José Saramago faz oitenta e cinco anos. Uma marca notável, ainda para mais se levarmos em linha de conta a contínua publicação de obras que mantém.
De toda a sua obra vejo-me forçado a fazer sobressair o impagável "Evangelho Segundo Jesus Cristo". Se por um lado foi uma obra considerada herege pelos conservadores círculos católicos portugueses, também não posso deixar de dizer que para mim é um dos grandes livros da minha vida, motivo de grande regozijo e prazer ao ler, de grande reflexão literária ao terminar e de grande influência na minha própria escrita.
Obra polémica que culminou com o então Sub-Secretário de Estado da Cultura Sousa Lara a retirar do conjunto de livros portugueses sujeitos a prémios internacionais, questão que motivou a saída do escritor de Portugal. É pena. Saramago veio a ser o único autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura, a maior distinção literária do planeta, e de Sousa Lara nunca mais ninguém ouviu falar, excepção feita ao período em que fez parte como arguido do mega processo da Universidade Moderna. Ele há coisas... A verdade é que o "Evangelho Segundo Jesus Cristo está traduzido em mais de dez línguas e é internacionalmente consagrado como uma das grandes obras da literatura mundial. E é nosso!
Mas nem só de polémicas vive a obra de José Saramago. Com um estilo inconfundível, o autor apresenta-nos um narrador omnipresente, majestático e imponente pelo seu próprio plural, onde comentando e opinando de forma sarcástica e irónica ao mesmo tempo que relata aquilo que pretende relatar, consegue levar-nos ao fantástico mundo da Sófia, por oposição à Doxa que parece imperar por esta tão triste caverna mediática em que somos forçados a viver.
E para quem critica sem ler que "Saramago é tão mau que não sabe usar pontuação" devo aqui deixar bem claro que talvez a leitura seja menos óbvia, mais difícil ao início, motivo para que tantos que o criticam talvez nunca tenham passado da primeira página, mas uma vez habituados percebe-se que ler Saramago é um investimento numa forma fantástica de escrita, um estilo original que conquista uma dinâmica narrativa única que resulta numa sintonia extraordinária entre o leitor e o contador de histórias. E é assim mesmo que deve ser.
Saramago, mais que um escritor, é um pensador ou - como ele próprio teve a ocasião de me dizer pessoalmente enquanto lhe cravava um autógrafo - um pensador é sempre um sonhador. E Saramago será certamente um sonhador do mundo em que vive, em que vivemos, do mundo que nos rodeia, influencia e, muitas vezes, nos faz esquecer muitas coisas importantes da vida.
Deixando politiquices de lado, debruçarmo-nos sobre a obra de Saramago, mais do que o prazer da leitura, é uma viagem à descoberta da nossa própria humanidade.
Toda a vida de Saramago é um facto extraordinário, nas suas próprias palavras "é a vida que não podia ter sido". Neto de criadores de porcos, filho de um guarda civil e de uma faxineira, serralheiro mecânico de profissão, Saramago veio a ser o maior vulto da literatura portuguesa contemporânea.
É de leitura obrigatória.
Aqui fica uma entrevista que José Saramago concedeu a uma canal brasileiro. Para mais informações sobre os livros do autor clicar no título do post.
PARABÉNS SARAMAGO! E obrigado.
Parte 1
Parte 2
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" também é um dos livros da minha vida.
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