"Grande acontecimento! Leiam tudo!", grita o ardina em plenos pulmões, "A Medida dos Sonhos chega à imprensa", continua ele a gritar à medida que percorria o macadame armadilhado pela geada matutina que envolvia aquela Lisboa de Outono, em particular a bonita e mui movimentada Rua Augusta. Outros tempos talvez.
O homem estranhou. A Medida dos Sonhos? Que raio seria isso? Aproximou-se, curioso, do ardina que continuava, do auge dos seus doze ou treze anos, a gritar, a voz a ele não lhe doía, coisa incrível, quanto mais se sofre pelo trabalho mais força parece que se tem.
"Ouve lá ò miúdo", interpelou o homem, "Que coisa é essa da medida dos sonhos?"- O miúdo, interrompido, rapidamente esclarece em tom sabido, puto de doze anos mas sabia mais naquele momento do que aquele homem, talvez universitério, talvez doutorado, sabe-se lá, doutor seria de certeza porque tinha um belo chapéu e uma corrente de prata fantástica para o seu relógio de bolso. Mas diziamos nós, o puto rapidamente esclarece "A Medida dos Sonhos? Não sabe? É o livro do Nuno Lebreiro. È muito bom. E hoje, aparece uma mui elogiosa referência no jornal Correio da Manhã"
"Ah é?", estranhou-se o homem.
"É, é"
"Quero comprar então..."
Claro. Quem é que não compraria tal coisa? Pensando bem todos aqueles que pudessem ler de BORLA neste magnífico blog...
Aqui fica.
in Correio da Manhã de 25 de Outubro de 2007
OPINIÃO DE PAULA TEIXEIRA DA CRUZ
"Da vida real
A grande farsa
A Democracia não vive sem a participação dos cidadãos e a transparência de actuação das instituições, sejam públicas ou privadas. É por isso que o afastamento dos cidadãos – por demissão ou inibição de intervenção – e fenómenos de perversão das instituições, como a corrupção, o tráfico de influências, o favorecimento, a fragilização sistemática das instituições ou a ‘marketização’ da política, criam um regime que da natureza democrática só guarda o nome e as comemorações.
Vem isto a propósitos vários. Comecemos pelo chamado Tratado de Lisboa, o novo nome que a Constituição Europeia adoptou, quem sabe se para melhor esconder a sua identidade. É sabido que o cidadão comum se interroga para que serve hoje a Europa: dela conhece vagamente a existência de fundos comunitários (e nem sempre pelas melhores razões) ou a hiperburocracia que a caracteriza. Sentindo-se da União Europeia tão longe como de Marte, o Cidadão comum retribui, ora com indiferença ora com desconfiança, a distância a que a União Europeia se votou. É pena: a Europa Comunitária da Cidadania pode (podia) ter um papel essencial no Mundo, quer na vertente política quer na vertente económica e seria até desejável que assim fosse, bem estribada na defesa dos direitos fundamentais (cuja defesa no novo Tratado também ficou pelo meio).
Subtrair ao escrutínio dos cidadãos projectos políticos fundamentais, ainda para mais quando se trata de projectos que foram inicialmente recusados em vários países, soa a truque, a deslegitimação e a menosprezo pela Cidadania: condena-os ao fracasso.
Em Portugal, PS e PSD prometeram um referendo sobre o projecto Europeu e o pior que podem fazer é faltar ao prometido, tanto mais que a transmutação de Constituição Europeia em Tratado de Lisboa não lhe alterou o conteúdo essencial e é por isso urgente respeitar a promessa feita de consulta às populações.
É bom não perder de vista que quando a voz da rua se vê obrigada a olhar as questões políticas com um ‘isso é lá coisa deles’, o divórcio está à vista e a farsa também. A grande farsa. Ninguém gosta de se sentir enganado.
Por falar em engano(s), em duas semanas o PSD alterou o discurso em questões estruturais (referendo, não à regionalização, impostos ); a liderança tornou-se bicéfala, deu-se início a protectorados dos que são próximos e assistiu-se à entrega de um discurso político e de uma agenda partidária a uma agência de comunicação. Soa a espectáculo e a farsa. A grande farsa. Com coisas sérias.
Felizmente a despropósito, veio-me à memória a ‘Medida dos Sonhos’, um inédito de Nuno Lebreiro – um nome a reter – que merece publicação: “Portanto ”, começou outra vez o António após um ou dois minutos. “ a maior riqueza dos homens é poder pensar Estou de acordo. É a única coisa que permite todas as outras”, concluiu."
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
sábado, 20 de outubro de 2007
MAGO & ASPIRINA
Pois é. E é assim que se apanha um gato. O Mago dormiu a noite na bancada da cozinha em cima da tábua de madeira. Como é que eu sei disso? Pois. O bicho tresanda a alho. A Aspirina nem sequer se aproxima dele. Enfim. Ao menos dos vampiros já se livrou.
O que é que isto tem que ver com o blogue? Nada.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
RÚZSA MAGDOLNA: BREGOVIC E O FADO DE SER FADISTA
E há momentos em que a alma é tocada, coisa incrível, foge-nos pelos olhos fora, o espírito eleva-se e diz-nos: sim, isto é arte, encanta-te e delicia-te.
E se o o Ederlezi de Goran Bregovic não foi suficiente para comover tão empedernidos corações, deliciem-se com Artur Ribeiro, o nosso fado cantado por uma húngara em português para o público húngaro. E que bem cantado.
Obrigado Magdi
E se o o Ederlezi de Goran Bregovic não foi suficiente para comover tão empedernidos corações, deliciem-se com Artur Ribeiro, o nosso fado cantado por uma húngara em português para o público húngaro. E que bem cantado.
Obrigado Magdi
WAKING LIFE
Um dos grandes filmes de sempre. Aqui fica o trailer para aguçar mentes mais curiosas...
Quem quiser mais pormenores ou pormaiores clique no título.
Quem quiser mais pormenores ou pormaiores clique no título.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
RECEITA PARA APANHAR UMA OSGA DO TECTO SEM CAUSAR DANOS FÍSICOS NO REFERIDO RÉPTIL
Material necessário:
1 osga no tecto
2 gatos
1 cadeira que aguente pelo menos 100 kgs
1 vassoura grande
1 vassoura pequena
1 balde
1 pá
1 garrafa de vinho “Cabeça de Burro” 2002
1 jantar encomendado de um restaurante indiano relativamente perto
Modo de emprego:
Depois de verificar a existência de uma osga no tecto da sala, sentar-se durante 30 minutos a ponderar se o seu respeito por todas as vidas animais deve prevalecer sobre a forte repulsa que as osgas têm em si desde pequenino. Matar ou salvar? Uma vez que a solução não se apresenta fácil e ir cozinhar implica perder a vigilância do réptil que se poderia ir esconder em qualquer ponto da sala, inclusive no sofá onde se costuma sentar, opte por não cozinhar e encomendar o jantar de um restaurante indiano relativamente perto. Aguarde 45 minutos.
Enquanto aguarda, abra uma garrafa de “Cabeça de Burro” de 2002 um excelente tinto familiar, um vinho suave e redondo, agradável ao palato, que ajuda a encarar a questão da osga com cada vez maior divertimento. Ou não.
Coma descansadamente o jantar, sempre com um olho preso na osga. Não demore mais de 30 minutos.
Acabe de beber o copo de vinho mas deixe mais um copo na garrafa, nunca se sabe o que poderá vir a acontecer.
Suba para cima de uma cadeira que aguente pelo menos 100 kg’s com o balde, esperando colocar o balde no tecto à volta da osga e depois, movendo o balde colado ao tecto e batendo com uma vassoura pequena no referido balde, poder atirar o balde com a osga janela fora. Não esquecer abrir a janela. Descer da cadeira, abrir a janela, voltar a subir a cadeira. Voltar a descer da cadeira para ir buscar o balde e a vassoura pequena entretanto deixados em cima da mesa. Desistir da ideia por perceber que corre o risco da osga lhe cair em cima o que, evidentemente, entra em conflito com a forte repulsa por osgas sentida desde pequenino. Esta operação deverá levar cerca de 10 minutos.
Mude de estratégia e passe a dar gentis ripadas com a vassoura grande no animal a ver se consegue que ele abandone a sala pelo seu próprio pé. Patas. Pelas suas próprias quatro viscosas patas. Pode esquecer isso, ele não o fará. Não perca mais de 5 minutos com esta questão.
Varra o tecto, atirando a osga para o chão, ao mesmo tempo que evita que os dois gatos rapidamente a apanhem. Operação delicada. 2 minutos. Há que ser rápido e certeiro.
Operação delicadíssima onde com a vassoura grande tenta varrer a osga para cima da pá. Ela cola-se á parede, por cima do rodapé, é impossível, esqueça isso.
Opte por fazer da vassoura grande e da vassoura pequena uma pinça que depois de cerca de 15 minutos sortirá efeito. Ao apanhar a osga, tendo evitado as patadas assassinas do felinos, atire-a pela janela, tendo o cuidado que ela cairá gentilmente num relvado e não numa varanda de um vizinho.
Depois do esforço, sente-se calmamente a terminar o vinho e pensando que é um herói, verdadeiro homem que não tem medo de nada, está pronto para ir para África e, além disso, é um verdadeiro humanista respeitador de todas as formas de vida.
1 osga no tecto
2 gatos
1 cadeira que aguente pelo menos 100 kgs
1 vassoura grande
1 vassoura pequena
1 balde
1 pá
1 garrafa de vinho “Cabeça de Burro” 2002
1 jantar encomendado de um restaurante indiano relativamente perto
Modo de emprego:
Depois de verificar a existência de uma osga no tecto da sala, sentar-se durante 30 minutos a ponderar se o seu respeito por todas as vidas animais deve prevalecer sobre a forte repulsa que as osgas têm em si desde pequenino. Matar ou salvar? Uma vez que a solução não se apresenta fácil e ir cozinhar implica perder a vigilância do réptil que se poderia ir esconder em qualquer ponto da sala, inclusive no sofá onde se costuma sentar, opte por não cozinhar e encomendar o jantar de um restaurante indiano relativamente perto. Aguarde 45 minutos.
Enquanto aguarda, abra uma garrafa de “Cabeça de Burro” de 2002 um excelente tinto familiar, um vinho suave e redondo, agradável ao palato, que ajuda a encarar a questão da osga com cada vez maior divertimento. Ou não.
Coma descansadamente o jantar, sempre com um olho preso na osga. Não demore mais de 30 minutos.
Acabe de beber o copo de vinho mas deixe mais um copo na garrafa, nunca se sabe o que poderá vir a acontecer.
Suba para cima de uma cadeira que aguente pelo menos 100 kg’s com o balde, esperando colocar o balde no tecto à volta da osga e depois, movendo o balde colado ao tecto e batendo com uma vassoura pequena no referido balde, poder atirar o balde com a osga janela fora. Não esquecer abrir a janela. Descer da cadeira, abrir a janela, voltar a subir a cadeira. Voltar a descer da cadeira para ir buscar o balde e a vassoura pequena entretanto deixados em cima da mesa. Desistir da ideia por perceber que corre o risco da osga lhe cair em cima o que, evidentemente, entra em conflito com a forte repulsa por osgas sentida desde pequenino. Esta operação deverá levar cerca de 10 minutos.
Mude de estratégia e passe a dar gentis ripadas com a vassoura grande no animal a ver se consegue que ele abandone a sala pelo seu próprio pé. Patas. Pelas suas próprias quatro viscosas patas. Pode esquecer isso, ele não o fará. Não perca mais de 5 minutos com esta questão.
Varra o tecto, atirando a osga para o chão, ao mesmo tempo que evita que os dois gatos rapidamente a apanhem. Operação delicada. 2 minutos. Há que ser rápido e certeiro.
Operação delicadíssima onde com a vassoura grande tenta varrer a osga para cima da pá. Ela cola-se á parede, por cima do rodapé, é impossível, esqueça isso.
Opte por fazer da vassoura grande e da vassoura pequena uma pinça que depois de cerca de 15 minutos sortirá efeito. Ao apanhar a osga, tendo evitado as patadas assassinas do felinos, atire-a pela janela, tendo o cuidado que ela cairá gentilmente num relvado e não numa varanda de um vizinho.
Depois do esforço, sente-se calmamente a terminar o vinho e pensando que é um herói, verdadeiro homem que não tem medo de nada, está pronto para ir para África e, além disso, é um verdadeiro humanista respeitador de todas as formas de vida.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
SINOPSE "A MEDIDA DOS SONHOS"
Ocorreu-me que depois de dois excertos do livro, colocar a sinopse não seria má ideia...
SINOPSE
“A MEDIDA DOS SONHOS”
Engolido por um emprego que despreza, mergulhado numa vida rotineira, submerso num quotidiano desmotivante e encurralado numa Caverna, assim nos é apresentado o artista intelectual António. O António pensador, ou sonhador, como alguns poderão entender, é acompanhado na sua viagem por um narrador metediço e atrevido, que poderia ser a consciência de cada um de nós, o espelho secreto que nos lê a alma e a expõe ao mundo, sem pudor nem escrúpulos, ignorando regras sociais e pensamentos politicamente correctos.
António decide quebrar os Grilhos do “actualmente” e cortar relações com as expectativas criadas para qualquer homem do seu século, enquanto o narrador, ao seu estilo alcoviteiro, carrega o leitor por caminhos não antes trilhados, dando-lhe conta do passado de António, um passado comovente, emocionante e com a aventura esperada de um homem com ideias irreverentes.
Um revelador diálogo com uma personagem ininteligível e a Dialéctica estabelecida com uma mulher, levam António a descobrir e, posteriormente, a revelar profundas ideias sobre o caminho da Humanidade, a compreensão do pensamento, do Universo e um conceito finalístico, orientado para a felicidade da vida.
SINOPSE
“A MEDIDA DOS SONHOS”
Engolido por um emprego que despreza, mergulhado numa vida rotineira, submerso num quotidiano desmotivante e encurralado numa Caverna, assim nos é apresentado o artista intelectual António. O António pensador, ou sonhador, como alguns poderão entender, é acompanhado na sua viagem por um narrador metediço e atrevido, que poderia ser a consciência de cada um de nós, o espelho secreto que nos lê a alma e a expõe ao mundo, sem pudor nem escrúpulos, ignorando regras sociais e pensamentos politicamente correctos.
António decide quebrar os Grilhos do “actualmente” e cortar relações com as expectativas criadas para qualquer homem do seu século, enquanto o narrador, ao seu estilo alcoviteiro, carrega o leitor por caminhos não antes trilhados, dando-lhe conta do passado de António, um passado comovente, emocionante e com a aventura esperada de um homem com ideias irreverentes.
Um revelador diálogo com uma personagem ininteligível e a Dialéctica estabelecida com uma mulher, levam António a descobrir e, posteriormente, a revelar profundas ideias sobre o caminho da Humanidade, a compreensão do pensamento, do Universo e um conceito finalístico, orientado para a felicidade da vida.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
9 DE OUTUBRO DE 2003
E foi nesse dia que, com um look completamente diferente, nascia o pensamentosdesblogueados.blogspot.com. Já lá vão quatro anos.
RUNNING SINNER MAN
Atentem na legenda que vai dizendo os diferentes locais... E na música claro. O imortal "Sinner Man" da Nina Simone. Razão, aliás, pela qual postei este vídeo...
NA ESTRADA PARA LADO NENHUM
Ode Cabanesca Amorosa
Eu corri para lá,
Corri com quantas forças tinha,
Fiz o que pude,
Fiz o que não pude,
Fiz o que não podia ter feito.
E a grande música que caía do céu,
Pingando gotas de chuva,
O Suor dos Deuses,
Diziam-me:
Corre mais;
Vai mais depressa,
Vale a pena,
Acredita.
E eu acreditei.
E corri
Com quantas forças tinha.
Mas, perguntou-me o Herético,
Porque corres tu tanto?
Para onde vais?
E eu respondi:
Porque acredito no Amor,
Porque ele me faz correr.
Mas, continuou o Herético,
Não sabes tu que o Amor é para sonhar e não para correr?
Como assim? Perguntei eu siderado com tamanha heresia.
Se o Amor te faz correr tanto é porque não é Amor, continuou ele.
Cala-te, não sejas parvo, respondi eu.
Tu é que és parvo, atirou ele com a mestria de quem sabe mais do eu.
O Amor é simples, é belo, é natural, está dentro de ti, porque hás tu de correr desalmadamente quando aquilo que procuras já tu tens?
Porque Amor e uma Cabana não chegam.
Riu ele. E que mais queres tu?
Paz.
Então pára de correr. Ela há-de aparecer quando o verdadeiro Amor chegar ao pé de ti.
Então o que é isto que eu sinto agora, Herético? Perguntei eu amedrontado com a resposta ainda não ouvida.
Não sei, meu filho. Mas não é Amor.
E eu parei.
E o Amor continuou a correr para lado nenhum.
Não era comigo.
Não era meu.
E ficou o vazio da desilusão. O engano.
Mas o Sol brilhava.
A música continuava a pingar do céu.
Os Deuses suavam.
Os espíritos abraçavam-me.
A cassete saiu.
O meu espírito elevou-se.
O Amor apareceu.
Somos todos um.
Para onde ia eu? Porque corria eu?
Não te lembras? Porque o Amor e uma Cabana não te chegavam, meu filho, elucidou-me Herético.
Estranho.
Muito estranho.
A madrasta enganou-me bem.
Amor e uma Cabana é tudo aquilo que eu quero.
Eu corri para lá,
Corri com quantas forças tinha,
Fiz o que pude,
Fiz o que não pude,
Fiz o que não podia ter feito.
E a grande música que caía do céu,
Pingando gotas de chuva,
O Suor dos Deuses,
Diziam-me:
Corre mais;
Vai mais depressa,
Vale a pena,
Acredita.
E eu acreditei.
E corri
Com quantas forças tinha.
Mas, perguntou-me o Herético,
Porque corres tu tanto?
Para onde vais?
E eu respondi:
Porque acredito no Amor,
Porque ele me faz correr.
Mas, continuou o Herético,
Não sabes tu que o Amor é para sonhar e não para correr?
Como assim? Perguntei eu siderado com tamanha heresia.
Se o Amor te faz correr tanto é porque não é Amor, continuou ele.
Cala-te, não sejas parvo, respondi eu.
Tu é que és parvo, atirou ele com a mestria de quem sabe mais do eu.
O Amor é simples, é belo, é natural, está dentro de ti, porque hás tu de correr desalmadamente quando aquilo que procuras já tu tens?
Porque Amor e uma Cabana não chegam.
Riu ele. E que mais queres tu?
Paz.
Então pára de correr. Ela há-de aparecer quando o verdadeiro Amor chegar ao pé de ti.
Então o que é isto que eu sinto agora, Herético? Perguntei eu amedrontado com a resposta ainda não ouvida.
Não sei, meu filho. Mas não é Amor.
E eu parei.
E o Amor continuou a correr para lado nenhum.
Não era comigo.
Não era meu.
E ficou o vazio da desilusão. O engano.
Mas o Sol brilhava.
A música continuava a pingar do céu.
Os Deuses suavam.
Os espíritos abraçavam-me.
A cassete saiu.
O meu espírito elevou-se.
O Amor apareceu.
Somos todos um.
Para onde ia eu? Porque corria eu?
Não te lembras? Porque o Amor e uma Cabana não te chegavam, meu filho, elucidou-me Herético.
Estranho.
Muito estranho.
A madrasta enganou-me bem.
Amor e uma Cabana é tudo aquilo que eu quero.
domingo, 7 de outubro de 2007
sábado, 6 de outubro de 2007
CANTIGA DE AMIGO
"Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média"
por Alguém
E foi assim que há uns anos atrás eu me enfiei na minha máquina do tempo e percorri anos e décadas e séculos até me encontrar nos fundos recônditos da minha mente com o tempo dos trovadores. E isto foi o que eu ouvi...
CANTIGA DO AMIGO VIAJANTE
Eu fora uma criança
Cheia de esperança
Que tudo sentia
Que muito queria
Mas que nada percebia
Sorte de quem pode a felicidade sentir
Por nele a ignorância residir
Sentido que está sempre certo
Tudo recebe de peito aberto
E o seu sonho está sempre tão perto
É que quem nada percebe
È aquele que tudo recebe
È quem num estilo diletante
Sente a força fulgurante
E vê a luz, de todas, a mais brilhante
Mas depois eu cresci
E foi aí que percebi
Que havia algo que faltava
Um nada que dentro de mim falava
Enfim, um desejo que palpitava
Mas aquilo que eu queria
Por cá não havia
Não sabendo onde procurar
Fui por todos os mares navegar
E aos cumes mais altos subi, para olhar
O mundo, eu corri
Para todos, eu sorri
Para alguns, eu chorei
Muito eu encontrei
Menos aquilo que procurei
Quando mais nada havia a descobrir
Vi que algo continuava por sentir
O sonho que nunca vi
O grito que jamais ouvi
O mito que não vivi
Desolado eu fiquei
Desconsolado me quedei
Cansado de tanta procura
Sem ânsia de mais loucura
Com a alma finalmente pura
Nesse momento eu voltei
E foi quando me encontrei
No instante em que percebi
Que aquilo que nunca vi
Era o que tinha dentro de mim
por Alguém
E foi assim que há uns anos atrás eu me enfiei na minha máquina do tempo e percorri anos e décadas e séculos até me encontrar nos fundos recônditos da minha mente com o tempo dos trovadores. E isto foi o que eu ouvi...
CANTIGA DO AMIGO VIAJANTE
Eu fora uma criança
Cheia de esperança
Que tudo sentia
Que muito queria
Mas que nada percebia
Sorte de quem pode a felicidade sentir
Por nele a ignorância residir
Sentido que está sempre certo
Tudo recebe de peito aberto
E o seu sonho está sempre tão perto
É que quem nada percebe
È aquele que tudo recebe
È quem num estilo diletante
Sente a força fulgurante
E vê a luz, de todas, a mais brilhante
Mas depois eu cresci
E foi aí que percebi
Que havia algo que faltava
Um nada que dentro de mim falava
Enfim, um desejo que palpitava
Mas aquilo que eu queria
Por cá não havia
Não sabendo onde procurar
Fui por todos os mares navegar
E aos cumes mais altos subi, para olhar
O mundo, eu corri
Para todos, eu sorri
Para alguns, eu chorei
Muito eu encontrei
Menos aquilo que procurei
Quando mais nada havia a descobrir
Vi que algo continuava por sentir
O sonho que nunca vi
O grito que jamais ouvi
O mito que não vivi
Desolado eu fiquei
Desconsolado me quedei
Cansado de tanta procura
Sem ânsia de mais loucura
Com a alma finalmente pura
Nesse momento eu voltei
E foi quando me encontrei
No instante em que percebi
Que aquilo que nunca vi
Era o que tinha dentro de mim
ORA TOMEM LÁ MAIS UM
Aqui fica o excerto número dois do primeiro livro, nada de especial, devaneios literários que não desvendam a estória, escreve-se história mas a maneira antiga é melhor...
"Às vezes o ser humano é assaltado por estranhas sensações. É surpreendido. O António podia jurar com elevada certeza e convicção que estava ali sozinho. No entanto, repentinamente foi assolado por uma espécie de grito, um irra ou um merda, não percebeu bem, o que percebeu foi que estava ali alguém. Erguendo-se e virando-se para trás, para o lado esquerdo de quem desce, viu um homem, alto e robusto, vestido de xadrez e com uma boina, que lutava com o mar através da sua comprida cana de pesca. Duelo interessante, ficou a observar o esforço do pescador, muito labutava ele, fazia força e dava à manivela, aquilo era um peixe grande de certeza. A peleja durou ainda um ou dois minutos, foi brava mas o homem saiu vitorioso, sendo com elevado interesse pela dimensão do peixe que o António observou o triste pescado
não era assim tão grande
a ser arrastado para fora de água. Enquanto o pescador tirava o anzol ao infortunado bicho, reparou o António que não tinha o homem nenhum recipiente para o guardar. Estranhou o facto, talvez fosse tão mau pescador que não estava à espera de ser bem sucedido. Foi com ainda maior surpresa que o António viu o pescador a segurar no estrebuchante peixe, deixar cair a cana de pesca e, depois, com as duas mãos, atirá-lo novamente para o mar. Coisa extraordinária, estava explicada a ausência de recipiente, estava também adensado o mistério da personagem. O que o António gostaria de saber era o que levava um homem a chatear os peixes, o termo é esse, o peixe deve ter apanhado o susto da vida dele, há de ir lá para baixo para o pé da mãe peixe, do pai peixe e dos irmãos peixe a gritar, cuidado, apoquentem-se bem, arrancaram-me daqui para um sítio estranho, lá não se consegue respirar e um gajo grande qualquer com a cabeça encarnada olhou para mim, bem nos olhos, e riu-se e deitou-me para aqui outra vez, foi muito estranho, o maior susto da minha vida, para aquelas bandas não volto eu, aquilo é sítio de tormentos e de coisas estranhas. Talvez respondesse o pai peixe, estamos a supor que o apanhado era de idade reduzida, enfim, a verdade é que era pequeno. Mas dizíamos nós que talvez o pai peixe respondesse para o filho, pois, pois, desse sítio onde se não respira já ouvi falar, é lá em cima, chama-se Inferno, não há nada com que se viva, e tiveste tu muita sorte porque as bestas que por lá andam normalmente deixam-nos morrer asfixiados para depois nos esventrarem, cortarem em postas e comerem. Talvez o filho, de olhos bem abertos como é costume de peixe, perguntasse, mas então, que coisa é essa do Inferno, como sabes tu dessas coisas de religião, ao que o pai peixe, talvez a mãe, sabemos lá nós, talvez ele ou ela lhe respondesse, ó peixito, filho querido, nós já cá andamos há muito tempo, o Inferno é facto certo, corre de boca em boca desde tempos imemoriais, há muito tempo atrás, ouve um peixe como nós que foi lá, depois meteram-no num sítio onde se podia respirar, chama-se Purgatório, aquilo tinha vidros à volta e ele viu tudo, viu todas as atrocidades que aquela gente nos faz, e sortudo, conseguiu voltar, como fez ele tamanho feito ele já não disse, ou melhor, ele até disse mas essa lição eu não aprendi, enfim, o certo é que lá para cima para o Inferno tu não queres ir, só se fores mau, o bom é viveres aqui bem a tua vida, um dia hás de morrer e aí vens ter comigo e com a mãe, que nessa altura também já havemos de ter morrido, lá abaixo ao paraíso, e aí seremos felizes para sempre, não te esqueças da lição que hoje aprendeste, com a tua experiência provaste que o Inferno existe mesmo, o teu conhecimento tem de guiar-nos a todos, tens de salvar os teus irmãos de irem parar ao Inferno, o melhor é anunciares o teu saber a todos. Seria essa a altura em que o quase pescado peixe, pouco certo de tanta convicção paternal, perguntaria, mas como posso fazer isso, eu não sou mais que um simples robalo, que posso eu fazer para salvar a peixandade? Ó meu filho, responderia a mãe peixe, tu podes não ser um peixe-boi porque nada tens de manatim ou lamatim, poderás também não ser um peixe-espada porque nada tens de espada ou espadeirada, também não és de certeza um peixe-martelo porque não tens um martelo nem és cornudo, peixe-rei não és porque aterina, piarda ou pica são nomes que não te ficam bem, também peixe-serra não vejo em ti porque de espadarte ou raposo não tens nada, peixe-voador muito menos, não tens asas nem te chamas cóio, agora meu robalito pequenino, hás de ser tu o maior de todos os peixes, o peixe-messias serás tu, és aquele que hás de acabar com o Reino dos Infernos e trazer a paz a todos nós. Coisa incrível, pensaria o peixito, que grande missão, o melhor seria mesmo fundar uma igreja, igreja de peixes, ele seria o orador, um bom orador, até lhe poderiam chamar de padre, já pensava o peixe nisto tudo, era curioso como os peixes não são assim tão diferentes dos homens, a única coisa de que o grande peixe-messias não se lembrou foi de dizer que praticaria o celibato, é normal, afinal qual é o peixe que posto neste mundo para se reproduzir e trazer mais peixes à vida se lembraria de abdicar de tão importante tarefa, celibato não, se ele estava ali para salvar a peixandade, o primeiro passo era certificar-se de que por ele ela não acabava, não senhor, no que dependesse dele haveria peixes para lavar e durar."
"Às vezes o ser humano é assaltado por estranhas sensações. É surpreendido. O António podia jurar com elevada certeza e convicção que estava ali sozinho. No entanto, repentinamente foi assolado por uma espécie de grito, um irra ou um merda, não percebeu bem, o que percebeu foi que estava ali alguém. Erguendo-se e virando-se para trás, para o lado esquerdo de quem desce, viu um homem, alto e robusto, vestido de xadrez e com uma boina, que lutava com o mar através da sua comprida cana de pesca. Duelo interessante, ficou a observar o esforço do pescador, muito labutava ele, fazia força e dava à manivela, aquilo era um peixe grande de certeza. A peleja durou ainda um ou dois minutos, foi brava mas o homem saiu vitorioso, sendo com elevado interesse pela dimensão do peixe que o António observou o triste pescado
não era assim tão grande
a ser arrastado para fora de água. Enquanto o pescador tirava o anzol ao infortunado bicho, reparou o António que não tinha o homem nenhum recipiente para o guardar. Estranhou o facto, talvez fosse tão mau pescador que não estava à espera de ser bem sucedido. Foi com ainda maior surpresa que o António viu o pescador a segurar no estrebuchante peixe, deixar cair a cana de pesca e, depois, com as duas mãos, atirá-lo novamente para o mar. Coisa extraordinária, estava explicada a ausência de recipiente, estava também adensado o mistério da personagem. O que o António gostaria de saber era o que levava um homem a chatear os peixes, o termo é esse, o peixe deve ter apanhado o susto da vida dele, há de ir lá para baixo para o pé da mãe peixe, do pai peixe e dos irmãos peixe a gritar, cuidado, apoquentem-se bem, arrancaram-me daqui para um sítio estranho, lá não se consegue respirar e um gajo grande qualquer com a cabeça encarnada olhou para mim, bem nos olhos, e riu-se e deitou-me para aqui outra vez, foi muito estranho, o maior susto da minha vida, para aquelas bandas não volto eu, aquilo é sítio de tormentos e de coisas estranhas. Talvez respondesse o pai peixe, estamos a supor que o apanhado era de idade reduzida, enfim, a verdade é que era pequeno. Mas dizíamos nós que talvez o pai peixe respondesse para o filho, pois, pois, desse sítio onde se não respira já ouvi falar, é lá em cima, chama-se Inferno, não há nada com que se viva, e tiveste tu muita sorte porque as bestas que por lá andam normalmente deixam-nos morrer asfixiados para depois nos esventrarem, cortarem em postas e comerem. Talvez o filho, de olhos bem abertos como é costume de peixe, perguntasse, mas então, que coisa é essa do Inferno, como sabes tu dessas coisas de religião, ao que o pai peixe, talvez a mãe, sabemos lá nós, talvez ele ou ela lhe respondesse, ó peixito, filho querido, nós já cá andamos há muito tempo, o Inferno é facto certo, corre de boca em boca desde tempos imemoriais, há muito tempo atrás, ouve um peixe como nós que foi lá, depois meteram-no num sítio onde se podia respirar, chama-se Purgatório, aquilo tinha vidros à volta e ele viu tudo, viu todas as atrocidades que aquela gente nos faz, e sortudo, conseguiu voltar, como fez ele tamanho feito ele já não disse, ou melhor, ele até disse mas essa lição eu não aprendi, enfim, o certo é que lá para cima para o Inferno tu não queres ir, só se fores mau, o bom é viveres aqui bem a tua vida, um dia hás de morrer e aí vens ter comigo e com a mãe, que nessa altura também já havemos de ter morrido, lá abaixo ao paraíso, e aí seremos felizes para sempre, não te esqueças da lição que hoje aprendeste, com a tua experiência provaste que o Inferno existe mesmo, o teu conhecimento tem de guiar-nos a todos, tens de salvar os teus irmãos de irem parar ao Inferno, o melhor é anunciares o teu saber a todos. Seria essa a altura em que o quase pescado peixe, pouco certo de tanta convicção paternal, perguntaria, mas como posso fazer isso, eu não sou mais que um simples robalo, que posso eu fazer para salvar a peixandade? Ó meu filho, responderia a mãe peixe, tu podes não ser um peixe-boi porque nada tens de manatim ou lamatim, poderás também não ser um peixe-espada porque nada tens de espada ou espadeirada, também não és de certeza um peixe-martelo porque não tens um martelo nem és cornudo, peixe-rei não és porque aterina, piarda ou pica são nomes que não te ficam bem, também peixe-serra não vejo em ti porque de espadarte ou raposo não tens nada, peixe-voador muito menos, não tens asas nem te chamas cóio, agora meu robalito pequenino, hás de ser tu o maior de todos os peixes, o peixe-messias serás tu, és aquele que hás de acabar com o Reino dos Infernos e trazer a paz a todos nós. Coisa incrível, pensaria o peixito, que grande missão, o melhor seria mesmo fundar uma igreja, igreja de peixes, ele seria o orador, um bom orador, até lhe poderiam chamar de padre, já pensava o peixe nisto tudo, era curioso como os peixes não são assim tão diferentes dos homens, a única coisa de que o grande peixe-messias não se lembrou foi de dizer que praticaria o celibato, é normal, afinal qual é o peixe que posto neste mundo para se reproduzir e trazer mais peixes à vida se lembraria de abdicar de tão importante tarefa, celibato não, se ele estava ali para salvar a peixandade, o primeiro passo era certificar-se de que por ele ela não acabava, não senhor, no que dependesse dele haveria peixes para lavar e durar."
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
MAIS UM EXCERTO, MAIS UMA VOLTA
Aqui fica um excerto do meu segundo livro, um pequenino, para a frente haverá mais, já que o primeiro tarda em ser publicado o melhor é ir-me entretendo...
"E ele agiria com desprezo por todos os outros. Agiria com indiferença, faria mais e pior do que lhe haviam feito a si, seria implacável. Quando algum dos seus colegas, necessitado de ajuda pela razão directa do seu próprio e inevitável fracasso, ele, por detrás da sua enorme secretária no último andar de um prédio distinto da capital, nesse momento, ele colocaria os pés em cima da secretária, mãos atrás da cabeça e riria, riria com eco, toda a gente ouviria o seu riso, o seu riso maquiavélico de escárnio perante o fracasso. Ele, bem sucedido
só assim se imaginava
desprezaria aqueles que falhariam. Haveria um dia em que aqueles que agora o desprezavam haveriam de o invejar tremendamente. Ele, nesse momento, seria dono do mundo, seria alvo de todas as invejas e senhor de todo o desprezo. Não haveria mais desprezo e indiferença no mundo porque toda essa energia destruidora se concentraria na frieza gélida do seu olhar. A sua vingança seria terrível. Seria avassaladora. Ele seria o vencedor. Ele teria a palavra final. Ele seria o último a rir.
Perante estes pensamentos o Zé sorriu. Quase sentia o sabor da vitória. Pena que faltasse tanto tempo ainda para a saborear. São pensamentos tristes os que aqui se retractam mas é assim o mundo dos humanos: pleno de inveja e vingança. Aliás são mesmo esses grande parte dos motores do progresso do homo sapiens. O facto de cada um de nós simplesmente nunca estar satisfeito com aquilo que tem e desejar sempre mais. E é aí que se dividem os homens. Aí se separam os justos dos injustos. Os justos, insatisfeitos com o que têm, criam coisas novas, imaginam, ligam a máquina infernal que é o cérebro e descobrem, inventam, deslindam e engenham, através do talento transformam o mundo num sítio diferente. Esses são os génios e os artistas. Esses são a vanguarda de um tempo novo. Já os injustos funcionam de forma diferente. Esses, insatisfeitos também, engenhosos também, cheios de talentos mas sem a centelha divina do génio, esses padecem do grande e tormentoso mal que é a falta de imaginação. Assim, cobiçam, invejam e desejam para si apenas aquilo que conseguem ver, apenas aquilo que vêem outros ter mas que eles não têm. Não trazem nada de novo ao mundo a não ser o contínuo e inesgotável talento dos homens para se detestarem a si próprios, de se verem como indivíduos independentes que pura e simplesmente não percebem que o simples acumular do material apesar de muita riqueza oferecer ao indivíduo não lhe saciará a vontade e que riqueza nenhuma acrescentará ao Homem. Assim é a vida.
(...)
Mas também se há uma coisa que nós aprendemos ao olhar para o mundo dos homens é que a História se fez de vinganças, de guerras motivadas por todos os sete e muitos outros pecados, de sangue, de sangue que eternamente ecoará pelas mentes dos culpados e dos inocentes, tristes fados, triste fardo tão pesado de culpa para a Humanidade carregar. Assim foi, assim é e, infelizmente, assim será por muitos e bons anos. Grande mal não faria se os culpados se matassem apenas uns aos outros, seria a Ganância a sua última companheira, o seu último orgasmo, mas infelizmente todos sabemos que não é assim, quando os culpados, injustos sedentos de invejoso poder, quando os pérfidos se gladiam, entre eles poucos morrem,
triste sina
é apenas uma batalha de uma imemorável e inesgotável guerra, para a próxima há mais, pois é, esses safam-se sempre, quem morre são os inocentes, assim foi desde o início de todos os tempos, até Deus mandou os homens matarem inocentes e virginais cordeiros para que Ele pudesse beber o seu sangue. E se Deus o faz, porque não há-de o Homem, feito à sua imagem fazer também. Do pó vieram os homens, a ele regressarão, não sem antes o encharcarem com o seu próprio sangue. Pois. Crescei e multiplicai-vos, crescei e matai-vos uns aos outros, construí e destruí, disseminai o Meu amor e a Minha fúria"
"E ele agiria com desprezo por todos os outros. Agiria com indiferença, faria mais e pior do que lhe haviam feito a si, seria implacável. Quando algum dos seus colegas, necessitado de ajuda pela razão directa do seu próprio e inevitável fracasso, ele, por detrás da sua enorme secretária no último andar de um prédio distinto da capital, nesse momento, ele colocaria os pés em cima da secretária, mãos atrás da cabeça e riria, riria com eco, toda a gente ouviria o seu riso, o seu riso maquiavélico de escárnio perante o fracasso. Ele, bem sucedido
só assim se imaginava
desprezaria aqueles que falhariam. Haveria um dia em que aqueles que agora o desprezavam haveriam de o invejar tremendamente. Ele, nesse momento, seria dono do mundo, seria alvo de todas as invejas e senhor de todo o desprezo. Não haveria mais desprezo e indiferença no mundo porque toda essa energia destruidora se concentraria na frieza gélida do seu olhar. A sua vingança seria terrível. Seria avassaladora. Ele seria o vencedor. Ele teria a palavra final. Ele seria o último a rir.
Perante estes pensamentos o Zé sorriu. Quase sentia o sabor da vitória. Pena que faltasse tanto tempo ainda para a saborear. São pensamentos tristes os que aqui se retractam mas é assim o mundo dos humanos: pleno de inveja e vingança. Aliás são mesmo esses grande parte dos motores do progresso do homo sapiens. O facto de cada um de nós simplesmente nunca estar satisfeito com aquilo que tem e desejar sempre mais. E é aí que se dividem os homens. Aí se separam os justos dos injustos. Os justos, insatisfeitos com o que têm, criam coisas novas, imaginam, ligam a máquina infernal que é o cérebro e descobrem, inventam, deslindam e engenham, através do talento transformam o mundo num sítio diferente. Esses são os génios e os artistas. Esses são a vanguarda de um tempo novo. Já os injustos funcionam de forma diferente. Esses, insatisfeitos também, engenhosos também, cheios de talentos mas sem a centelha divina do génio, esses padecem do grande e tormentoso mal que é a falta de imaginação. Assim, cobiçam, invejam e desejam para si apenas aquilo que conseguem ver, apenas aquilo que vêem outros ter mas que eles não têm. Não trazem nada de novo ao mundo a não ser o contínuo e inesgotável talento dos homens para se detestarem a si próprios, de se verem como indivíduos independentes que pura e simplesmente não percebem que o simples acumular do material apesar de muita riqueza oferecer ao indivíduo não lhe saciará a vontade e que riqueza nenhuma acrescentará ao Homem. Assim é a vida.
(...)
Mas também se há uma coisa que nós aprendemos ao olhar para o mundo dos homens é que a História se fez de vinganças, de guerras motivadas por todos os sete e muitos outros pecados, de sangue, de sangue que eternamente ecoará pelas mentes dos culpados e dos inocentes, tristes fados, triste fardo tão pesado de culpa para a Humanidade carregar. Assim foi, assim é e, infelizmente, assim será por muitos e bons anos. Grande mal não faria se os culpados se matassem apenas uns aos outros, seria a Ganância a sua última companheira, o seu último orgasmo, mas infelizmente todos sabemos que não é assim, quando os culpados, injustos sedentos de invejoso poder, quando os pérfidos se gladiam, entre eles poucos morrem,
triste sina
é apenas uma batalha de uma imemorável e inesgotável guerra, para a próxima há mais, pois é, esses safam-se sempre, quem morre são os inocentes, assim foi desde o início de todos os tempos, até Deus mandou os homens matarem inocentes e virginais cordeiros para que Ele pudesse beber o seu sangue. E se Deus o faz, porque não há-de o Homem, feito à sua imagem fazer também. Do pó vieram os homens, a ele regressarão, não sem antes o encharcarem com o seu próprio sangue. Pois. Crescei e multiplicai-vos, crescei e matai-vos uns aos outros, construí e destruí, disseminai o Meu amor e a Minha fúria"
terça-feira, 2 de outubro de 2007
ESTAR VIVO É O CONTRÁRIO DE ESTAR MORTO
Ode Lilicaneciana
A vida é aquilo que nós não sabemos que ela é.
É a angústia da morte.
É o entretanto. Aquilo que está entre o nascimento e o fim.
Será que haveria vida sem morte? A morte só existe por que vivemos.
A vida só existe porque nascemos.
Se não morrêssemos, não nascíamos.
Existíamos apenas.
Seríamos Deus.
A vida só existe porque há morte.
Viver é morrer.
Não.
Não é assim.
Que vivam os mortos e que não morram os vivos.
Que se cantem as hossanas para sempre.
Que a voz não nos doa.
Que a morte não nos apoquente.
Que nasçam os novos e não morram os velhos.
Queremos tudo!
Eternidade divina.
Sim.
Um dia seremos Deus.
Aí sim.
Aí sim saberemos o que é viver.
Até lá vivemos na ignorância.
Que cantem os tolos.
Que gritem os loucos.
Vivamos a nossa angústia na felicidade da ignorância.
Tristes e felizes.
Contentes e ignorantes.
Vivos.
Ainda.
A vida é aquilo que nós não sabemos que ela é.
É a angústia da morte.
É o entretanto. Aquilo que está entre o nascimento e o fim.
Será que haveria vida sem morte? A morte só existe por que vivemos.
A vida só existe porque nascemos.
Se não morrêssemos, não nascíamos.
Existíamos apenas.
Seríamos Deus.
A vida só existe porque há morte.
Viver é morrer.
Não.
Não é assim.
Que vivam os mortos e que não morram os vivos.
Que se cantem as hossanas para sempre.
Que a voz não nos doa.
Que a morte não nos apoquente.
Que nasçam os novos e não morram os velhos.
Queremos tudo!
Eternidade divina.
Sim.
Um dia seremos Deus.
Aí sim.
Aí sim saberemos o que é viver.
Até lá vivemos na ignorância.
Que cantem os tolos.
Que gritem os loucos.
Vivamos a nossa angústia na felicidade da ignorância.
Tristes e felizes.
Contentes e ignorantes.
Vivos.
Ainda.
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