (às vezes forçada, às vezes voluntária), o «liberalismo» foi sempre buscar a França e a Espanha ideologias, modelos, métodos de acção e até programas. Nisto não se distinguiu da natureza imitativa da cultura letrada nacional.
Infelizmente, continuou também as tradições do «antigo regime». Um Estado que fez mais centralizado, despótico e intrusivo; a tendência para sustentar com dinheiro público uma classe média burocrática e «parasitária»; e uma constante intervenção na economia, em parte imposta pela ausência de capital privado, em parte por simples penúria financeira. Isto trouxe, como trouxera no fim do antigo regime, um défice permanente e uma dívida nacional sem proporção com pobreza e a dimensão do país."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e de Política
Infelizmente, continuou também as tradições do «antigo regime». Um Estado que fez mais centralizado, despótico e intrusivo; a tendência para sustentar com dinheiro público uma classe média burocrática e «parasitária»; e uma constante intervenção na economia, em parte imposta pela ausência de capital privado, em parte por simples penúria financeira. Isto trouxe, como trouxera no fim do antigo regime, um défice permanente e uma dívida nacional sem proporção com pobreza e a dimensão do país."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e de Política
A GÉNESE
"O «liberalismo» fora imposto por um exército (na origem, meio mercenário), pela banca inglesa, e, secundariamente, pela francesa, pelo apoio das Potências e por um príncipe mais brasileiro do que português. Fora das cidades (no fundo, de Lisboa e do Porto), ninguém o pedira e ninguém o percebia.
(...) No meio do tumulto, o «liberalismo», que não ignorava a sua fraqueza, tentou chegar a uma unidade que lhe permitisse governar o país. Sem resultado. Em 24 de Setembro de 1834, D. Pedro, o único «liberal» teoricamente acima das facções, morreu com uma encenação melodramática ao gosto da época. Ea partilha dos despojos consumou as velhas divisões do «movimento». A substância dos bens nacionais, à volta de 87 por cento vendida por «papel» (ou seja, por títulos da dívida pública ou por títulos da dívida do Estado a servidores, que D. Miguel demitira ou que se haviam juntado à causa da rainha na emigração ou na guerra) e muito abaixo do seu valor real, acabou nas mãos de três centenas de privilegiados. O resto ficou para alguns milhares de pequenos proprietários, que comparavam mais caro e quase sempre metálico. Numa palavra, os chefes do «liberalismo» inauguravam o seu reino com a fraude e o arbítrio para se enriquecer a si mesmos."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e Política
(...) No meio do tumulto, o «liberalismo», que não ignorava a sua fraqueza, tentou chegar a uma unidade que lhe permitisse governar o país. Sem resultado. Em 24 de Setembro de 1834, D. Pedro, o único «liberal» teoricamente acima das facções, morreu com uma encenação melodramática ao gosto da época. Ea partilha dos despojos consumou as velhas divisões do «movimento». A substância dos bens nacionais, à volta de 87 por cento vendida por «papel» (ou seja, por títulos da dívida pública ou por títulos da dívida do Estado a servidores, que D. Miguel demitira ou que se haviam juntado à causa da rainha na emigração ou na guerra) e muito abaixo do seu valor real, acabou nas mãos de três centenas de privilegiados. O resto ficou para alguns milhares de pequenos proprietários, que comparavam mais caro e quase sempre metálico. Numa palavra, os chefes do «liberalismo» inauguravam o seu reino com a fraude e o arbítrio para se enriquecer a si mesmos."
Vasco Pulido Valente, 'O Liberalismo Português' in Portugal: Ensaios de História e Política
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