quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
A PROPÓSITO DO PEDIDO DE DEMISSÃO DE TODA A CLASSE POLÍTICA
Anda por aí um email a circular há uns dias que pede a "demissão imediata de toda a classe política". Há dois elementos interessantes nesta exigência: primeiro o facto de ser imediata; é já, agora, logo, neste momento que a classe política tem que ser demitida; o segundo elemento interessante é o facto de ser toda, ninguém se safa, todos os políticos são iguais, são todos maus e todos, já, têm que ser corridos. Do primeiro elemento, o já, passa uma ideia que é muito normal nos dias de hoje: as pessoas quando querem algo, querem já; um novo telefone? Já. Um novo direito? Já. Uma nova classe política? Já. Que nem os meninos pequeninos, quando apanham uma nova moda, um novo desejo, quando vêem algo que querem, querem já. E arrumar a cama? Já vou. Já fizeste os trabalhos de casa? Já vou. Foste votar? Já vou. Direitos, já! Deveres, logo se vê se me apetece. A infantilização crescente das vontades é um dos maiores legados do consumismo marquetistóide que nos afunda num carrossel de uma permanente ânsia de querer algo novo. E anos e anos alienados da política, do voto, do dever cívico da participação política resultaram num conjunto de maus governantes, incompetentes completos, que nos trouxeram a este buraco. Anos e anos a achar que a política não é nada comigo, anos e anos sem perceber que sem política sobra a miséria. E de repente, quando aperta no bolso, acorda-se e, claro, uma nova classe política já. Do segundo elemento sobra a generalização habitual da superficialidade maniqueísta modernista: é que não há um político que se safe. São todos, sem excepção, maus. És político? Só podes ser um ladrão. Estas simplificações próprias da ignorância, o tomar a parte (os políticos maus e mentirosos) pelo todo (todos os políticos) é o primeiro passo da perseguição política. És político? És corrido. A seguir? Preso. A última vez que demitimos uma classe política inteira circulavam mandatos de captura em branco - já se esqueceram? - e o meu Pai acabou a defender a casa de caçadeira na mão. Autoritarismo ditatorial lá vamos nós. Da ignorância não sai mais nada do que a perda de liberdade, mesmo que seja em nome da 'honestidade', da 'justiça' ou, até, da própria 'liberdade'. Uma sociedade livre e justa, próspera e feliz, uma sociedade desejável constrói-se todos os dias e não apenas quando as coisas correm mal; a boa sociedade conquista-se (e mantém-se) pelo trabalho, participação e vontade, não se exige caprichosamente quando nos apetece. É que os revolucionários, quando aparecem, são sempre bem intencionados - ou será que a história não ensina nada? - o pior é depois: é que ainda não se inventou um sistema para além do bom senso que distinga o certo do errado. E bom senso é coisa que os revolucionários, normalmente, não têm.
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Boa!
ResponderExcluirSz