sexta-feira, 23 de novembro de 2007

JERRY SEINFELD

Secção dos grandes comediantes

UNO EXCERTO MÁS

"Curiosamente, facto estranho e que merece a mais atenta e precisa investigação, é precisamente de imposições sobre o que havemos e devemos de fazer que se fazem as nossas vidas. É de conselhos sobre o bom que tudo pode ser se fizermos, acreditarmos, seguirmos, concretizarmos ou comprarmos o que quer que seja que nos estão a vender. E vendem mesmo. Talvez a grande característica dos nossos tempos, vidas de suposta e desejada liberdade, seja a grande quantidade de pessoas que se dedicam à venda, ao lucro, ao marketing, pessoas tão altruístas que baseiam a sua existência no satisfazer as necessidades dos clientes, dos consumidores, sim, somos nós esses, mais do que pessoas, o paradigma do século vinte e um é que somos clientes e consumidores, números num balancete comercial, pessoas é só às vezes, cidadão é termo que não interessa, não interessa a ninguém, claro que não, não é uma necessidade dos clientes consumidores essa estranha coisa de se querer ser cidadão. E tanto mais estranhos são estes tempos em que vivemos que são uns poucos, uns quantos, um número mínimo de pessoas que andam a dizer aos outros, a todos, à maioria, quais são as coisas de que precisam, é assim mesmo, alguns idealizam, uns poucos constróem e uns quantos marquetizam, criam necessidades e dizem-nos a todos como devemos ser felizes. Estranho mundo este onde uns poucos nos dizem o que necessitamos. Talvez fizesse mais sentido ao contrário, talvez o mundo se devesse virar de pernas para o ar, e os rios nasciam no mar, indiferente, o que quer que seja, talvez devêssemos nós achar que somos todos inteligentes e capazes de saber quais são as nossas próprias necessidades, talvez os marquetistas devessem andar a falar com as pessoas e a ouvir aquilo que lhes faz falta, talvez devessem andar esses marquetistas a tentar convencer os poucos que constróem sobre aquilo que os muitos querem, em vez de andar a convencer os muitos sobre o que os poucos querem construir. Mas enfim, são estes mundos ideais coisas da imaginação e do devaneio, não é assim que as coisas funcionam nem poderiam funcionar, claro que não, onde estávamos nós com a cabeça. Ficam os sonhos para o mundo dos sonhos, voltemos nós aos nossos pesadelos, talvez seja isso mesmo, talvez o nosso maior pesadelo seja esse de nem sequer sabermos que necessidades temos. E logo vêm os vendedores de sonhos. Logo vêm eles com um sorriso na cara mostrarmo-nos como é tão fácil sermos mais felizes se tivermos aquela nova coisa inventada pelos melhores e maiores especialistas que nos vai satisfazer aquela necessidade que nós não sabíamos que tínhamos. Como era possível viver sem tal coisa, perguntamo-nos nós, estamos aqui para o servir, diz o vendedor de sonhos, não se preocupe, é só assinar aqui, passar aqui o cartão, endossar aqui o cheque, pode ser a débito, crédito, prestações, endivide-se, gaste, faça como quiser, não se preocupe com mais nada, agora goze o produto e seja feliz. E depois a novidade passa, a felicidade não apareceu, afinal tenho todos aqueles problemas para resolver, o miúdo que não estuda, o dinheiro que faz falta, o Amor, a Confiança que não existem, pois é, maleitas do espírito, para essas os vendedores de sonhos não têm solução, talvez seja precisamente por isso que a felicidade tarda em aparecer, talvez esta se faça com as coisas do espírito e do coração, coisas de difícil e árduo caminho, e não tanto com as coisas que com uma assinatuira e um cheque passamos a ter. Talvez a felicidade se faça mais de ser e menos de ter. Mas isso os marketistas não dizem. Não podem. Porque coisas do ser não se vendem. Enfim. Ficam as dores de quem escreve, os lamentos de quem vê, tantos e tantos e tantos a comprarem tanto e tanto e tanto e depois, falta qualquer coisa, pois, é isso, falta qualquer coisa e lá vão eles comprar mais tantos e tantos e tantos, esquecendo-se que se não foi à primeira que resultou porque diabo haveria de resultar agora. E é assim. É mesmo de vendedores de sonhos que se fazem os dias da nossa infelicidade."

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

STEPHEN LYNCH

Secção dos grandes comediantes

PERDIDOS E ACHADOS

Ode humanesca permanente

Ele há
Vidas perdidas.
Futuros não concretizados.
Anseios não respondidos.
Frustrações invadidas.
Aprendizagens explodidas.
E depois,
Futuros incertos.
Riscos novos.
Erros novos.
Humanos sentidos.
Aprender.
E o sol brilha.
E dão-se
Explosões de sentimentos.
Invasões de vitórias
Evasões de derrotas.
E
Vidas perdidas outra vez.
Erros declarados.
Sempre.
Mas
Para sempre há
Vidas novas.
Futuros incertos.
E
Sofrer é viver.
Viver é aprender.
Aprender é sofrer.
Sofrer é viver.
Ah, e
Viver é felicidade.
São
Felicidades perdidas.
Sim.
Felicidades vividas.
Sempre.
Felicidades sofridas.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

OLHOS QUE PERGUNTAM

Ode perscrutadora animalesca

Os olhos do Gato perscrutam.
Perguntam.
Querem saber.
Indagam.
A curiosidade matou o Gato.
E os olhos do Homem?
Perguntam?
Sim.
E respondem.
E têm certezas.
O Gato não responde.
O Homem pensa que sabe.
Dogma.
Para o Gato tudo é possível.
Para o Homem tudo é impossível.
Porque ele sabe.
Pensa que sabe.
E depois não pergunta mais.
O Gato não sabendo,
Sabe mais do que antes.
O Homem sabendo,
Sabe tanto quanto antes.
A curiosidade matou o Gato.
A certeza matou o Homem.

WAKING LIFE'S LIFE LESSONS



(Philosophy professor Robert Solomon, at the University of Texas at Austin)

"The reason why I refuse to take existentialism as just another French fashion or historical curiosity is that I think it has something very important to offer us for the new century. I'm afraid we're losing the real virtues of living life passionately, sense of taking responsibility for who you are, the ability to make something of yourself and feeling good about life. Existentialism is often discussed as if it's a philosophy of despair. But I think the truth is just the opposite. Sartre once interviewed said he never really felt a day of despair in his life. But one thing that comes out from reading these guys is not a sense of anguish about life so much as a real kind of exuberance of feeling on top of it. It's like your life is yours to create. I've read the postmodernists with some interest, even admiration. But when I read them, I always have this awful nagging feeling that something absolutely essential is getting left out. The more that you talk about a person as a social construction or as a confluence of forces or as fragmented or marginalized, what you do is you open up a whole new world of excuses. And when Sartre talks about responsibility, he's not talking about something abstract. He's not talking about the kind of self or soul that theologians would argue about. It's something very concrete. It's you and me talking. Making decisions. Doing things and taking the consequences. It might be true that there are six billion people in the world and counting. Nevertheless, what you do makes a difference. It makes a difference, first of all, in material terms. Makes a difference to other people and it sets an example. In short, I think the message here is that we should never simply write ourselves off and see ourselves as the victim of various forces. It's always our decision who we are."



(A blonde woman is talking in a house - Kim Krizan, screenwriter)

"Creation seems to come out of imperfection. It seems to come out of a striving and a frustration. And this is where I think language came from. I mean, it came from our desire to transcend our isolation and have some sort of connection with one another. And it had to be easy when it was just simple survival. Like, you know, "water." We came up with a sound for that. Or "Saber-toothed tiger right behind you." We came up with a sound for that. But when it gets really interesting, I think, is when we use that same system of symbols to communicate all the abstract and intangible things that we're experiencing. What is, like, frustration? Or what is anger or love? When I say "love," the sound comes out of my mouth and it hits the other person's ear, travels through this Byzantine conduit in their brain, you know, through their memories of love or lack of love, and they register what I'm saying and they say yes, they understand. But how do I know they understand? Because words are inert. They're just symbols. They're dead, you know? And so much of our experience is intangible. So much of what we perceive cannot be expressed. It's unspeakable. And yet, you know, when we communicate with one another, and we feel that we've connected, and we think that we're understood, I think we have a feeling of almost spiritual communion. And that feeling might be transient, but I think it's what we live for."


in Waking Life

Clicar no título para ver a ficha técnica do filme, clicar nos links a laranja para ver os excertos transcritos e ir até ao post "waking Life" de Октябрь 19, 2007 para ver o trailer. Ainda, para ver o resto das transcrições visitar o site Striving Life Ou então não. Life is yours to create...

domingo, 18 de novembro de 2007

ROADS

“Two roads diverge in a wood and I took the road less traveled by. And that has made all the difference.”

Walt Whitman

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO

Não é o meu caso, sou um conservador no que diz respeito à leitura, nada melhor do que um livro. No entanto para quem quiser ler esta obra em pdf, ou imprimi-la para ler em papel, fica aqui a prenda de aniversário do José Saramago...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

SARAMAGO OITENTA E CINCO

José Saramago faz oitenta e cinco anos. Uma marca notável, ainda para mais se levarmos em linha de conta a contínua publicação de obras que mantém.

De toda a sua obra vejo-me forçado a fazer sobressair o impagável "Evangelho Segundo Jesus Cristo". Se por um lado foi uma obra considerada herege pelos conservadores círculos católicos portugueses, também não posso deixar de dizer que para mim é um dos grandes livros da minha vida, motivo de grande regozijo e prazer ao ler, de grande reflexão literária ao terminar e de grande influência na minha própria escrita.

Obra polémica que culminou com o então Sub-Secretário de Estado da Cultura Sousa Lara a retirar do conjunto de livros portugueses sujeitos a prémios internacionais, questão que motivou a saída do escritor de Portugal. É pena. Saramago veio a ser o único autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura, a maior distinção literária do planeta, e de Sousa Lara nunca mais ninguém ouviu falar, excepção feita ao período em que fez parte como arguido do mega processo da Universidade Moderna. Ele há coisas... A verdade é que o "Evangelho Segundo Jesus Cristo está traduzido em mais de dez línguas e é internacionalmente consagrado como uma das grandes obras da literatura mundial. E é nosso!



Mas nem só de polémicas vive a obra de José Saramago. Com um estilo inconfundível, o autor apresenta-nos um narrador omnipresente, majestático e imponente pelo seu próprio plural, onde comentando e opinando de forma sarcástica e irónica ao mesmo tempo que relata aquilo que pretende relatar, consegue levar-nos ao fantástico mundo da Sófia, por oposição à Doxa que parece imperar por esta tão triste caverna mediática em que somos forçados a viver.

E para quem critica sem ler que "Saramago é tão mau que não sabe usar pontuação" devo aqui deixar bem claro que talvez a leitura seja menos óbvia, mais difícil ao início, motivo para que tantos que o criticam talvez nunca tenham passado da primeira página, mas uma vez habituados percebe-se que ler Saramago é um investimento numa forma fantástica de escrita, um estilo original que conquista uma dinâmica narrativa única que resulta numa sintonia extraordinária entre o leitor e o contador de histórias. E é assim mesmo que deve ser.

Saramago, mais que um escritor, é um pensador ou - como ele próprio teve a ocasião de me dizer pessoalmente enquanto lhe cravava um autógrafo - um pensador é sempre um sonhador. E Saramago será certamente um sonhador do mundo em que vive, em que vivemos, do mundo que nos rodeia, influencia e, muitas vezes, nos faz esquecer muitas coisas importantes da vida.

Deixando politiquices de lado, debruçarmo-nos sobre a obra de Saramago, mais do que o prazer da leitura, é uma viagem à descoberta da nossa própria humanidade.



Toda a vida de Saramago é um facto extraordinário, nas suas próprias palavras "é a vida que não podia ter sido". Neto de criadores de porcos, filho de um guarda civil e de uma faxineira, serralheiro mecânico de profissão, Saramago veio a ser o maior vulto da literatura portuguesa contemporânea.

É de leitura obrigatória.

Aqui fica uma entrevista que José Saramago concedeu a uma canal brasileiro. Para mais informações sobre os livros do autor clicar no título do post.

PARABÉNS SARAMAGO! E obrigado.

Parte 1



Parte 2

CARLOS PAIÃO

Teria feito cinquenta anos em 1 de Novembro. Aqui fica o tributo tardio com a representação portuguesa no Festival da Eurovisão de 1981.

JOY DIVISION



















por Nuno Galopim

"Hoje, estreia-se em Portugal Control, filme no qual o fotógrafo holandês Anton Corbijn (célebre pelo trabalho com bandas como os U2 e Depeche Mode) retrata a vida de Ian Curtis (1956- -1980) e da banda mítica que liderou, os Joy Division.

Baseado na biografia assinada pela sua viúva, Deborah Curtis (publicada em Portugal, pela Assírio & Alvim, como Carícias Distantes) o filme preocupa-se mais com o homem que com a música que nos deixou. Numa perspectiva "familiar", descobrimos o jovem que admira David Bowie e que, como tantos seus contemporâneos na Inglaterra de meados de 70, vê a sua vida mudada pela descoberta do punk.

Estamos num bairro periférico de Manchester, em finais de 70. Ian Curtis, funcionário público das nove às cinco e criativo nas horas vagas, forma, com três amigos, os Warsaw, pouco depois mudando o nome para Joy Division. Em menos de dois anos, o grupo tornou-se num dos mais destacados fenómenos do movimento pós-punk, acabando inclusivamente transformado no paradigma de uma atitude que, entre nós, acabou conhecida como urbano-depressiva.

As letras e voz de Ian Curtis e o tom sombrio da música dos Joy Division foram expressão perfeita de um tempo e um lugar onde estas vidas aconteceram. Dividido entre um casamento precoce (e frustrado) e a descoberta de um novo amor numa jovem belga, atormentado por uma epilepsia (que se chegou a manifestar em palco), assustado com a ideia de uma carreira musical de cada vez maior relevo e mediatismo, Ian Curtis mergulhou numa espiral de tormentas que culminaram, a 18 de Maio de 1980, no seu suicídio, em véspera de partida dos Joy Division para a sua primeira digressão nos Estados Unidos.

A tragédia de Ian Curtis tem marcado gerações de músicos e melómanos desde então. Control assinala o reencontro de Anton Corbijn com uma das primeiras bandas que fotografou.|"

in DN 2007.11.15

A não perder! Para mais detalhes clicar no título do post.

Aqui fica um pequeno trailer do filme.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

H2O REVOLUTION

E que tal se, em vez de andarmos a destruir o planteta, fosse possível conduzirmos carros movidos a água?



QUANDO É QUE VAMOS ACORDAR?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

E TU E EU O QUE PODEMOS FAZER?

Half of the solution to stopping climate change is simply saving the power we use. Yes, sure, we need to replace dirty energy with the green stuff (wind, solar, etc.)... But we also need to get rid of technologies and practices which waste power. That's why I'm writing you about Greenpeace's international energy efficiency campaign. This campaign is about people like us helping to outlaw products that waste energy. Every week, for seven weeks, Greenpeace sends out an email with instructions how to campaign effectively for energy efficiency.

Every ton of carbon dioxide pumped into the atmosphere, every coal burning power plant built and every energy wasting lightbulb installed makes it harder for us to stop climate change. Each one is one more thing we'll need to undo. Better to get it right the first time.

Let's start an energy revolution!

I hope you'll join me today: Click in the post title to join.


quinta-feira, 25 de outubro de 2007

"A MEDIDA DOS SONHOS" CHEGA À IMPRENSA!

"Grande acontecimento! Leiam tudo!", grita o ardina em plenos pulmões, "A Medida dos Sonhos chega à imprensa", continua ele a gritar à medida que percorria o macadame armadilhado pela geada matutina que envolvia aquela Lisboa de Outono, em particular a bonita e mui movimentada Rua Augusta. Outros tempos talvez.
O homem estranhou. A Medida dos Sonhos? Que raio seria isso? Aproximou-se, curioso, do ardina que continuava, do auge dos seus doze ou treze anos, a gritar, a voz a ele não lhe doía, coisa incrível, quanto mais se sofre pelo trabalho mais força parece que se tem.
"Ouve lá ò miúdo", interpelou o homem, "Que coisa é essa da medida dos sonhos?"- O miúdo, interrompido, rapidamente esclarece em tom sabido, puto de doze anos mas sabia mais naquele momento do que aquele homem, talvez universitério, talvez doutorado, sabe-se lá, doutor seria de certeza porque tinha um belo chapéu e uma corrente de prata fantástica para o seu relógio de bolso. Mas diziamos nós, o puto rapidamente esclarece "A Medida dos Sonhos? Não sabe? É o livro do Nuno Lebreiro. È muito bom. E hoje, aparece uma mui elogiosa referência no jornal Correio da Manhã"
"Ah é?", estranhou-se o homem.
"É, é"
"Quero comprar então..."
Claro. Quem é que não compraria tal coisa? Pensando bem todos aqueles que pudessem ler de BORLA neste magnífico blog...

Aqui fica.


in Correio da Manhã de 25 de Outubro de 2007


OPINIÃO DE PAULA TEIXEIRA DA CRUZ

"Da vida real
A grande farsa

A Democracia não vive sem a participação dos cidadãos e a transparência de actuação das instituições, sejam públicas ou privadas. É por isso que o afastamento dos cidadãos – por demissão ou inibição de intervenção – e fenómenos de perversão das instituições, como a corrupção, o tráfico de influências, o favorecimento, a fragilização sistemática das instituições ou a ‘marketização’ da política, criam um regime que da natureza democrática só guarda o nome e as comemorações.

Vem isto a propósitos vários. Comecemos pelo chamado Tratado de Lisboa, o novo nome que a Constituição Europeia adoptou, quem sabe se para melhor esconder a sua identidade. É sabido que o cidadão comum se interroga para que serve hoje a Europa: dela conhece vagamente a existência de fundos comunitários (e nem sempre pelas melhores razões) ou a hiperburocracia que a caracteriza. Sentindo-se da União Europeia tão longe como de Marte, o Cidadão comum retribui, ora com indiferença ora com desconfiança, a distância a que a União Europeia se votou. É pena: a Europa Comunitária da Cidadania pode (podia) ter um papel essencial no Mundo, quer na vertente política quer na vertente económica e seria até desejável que assim fosse, bem estribada na defesa dos direitos fundamentais (cuja defesa no novo Tratado também ficou pelo meio).

Subtrair ao escrutínio dos cidadãos projectos políticos fundamentais, ainda para mais quando se trata de projectos que foram inicialmente recusados em vários países, soa a truque, a deslegitimação e a menosprezo pela Cidadania: condena-os ao fracasso.

Em Portugal, PS e PSD prometeram um referendo sobre o projecto Europeu e o pior que podem fazer é faltar ao prometido, tanto mais que a transmutação de Constituição Europeia em Tratado de Lisboa não lhe alterou o conteúdo essencial e é por isso urgente respeitar a promessa feita de consulta às populações.

É bom não perder de vista que quando a voz da rua se vê obrigada a olhar as questões políticas com um ‘isso é lá coisa deles’, o divórcio está à vista e a farsa também. A grande farsa. Ninguém gosta de se sentir enganado.

Por falar em engano(s), em duas semanas o PSD alterou o discurso em questões estruturais (referendo, não à regionalização, impostos ); a liderança tornou-se bicéfala, deu-se início a protectorados dos que são próximos e assistiu-se à entrega de um discurso político e de uma agenda partidária a uma agência de comunicação. Soa a espectáculo e a farsa. A grande farsa. Com coisas sérias.

Felizmente a despropósito, veio-me à memória a ‘Medida dos Sonhos’, um inédito de Nuno Lebreiro – um nome a reter – que merece publicação: “Portanto ”, começou outra vez o António após um ou dois minutos. “ a maior riqueza dos homens é poder pensar Estou de acordo. É a única coisa que permite todas as outras”, concluiu."

sábado, 20 de outubro de 2007

MAGO & ASPIRINA




















Pois é. E é assim que se apanha um gato. O Mago dormiu a noite na bancada da cozinha em cima da tábua de madeira. Como é que eu sei disso? Pois. O bicho tresanda a alho. A Aspirina nem sequer se aproxima dele. Enfim. Ao menos dos vampiros já se livrou.

O que é que isto tem que ver com o blogue? Nada.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

RÚZSA MAGDOLNA: BREGOVIC E O FADO DE SER FADISTA

E há momentos em que a alma é tocada, coisa incrível, foge-nos pelos olhos fora, o espírito eleva-se e diz-nos: sim, isto é arte, encanta-te e delicia-te.



E se o o Ederlezi de Goran Bregovic não foi suficiente para comover tão empedernidos corações, deliciem-se com Artur Ribeiro, o nosso fado cantado por uma húngara em português para o público húngaro. E que bem cantado.



Obrigado Magdi

WAKING LIFE

Um dos grandes filmes de sempre. Aqui fica o trailer para aguçar mentes mais curiosas...

Quem quiser mais pormenores ou pormaiores clique no título.


quarta-feira, 17 de outubro de 2007

RECEITA PARA APANHAR UMA OSGA DO TECTO SEM CAUSAR DANOS FÍSICOS NO REFERIDO RÉPTIL

Material necessário:

1 osga no tecto
2 gatos
1 cadeira que aguente pelo menos 100 kgs
1 vassoura grande
1 vassoura pequena
1 balde
1 pá
1 garrafa de vinho “Cabeça de Burro” 2002
1 jantar encomendado de um restaurante indiano relativamente perto

Modo de emprego:

Depois de verificar a existência de uma osga no tecto da sala, sentar-se durante 30 minutos a ponderar se o seu respeito por todas as vidas animais deve prevalecer sobre a forte repulsa que as osgas têm em si desde pequenino. Matar ou salvar? Uma vez que a solução não se apresenta fácil e ir cozinhar implica perder a vigilância do réptil que se poderia ir esconder em qualquer ponto da sala, inclusive no sofá onde se costuma sentar, opte por não cozinhar e encomendar o jantar de um restaurante indiano relativamente perto. Aguarde 45 minutos.
Enquanto aguarda, abra uma garrafa de “Cabeça de Burro” de 2002 um excelente tinto familiar, um vinho suave e redondo, agradável ao palato, que ajuda a encarar a questão da osga com cada vez maior divertimento. Ou não.
Coma descansadamente o jantar, sempre com um olho preso na osga. Não demore mais de 30 minutos.
Acabe de beber o copo de vinho mas deixe mais um copo na garrafa, nunca se sabe o que poderá vir a acontecer.
Suba para cima de uma cadeira que aguente pelo menos 100 kg’s com o balde, esperando colocar o balde no tecto à volta da osga e depois, movendo o balde colado ao tecto e batendo com uma vassoura pequena no referido balde, poder atirar o balde com a osga janela fora. Não esquecer abrir a janela. Descer da cadeira, abrir a janela, voltar a subir a cadeira. Voltar a descer da cadeira para ir buscar o balde e a vassoura pequena entretanto deixados em cima da mesa. Desistir da ideia por perceber que corre o risco da osga lhe cair em cima o que, evidentemente, entra em conflito com a forte repulsa por osgas sentida desde pequenino. Esta operação deverá levar cerca de 10 minutos.
Mude de estratégia e passe a dar gentis ripadas com a vassoura grande no animal a ver se consegue que ele abandone a sala pelo seu próprio pé. Patas. Pelas suas próprias quatro viscosas patas. Pode esquecer isso, ele não o fará. Não perca mais de 5 minutos com esta questão.
Varra o tecto, atirando a osga para o chão, ao mesmo tempo que evita que os dois gatos rapidamente a apanhem. Operação delicada. 2 minutos. Há que ser rápido e certeiro.
Operação delicadíssima onde com a vassoura grande tenta varrer a osga para cima da pá. Ela cola-se á parede, por cima do rodapé, é impossível, esqueça isso.
Opte por fazer da vassoura grande e da vassoura pequena uma pinça que depois de cerca de 15 minutos sortirá efeito. Ao apanhar a osga, tendo evitado as patadas assassinas do felinos, atire-a pela janela, tendo o cuidado que ela cairá gentilmente num relvado e não numa varanda de um vizinho.
Depois do esforço, sente-se calmamente a terminar o vinho e pensando que é um herói, verdadeiro homem que não tem medo de nada, está pronto para ir para África e, além disso, é um verdadeiro humanista respeitador de todas as formas de vida.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

SINOPSE "A MEDIDA DOS SONHOS"

Ocorreu-me que depois de dois excertos do livro, colocar a sinopse não seria má ideia...


SINOPSE
“A MEDIDA DOS SONHOS”

Engolido por um emprego que despreza, mergulhado numa vida rotineira, submerso num quotidiano desmotivante e encurralado numa Caverna, assim nos é apresentado o artista intelectual António. O António pensador, ou sonhador, como alguns poderão entender, é acompanhado na sua viagem por um narrador metediço e atrevido, que poderia ser a consciência de cada um de nós, o espelho secreto que nos lê a alma e a expõe ao mundo, sem pudor nem escrúpulos, ignorando regras sociais e pensamentos politicamente correctos.
António decide quebrar os Grilhos do “actualmente” e cortar relações com as expectativas criadas para qualquer homem do seu século, enquanto o narrador, ao seu estilo alcoviteiro, carrega o leitor por caminhos não antes trilhados, dando-lhe conta do passado de António, um passado comovente, emocionante e com a aventura esperada de um homem com ideias irreverentes.
Um revelador diálogo com uma personagem ininteligível e a Dialéctica estabelecida com uma mulher, levam António a descobrir e, posteriormente, a revelar profundas ideias sobre o caminho da Humanidade, a compreensão do pensamento, do Universo e um conceito finalístico, orientado para a felicidade da vida.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

9 DE OUTUBRO DE 2003

E foi nesse dia que, com um look completamente diferente, nascia o pensamentosdesblogueados.blogspot.com. Já lá vão quatro anos.

RUNNING SINNER MAN

Atentem na legenda que vai dizendo os diferentes locais... E na música claro. O imortal "Sinner Man" da Nina Simone. Razão, aliás, pela qual postei este vídeo...

NA ESTRADA PARA LADO NENHUM

Ode Cabanesca Amorosa

Eu corri para lá,
Corri com quantas forças tinha,
Fiz o que pude,
Fiz o que não pude,
Fiz o que não podia ter feito.
E a grande música que caía do céu,
Pingando gotas de chuva,
O Suor dos Deuses,
Diziam-me:
Corre mais;
Vai mais depressa,
Vale a pena,
Acredita.
E eu acreditei.
E corri
Com quantas forças tinha.
Mas, perguntou-me o Herético,
Porque corres tu tanto?
Para onde vais?
E eu respondi:
Porque acredito no Amor,
Porque ele me faz correr.
Mas, continuou o Herético,
Não sabes tu que o Amor é para sonhar e não para correr?
Como assim? Perguntei eu siderado com tamanha heresia.
Se o Amor te faz correr tanto é porque não é Amor, continuou ele.
Cala-te, não sejas parvo, respondi eu.
Tu é que és parvo, atirou ele com a mestria de quem sabe mais do eu.
O Amor é simples, é belo, é natural, está dentro de ti, porque hás tu de correr desalmadamente quando aquilo que procuras já tu tens?
Porque Amor e uma Cabana não chegam.
Riu ele. E que mais queres tu?
Paz.
Então pára de correr. Ela há-de aparecer quando o verdadeiro Amor chegar ao pé de ti.
Então o que é isto que eu sinto agora, Herético? Perguntei eu amedrontado com a resposta ainda não ouvida.
Não sei, meu filho. Mas não é Amor.
E eu parei.
E o Amor continuou a correr para lado nenhum.
Não era comigo.
Não era meu.
E ficou o vazio da desilusão. O engano.
Mas o Sol brilhava.
A música continuava a pingar do céu.
Os Deuses suavam.
Os espíritos abraçavam-me.
A cassete saiu.
O meu espírito elevou-se.
O Amor apareceu.
Somos todos um.
Para onde ia eu? Porque corria eu?
Não te lembras? Porque o Amor e uma Cabana não te chegavam, meu filho, elucidou-me Herético.
Estranho.
Muito estranho.
A madrasta enganou-me bem.
Amor e uma Cabana é tudo aquilo que eu quero.

sábado, 6 de outubro de 2007

CANTIGA DE AMIGO

"Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média"

por Alguém


E foi assim que há uns anos atrás eu me enfiei na minha máquina do tempo e percorri anos e décadas e séculos até me encontrar nos fundos recônditos da minha mente com o tempo dos trovadores. E isto foi o que eu ouvi...


CANTIGA DO AMIGO VIAJANTE

Eu fora uma criança
Cheia de esperança
Que tudo sentia
Que muito queria
Mas que nada percebia

Sorte de quem pode a felicidade sentir
Por nele a ignorância residir
Sentido que está sempre certo
Tudo recebe de peito aberto
E o seu sonho está sempre tão perto

É que quem nada percebe
È aquele que tudo recebe
È quem num estilo diletante
Sente a força fulgurante
E vê a luz, de todas, a mais brilhante

Mas depois eu cresci
E foi aí que percebi
Que havia algo que faltava
Um nada que dentro de mim falava
Enfim, um desejo que palpitava

Mas aquilo que eu queria
Por cá não havia
Não sabendo onde procurar
Fui por todos os mares navegar
E aos cumes mais altos subi, para olhar

O mundo, eu corri
Para todos, eu sorri
Para alguns, eu chorei
Muito eu encontrei
Menos aquilo que procurei

Quando mais nada havia a descobrir
Vi que algo continuava por sentir
O sonho que nunca vi
O grito que jamais ouvi
O mito que não vivi

Desolado eu fiquei
Desconsolado me quedei
Cansado de tanta procura
Sem ânsia de mais loucura
Com a alma finalmente pura

Nesse momento eu voltei
E foi quando me encontrei
No instante em que percebi
Que aquilo que nunca vi
Era o que tinha dentro de mim

EU VI MAS NÃO AGARREI

DURÃO MRPP

ORA TOMEM LÁ MAIS UM

Aqui fica o excerto número dois do primeiro livro, nada de especial, devaneios literários que não desvendam a estória, escreve-se história mas a maneira antiga é melhor...


"Às vezes o ser humano é assaltado por estranhas sensações. É surpreendido. O António podia jurar com elevada certeza e convicção que estava ali sozinho. No entanto, repentinamente foi assolado por uma espécie de grito, um irra ou um merda, não percebeu bem, o que percebeu foi que estava ali alguém. Erguendo-se e virando-se para trás, para o lado esquerdo de quem desce, viu um homem, alto e robusto, vestido de xadrez e com uma boina, que lutava com o mar através da sua comprida cana de pesca. Duelo interessante, ficou a observar o esforço do pescador, muito labutava ele, fazia força e dava à manivela, aquilo era um peixe grande de certeza. A peleja durou ainda um ou dois minutos, foi brava mas o homem saiu vitorioso, sendo com elevado interesse pela dimensão do peixe que o António observou o triste pescado
não era assim tão grande
a ser arrastado para fora de água. Enquanto o pescador tirava o anzol ao infortunado bicho, reparou o António que não tinha o homem nenhum recipiente para o guardar. Estranhou o facto, talvez fosse tão mau pescador que não estava à espera de ser bem sucedido. Foi com ainda maior surpresa que o António viu o pescador a segurar no estrebuchante peixe, deixar cair a cana de pesca e, depois, com as duas mãos, atirá-lo novamente para o mar. Coisa extraordinária, estava explicada a ausência de recipiente, estava também adensado o mistério da personagem. O que o António gostaria de saber era o que levava um homem a chatear os peixes, o termo é esse, o peixe deve ter apanhado o susto da vida dele, há de ir lá para baixo para o pé da mãe peixe, do pai peixe e dos irmãos peixe a gritar, cuidado, apoquentem-se bem, arrancaram-me daqui para um sítio estranho, lá não se consegue respirar e um gajo grande qualquer com a cabeça encarnada olhou para mim, bem nos olhos, e riu-se e deitou-me para aqui outra vez, foi muito estranho, o maior susto da minha vida, para aquelas bandas não volto eu, aquilo é sítio de tormentos e de coisas estranhas. Talvez respondesse o pai peixe, estamos a supor que o apanhado era de idade reduzida, enfim, a verdade é que era pequeno. Mas dizíamos nós que talvez o pai peixe respondesse para o filho, pois, pois, desse sítio onde se não respira já ouvi falar, é lá em cima, chama-se Inferno, não há nada com que se viva, e tiveste tu muita sorte porque as bestas que por lá andam normalmente deixam-nos morrer asfixiados para depois nos esventrarem, cortarem em postas e comerem. Talvez o filho, de olhos bem abertos como é costume de peixe, perguntasse, mas então, que coisa é essa do Inferno, como sabes tu dessas coisas de religião, ao que o pai peixe, talvez a mãe, sabemos lá nós, talvez ele ou ela lhe respondesse, ó peixito, filho querido, nós já cá andamos há muito tempo, o Inferno é facto certo, corre de boca em boca desde tempos imemoriais, há muito tempo atrás, ouve um peixe como nós que foi lá, depois meteram-no num sítio onde se podia respirar, chama-se Purgatório, aquilo tinha vidros à volta e ele viu tudo, viu todas as atrocidades que aquela gente nos faz, e sortudo, conseguiu voltar, como fez ele tamanho feito ele já não disse, ou melhor, ele até disse mas essa lição eu não aprendi, enfim, o certo é que lá para cima para o Inferno tu não queres ir, só se fores mau, o bom é viveres aqui bem a tua vida, um dia hás de morrer e aí vens ter comigo e com a mãe, que nessa altura também já havemos de ter morrido, lá abaixo ao paraíso, e aí seremos felizes para sempre, não te esqueças da lição que hoje aprendeste, com a tua experiência provaste que o Inferno existe mesmo, o teu conhecimento tem de guiar-nos a todos, tens de salvar os teus irmãos de irem parar ao Inferno, o melhor é anunciares o teu saber a todos. Seria essa a altura em que o quase pescado peixe, pouco certo de tanta convicção paternal, perguntaria, mas como posso fazer isso, eu não sou mais que um simples robalo, que posso eu fazer para salvar a peixandade? Ó meu filho, responderia a mãe peixe, tu podes não ser um peixe-boi porque nada tens de manatim ou lamatim, poderás também não ser um peixe-espada porque nada tens de espada ou espadeirada, também não és de certeza um peixe-martelo porque não tens um martelo nem és cornudo, peixe-rei não és porque aterina, piarda ou pica são nomes que não te ficam bem, também peixe-serra não vejo em ti porque de espadarte ou raposo não tens nada, peixe-voador muito menos, não tens asas nem te chamas cóio, agora meu robalito pequenino, hás de ser tu o maior de todos os peixes, o peixe-messias serás tu, és aquele que hás de acabar com o Reino dos Infernos e trazer a paz a todos nós. Coisa incrível, pensaria o peixito, que grande missão, o melhor seria mesmo fundar uma igreja, igreja de peixes, ele seria o orador, um bom orador, até lhe poderiam chamar de padre, já pensava o peixe nisto tudo, era curioso como os peixes não são assim tão diferentes dos homens, a única coisa de que o grande peixe-messias não se lembrou foi de dizer que praticaria o celibato, é normal, afinal qual é o peixe que posto neste mundo para se reproduzir e trazer mais peixes à vida se lembraria de abdicar de tão importante tarefa, celibato não, se ele estava ali para salvar a peixandade, o primeiro passo era certificar-se de que por ele ela não acabava, não senhor, no que dependesse dele haveria peixes para lavar e durar."

CALENDÁRIO

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

MAIS UM EXCERTO, MAIS UMA VOLTA

Aqui fica um excerto do meu segundo livro, um pequenino, para a frente haverá mais, já que o primeiro tarda em ser publicado o melhor é ir-me entretendo...


"E ele agiria com desprezo por todos os outros. Agiria com indiferença, faria mais e pior do que lhe haviam feito a si, seria implacável. Quando algum dos seus colegas, necessitado de ajuda pela razão directa do seu próprio e inevitável fracasso, ele, por detrás da sua enorme secretária no último andar de um prédio distinto da capital, nesse momento, ele colocaria os pés em cima da secretária, mãos atrás da cabeça e riria, riria com eco, toda a gente ouviria o seu riso, o seu riso maquiavélico de escárnio perante o fracasso. Ele, bem sucedido
só assim se imaginava
desprezaria aqueles que falhariam. Haveria um dia em que aqueles que agora o desprezavam haveriam de o invejar tremendamente. Ele, nesse momento, seria dono do mundo, seria alvo de todas as invejas e senhor de todo o desprezo. Não haveria mais desprezo e indiferença no mundo porque toda essa energia destruidora se concentraria na frieza gélida do seu olhar. A sua vingança seria terrível. Seria avassaladora. Ele seria o vencedor. Ele teria a palavra final. Ele seria o último a rir.
Perante estes pensamentos o Zé sorriu. Quase sentia o sabor da vitória. Pena que faltasse tanto tempo ainda para a saborear. São pensamentos tristes os que aqui se retractam mas é assim o mundo dos humanos: pleno de inveja e vingança. Aliás são mesmo esses grande parte dos motores do progresso do homo sapiens. O facto de cada um de nós simplesmente nunca estar satisfeito com aquilo que tem e desejar sempre mais. E é aí que se dividem os homens. Aí se separam os justos dos injustos. Os justos, insatisfeitos com o que têm, criam coisas novas, imaginam, ligam a máquina infernal que é o cérebro e descobrem, inventam, deslindam e engenham, através do talento transformam o mundo num sítio diferente. Esses são os génios e os artistas. Esses são a vanguarda de um tempo novo. Já os injustos funcionam de forma diferente. Esses, insatisfeitos também, engenhosos também, cheios de talentos mas sem a centelha divina do génio, esses padecem do grande e tormentoso mal que é a falta de imaginação. Assim, cobiçam, invejam e desejam para si apenas aquilo que conseguem ver, apenas aquilo que vêem outros ter mas que eles não têm. Não trazem nada de novo ao mundo a não ser o contínuo e inesgotável talento dos homens para se detestarem a si próprios, de se verem como indivíduos independentes que pura e simplesmente não percebem que o simples acumular do material apesar de muita riqueza oferecer ao indivíduo não lhe saciará a vontade e que riqueza nenhuma acrescentará ao Homem. Assim é a vida.
(...)
Mas também se há uma coisa que nós aprendemos ao olhar para o mundo dos homens é que a História se fez de vinganças, de guerras motivadas por todos os sete e muitos outros pecados, de sangue, de sangue que eternamente ecoará pelas mentes dos culpados e dos inocentes, tristes fados, triste fardo tão pesado de culpa para a Humanidade carregar. Assim foi, assim é e, infelizmente, assim será por muitos e bons anos. Grande mal não faria se os culpados se matassem apenas uns aos outros, seria a Ganância a sua última companheira, o seu último orgasmo, mas infelizmente todos sabemos que não é assim, quando os culpados, injustos sedentos de invejoso poder, quando os pérfidos se gladiam, entre eles poucos morrem,
triste sina
é apenas uma batalha de uma imemorável e inesgotável guerra, para a próxima há mais, pois é, esses safam-se sempre, quem morre são os inocentes, assim foi desde o início de todos os tempos, até Deus mandou os homens matarem inocentes e virginais cordeiros para que Ele pudesse beber o seu sangue. E se Deus o faz, porque não há-de o Homem, feito à sua imagem fazer também. Do pó vieram os homens, a ele regressarão, não sem antes o encharcarem com o seu próprio sangue. Pois. Crescei e multiplicai-vos, crescei e matai-vos uns aos outros, construí e destruí, disseminai o Meu amor e a Minha fúria"

GRANDE TOM

terça-feira, 2 de outubro de 2007

FUNDAMENTALISMO CRISTÃO por Bill Hicks

ESTAR VIVO É O CONTRÁRIO DE ESTAR MORTO

Ode Lilicaneciana

A vida é aquilo que nós não sabemos que ela é.
É a angústia da morte.
É o entretanto. Aquilo que está entre o nascimento e o fim.
Será que haveria vida sem morte? A morte só existe por que vivemos.
A vida só existe porque nascemos.
Se não morrêssemos, não nascíamos.
Existíamos apenas.
Seríamos Deus.
A vida só existe porque há morte.
Viver é morrer.
Não.
Não é assim.
Que vivam os mortos e que não morram os vivos.
Que se cantem as hossanas para sempre.
Que a voz não nos doa.
Que a morte não nos apoquente.
Que nasçam os novos e não morram os velhos.
Queremos tudo!
Eternidade divina.
Sim.
Um dia seremos Deus.
Aí sim.
Aí sim saberemos o que é viver.
Até lá vivemos na ignorância.
Que cantem os tolos.
Que gritem os loucos.
Vivamos a nossa angústia na felicidade da ignorância.
Tristes e felizes.
Contentes e ignorantes.
Vivos.
Ainda.

segunda-feira, 5 de março de 2007

MELANCOLIA TEMPORAL

Passei meses a desejar que o tempo rapidamente passasse.
Estava farto. Não havia paciência para mais.
Agora o tempo já passou. E a questão é o que foi que ficou.
Na ânsia de viver o futuro, esqueci-me de viver o presente. E quem não vive o presente, pode ter um futuro, mas no futuro não terá certamente um passado.
E é assim.
Estou sem passado. Ou melhor. Tenho o mesmo passado que tinha há meses atrás. Os mesmos problemas. As mesmas virtudes.
E agora?
Agora falta-me aquilo que não tive nestes últimos meses;
A minha mão agarrando lenta e suavemente um riacho,
A fina areia de uma praia solitária,
Uma estrada sem fim,
Uma planície silenciosa,
Falta-me tudo aquilo que não pude ter.
Que vivência esta onde tomar banho num rio não poluído é um acto anual.
Miséria.
Quero fugir desta cidade onde a mesquinhez nos inunda juntamente com o escape negro de um autocarro. Isso não ajuda a viver o presente.
Que sítio este onde as mentes são curtas, feias e pequeninas.
Que sítio este onde somos forçados a assistir ao inusitado festim dos abutres sobre quem não conseguiu ser abutre.
Não há mesmo paciência.
Abutres sem passado.
Passados sem futuro.
Eu tenho um passado.
Tenho um passado forte demais para passar. Não bastam meses. Não basta o tempo.
Eu tenho um futuro.
Não sei onde. Não sei com quem a não ser comigo.
Comigo e com o meu passado.
Não voltarei a desejar que o tempo passe depressa.
Há sorrisos que não se esquecem.
Há sorrisos que não é bom esquecer.
Há sorrisos que é bom ter no passado.
O rio não apaga nada. Aprofunda.
A areia não esconde nada. Revela.
O tempo não passa. Vive-se.