quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
NAS TERRAS DE LÁ
Platão perguntava-se se entre um rei que sonhasse doze horas por dia que era escravo e um escravo que sonhasse doze horas por dia que era rei se seria qualquer deles mais escravo ou rei do que o outro; faz sentido. Já eu pergunto-me se aqueles que partiram não continuarão vivos enquanto nos aparecerem no mundo dos sonhos. Talvez nesse limbo em que uns vivos e outros mortos se encontram, se abraçam e partilham a a vida de uns e a morte de outros, talvez nesse limbo se encontrem os de lá com os de cá e descubram, todos os dias, que uns são os sonhos dos outros e que, por essa mesma razão, nem os mortos estão mortos nem os vivos vivem. Talvez, pela noite, sejam eles os sonhos que habitam em mim e, pelo dia, seja eu o sonho que percorre a noite deles. Sei, pelo menos, que vou encontrando quem não tenho pelas terras de lá. É assim a vida, felizmente: quando se acabam os dias ao menos sobram-nos as noites.
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