ode delfiniana (soltem os prisioneiros motif)
A madrasta enganadora,
do irreflectido cobiçar,
ensinou-nos no passado,
que a vida seria o pensar.
De tijolo em tijolo,
feitos de nobres pensamentos,
edificámos gigante muro
que ali nos veio cercar.
E se o pensar se faz de tijolos,
até quantos tijolos poderá o mundo pensar?
Sendo muitos, certamente,
não serão tantos quanto seria de desejar.
Por isso, por mais que se construa,
a matéria prima estará, sempre,
condenada a escassear.
E se batemos na cerca,
no invisível limite do nosso pensar,
há que ter calma,
porque da base da vida,
ainda falta algo analisar.
É do sentir que falamos agora,
e desse ninguém nos falou outrora;
é tão nobre acto quanto o pensar,
e há muito mais onde procurar;
há um planeta, uma lua e uma estrela,
há um infinito universal:
Havendo tanto que sentir,
e tão pouco que pensar,
da vontade de perguntar,
porque dá o pensar tão pouco que sentir,
e o sentir tanto que pensar.
domingo, 30 de novembro de 2008
CHIADO
A cada dia que passa, me convenço mais que a profunda vida de uma cidade está mais nos seus excluídos, naqueles que cantam, gritam, pedem e actuam para sobreviver, vivem das suas artes, dos seus engenhos; está mais naquelas estórias inverosímeis e anormais que nunca se inscrevem na História, do que no conjunto amorfo de seres perfeitos, belos, que fazem o que acham que devem fazer, pejados de pessoas veneradas, futuras estátuas de mármore branco, normais, em tudo iguais uns aos outros e que quando passam pelos excluídos anormais, viram a cara com a indeferença própria de quem habituado a tanta "normalidade" já nem sequer reconhece a humanidade noutro ser.
BREVE QUESTIONÁRIO SOBRE A SINTAXE PROGRAMÁTICA DA VIDA SINTÉTICO-SINÉTICA
1. E se a História do Homem for algo pequeno demais para ser contado?
2. E se, por mais que remarmos, nos dirigirmos unicamente para o ponto de partida?
3. E se formos tão pequeninos que por mais que tentemos não chegamos a ser significantes?
4. E se tudo o que conhecermos e tivermos como certo não for mais do que uma singela e dourada (ou negra) ilusão?
5. E se não formos mais do que almas perdidas que se espraiam por este planeta, livres (ou prisioneiras) como o vento (ou como uma criança num carrocel infinito) e que só sopram uma vez?
6. E se não houver vida para lá da vida, que é como quem diz: e se a morte é mesmo aquilo que aparenta ser, ou seja, a ausência de vida?
7. E o que fazemos nós (cada um do respondedor do questionário na sua liberdade pessoal, não refugiado num "nós" que obrigando a todos, não obriga a ninguém, talvez fosse mais correcto perguntar "o que fazes tu") quando compreendemos que todo este mundo que os homens inventaram só faz sentido se respondermos a todas as questões anteriores com as respostas que, de todas, fazem menos sentido?
2. E se, por mais que remarmos, nos dirigirmos unicamente para o ponto de partida?
3. E se formos tão pequeninos que por mais que tentemos não chegamos a ser significantes?
4. E se tudo o que conhecermos e tivermos como certo não for mais do que uma singela e dourada (ou negra) ilusão?
5. E se não formos mais do que almas perdidas que se espraiam por este planeta, livres (ou prisioneiras) como o vento (ou como uma criança num carrocel infinito) e que só sopram uma vez?
6. E se não houver vida para lá da vida, que é como quem diz: e se a morte é mesmo aquilo que aparenta ser, ou seja, a ausência de vida?
7. E o que fazemos nós (cada um do respondedor do questionário na sua liberdade pessoal, não refugiado num "nós" que obrigando a todos, não obriga a ninguém, talvez fosse mais correcto perguntar "o que fazes tu") quando compreendemos que todo este mundo que os homens inventaram só faz sentido se respondermos a todas as questões anteriores com as respostas que, de todas, fazem menos sentido?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
THE ANIMALS SAVE THE PLANET!
Ficam aqui um conjunto de pequenas animações, feitas em plasticina, absolutamente deliciosas sobre pequenas coisas que podemos fazer para impedir a rápida degeneração a que se vem assistindo no nosso planeta. Vale mesmo a pena ver e para quem quiser ver em melhor pormenor pode mesmo aceder aqui.
Vejam e passem aos vossos amigos!
Vejam e passem aos vossos amigos!
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
JOSÉ GIL, "PORTUGAL HOJE: O MEDO DE EXISTIR" (II)
"Vê-se que o o espaço público falta cruelmente em Portugal. Quando há diálogo, nunca ou raramente ultrapassa as «opiniões» dos dois sujeitos bem personalizados (cara, nome, estatuto social) que se criticam mutuamente através das crónicas nos jornais respectivos (ou no mesmo jornal). O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso. É uma espécie de de argumento de autoridade invisível que pesa na discussão: se é X quem o diz, com a sua inteligència, a sua cultura, o seu prestígio (de economista, de de sociólogo, de catedrático, etc.), então as sua palavras enchem-se de uma força que não teriam se tivessem sido escritas por um x qualquer, desconhecido de todos. Mais: a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano de prestígio mediático - que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-o como o melhor, o mais competente, o que realemnte merece estar no palco do mundo.
A não existência de um espaço anónimo de devir das ideias e das obras retira, além do poder de criação, o dispositivo necessário (a mediação) que dessubjectiva o discurso e imperde o choque dos «sujeitos». SE, na maioria dos casos, a crítica, em Portugal, descamba no insulto pessoal, no embate imediato de dois «fulanos» - ou no elogio sobrevalorizante - é por ausência de um terceiro termo que medeie a relação dos dois interlocutores. O elogio desrealizante tem idêntica origem: agora não é o choque se procura, mas o seu avesso, a osmose admirativa máxima, sem mediação, com o outro - duas vertentes de um mesmo tipo de relação."
in "Portugal Hoje: O medo de Existir", pp 28-29
JOSÉ GIL, "PORTUGAL HOJE: O MEDO DE EXISTIR"
"A televisão portuguesa é como toda a gente sabe (e com raríssimas excepções, que toda a gente também conhece) uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação de iliteracia. E a rádio e a imprensa (sempre com excepções que há em tudo)fecham constantemente as aberturas mínimas, as fendas e brechas por onde algum ar fresco, alguma força livre pudesse passar ainda.
(...)O espaço público deveria ser aberto, mas fechando-se, limitando-se, permite que o telespectador, o ouvinte e o leitor sejam imediantamente absorvidos pela sombra branca ou dupla realidade com que se deparam. Por um lado estão ali, o mundo agora, o seu país, a sua cidade ou a sua aldeia, numa abertura virtual de imagens sem fim; por outro é apenas aquilo, com o sentido com que deve ser já pensado, as notícias, os comentários semanais dos comentadores, os pensamentos que confirmam o meu pensamento antes de o ter, a minha existência reduzida a uma massa pastosa que engole as imagens e nunca treme realmente com o que vê ou com o que lê.
É desta forma que a minha vida se insere na vida do mundo, não se inscrevendo nela. O espaço público, essencial à democracia, foi-me roubado. Roubado pelo sistema partidário, pelo sistema representativo, pelo sistema mediático transcendente. DE uma vida nada se inscreve, nela nada sucede por efeito «dos acontecimentos» mundiais ou nacionais que o espaço dos média «reportam» ou «comunicam». É, pois, um acontecimento «para se comunicar» não para eclodir no curso da minha vida. Nada mudou. A sombra estende-se e cobre o mundo inteiro que é Portugal."
in "Portugal, Hoje. O medo de existir", pp 31 - 32.
TEMPOS DE ESCRITA
Escrever é viver. À medida que a caneta rola pelo papel, à medida que a tinta vai escorrendo por páginas a fio, o tempo flui, não penso em mim, vivo o presente e gasto as angústias do meu ser numa sequência, infelizmente finita, de pequenos presentes que se perpetuam.
Pudesse eu escrever corajosamente a todo o momento, que o momento, sendo a única diomensão da minha existência, seria, igualmente, o paraíso infinito da ausência do medo e da ansiedade, emoções que só são sentidas quando, numa psicose racional e humana perdemos o nosso tempo e, ridiculamente, pior ainda: achamos que conseguimos viver fora do presente. Imaginamo-nos, e viajamos ao futuro. Lembramo-nos e viajamos ao passado. Ansiamo-nos. Entristecemo-nos. Sentimos. Ou, talvez mais correctamente, sabemos que sentimos. Porque sentirmos, sentimos sempre. E mais ainda quando disso não nos apercebemos no imediato.
Não há maior contradição do que a escrita, essa torrente de sentimentos sentidos mas disso não sabidos até serem lidos.
Que se faça o Presente de escrita sentida. E que a leitura do que escrevemos seja a lembrança do que sentimos. E o Futuro, não ansiado, aquele pequeno e breve instante que vai do momento em que tal pensamento aflora a nossa mente até aquele outro momento, imediatamente subsequente, em que tal pensamento passa a sentido latente num qualquer pequeno pedaço de papel.
Pudesse eu escrever corajosamente a todo o momento, que o momento, sendo a única diomensão da minha existência, seria, igualmente, o paraíso infinito da ausência do medo e da ansiedade, emoções que só são sentidas quando, numa psicose racional e humana perdemos o nosso tempo e, ridiculamente, pior ainda: achamos que conseguimos viver fora do presente. Imaginamo-nos, e viajamos ao futuro. Lembramo-nos e viajamos ao passado. Ansiamo-nos. Entristecemo-nos. Sentimos. Ou, talvez mais correctamente, sabemos que sentimos. Porque sentirmos, sentimos sempre. E mais ainda quando disso não nos apercebemos no imediato.
Não há maior contradição do que a escrita, essa torrente de sentimentos sentidos mas disso não sabidos até serem lidos.
Que se faça o Presente de escrita sentida. E que a leitura do que escrevemos seja a lembrança do que sentimos. E o Futuro, não ansiado, aquele pequeno e breve instante que vai do momento em que tal pensamento aflora a nossa mente até aquele outro momento, imediatamente subsequente, em que tal pensamento passa a sentido latente num qualquer pequeno pedaço de papel.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
SUAZILÂNDIA
A seguir à fronteira. Depois de uma grande aventura (esperem pelo vídeo) entrámos no paraíso africano. Qual Suiça... Dezembro de 2007
Foto de AVP
Foto de AVP
ÁFRICA DO SUL (V)
Momentos em que perdíamos a respiração. A caminho da fronteira com a Suazilândia, África do Sul, Dezembro de 2007
Foto de AVP
Foto de AVP
ÁFRICA DO SUL (IV)
Eu a caminho da fronteira com a Suazilândia. No topo do mundo! Foi dos melhores momentos que já vivi. Sala ni Chikwenbo!
Foto de AVP
Foto de AVP
ÁFRICA DO SUL (III)
Talvez aqui se veja aquilo de que tanto se fala em relação a África e das coisas que mais senti e mais me impressionou: Espaço. Isso e o cheiro a queimado. E o laranja vivo da terra, cor de barro, barro vivo, quase parece que, em África, tudo se faz de terra, de barro, sejam as casas, as coisas, as pessoas...
Kruger Park, África do Sul, Dezembro de 2007
Foto de AVP
Kruger Park, África do Sul, Dezembro de 2007
Foto de AVP
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
terça-feira, 4 de novembro de 2008
FERNANDO PESSOA
"Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
Fernando Pessoa
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
Fernando Pessoa
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