quinta-feira, 14 de abril de 2011

MANIFESTO PARA O CONSERVADORISMO LIBERAL SEGUNDO A TEORIZAÇÃO DA LIBERDADE

A liberdade política é uma tensão permanente entre a vontade do indivíduo de se exprimir e a necessidade de o colectivo conter esses mesmos indivíduos por forma a que todos tenham as mesmas liberdades. Não há volta a dar a isto. Significa isto que garantir a liberdade exige do indivíduo, com igual importância, tanto a defesa contra os atropelos da sua esfera pessoal por parte do colectivo bem como a aceitação de limites na sua acção para com os outros; não há, portanto, uma fórmula secreta, um plano perfeito, um esquema visionário que resolva o problema. Pelo contrário: é um desafio permanente de todos os indivíduos porque a tensão entre eles e os outros é, enquanto vivendo em grupo, uma constante. Assim sendo, sem um guião, resta-nos o desafio eterno de, a cada momento, construirmos a liberdade que queremos. Umas vezes as sociedades, com medo (instinto securitário) ou pelo medo (totalitarismo), apostam mais no colectivo e os muitos subjugam-se a uns poucos; outras vezes, com confiança, os indivíduos, fartos de subjugação e crentes nas suas capacidades, plenos de vontade, agarram o destino pelos cornos e, pelas suas próprias mãos, chamam a si mesmos o direito de decidirem sobre a sua própria vida. A História mostra-nos que os períodos de medo, subjugação e colectivização, porque nenhuma organização pode exceder a imaginação do seu criador (Hayek), são períodos de menor riqueza e de menor felicidade; limita-se ao plano pré-definido de quem controla a sociedade. Pelo contrário, períodos de maior liberdade são os períodos de maior abastança, maior felicidade e maior desenvolvimento porque, libertos de um plano pré-definido, sobra o desígnio de quebrar as barreiras do possível. A sociedade espontâneamente criada pela livre interacção dos indivíduos que a compõem, sem ser limitada pela vontade de um chefe, dirige-se para onde for melhor a cada momento e resolve, a cada instante, da melhor forma que encontrar os problemas que naturalmente enfrentará. A única forma de estar preparado para os problemas que não conhecemos nem controlamos é perceber que não há plano algum que garanta a resolução de todas as dificuldades futuras ou que assuma que o momento actual em que vivemos é o último degrau da experiência humana e que, por tal facto, this is it, chegados aqui nada de novo haverá e a solução para o momento é uma solução para eternizar. Deixar o futuro em aberto implica deixar à sociedade, por si própria, a cada indivíduo por si próprio, criar o seu próprio destino. Sou, por estas razões, um liberal. Mas não um libertário: a sociedade, se bem que com o devido ênfase no indivíduo, não pode dispensar de forma alguma o colectivo. E na ausência de um plano para definir a fronteira desta permanente e eterna tensão sobra-nos o bom senso. Nas palavras de S. Francisco de Assis, precisamos de ter força para mudar o que pode ser mudado - defender o que é nosso -, resignação para aceitar o que não pode ser mudado - vivermos em grupo - e sabedoria para compreender a diferença. O tal bom senso, portanto. Ter a coragem de confiar no bom senso casuístico dos homens e não impor um plano fadado ao insucesso que ambiciona dar resposta ao dilema humano é a receita dos conservadores. O dilema humano é insolúvel por decreto, cabe a cada um descobrir a sua pequena e única chave da felicidade e aqueles que anunciam um mundo sem dificuldades e um futuro radiante de felicidade para todos ou são ignorantes acerca da natureza humana ou pretendem, através da mentira, persuadir os preguiçosos e os medrosos a abdicar da sua própria responsabilidade no seu destino individual em nome de facilidades que não existem. Em suma: falar verdade, confiar nas pessoas e não nos chefes providenciais, desconfiar dos planos milagrosos, ser prudente, deixar as opções colectivas em aberto para as escolhas individuais e assumir que, em última instância, numa sociedade de pessoas igualmente livres, o resultado dos esforços de cada um é o que define o sucesso ou o insucesso na vida. E que aquilo que uns consideram sucesso não quer forçosamente significar que todos o considerem também. Em duas palavras? Liberdade e responsabilidade. Hélas, o conservadorismo liberal.

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