quarta-feira, 23 de outubro de 2013

EM CHATELAIN

Hoje, Quarta-Feira, é dia de mercado em Chatelain, Bruxelas.Para além das normais bancadas de bugigangas, roupas, etc., aquilo que distingue o típico mercado flamengo são as iguarias: todo o tipo de queijos, patês, enchidos, tapenades, frutos ou vegetais, tudo o que se possa imaginar. Ao mesmo tempo a apresentação das montras é sempre charmosa e cuidada. Espalhadas pelo mercado estão também bancadas com provas de vinhos e comida pronta-a-comer. Um chique. Entretanto, hoje - graças ao que apanhámos no mercado - para jantar, após o Benfica, vamos ter: saladinha de polvo, azeitonas com basílico e alho, um chévre au lait cru, isto para as entradas, e uns tortelini au fromage trufée como prato principal. Não me parece mal. Para comprovar que afinal os bárbaros do Norte até se sabem tratar bem no que que concerne à culinária aqui fica a reportagem fotográfica da nossa ida ao mercado hoje.
     
                                    































segunda-feira, 14 de outubro de 2013

INFALLIBLE PLAN


CIVILIZAÇÃO

Fui roubar aqui ao João esta preciosidade:

"Tu, qu'inventaste as Sciencias e as Philosophias,
as Politicas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectaculo...
Tu, que aperfeiçoas a arte de matar...
Tu que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho-Maritimo da India
e as duas Grandes Américas.
e que levaste a chatice a estas terras.
e que trouxeste de lá mais Chatos pr'aqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar submarinos
pr'a te chateares também por debaixo d'agua...
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres...
Tu consegues ser cada vez mais bêsta
e a este progresso chamas Civilização!"

José de Almada-Negreiros, A Scena do Odio (1915)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A VERDADEIRA OPÇÃO

Sobre a questão dos estatutos do PSD e as candidaturas independentes deixo aqui já um breve, e rápido, apontamento sendo certo que voltarei com mais profundidade a esta questão quando tiver tempo nos próximos dias. No Folia do Caos escrevi eu que:

"O triunfo da norma geral e abstracta deriva no legalismo quando se defende a ideia de que a lei tudo consegue definir. Sendo aquela soberana e fundamental, o momento em que tudo na vida das pessoas passa a ser regulado por ela não traz apenas benefícios: pelo contrário, também faz com que se escondam os piores comportamentos por detrás da capa da legalidade. Ao mesmo tempo, num mundo onde tudo se regula, passando o bom e o mau a serem identificados com o que está de acordo ou contra a norma, assume-se que se a lei não proíbe determinado comportamento então, independentemente de ser bom ou mau, aquele é aceitável. Da mesma forma, se o comportamento é considerado ilegal, então ele é mau. (...) A consequência é que, passando o ónus da soberania meramente para a lei, sendo esta aquilo que verdadeiramente nos rege, deprecia-se o instrumento que é o discernimento humano ético e moral: eu não tenho que pensar se o comportamento A ou B é certo ou errado, apenas me interessa se ele é legal ou não. Ou seja: o legalismo positivista excessivo tenderá a gerar uma sociedade amoral que se preocupa com comportar-se de acordo com as leis e não em seguir uma conduta ética e moral que entenda como boa".

Guarde-se a ideia e, considerando que o Presidente da Distrital de Lisboa do PSD (detentor de um curriculum ético e moral tudo menos recomendável) depois de ter rebentado com o poder autárquico do PSD no distrito de Lisboa, anda aí de espada na mão e exigir expulsões,  a questão que os militantes do PSD se deverão colocar será precisamente sobre quem mais respeita a ética e os valores verdadeiramente matriciais do PSD. Assim, serão os independentes que inclusive granjearam fielmente interpretar o sentimento do povo, chegando mesmo a ser por este positivamente sufragado onde enfrentaram o partido, que são uns malandros? Ou serão os caciques de algibeira que de tacho em tacho tanto percebem da alma social-democrata que viram as suas opções derrotadas pelo mesmo povo em toda a linha? Quem será que faz pior ao PSD? Aqueles que apesar do PSD continuam a lutar por um povo que neles se reconhece? Ou aqueles que com o seu caciquismo amoral pervertem o PSD guiando-o à derrota? Escolha o PSD a segunda opção e acabarão sozinhos os caciques a terem votações de 13% a nível nacional como o tiveram em Sintra.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

FUTUROLOGIA


                                        Como em 1925 se imaginava uma cidade em 1950.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

RESPONSABILIDADES

Os senhores da distrital de Lisboa do PSD já se demitiram?

A POSTERIORI

Alguns apontamentos sobre os resultados eleitorais de ontem:

1. Em Oeiras, um ex-inspector da Polícia Judiciária foi encavado por um indivíduo que foi festejar para a prisão da Carregueira. Esta contada aqui na Flandres e ninguém acredita.

2. No Porto, ganharam as boas contas contra o despesismo populista que vinha do outro lado do Rio. Esta contada aqui há uns dias atrás e também ninguém acreditava.

3. Em Sintra, o PSD de Lisboa e nacional fartaram-se de gerir a câmara e resolveram deitá-la fora.

4. Em Gaia, o PSD achou melhor, já que perdia o Porto, deitar fora a câmara também. Resultado: o independente que candidatou ficou taco a taco com o social-democrata independente... no segundo e terceiro lugar.

5. Entretanto, em Loures, prepara-se a ditadura do proletariado.

6. No Alentejo, é a CDU quem mais ordena.

7. Em Lisboa, a máquina do PSD levou uma tareia monumental: valeram mesmo a pena todos os processos legais contra a lei de limitação de mandatos para impor uma candidatura que teve 22% dos votos? Se há inabilidade e amadorismo evidente em política este é um exemplo evidente.

8. Em Faro, o povo não ficou assim tão zangado com o partido do Macário e não deu a vitória ao PS.

9. Em Braga, o outro Rio finalmente ganhou.

10. Na Madeira, não se ouviu João Jardim.

NOITE ELEITORAL

Ontem, do exílio belga, fui comentando a noite das estrelas autárquicas no Facebook. Aqui ficam as bocas e os apontamentos:

21h00 (hora belga) - Este Luís Delgado, na SIC Notícias, é de rir: no Porto, com a direita dividida entre duas candidaturas fortes, diz-nos este "comentador independente" que Seguro se perder por poucos tem um grande resultado. Já Menezes imagino que ganhar (dividindo o seu tradicional eleitorado) seria uma obrigação. E se, muito possível, ganhar Moreira será uma derrota catastrófica do Governo. Uma análise independente, claro.

21h15 -  No Porto parece-me que o povo escolheu sabiamente; já em Lisboa, a verdadeira dimensão de um descalabro (que se anunciava) deixa-me absolutamente boqueaberto.

21h41 -  O Telmo Correia, onde se mete, dá sempre asneira.

21h42 -  A Judite de Sousa já abriu o espumante?

21h57 -  Com este resultado, se o Fernando Seara queria ir para o Parlamento Europeu, já só vai como assessor. Vá, pronto, chefe de gabinete.

22h06 -  O ambiente no Altis, na candidatura do António Costa, é de profunda partilha com os lisboetas.

22h09 - E na candidatura de Seara já devem estar todos em Cascais, onde trabalham.

22h15 -  O Marques Mendes, na SIC, faz muito bem o seu papel de não parecer nada feliz com a derrota de Menezes no Porto.

22h20 -  A CDU ganhou Cuba.

22h41 -  Naturalmente, o PS, no Porto, face a uma candidatura onde o presidente não se recandidata e o seu eleitorado se divide em dois, naturalmente, repito, o PS - e Seguro - não sofrem aí nenhuma derrota. Entretanto, Manuel Alegre discursa em directo a falar da vitória do PS nas autárquicas e como futura alternativa de governo do país. Naturalmente.

22h49 -  Ah, este Pizarro, coitadinho. E o PS não teve uma derrota na câmara do Porto?

23h20 -  Aquele desgraçadinho que falava como porta-voz do PS deu uma bela imagem de alternativa governativa.

23h28 -  É o Louçã Jr. que fala pelo bloco de esquerda?

23h33 -  Em Oeiras ganha a candidatura que tentou apresentar um presidiário condenado - e a cumprir pena - a candidato à Assembleia Municipal. Está bem entregue, o município.

23h34 -  Quem quiser vistos para a Coreia do Norte dirija-se ao gabinete do novo Presidente da Câmara Municipal de Loures sff.

23h44 -  Insatisfeito com a cobertura da SIC mudámos para a TVI e depara-mo-nos com a Teresa Guilherme aos gritos. A TVI já não cobre actos eleitorais. Sim senhor, apesar de a qualidade não ser muito diferente de alguns candidatos autárquicos, a escolha não deixa de ser deplorável (mas bem indicativa). Execrável.

23h48 -  E na SIC passa a passar uns tristes aos saltos. Confere.

23h50 -  Resta-me registar que, para aqueles que não têm cabo, não há "direito" a noite eleitoral. Eram a SIC e a TVI que diziam que não queriam os canais de notícias na TDT?

00h05 -  Portanto - e não é influenciado certamente pela Beatriz Soares Carneiro -, o CDS, que aumentou em 500% os seus presidentes de câmara e apoiou o Rui Moreira no Porto, safou-se muito bem. Ele há estratégias que, mesmo estando no Governo, dão resultados positivos afinal.

00h13 -  Quantos eleitores socialistas estarão agora, enquanto ouvem o discurso - e os resultados - de António Costa em Lisboa, a pensar que preferiam ver António Costa à frente do PS em vez do Tozé dos devaneios inseguros.

00h16 -  Já eu, como militante do PSD do distrito de Lisboa, estou muito impressionado com o trabalho estratégico da máquina aparelhística social-democrata. Mesmo. Pior era difícil.

00h44 -  Porto just got dunphied.



















00h45 - O Seguro acabou de ler um poema de Manuel Alegre?

00h56 - Amanhã, em Loures.



01h27 -  Em Sintra, o desvario do PSD Lisboa (e nacional) dá uma abébia ao socrático-ex-centrista-novo-socialista Basílio Horta ao candidatar o desaparecido-em-combate Pedro Pinto contra ao sintrense Marco Almeida e oferece emoção à noite eleitoral. Certo mesmo, apenas a passagem do PSD a terceira força mais votada.

01h30 -  O Bloco de Esquerda hoje perdeu 100% das câmaras municipais que detinha. Vá lá, menos mau.

01h34 -  O Bloco de Esquerda (que perdeu 100% das câmaras municipais que detinha) reclama por não ter tido cobertura televisiva. Ou seja, o BE sem televisões não é nada.

01h43 -  Na Madeira estão 18º. Deve ser a Primavera (outonal) a chegar.

01h57 -  Sintra é que é!

02h05 -  Entretanto, na SIC notícias entram em acção os palhacinhos de serviço. Isto de acompanhar os resultados eleitorais só pela net mesmo.

02h16 -  O sucessor do presidiário de Oeiras é um portento de oratória.

02h31 -  O Basílio Horta, como bom socialista, vai "estudar" como proteger a costa de Sintra. Depois fala dos amigos. Confere. Faltou gritar PS com os seus amigos.

02h45 -  E pronto: em Bruxelas são 2h45. Roger and out.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

TAXAÇÃO E REPRESENTAÇÃO

Depois destas autárquicas, como sempre plenas de promessas e festanças (o campeão da festa deve ser Carreiras em Cascais e o chefe da promessa Menezes no Porto), faz-me estar cada vez mais certo de que o simples princípio que levou à revolução americana, a saber, no taxation without representation, deveria ser aplicado também na sua forma invertida: isto é, se os americanos reclamavam que não queriam ser taxados por Londres sem terem direito a representação no parlamento, também nós deveríamos exigir que nenhum dos nossos representantes fosse financiado de outra forma que não a taxação directa. Ou seja, acabe-se com o financiamento das câmaras municipais por via do orçamento geral do Estado e obrigue-se os senhores autarcas a financiarem-se exclusivamente por impostos directos sobre as empresas e os seus munícipes. Assim fosse e seria ver o pagode, depois de pagar os seus impostos, a ir lampeiro para a festa e para o foguete. Ou talvez não: é que a melhor forma de acabar com o despesismo é garantir que os profissionais da cacicagem são obrigados a assumir perante quem os financia - ou seja, perante os contribuintes - que lhes estão a ir ao bolso. Também seria agradável garantir que os desvarios dos Menezes desta vida fossem pagos pelas populações que tiveram a falta de tino de os eleger: por que razão teremos todos nós que não vivemos em Gaia de pagar a dívida que aquele lá deixou? Mais: com esta reforma, autarca que mais gastasse mais teria que taxar os seus munícipes correndo, por essa razão, o risco de perder eleitores: é que a malta não gosta de pagar impostos. E assim seria mais popular baixar impostos (e poupar dinheiro público) em vez do imoral esbanjamento no foguetório, na festa ou no concerto a que todos vamos assistindo. Claro está que tamanha reforma nunca será posta em prática porque vai directamente contra duas coisas absolutamente basilares do regime socialista em que vivemos: por um lado o centralismo burocrático que nos governa e que muitos enriquece; depois porque as autarquias configuram a principal porta de entrada do financiamento partidário e, fruto desse poder, nunca veremos os senhores autarcas a querem ser alvos de tanto escrutínio e a perderem a mais absoluta impunidade em que agora alegremente vão vivendo.

DA CACICAGEM

Acho muita piada a ver as declarações solenes de apoio político ao candidato A ou B por parte de pessoas que devem o seu salário mensal, ou a sua colocação actual, ao candidato A ou B.

SIM, ISTO

(especialmente aqueles iluminados que não sabem quando utilizar um "à" ou um "há" e que destilam comentários no Facebook cheios de certezas opinativas)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

NO EXÍLIO

Longe das trombas dos caciques locais que precisam, pedem, suplicam ou, pior, exigem os nossos votos, vou até Bailly para ler o meu livro em paz, enquanto bebo uma (ou duas) tripel karmeliet. É uma estranha - e triste - sensação de alívio, esta que me assalta ao ver-me longe da claustrofóbica mediocridade política, mediática e burocrática tuga.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

TWARFLE TO MY FLUCKR


A CIDADE E OS CAMPOS

De regresso à metrópole apetece-me comentar: na cidade, essa bolha que nos separa do mundo de predadores e caçados, tudo gira a uma enorme velocidade. Aí, na cidade, a única constante das nossas vidas somos de facto nós próprios: tudo o resto muda num constante fluxo de eterna (ilusória, é certo) mudança. Mas no campo, imersos no mundo verdadeiro, aí, a estória é outra: parados, debaixo de um chaparro ou em cima de um monte, deparamo-nos com um cenário que não muda, um cenário que é constante. E aí, na presença do imutável mundo que nos engole compreendemos que quem varia, que quem representa o movimento e a mudança, somos afinal nós. O contraste não poderia ser maior: na cidade, sendo nós a constante, agarramo-nos ao certo, ou seja a nós próprios: daí o individualismo, o egoísmo, a obsessão com o corpo que não muda, que não envelheça, etc. Já no campo, compreendendo que o fluxo imemorial que manda no mundo somos também, e principalmente, nós, então, sendo outra a constante, mergulhamos nela - no mundo - em busca de uma certeza que é forçosamente exterior (e muito maior!) do que nós. É, por esta razão, outro mundo em que se vive: a comunidade ganha um peso que no egoísticamente individualizado mundo das mecânicas cidades nunca poderia ter. A ligação ao mundo, aos ciclos das noites e dos dias, das Primaveras e dos Verões, ganha uma força que nos transcende e nos inspira. Enquanto isso, na cidade, dentro de um centro comercial, nem se sabe se faz sol ou lua. Aí, as luzes eléctricas escondem a via láctea e as estrelas às quais pertencemos. No campo, vive-se e morre-se ao ritmo do mundo; na cidade, as crianças mimadas irritam-se por haver falta de morangos no Inverno.

THE HANGOVER

"A large constituent of a hangover, after all, is a sense of guilt which does not seem to be guilt for anything in particular."

Herbert Mccabe, On Aquinas (2008)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O MEU AMIGO ANTÓNIO GRANJO

Morreu-me um amigo. Não é coisa pouca. Ao Tó, levou-o um cabrão de um cancro aos trinta e oito anos de vida. Uma filha da putice, portanto. Encontrei-me com o Tó, já há muitos anos, pelos meandros do PSD e da JSD de Cascais. No início, e durante muito tempo, sempre tivemos o condão de estar em lados opostos. Não apenas por isso, creio eu que muito mais por termos feitios firmes que chocavam, irritámo-nos várias vezes um com o outro mas, ressalve-se, sem que alguma vez nos faltássemos ao respeito. O tempo passou e acabámos por ter a oportunidade de privar no mesmo grupo, que muito mais do que de politiquices, era um grupo de amigos. Conheço, portanto, o Tó há menos anos do que aqueles em que eu já o conhecia. E aí, finalmente, com o atraso que as boas coisas da vida sempre têm, conheci um bom amigo: frontal, de voz firme e com quem se podia contar. Uma vez, num aperto, sem gasolina, foi o Tó que às quatro da madrugada saiu de casa e se meteu no seu carro para, meio a dormir, ir à bomba e depois vir entregar-me uma garrafa de litro e meio de água cheia de gasolina 98. Fiquei a dever-lhe uma. Infelizmente, o tempo não me deixou que a devolvesse. O Tó gostava de dar murros na mesa: quando a conversa entrava num impasse lá vinha ele, muitas vezes com voz de trovão, resolver o que apenas dois ou três gritos poderiam resolver. Isso e uns goles de vinho ou de cerveja. O Tó era do Benfica. Foram muitos os jogos que vimos e, sorte a nossa, foram tantas as coincidências entre os jogos que víamos e as vitórias que o Benfica tinha que nos convencemos que, de alguma misteriosa forma, se nos juntássemos os dois para ver a bola era garantia de que o Benfica lá iria ganhar. E assim foi até ao dia em que perdemos. E nesse dia, desconsolados, vingámo-nos num belo pica-pau e numas quantas cervejas. O Tó era transmontano de coração. Mirandela, terra de Granjos, encerrava para ele o mito dos fortes, dos corajosos e dos casmurros e era nessa forma de ser que o Tó se sentia em casa. O Tó tinha um belo dedo para a cozinha. Lembro-me, em particular, de uma vez em que me convidou para ir almoçar umas favas com chouriço. Ó Tó, disse-lhe, olha que eu não sou grande fã de favas. Respondeu-me que as dele eu tinha que experimentar. Porra, e se não foram as melhores favas com chouriço que eu alguma vez experimentei! E não estou a exagerar: repetimos várias vezes, tantas que após o repasto nada mais consegui fazer além de apenas deitar-me à sombra, saciado, perfeito, feliz, apreciando a brisa leve de um Verão que eu não imaginava que fosse o último do Tó. Gritava ele lá de cima: ó Leeeeeeeeebres, estás vivo? Respondia eu lá de baixo, do jardim, que sim, que estava vivo e que tinha tido as melhores favas da minha vida. O Tó era gordo. Grande. E isso fazia-o perfeito porque ninguém que cozinhasse aquelas favas com chouriço poderia ser magro e escanzelado. Os magros e escanzelados cozinham pratos gourmet, armam-se em finos e dão nomes estrangeiros às suas mistelas. O Tó não. O Tó gostava do que era nosso porque o que era nosso era o melhor. Não podia estar mais de acordo com o Tó: chique, chique a valer, apenas a cozinha tradicional portuguesa. O Tó também se safava bem com as miúdas. Mas não era daqueles que quando arranjava uma miúda desaparecia ou deixava de atender o telefone. Pelo contrário. Lembro-me de uma vez em que, a meio de um processo eleitoral qualquer, me atendeu o telefone ofegante. Eu, a pensar que ele estava a subir escadas, lá lhe perguntei o que queria e ele, vendo da não urgência da situação, lá me disse: epá, já te ligo que agora estou aqui a meio de uma coisa. Mais tarde lá me confessou que "a coisa" era uma moça engraçada com quem ele andava de caso. O Tó era dedicado. Podia-se contar com ele. Sempre. O Tó tinha muitos amigos. E eu tenho a honra de me considerar um deles. O Tó faz falta. A muita gente. No outro dia, enquanto com esforço os homens da funerária carregavam o caixão, é que me bateu bem que nunca mais iria ver o Tó. E depois, naquele momento pior que é o som cortante das pás que enterram os nossos, ao meu lado, um amigo dizia-me desconsolado: cabrão do gordo, resolveu ir-se embora e deixou-nos cá. E foi isso. Deixou-nos cá. E a vida fica bem mais pobre sem o Tó. Mas também é verdade que a vida é mais rica porque tivemos o Tó: ele foi mas deixou muita coisa. A morte já se cruzou comigo antes, quando me levou o meu Pai. E eu penso agora, acerca do Tó, o mesmo que, naquela semana em que o meu Pai me morria, eu me repetia centenas de vezes para mim próprio: vamos todos para o mesmo sítio e, num universo com biliões e biliões de anos, umas míseras décadas que separam a partida de uns da partida dos outros não faz diferença absolutamente nenhuma a não ser aquelas migalhas de tempo que sobram para aqueles que ainda vivem. É uma merda, a condição do homem. É uma puta, a morte. Mas é daqueles que a enfrentam também que podemos dar mais força à vida. Aproveitemos, portanto. Celebremos, então. E, enquanto por aqui andarmos, que a partida precoce do Tó nos ajude a viver melhor, a aproveitar mais, a dar mais força, sentido e paixão às nossas vidas. E que a amizade que ele nos deixou nos faça sorrir de gratidão pela sorte de nesta fugaz viagem nos termos cruzado com ele. Talvez nos voltemos a encontrar. Eu gostaria disso.

MARCELO, O CACIQUE

O Prof. Marcelo e o seu enorme ego continuam a idealizada caminhada rumo a uma hipotética candidatura presidencial e, por essa razão - e unicamente por causa dela -, vive o nosso professor obcecado com o agradar à estrutura do PSD, faça esta o que fizer, diga esta o que disser, custe o que custar ser uma figura consensual - que agrade a todos. Onde houver um cacique local a desbaratar o dinheiro dos contribuintes para tentar a eleição, lá está o professor a apoiar. Onde  houver um mau candidato de quem (em off) diz cobras e lagartos mas que o aparelho do PSD compungidamente indicou, lá estará o professor a apoiar. Isto vai tão longe que agora até vale uma desavergonhada mentira: diz o professor que "Rui Rio exige a demissão da Ministra das Finanças". É falso. Quem vir a entrevista de Rio, tal como eu vi, pode muito bem ouvir Rio a dizer que a dita senhora foi uma má escolha, que não tem qualidades para o cargo, que isto e aquilo mas, atenção, agora que lá está, "Deus nos livre" que se exigisse uma demissão porque apenas agravaria o problema. Ora, isto não é diferente do que o que o próprio Marcelo disse acerca da senhora. Deve ter ouvido mal, pobre Prof. Marcelo. No final, o interesse dos portugueses e uma análise profunda sobre os méritos e os deméritos dos candidatos (nomeadamente, neste caso, uma comparação entre o trabalho de Rio no Porto e o de Menezes em Gaia para que se perceba o que os verdadeiramente divide) que era o que um suposto analista profundo e verdadeiramente preocupado com o país deveria fazer, isso já é coisa que o professor não faz ou, talvez melhor, porque não daria jeito, não quer fazer. Prefere ser uma espécie de Carlos Castro do comentário da política nacional. Ora, desses comentadores eu dispenso: principalmente para a Presidência da República.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O MITO DA CONDENAÇÃO

Sísifo foi condenado, para sempre, a empurrar a pedra até ao cimo da montanha apenas para a ver rebolar de novo encosta abaixo. Foi condenado, atente-se. No entanto, eu permito-me duvidar desta condenação: se não fosse o acto de empurrar a pedra o que restaria a Sísifo que fosse capaz de o entreter? Por outras palavras: o que justificaria a sua existência? Podemos ver a pedra como uma condenação mas também podemos vê-la como a limitação que nos confere a existência: cada um tem a sua.

O PREÇO

Heraclito explicava que a nossa existência se separava da harmonia universal pela tensão entre opostos, uma espécie de limitação subjectiva em relação ao todo. É uma ideia importante: se estamos vivos, então estamos contidos - limitados - numa tensão permanente, numa espécie de conflito permanente entre antagonismos. Esta é a primeira grande aprendizagem do verdadeiro conservador: não pode haver uma verdadeira solução que traga a paz e a harmonia - a perfeição - pois a nossa condição humana não o permite: a harmonia é no plano do todo: o divino, portanto. A nossa limitação comprova-se com facilidade: a vida tem valor porque morremos; e o preço que pagamos por viver é a angústia da morte. Da mesma forma, a insatisfação permanente é o preço que pagamos por termos coisas com que nos satisfazemos. Não há almoços grátis.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

NÃO PASSA NADA

Quem vir o telejornal da tarde da SIC fica com a ideia que, tirando uns incêndios, em Portugal, não se passa nada. Muito menos uma crise política.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A RATOEIRA E UMA SAÍDA: Uma Visão (Minimamente) Optimista

Sem uma profundíssima reforma do Estado que seja capaz de, ao mesmo tempo, reduzir a despesa pública de forma muito significativa e, também, não comprometer a natureza fundamental dos serviços públicos básicos sociais que garantam uma igualdade de oportunidades indispensável (bem como um conjunto de bens sociais imprescindíveis a uma sociedade próspera e desenvolvida) não conseguimos sair do buraco em que o partido socialista nos deixou. Este é o primeiro passo para compreendermos onde estamos, senão vejamos: i) sem essa reforma do Estado não se baixa a despesa pública; ii) sem baixar a despesa pública, não se controla o défice; iii) sem se controlar o défice (e arranjar folga orçamental) não se conseguem baixar os impostos; iv) sem baixar os impostos não há retoma económica através da saudável, porque espontânea, actividade empresarial privada (a alternativa é uma retoma económica baseada em investimento público que apenas agrava a dívida - que é o nosso problema desde o início - porque todo o dinheiro público provém de impostos - que não se podem aumentar mais - ou da emissão de dívida pública). Conclusão: sem a reforma do Estado não nos livramos do défice, tal como não criamos condições para um saudável crescimento económico, nem saímos do pântano que nos afunda neste empobrecimento irreversível (e já muito longo). Ou seja: o nosso problema é excesso de dívida e apenas reformando o Estado para baixar as nossas despesas criamos condições para que a economia cresça e, por força desse crescimento, gerar futuros superávites que permitam ir abatendo a dívida, ter perspectivas de futuro e reganhar a nossa prosperidade e independência financeira produzindo mais do que consumimos sem que o rácio seja feito à custa de consumirmos muito pouco (que é o caminho que vamos seguindo: o do empobrecimento generalizado). Até aqui este raciocínio deveria ser evidente, factual e indiscutível. Assim, a verdadeira questão deverá ser: como reformar o Estado? Onde, e como, cortar? Onde, e como, alterar? Ora, considerando que tudo isto assenta na reforma do Estado, natural seria então que andássemos todos a debater como reformar o Estado. Mas não. Nem o governo apresenta uma proposta, nem os desentendimentos governamentais últimos se fazem a propósito dessa essencial reforma mas (imagine-se!) apenas devido a nomeações políticas, pesos políticos e estratégias político-partidárias. Enquanto isso o país desespera por um esboço de reforma do Estado que simplesmente, ao fim de dois anos!, ainda não apareceu. Este é o verdadeiro falhanço deste governo que se vai revelando nos indicadores económicos que, mais ou menos graves, não nos dão sinais de que se possa inverter o rumo em que nos encontramos: na melhor das hipóteses vamos adiando o inevitável. Considerando que reformar o Estado - e todos os seus interesses - é uma tarefa impossível para o partido socialista que protege - e vive de - todos esses interesses, chegamos a uma triste conclusão: se a direita não reforma o Estado, ninguém o fará; e se a inversão da situação em que nos encontramos depende dessa reforma (e ela não se faz) a nova questão é: que caminho resta para Portugal? Considerando que eleições antecipadas terão consequências gravíssimas para o país, mas que essas consequências serão as mesmas, a médio prazo, do que ter um governo que não faz as reformas que já deveria ter feito (e portanto não será agora, partido, desfeito, desunido e descredibilizado que as fará), a conclusão é que estamos verdadeiramente encurralados: por um lado um governo que não reforma, por outro lado temos uma alternativa democrática que é contra a reforma. A única solução será, portanto, que, dentro do PSD saia um movimento alternativo à actual liderança capaz de apresentar um programa de governo com uma verdadeira reforma do Estado, primeiro ao partido e depois ao país, para que, aquando das próximas eleições legislativas - sejam elas amanhã ou daqui a dois anos - os portugueses tenham a possibilidade de escolher entre o caminho do socialismo e do estatismo do bloco central de interesses (e da dívida, do défice e da manutenção do status quo) e uma alternativa democrática que permita antever uma solução para a ratoeira em que nos encontramos encurralados. Aí, como sempre em democracia, o Povo será soberano e o único responsável pelo seu destino.

VIRA O DISCO...

Se o resultado prático deste tango todo for apenas o Paulo Portas como ministro da economia e, de novo, encarregue da famigerada reforma do Estado, fico muito mais tranquilo: até porque sabemos todos que o homem se dá bem com a ministra das finanças. Será um governo de futuro, cheio de força e pejado de ideias - e união - que inspirará a esperança no coração de todos os portugueses. Uma maravilha, portanto.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A CULPA É DA AUSTERIDADE

A oposição de esquerda no Parlamento vai, naturalmente, continuar a culpar os males da pátria na malfadada austeridade que, por malícia, o malandro do Gaspar nos impunha. Já explicarem onde, com novas eleições, sem financiamento externo, vão esses iluminados buscar dinheiro para pagar as contas, já isso é zero. Entre as birras da posição e o desatino da oposição, a conclusão é muito simples: estamos nas mãos de lunáticos.

ULTIMO TANGO EM LISBOA

Graças ao tango dançado nos últimos dias por Passos e Portas, somando-se-lhe a exigência de Seguro em eleições antecipadas, chegámos a um beco com duas saídas: uma, é sermos governados por uma qualquer solução governativa que, sem legitimidade política, não conseguirá fazer absolutamente nada a não ser navegar o caminho inexorável de um segundo resgate e uma falência mais profunda; outra, é termos um processo eleitoral violentíssimo que, graças aos nossos prazos, nos arrastará para um prolongado momento de intranquilidade e indecisão que resultará igualmente num segundo resgate e uma falência muito mais profunda, apenas que acelerados. Agarrem-se bem que isto vai ser a rasgar.

terça-feira, 2 de julho de 2013

RESUMO

Um bando de garotos a brincar aos políticos enquanto o país se afunda. É o que é.

OS NOTÁVEIS

Na SIC Notícias um ex-ministro do bloco central, o advogado de josé sócrates e um militante do PCP discutem o futuro do país. Confere.

PERGUNTAS QUE BONS JORNALISTAS DEVERIAM COLOCAR

Ao Dr. Paulo Portas: "Por que razão se demitiu do governo sem clarificar o país sobre se a sua demissão implica, ou não, a saída do partido (ao qual preside) da coligação governamental?"

Ao Dr. Paulo Portas: "Por que razão se demitiu apresentando uma razão da qual já tinha conhecimento aquando da reunião do Conselho Nacional do seu partido no dia 1 de Julho, reunião na qual não propôs, revelou, ou sequer anunciou a sua intenção de se demitir?"

Ao Dr. Paulo Portas: "Se decidiu demitir-se após saber quem iria ser ministra das finanças, por que razão um secretário de estado indicado pelo CDS tomou posse hoje (dia 2 de Julho)?"

Ao Dr. Paulo Portas: "Quando foi informado da escolha do PM para a pasta das finanças comunicou, sim ou não, a sua intenção firme de se demitir se tal escolha fosse levada a efeito?"

 Ao Dr. Paulo Portas: "Confirma, portanto, que não foi consultado acerca da escolha para a pasta das finanças e apenas foi informado de uma escolha na qual não participou de nenhuma forma?"

Ao Dr. Paulo Portas: "Onde está a proposta de reforma do Estado?"

Ao Dr. Passos Coelho: "Como pode afirmar que «vai averiguar acerca das condições de continuidade, etc., etc,» do CDS no governo quando teve o dia inteiro para telefonar ao seu ministro demissionário Paulo Portas (que lidera o CDS), tal como falou com todos os seus outros ministros (incluindo do CDS), e averiguar o que teria a obrigação de averiguar antes de tomar a decisão de se demitir ou não?"

Ao Dr. Passos Coelho: "Informou o Dr. Paulo Portas da escolha para o ministério das finanças?"

Ao Dr. Passo Coelho: "Se sim, ele manifestou a sua intenção de se demitir se o PM levasse a cabo a sua intenção - escolha - para o mistério das finanças?"

Ao Dr. Passos Coelho: "Além de informar, negociou ou permitiu que o Dr. Paulo Portas, ou alguém por ele mandatado, tomasse parte do processo de decisão sobre o novo titular da pasta das finanças?"

Ao Dr. Passos Coelho: "Onde está a proposta de reforma do Estado?"

ALTA CATEGORIA

Lê-se o comunicado de Paulo Portas e não está lá, preto no branco, que não sabia, que não foi consultado, ou que disse que saía no caso de Passos insistir naquele nome. Ouve-se Pedro Passos Coelho e não está lá, preto no branco, que disse, que o outro sabia, ou que não fazia ideia da possível demissão. Sobre "clareza política", tanto de um como do outro, estamos, portanto, conversados. Já o Tozé Seguro, craque das soluções, da coesão e da solução, conseguiu gritar eloquentemente sobre eleições antecipadas e como está disposto a governar sem que tenha a capacidade de dizer que apresenta uma indispensável moção de censura. Sobre coragem, e coerência, ficamos, também, conversados. Como óbvio será não é com esta malta que vamos lá.

PORTA(S) DE OPORTUNIDADE (II)

O que vale é que o Paulo Portas tem uma reforma do Estado espectacular para apresentar... ao congresso do CDS.

SOMOS UM RIO?


E AGORA PSD?

O PSD não é (apenas) isto, o PSD não pode ser isto.

A QUEDA

O governo morreu e da pior forma possível: com o desfazer do único factor de estabilidade legislativa que tinha, ou seja, uma coligação com maioria absoluta no Parlamento. Caindo a coligação tornam-se, portanto, inevitáveis as eleições. Naturalmente, é obrigatório que os militantes do PSD se possam pronunciar sobre o candidato a primeiro-ministro que pretendem apresentar ao país, candidato esse que, como óbvio deverá ser, não poderá ser nem Passos Coelho nem nenhum nome proveniente da oligarquia caciquista que liderou o PSD nos últimos três anos rumo ao maior fracasso governativo da sua história.

GENTE DE CATEGORIA

Vamos lá ver se eu entendo: no meio de um resgate internacional, numa altura de grande dificuldade nacional, Passos Coelho e Paulo Portas desentendem-se a propósito de uma nomeação política?

segunda-feira, 1 de julho de 2013

PORTA(S) DE OPORTUNIDADE

Mas os mais pessimistas que não se preocupem: o Paulo Portas, agora promovido a número dois do governo, tem aí uma reforma do Estado espectacular e prontinha para sair. Deve ser uma maravilha, um prodígio de "neo-liberalismo-democrada-cristão-social-democrata-e-socialista-que-pisque-o-olho-à-esquerda-que-não-quero-perder-votos-agora-que-o-governo-está-quase-a-cair", assim a modos que à imagem da ideologia recta e frontal que Paulo Portas sempre demonstrou ter.

À DERIVA (e a meter água)

Vou explicar por que razão este governo não dura até ao final do ano: para se equilibrar as contas públicas é preciso, como deveria ser evidente para todos, aumentar as receitas e diminuir a despesa. O ministro das finanças tem a capacidade de aumentar as receitas (o Gaspar assim fez) mas apenas consegue diminuir a despesa em duas circunstâncias: ou há uma reforma de fundo do Estado levada a cabo por um governo onde, cada ministro, na sua área, seja capaz de efectivamente baixar a despesa nos diferentes sectores (principalmente nos fundamentais como a educação, saúde e segurança social onde oitenta por cento da despesa pública se encontra concentrada) ou, então, como alternativa, à Salazar, o ministro das finanças teria poder de veto sobre as despesas desses ministérios. Como Gaspar não tinha nem uma nem outra possibilidade limitou-se a perder anos de vida e a fazer o que podia: subir impostos. Podem crucificar o homem à vontade mas quem verdadeiramente falha aqui é, por um lado, o governo por inteiro, principalmente os ministros das pastas mais importantes e que não reformaram um pevide e, por outro, evidentemente, um primeiro ministro que, após dois anos, nada tem para apresentar ao país. É por isto que que o governo não durará: não tem política, não tem ideias e não tem reformas para apresentar. Ora, sem política, sem ideias e sem reformas os resultados serão, obviamente, zero. No final, fica, como sempre, tudo na mesma: a malta cada vez mais à rasca e o barco cada vez mais afundado.

O BECO

O Gaspar foi um bom ministro das finanças? Não. Este governo tem governado bem? Não. Mas não se enganem: a alternativa é muito, muito, muito pior. E a falta de dinheiro para financiar o buraco das contas públicas é exactamente a mesma: bem pode o Seguro mandar pagar o que quiser que vai ter que ir buscar o dinheiro exactamente ao mesmo sítio onde estes iam buscar. Adivinham onde? Pois: aos nossos - cada vez mais vazios e furados - bolsos.

INEVITÁVEL

Após dois anos onde não foi capaz de apresentar uma reforma do Estado digna desse nome, com a troika a criticar - e bem - as tais (não) reformas, sem Gaspar, e com um peso pluma nas finanças ido buscar aos confins da cave, este governo está obviamente condenado. Regozijem-se os portugueses: vêm aí os socialistas (ainda mais do que estes) a prometer mundos e fundos, a apregoar o paraíso e a solução, apenas para confirmar uma velha máxima: que os portugueses nem se governam nem se deixam governar. Lá virão mais e novos impostos para pagar o sempre incontrolável déficit; lá virão os fiéis guardiões do Estado e da sua despesa pública explicar-nos como teremos nós, os contribuintes, que pagar os desvarios do bloco central de interesses que nos governa. Achavam que não aguentavam o Gaspar? Ai aguentavam, aguentavam.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

DA ESTUPIDEZ GENERALIZADA

1. O Dr. Seguro veio "surpreender" num qualquer encontro progressista com uma nova proposta: que os governos europeus proíbam a possibilidade de a taxa de desemprego de um determinado país ser superior à média das taxas de desemprego desse mesmo grupo de países. Será caso, não para surpresa mas, pior, para completa estupefacção. Alíás, a estupidez da coisa é tão grande que estupefacção é pouco também. Duas perguntas: o Dr. Seguro, e quem o assessoria, podem explicar-me como querem subjugar um conjunto de taxas de desemprego à média formada por essas mesmas taxas de desemprego? É que nem sequer faz sentido porque, como deveria ser evidente, a média é formada pelas taxas: quanto muito, o surpreendente Dr. Seguro, força a que todas as taxas de desemprego não possam ultrapassar um determinado valor (que não será a média mas um limite). Assim, chega-se à segunda pergunta: se fosse possível proibir o desemprego para lá de um qualquer limite, por que razão não se haveria de proibir totalmente? Erradique-se o desemprego! Será mera estupidez, ignorância, simples impreparação ou um caso de sem vergonha demagogia? Será que o Dr. Seguro acredita agora nalguma forma mais radical de doutrina marxista onde controlando os meios de produção, conseguirá controlar o desemprego como bem lhe aprouver ou, outra possibilidade, será que o Dr. Seguro simplesmente não faz ideia do que diz?

2. Já um senhor chamado Nogueira, um revolucionário comunista que afirma que "apenas abandona o PCP quando o PCP for Governo", pretende, apesar de não pôr um pé numa sala de aula há mais de vinte anos, saber o que é melhor para os alunos, os professores e, claro, para o país. E o que é melhor? Mais dinheiro e menos trabalho: com marxistas destes a URSS não teria durado cinco anos.

3. Entretanto, o CDS propõe o aumento do salário mínimo nacional: deve ser para contrariar o Dr. Seguro e ajudar a aumentar a estatística do desemprego em Portugal.

4. No resto do Governo convocam-se Conselhos de Ministros extraordinários, fala-se de roteiros para reforma do Estado e acenam-se com números de futuros cortes; já uma ideia concreta, um fogacho de uma proposta reformista de fundo ou uma, mesmo que ténue, linha de rumo para o país, isso, já seria pedir de mais. Para quê reformar quando basta dizer-se que se vai reformar?

5. Finalmente, critica-se  por todo o lado no PSD - incluindo por pessoas que respeito - o "neo-liberalismo" do Governo. Já eu, que critico o "socialismo" do Governo, apelo a que se especifique o que significa isso de "neo-liberalismo" e, já agora, onde está "isso" no Governo. Talvez fosse conveniente ir-se um pouco mais longe do que os chavões do costume.

6. Esclareço: há três formas de lidar com a falência: a do Dr. Seguro que passa por fingir que ela não existe e que o dinheiro chove do céu; a do Governo que passa por fingir que corta a eito na despesa quando apenas corta em salários e aumenta impostos; finalmente, a única que poderia - a prazo - trazer algum benefício: cortar onde se deve, reformar, alterar, privatizar, concessionar onde se pode e racionalizar onde se consiga. Isto de acordo com dois princípios simples: menos Estado e mais responsabilidade individual. Deve ser o tal "neo-liberalismo". Uma achega: se não se for pela terceira opção, mais tarde ou mais cedo, a falência será mesmo efectiva: é que já nem a troika nos emprestará dinheiro.

7. Claro está que apelar a menos Estado e mais responsabilidade individual num país onde os seus principais actores políticos se comportam como se descreveu acima é capaz de ser tão idiota (pela esperança infundada) quanto as propostas políticas do Dr. Seguro (que raiam a imbecilidade pura).

8. Merda.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

AUTÁRQUICAS

Ir vendo o desfile de candidaturas, mais ou menos independentes, que pululam por Portugal à cata do voto em Setembro próximo apenas tornou mais fortes duas profundas convicções que tenho: a primeira é que as autarquias esbanjam muito dinheiro; a segunda é que se aplicássemos, mesmo que invertido, o princípio que esteve na origem da revolução americana - no taxation without representation - e tivéssemos a quase totalidade das receitas das autarquias provenientes da taxação directa dos seus munícipes (que proporcionalmente pagariam menos impostos ao Estado central), então teríamos o problema resolvido: autarcas armados em senhores locais (que os há aos pontapés) a esbanjar o erário público não duravam tanto numa câmara municipal. Ao mesmo tempo, gostava de ver se o foguetório, o bailarico ou o concerto pimba continuariam a ser tão populares: quando percebemos que nos sai do bolso - e vemos para onde vai o guito - a coisa é capaz de ser um pouco diferente.

LIFE WITHOUT PHILOSOPHY

                                                                            Daqui.

CICLO VICIOSO

Em Portugal não há verdadeira direita democrática, entenda-se, o cruzamento do conservadorismo antropológico com a consequente intransigente defesa da liberdade individual: há apenas um conjunto alargado de pessoas, normalmente caciques impreparados e ávidos de poder, que, quer à esquerda, quer à suposta direita, com maior ou menor habilidade, tentam à viva força querer enfiar uma ficha quadrada num buraco redondo: pagar ilusões com dinheiro que não se tem (e culpar os outros pelo seu inevitável falhanço).

UMA FALÁCIA

Em Portugal - e cada vez mais no Ocidente inteiro - continua a ser um desafio exasperante desmontar a falácia de que aquilo que distingue a esquerda da direita é a preocupação social da primeira e a protecção dos interesses económicos da segunda. É mentira! Ambas pretendem melhorar as condições de vida da sociedade e, em particular, daqueles que menos têm: apenas discordam na forma como atingir tal objectivo.

CHEIO DE CHIQUE

A julgar pela categoria das estações de metro, o PIB per capita de Chelas deve dar dez a zero ao do centro de Bruxelas.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A BRAVE NEW... MAN


HIPOCRISIA

Roger Scruton, um perigoso conservador, avisa que numa sociedade socialista - onde a solidariedade é uma função do Estado - ninguém se tem que preocupar com o bem-estar dos que menos têm: o Estado que o faça, é para isso que pago impostos. Esse paradoxo do socialismo, onde a apologia do Estado-Social e o desprezo pela "caridadezinha" (Louçã dixit) andam de mãos dadas com o desprezo pelas mãos estendidas no meio da rua, é uma característica que desmascara que o valor da solidariedade não é mais do que um falso argumento que sustenta uma mera estratégia de poder. Entretanto, culpam-se os políticos e vira-se as costas aos problemas do agora: a solução está no futuro radioso pós-revolucionário. Entretanto, para cúmulo, ainda se critica quem, de facto, faz alguma coisa: a Isabel Jonet e o seu Banco Alimentar acabaram de recolher mais de duas mil e quatrocentas toneladas de alimentos para quem mais precisa. Onde estão agora as vozes hipócritas que tantos nomes lhe chamaram por apenas ter dito o evidente (que em casa onde há crise comem-se menos bifes)? E quantos desses, que foram tão lestos a mandar pedras, fizeram alguma coisa por quem mais precisa? E desses hipócritas que tanto desprezam os mais necessitados - apesar de advogarem a revolução em nome deles - quantos têm a capacidade de enaltecer alguém, como a Isabel Jonet, que indubitavelmente faz uma coisa boa? Falar é fácil, fazer é mais difícil. Pior ainda quando não lhes interessa.

sábado, 25 de maio de 2013

DO OPTIMISMO

Se se quer ter uma boa demonstração do intrínseco optimismo decorrente de uma quase inabalável crença no progresso tecnológico como algo inevitável e rápido basta pensar-se que a Odisseia de Kubrick passa-se em 2001 e a acção de Blade Runner em 2019. Até mesmo o cúmulo do pessimismo - a catástrofe distópica do fim da civilização - de Terminator previa que os computadores acordassem em 1997. Entretanto, em 2013, o vai-e-vem espacial foi descontinuado, o Concorde abatido, os carros não voam, as pessoas ainda comem e bebem (cada vez mais), a CDU continua com 10% dos votos e, imagine-se!, uma revolucionária alternativa ao papel higiénico ainda não apareceu. Futuro? Qual futuro?

NOTAS CONSERVADORAS E LIBERAIS

Algumas notas conservadoras e liberais (já antigas e agora compiladas) sobre as motivações e as consequências do excesso de legislação que publiquei no Folia do Caos: A Questão do Legalismo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

SHITTING LOVE


BUROCRACIA SAFA TOUROS

Esta notícia sobre dois touros que andam à solta nos montes de Viana enche-me as medidas: entre a bravura dos touros que lutam pela vida, o recorrer ao artifício manhoso do belo sexo (taurino) ou as burocracias das quinhentas entidades que têm que "supervisionar" o processo (e que impediram a sua resolução), nem sei o que mais gozo me dá à leitura. O Sr. Farinhoto, criador de gado há 50 anos decidiu reformar-se e, aos 66 anos de idade, estes foram estes os últimos touros que criou e vendeu. Diz-nos o DN que "esta tarde, depois da longa espera pela recaptura frustrada, acusava cansaço e desagrado pelo o complicado processo, previsto para este tipo de situação, que, já ontem, tinha admitido envolver muita 'burocracia'. 'Se forem avistados tenho que chamar a GNR e depois é preciso contactar várias entidades. Para coordenar tudo isso é difícil e os touros não vão esperar', adiantou." Não vão, pois não. Boa sorte aos touros, possam eles resisitir às tentações daquelas vacas com o cio que a burocracia estatista talvez seja o suficiente para que se safem.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

REVISING IDEALS


“The whole conception of man already endowed with a mind capable of conceiving civilization setting out to create it is fundamentally false. Man did not simply impose upon the world a pattern created by his mind. His mind is itself a system that constantly changes as a result of his endeavor to adapt himself to his surroundings. It would be an error to believe that, to achieve a higher civilization, we have merely to put into effect the ideas now guiding us. If we are to advance, we must leave room for a continuous revision of our present conceptions and ideals which will be necessitated by further experience. We are as little able to conceive what civilization will be, or can be, five hundred or even fifty years hence as our medieval forefathers or even our grandparents were able to foresee our manner of life today”.

F. A. Hayek, The Constitution of Liberty, 1960