quinta-feira, 25 de abril de 2013
O PROFESSOR MARCELO E O ESCRITOR CARREIRAS
Afirmo com muito à vontade: nem numa segunda volta renhida para a Presidência da República o Marcelo Rebelo de Sousa leva o meu voto. Da mesma forma como, já há muito, nem sequer oiço,  leio ou vejo o seu "comentário", aliás, para mim, a cada vez que vai  aparecendo, mais o seu valor se vai depreciando. Lembro-me, a  propósito, de um episódio curioso: aquando da hipotética - por ele muito desejada mas não assumida - candidatura a líder  do PSD sobre a qual o "comentador", apesar de afundado em excitados  telefonemas a angariar apoios, afirmava que apenas aceitaria se essa  fosse em lista única (um exemplo excelso de democracia e coragem política),  um destacado dirigente do PSD confidenciava-me que o Marcelo sabia  sobre tudo e parecia sempre um especialista, excepto quando calhava falar sobre  alguma coisa sobre a qual o dito dirigente é que era especialista: aí,  dizia ele, é que se via que afinal era muita parra e pouca uva. Também eu já o apanhei a  dizer barbaridades sobre temas dos quais eu percebo mas este frete que agora resolveu fazer ao Carlos Carreiras ao prefaciar e apresentar de forma elogiosa o "livro" que congrega os paupérrimos artigos escritos por aquele no Jornal i (analisados aqui) é paradigmático: o Marcelo sabe muito bem o que é o "carreirismo",  sabe muito bem o que são os interesses que com ele andam e sabe muito  bem o que é o aparelhismo do PSD e o dano que causa ao país. No entanto, não deixa agora o "Professor" de ter o nervo de vir cantar hossanas a um homem e ao livro que, pelo que me contam, o próprio Carreiras, imagine-se a comédia, assumiu não ter sido escrito por si. Diz Carreiras que apenas deu as "ideias", uma confissão fantástica, afinal não sendo o "livro" mais do que uma colectânea de artigos do Jornal i, significa a revelação, obviamente, que os artigos de Carreiras até podem reflectir as suas (pobres) ideias mas nem sequer são escritos por ele. Não fico admirado com a revelação pois, considerando a pobreza das ideias, até era de suspeitar a clareza da prosa, no entanto, ficamos, pelo menos, a saber que a autoria da única coisa de jeito dos artigos é afinal alheia à pessoa que os assina: é um ás das ideias dos artigos, o Carreiras. Enfim, dá para rir. Já deste episódio, para além da patética confissão do mais recente escritor da nossa praça, não deixam também de sobrar duas  conclusões sobre Marcelo e o seu apoio a Carreiras: a primeira, é que Marcelo é um jogador, como outro qualquer, que põe o seu interesse à  frente do país; a segunda, é que por se presumir mais sério, independente e melhor do que  os outros configura uma fraude ainda maior. Vê-lo vendido ao carreirismo faz-me  lembrar, com a devida distância, o The Damned do Luchino Visconti que retrata a obscena, triste,  quase pornográfica, forma como a aristocracia alemã, pelo seu próprio ego e olhando meramente para o seu umbigo, se deixa corromper e enlevar, acabando por abraçar o alastrante caruncho Nazi. Quanto a Marcelo, azar o nosso, pior para ele que há-de, fruto de  tanta maquiavélica ambição, nunca realizar o seu sonho mais inconfessável: a liderança  política do País. George Bernard Shaw dizia que quem consegue, faz,  quem não consegue ensina: no caso do nosso "Professor" substitua-se o  'ensina' por 'comenta' e temos aí um belo epitáfio de uma carreira  política que nunca aconteceu. Quando à "obra literária", e ao seu afinal não-autor, sobra apenas o ridículo. Que sejam todos muito felizes. 
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