Aqui fica um excerto do meu segundo livro, um pequenino, para a frente haverá mais, já que o primeiro tarda em ser publicado o melhor é ir-me entretendo...
"E ele agiria com desprezo por todos os outros. Agiria com indiferença, faria mais e pior do que lhe haviam feito a si, seria implacável. Quando algum dos seus colegas, necessitado de ajuda pela razão directa do seu próprio e inevitável fracasso, ele, por detrás da sua enorme secretária no último andar de um prédio distinto da capital, nesse momento, ele colocaria os pés em cima da secretária, mãos atrás da cabeça e riria, riria com eco, toda a gente ouviria o seu riso, o seu riso maquiavélico de escárnio perante o fracasso. Ele, bem sucedido
só assim se imaginava
desprezaria aqueles que falhariam. Haveria um dia em que aqueles que agora o desprezavam haveriam de o invejar tremendamente. Ele, nesse momento, seria dono do mundo, seria alvo de todas as invejas e senhor de todo o desprezo. Não haveria mais desprezo e indiferença no mundo porque toda essa energia destruidora se concentraria na frieza gélida do seu olhar. A sua vingança seria terrível. Seria avassaladora. Ele seria o vencedor. Ele teria a palavra final. Ele seria o último a rir.
Perante estes pensamentos o Zé sorriu. Quase sentia o sabor da vitória. Pena que faltasse tanto tempo ainda para a saborear. São pensamentos tristes os que aqui se retractam mas é assim o mundo dos humanos: pleno de inveja e vingança. Aliás são mesmo esses grande parte dos motores do progresso do homo sapiens. O facto de cada um de nós simplesmente nunca estar satisfeito com aquilo que tem e desejar sempre mais. E é aí que se dividem os homens. Aí se separam os justos dos injustos. Os justos, insatisfeitos com o que têm, criam coisas novas, imaginam, ligam a máquina infernal que é o cérebro e descobrem, inventam, deslindam e engenham, através do talento transformam o mundo num sítio diferente. Esses são os génios e os artistas. Esses são a vanguarda de um tempo novo. Já os injustos funcionam de forma diferente. Esses, insatisfeitos também, engenhosos também, cheios de talentos mas sem a centelha divina do génio, esses padecem do grande e tormentoso mal que é a falta de imaginação. Assim, cobiçam, invejam e desejam para si apenas aquilo que conseguem ver, apenas aquilo que vêem outros ter mas que eles não têm. Não trazem nada de novo ao mundo a não ser o contínuo e inesgotável talento dos homens para se detestarem a si próprios, de se verem como indivíduos independentes que pura e simplesmente não percebem que o simples acumular do material apesar de muita riqueza oferecer ao indivíduo não lhe saciará a vontade e que riqueza nenhuma acrescentará ao Homem. Assim é a vida.
(...)
Mas também se há uma coisa que nós aprendemos ao olhar para o mundo dos homens é que a História se fez de vinganças, de guerras motivadas por todos os sete e muitos outros pecados, de sangue, de sangue que eternamente ecoará pelas mentes dos culpados e dos inocentes, tristes fados, triste fardo tão pesado de culpa para a Humanidade carregar. Assim foi, assim é e, infelizmente, assim será por muitos e bons anos. Grande mal não faria se os culpados se matassem apenas uns aos outros, seria a Ganância a sua última companheira, o seu último orgasmo, mas infelizmente todos sabemos que não é assim, quando os culpados, injustos sedentos de invejoso poder, quando os pérfidos se gladiam, entre eles poucos morrem,
triste sina
é apenas uma batalha de uma imemorável e inesgotável guerra, para a próxima há mais, pois é, esses safam-se sempre, quem morre são os inocentes, assim foi desde o início de todos os tempos, até Deus mandou os homens matarem inocentes e virginais cordeiros para que Ele pudesse beber o seu sangue. E se Deus o faz, porque não há-de o Homem, feito à sua imagem fazer também. Do pó vieram os homens, a ele regressarão, não sem antes o encharcarem com o seu próprio sangue. Pois. Crescei e multiplicai-vos, crescei e matai-vos uns aos outros, construí e destruí, disseminai o Meu amor e a Minha fúria"
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