quarta-feira, 4 de setembro de 2013
A CIDADE E OS CAMPOS
De regresso à metrópole apetece-me comentar: na cidade, essa bolha que nos separa do mundo de predadores e caçados, tudo gira a uma enorme velocidade. Aí, na cidade, a única constante das nossas vidas somos de facto nós próprios: tudo o resto muda num constante fluxo de eterna (ilusória, é certo) mudança. Mas no campo, imersos no mundo verdadeiro, aí, a estória é outra: parados, debaixo de um chaparro ou em cima de um monte, deparamo-nos com um cenário que não muda, um cenário que é constante. E aí, na presença do imutável mundo que nos engole compreendemos que quem varia, que quem representa o movimento e a mudança, somos afinal nós. O contraste não poderia ser maior: na cidade, sendo nós a constante, agarramo-nos ao certo, ou seja a nós próprios: daí o individualismo, o egoísmo, a obsessão com o corpo que não muda, que não envelheça, etc. Já no campo, compreendendo que o fluxo imemorial que manda no mundo somos também, e principalmente, nós, então, sendo outra a constante, mergulhamos nela - no mundo - em busca de uma certeza que é forçosamente exterior (e muito maior!) do que nós. É, por esta razão, outro mundo em que se vive: a comunidade ganha um peso que no egoísticamente individualizado mundo das mecânicas cidades nunca poderia ter. A ligação ao mundo, aos ciclos das noites e dos dias, das Primaveras e dos Verões, ganha uma força que nos transcende e nos inspira. Enquanto isso, na cidade, dentro de um centro comercial, nem se sabe se faz sol ou lua. Aí, as luzes eléctricas escondem a via láctea e as estrelas às quais pertencemos. No campo, vive-se e morre-se ao ritmo do mundo; na cidade, as crianças mimadas irritam-se por haver falta de morangos no Inverno.
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