sábado, 22 de setembro de 2012

AI PORTUGAL, PORTUGAL

Estou profundamente preocupado com o futuro próximo do meu país. Parece-me que, infelizmente, se afunilam as condições ideais para uma tensão inevitável e sem solução pacífica: um conflito forte, portanto. As condições para esta tempestade perfeita são três: a fragilidade governamental, a terrível situação estrutural da economia nacional e incapacidade da população interpretar fielmente a realidade dos factos.

Vamos por partes. A segunda e terceira causa estão profundamente inter-relacionadas: a população tem dificuldade em interpretar a realidade dos factos porque ninguém que esteja habituado a viver de uma determinada forma aceita e compreende bem que, repentinamente, tenha que mudar para pior. Mais: na melhor tradição progressista foi-lhe sempre - ao longo dos últimos quarenta anos - vendida a ilusão (até há bem pouco tempo) de que as coisas iriam melhorar sempre. O progresso caminha sempre, diziam eles, para a riqueza, para vivermos sempre melhor. Assim, o país, na senda progressista, abraçando o socialismo voluntarioso e eleitoralista, tem gasto sempre mais do que aquilo que produz precisamente para acomodar estes anseios e estas ilusões: verdade seja dita que nunca um político ganhou eleições a dizer que vamos passar a viver pior.

No entanto, infelizmente - e como era previsível -, porque ninguém pode viver acima das suas possibilidades, o dinheiro acabou-se e chegou a altura de mudar de vida. Das duas uma: ou se produz mais para se poder gastar o mesmo que se gastava ou, então, gasta-se menos para poder viver-se sem maior endividamento. Mas que não hajam dúvidas: o desequilíbrio estrutural da nossa economia há-de endireitar-se (não digo resolver-se mas pelo menos atenuar-se) porque ninguém empresta dinheiro a quem não pode pagar de volta. De uma forma ou de outra a vida vai mesmo ter que mudar. O problema é que a obrigatoriedade de produzir mais e gastar menos não é fácil de aceitar; e, como logo aparecem os oportunistas de serviço sempre a vender ilusões, entre aquele que diz aquela verdade e o político que vende ilusões há uma tentação de ir por este segundo. O mal é troika? Acabe-se com ela. O mal é o governo? Acabe-se com ele. O mal é o euro? Saia-se já. Tudo muito simples, tudo muito fácil de ser apreendido e propagado pelo espaço público: a solução está com os críticos. E quem são estes? Aqueles que ao longo dos últimos anos mais gastaram o que não tinham (o PS) ou que mais reclamaram e ainda reclamam para que se gaste ainda mais o que agora ainda menos se tem (PCP e BE). A desonestidade política da extrema esquerda é tenebrosa e muito perigosa até porque no desespero de não aceitar a situação, ouvir as sereias que cantam facilidades e utopias pode tornar-se tentador. Mas não nos admiremos da aparente estupidez das propostas da extrema-esquerda: no fundo a extrema esquerda deseja o colapso financeiro pois apenas este corroborará as suas teses marxistas; da mesma forma apenas o caos generalizado decorrente do colapso económico lhes permitirá  - imaginam eles - a implementação do seu novo mundo. Até lá, escondem-se na suposta protecção dos mais desfavorecidos. Não tenhamos dúvidas: são esses os mais perigosos adversários.

No entanto a questão de fundo é simples: a vida vai mudar radicalmente. E mais, o principal problema é que ela vai mudar inevitavelmente: qualquer que seja a alternativa que se escolha as condições de vida vão piorar sempre pois teremos que sustentar a vida que levamos e a esta factura ainda acrescentar a da vida que levámos (e que ainda não pagámos). Que o choque com a realidade seja duro e difícil ninguém nega; agora que se recuse a realidade é que não serve de nada. E na forma como nas manifestações populares - legítimas - e na contestação generalizada não existe a menor capacidade de apresentar uma alternativa credível vê-se como a crítica é mais contra o que é do que contra a forma como é. Assim sendo, juntando-se a inevitabilidade do ajustamento estrutural económico nacional com a recusa da aceitação desse facto pela população só se pode esperar um crescendo de insatisfação... e potencial conflito. Quanto mais se recusar o ajustamento mais ele virá à força; quanto mais vier à força maior será a recusa em aceitá-lo. Em última instância se a tese da extrema esquerda for ouvida o colapso do nosso modo de vida será inevitável. E com a miséria virá a violência e a natural perda de direitos liberdades e garantias. Como dizia: de uma forma ou de outra a vida vai mudar.

A única forma de evitar o colapso será através de uma governação forte, clara e, acima de tudo, credível. A  mim parece-me que Pedro Passos Coelho não "perde" o país (que não perdeu) naqueles quinze minutos a comunicar mais medidas de austeridade. Onde me parece que Passos Coelho "perde" a força de que mais necessitava agora é quando não deixa cair Miguel Relvas. A forma como Relvas continua sempre a pulular por aí (agora no estrangeiro para fugir à populaça como se esta o esquecesse), esgueirando-se pelos bastidores governamentais e partidários, "agarrado ao tacho" é uma coisa que irrita o comum dos cidadãos. Depois de sócrates, o pequeno, dar-se de caras o povo português com mais um chico-esperto da cacicagem partidária a quem literalmente nada acontece e não podemos admirarmo-nos por haver uma irritação generalizada: o povo a sofrer e o Relvas é inimputável? A malta a ser espremida e o Relvas no bem bom? Estas frases fizeram mais pela contestação generalizada do que qualquer corte salarial. Foi esta irritação para com uma gritante injustiça que ardeu em lume brando durante os últimos meses que fez saltar a ideia de que também este governo é mais um que está cheio d'eles, no fundo, no fundo, uns eles que são todos iguais. Não podemos exigir os sacrifícios que têm sido exigidos sem oferecer em contrapartida a máxima credibilidade. E foi aí que o Governo - e o o PM em particular - falharam.

Mas o enredo ainda piora. Na pior altura possível o até agora silencioso ministro Portas resolveu falar. Num oportunismo demagógico que deveria envergonhar o mais anónimo militante centrista, lá veio o politiqueiro fazer poitiquice. E se politiquice vale pouco, neste momento vale muito: ficamos com uma coligação governamental que demonstra que, por um lado, tem um partido refém dos seus interesses internos e caciqueiros (PSD e Relvas) e tem, pelo outro, um outro partido refém da sua ambição política desmesurada (CDS e Portas). Talvez a crise total e um PSD abaixo dos 20% seja um cenário que apeteça ao ambicioso Portas mas no meio disto tudo onde fica Portugal? Um joguete nas mãos dos fracos, corruptos e ambiciosos? Um alvo para os demagogos, anti-democráticos e anti-liberais? Um dependente dos ignorantes ou dos oportunistas? Que rumo para este país? Não estamos em alturas para brincadeiras e é bom que os senhores dirigentes dos partidos governamentais percebam isto. O mínimo deslize e as consequências podem ser fatais.

No fundo do buraco onde nos enfiaram os socialistas socretinos e os seus cúmplices (muitos estão aí à volta do novo governo) a vida não vai fácil e chegou a hora da coragem: coragem do povo recusar os cantos de sereias de quem vende ilusões - às quais bastando um pouco de investigação se percebe que não são credíveis: leiam os programas políticos da esquerda progressista e ponderem bem se querem trocar as liberdades que têm nas presentes dificuldades pela miséria escravizada que as soluções que eles preconizam sempre produziram onde foram implementadas. É preciso coragem para aceitar a realidade e recusar as facilidades oferecidas pelas ilusões. E é precisa ainda mais coragem para que os nossos governantes ponham o país à frente de tudo o resto e façam as reformas dolorosas que o país precisa. Estou certo que havendo credibilidade os Portugueses saberão aceitar a necessidade de mudança. Três anos e uma maioria absoluta dão para muita coisa: haja tino nos Srs. políticos porque apenas o fortalecimento virtuoso da governação pode evitar a tempestade perfeita que se avizinha. Isso e uma remodelação governamental.

Um comentário:

  1. Mais uma vez, não podia estar mais de acordo. Nenhum português honesto e mentalmente são, se opõe à redução do seu salário, dentro do limite do razoável. Agora, exigirem-lhe isso e continuar a ver os gastos que o Estado tem sem qualquer justificação, provoca-lhe a revolta que temos visto nos últimos dias.
    E desengane-se quem pensa que o povo é sereno.

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