quarta-feira, 2 de março de 2011
DO RACIONALISMO
Há um momento em que temos de escolher: ou se continua a escarafunchar na realidade implicando a ascensão - ou introspecção - a um ponto, seja ele real ou imaginário, cada vez mais distante do mundo ou se assume que para pontos mais distantes do mundo sobra a eternidade e que mais vale aproveitar o bilhete. John Stuart Mill, esse cavaleiro da liberdade, arrependia-se no final da vida de ter perdido partes importantes da vida por ter permanecido sempre obcecado com os absorventes caminhos da razão. E esse é o ponto: a maior prisão da razão é a ilusão de que nos oferecerá a libertação da mundana realidade das angústias e temores emocionais. Mas esgotando a vida pelo jugo racionalista a única coisa que se obtém é a perda da identidade, ficando esta desmultiplicada - destruída - numa amálgama de causas e consequências às quais não se vislumbra um fim, ou sequer um particular sentido; e a identidade, absurda e controversa, paradoxal e animal é precisamente o exercício máximo da liberdade, destruindo-a, perde-se tudo: quem não é, não pode ser, logo não pode ser livre. Paira, não vive; pensa, não decide. Stuart Mill, como amante da liberdade que era, deverá ter percebido isso muito bem: viver em liberdade passa por deixar correr as emoções e aproveitar a vida por mais absurda que muitas vezes ela possa parecer ao racionalista abstracto. Ou seja: a escolha passará sempre por compreender que não há felicidade fora do mundo das angústias e dos temores emocionais.
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E porque a racionalidade não pode viver em harmonia com a emoção?
ResponderExcluirSz
Não sei se pode, espero que sim, o ponto do texto é esse mesmo; agora se a harmonia é possível ou não isso já depende de cada um. E do que entendemos por harmonia.
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