segunda-feira, 21 de março de 2011

GENERATION GAP

Uns gritam que "no meu tempo é que era" enquanto outros lembram que "quando se fica mais velho se romantiza sempre que no meu tempo é que era". Se a primeira frase faz sobressair a ideia, muito Platónica, de que o avanço do mundo é decadente - uma degenerescência constante -, já a segunda, mais progressista, diz-nos que a degenerescência é, não no avanço da idade do mundo mas, sim, no avanço da idade de cada um: ao envelhecermos romantizamos os 'velhos tempos'; isto claro significa que nos tornamos menos objectivos, menos capazes de imparcialidade e menos eficazes na análise. Ao mesmo tempo, se os mais velhos desconfiam sempre dos comportamentos dos mais novos (que consideram menos correctos) então os mais novos estão sempre desculpados pois também os seus Pais chocaram os Avós, os Avós os Bisavós, etc. E aqui nasce a minha discórdia: não que não concorde com a ideia de que os novos desafiam sempre os mais velhos - uma evidência - mas porque lança a ideia de que, sendo esse desafio uma constante da vida - sendo normal -  então deverá ser sempre desculpável ou até mesmo positivo. E daqui vem a ideia progressista: de que de choque geracional em choque geracional avançamos rumo ao futuro, um futuro sempre melhor. O problema do raciocínio é o seguinte: haver sempre um conflito geracional não significa o mesmo que dizer, simplesmente porque ainda não nos matámos todos, que o resultado de tal conflito é sempre positivo. Muito pelo contrário: do conflito entre a experiência e a impetuosidade não deverá resultar a ideia de que a impetuosidade é sempre a melhor conselheira. Na verdade, os mais velhos, portanto mais experientes e sábios, talvez (e isto é uma proposta radical no mundo de hoje) percebam um pouco melhor a vida e cheguem à conclusão que não vale a pena andar a correr tão depressa porque, simplesmente, não há nenhum sítio assim tão importante para onde correr. É que quando o hamster percebe que a sua roda não vai a lado nenhum acaba a usá-la só para se manter em forma. E quanto ao resto do tempo? Bem, talvez possa servir para apreciar a paisagem do lado de fora da gaiola.

2 comentários:

  1. Respeito a sabedoria dos "mais velhos". Aceito-a quando se trata da sabedoria da geração do meu avô, com quase um seculo de vida percorrida. Já a sabedoria da geração dos meus pais é um pouco contestável por mim dado que são 20 e poucos anos mais velhos que eu e que, se realmente quisessem, veriam mais o nosso ponto de vista, mesmo que não tivessem de acordo.

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  2. O problema é quando, por força da sociedade, os mais novos não chegam a mais velhos (sendo-o de idade não o são de bom senso). Sendo o texto uma espécie de 'manifesto conservador' o teu ponto não deixa de entrar muito bem: a geração de 50 e 60 foi - é - a mais progressista da História do Velho Continente :)

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