quarta-feira, 9 de março de 2011

O ELOGIO DO FRACASSO*

A compreensão é infinita: labirinto de vontades indefiníveis e profundas, nele nos perdemos na ânsia de que haverá sempre algo mais para fazer, algo mais para compreender, algo mais para concretizar. Mas tudo isso é uma ilusão fruto da incapacidade humana de simplesmente viver. A maior ilusão racionalista é o desígnio da profunda compreensão de nós próprios: a auto interpretação apenas serve até ao ponto em que temos de admitir a impossibilidade da concretização de tamanho objectivo; e assim ganhamos humildade, gratidão e paz. Mas se formos teimosos e insatisfeitos e não conseguirmos aceitar o facto de o todo, por ser o todo, sempre permanecer incompreensível para a parte (como poderia a parte compreender o todo?) e continuarmos a escarafunchar, então essa vontade compreensiva apenas nos fará perdermo-nos no mistério do 'eu' e arruinar a única coisa que colmata a pena máxima que é a morte: a felicidade dos homens. Tal como a vaidade não coabita com a felicidade também a vaidade do conhecimento explanada na cobiça da compreensão destrói a felicidade da aceitação. Ah!, elogiemos o falhanço garantido no que diz respeito à necessidade da compreensão! Elogiemos o fracasso da nossa racionalidade! Elogiemos a libertação máxima, portanto.

*Título roubado ao livro do João Freire.

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