quinta-feira, 27 de setembro de 2012
A MORTE DA SEGURANÇA SOCIAL
Para um conservador os mortos falam através dos valores e tradições que nos deixaram, tal como os não-vivos, aqueles que ainda não nasceram, também não deixam de ter voz porque, incautos e desprotegidos, vão encontrar o mundo que os vivos lhes deixarem. Não podemos por essa razão deixar de os considerar nos arranjos políticos do momento: um arranjo político que não tem em consideração o futuro é a morte anunciada de uma sociedade, consequentemente, um desrespeito aos direitos dos que ainda não vivem e à memória dos que já viveram. A solidariedade inter-geracional é por isso fundamental mas, como veremos, difere um pouco dos princípios éticos que presidem à génese dos esquemas de segurança social: aqui os novos sustentam os velhos; e aqueles quando chegados a velhos serão sustentados pelos novos de então. No entanto, este esquema de financiamento, difere muito pouco do estratagema que levou Bernard Madoff à cadeia ou que celebrizou um imigrante italiano na América dos anos 20: Carlo Ponzi. Neste esquema prometem-se elevados rendimentos a quem nele quiser investir e vão se pagando os juros com o dinheiro que vai entrando através de novos investidores (atraídos pela confirmação do pagamento de levados juros aos primeiros investidores). Enquanto o sistema for capaz de atrair novos investidores há dinheiro para pagar os juros dos investidores mais antigos; no momento em que deixarem de entrar novos investidores o sistema colapsa pois não há dinheiro para retornar àqueles que no esquema confiaram depositando o seu dinheiro. Se analisarmos bem é precisamente este o esquema da segurança social: enquanto entrarem novos financiadores (trabalhadores no activo) vai-se pagando os juros aos financiadores mais antigos (reformas dos reformados). No entanto, infelizmente, o esquema está a entrar em colapso pois, como para todos deveria ser evidente, há cada vez menos trabalhadores no activo (as taxas de natalidade batem recordes negativos) e cada reformado pretende receber mais juros (porque vivem mais tempo, têm reformas mais longas). Não é preciso ser um especialista para perceber que o sistema tem os dias contados. Pior: não só o Estado gere uma aldrabice (exige dinheiro que não devolverá) como a torna obrigatória; ao menos nos esquemas Madoff-Ponzi só caía quem queria. Hoje em dia os trabalhadores são forçados por lei a financiar um esquema falido do qual garantidamente não virão a beneficiar no futuro; a um esquema assim chama-se roubo e consiste numa verdadeira aldrabice que se não fosse gerida pelo Estado daria seguramente prisão. Infelizmente, não ouvimos falar disto nas manifestações da CGTP, no entanto, mentalizemo-nos: hoje em dia defender verdadeiramente os interesses dos trabalhadores é lutar para que cada um tenha o direito de investir o fruto do seu labor no plano de poupança para a velhice que cada um entender; já lutar pela manutenção de um esquema falido que obriga a gastar agora o que não se receberá depois não é mais do que manter uma injusta e vergonhosa exploração do trabalhador moderno. Mas vá-se lá explicar isto aos Srs. sindicalistas e à esquerda da "solidariedade social": impossível, esses, continuam à espera de descontar os cupões do Carlo Ponzi.
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