segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
OS DÉSPOTAS
Uma das grandes razões para a mais perfeita incompetência política é o ego; quem se ache muito cheio de si próprio, quem se considere o salvador da pátria, quem se defina pelo seu sucesso eleitoral (se votam em mim é porque eu sou bom) não quer esvaziar-se: não quer ser um 'zé ninguém'. Para quem se define em função do poder que tem aqueles que não têm poder serão, forçosamente, ninguém, inexistentes (sem o poder, porque assim se definem, não sobra nem pode sobrar nada). Mas, infelizmente, é esta uma estrada sem fim porque, por dentro, no íntimo, sem a aceitação dos outros (imposta pelo poder) sobra o vazio da ambição sempre por cumprir (há sempre mais um bocadinho de poder que eu, porque sou o maior, mereço). E assim nascem os déspotas: não concordas comigo? Como é possível se eu estou sempre certo? Eu, que sei, decidirei por ti que estás obviamente enganado. Criticas, tu? Então estás contra mim. O conteúdo não interessa a quem não o tem; sobra a forma, o teatro, o vazio das palavras que escondem a mais profunda insegurança de quem apenas aceita o pensamento único: o seu (se eu sou o grande líder aceitar o pensar diferente como potencialmente válido significa poder estar errado; e eu, o grande timoneiro não posso estar enganado pois então perderia o meu poder). Perder o poder não é uma opção pois sem o poder não sobra nada: sem a liderança, o viciado no poder sente-se o tal 'zé ninguém' que tanto despreza por isso, quando se sente acossado, grita, esperneia, injuria sem nunca parar para pensar no monstro em que se está a transformar. E não pode parar, não pode perder. E as linhas do aceitável turvam-se perante a bebedeira , a necessidade, do poder. O déspota já não é um homem: é um corredor deslumbrado para lado nenhum. Num governo despótico são escravos do senhor os que são mandados mas os que mandam são ainda mais escravos: escravos da sua ambição, escravos do seu ódio, escravos da sua miseranda infelicidade; e por isso gritam e esperneiam como os infelizes que são.
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