sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

DESEJO

Para quem não tiver melhor que fazer do que passar por estas bandas durante os próximos tempos fica aqui o desejo de que tenham uns dias bem passados, partilhando com quem se pode e consegue, imunes ao cinismo consumista e inundados da esperança de que dois mil e onze traga aquilo que, de alguma forma, ainda não apareceu: a esperança é tudo. Quanto a mim, Amesterdão, Leiden e Haia; encontramo-nos em Janeiro.

O FACTOR TERMINATOR

A vitória das máquinas sobre os humanos não precisa de uma guerra nuclear ao melhor estilo de Hollywood: basta a individualização atomista, a crescente superficialização emocional e o egoísmo cego do interesse próprio. Nas palavras dos Krafwerk: we are the robots.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A QUESTÃO WIKILEAKS

A NECESSIDADE DA COMPREENSÃO VERSUS A ILUSÃO DA TRANSFORMAÇÃO

A natureza humana é a mesma há milhares de anos: os mesmos problemas, as mesmas ansiedades, as mesmas ilusões e desilusões. Por conseguinte, as principais dinâmicas sociais, na sua essência, são as mesmas também. No entanto, vivemos sobre a ideia de que o progresso e a modernidade nos irão oferecer uma espécie de paraíso terreno onde todos os problemas humanos se resolverão sobre a égide da revolução tecnológica. Nada poderia ser mais falso: qualquer que seja o cenário, a vida dos humanos - a escolha permanente na angústia da existência - permanecerá. Neste sentido o progresso não existe; é apenas uma ilusão criada pela inovação tecnológica pois a essência humana, a ontologia da nossa existência, essa é imutável - logo não progride - porque é simplesmente aquilo que é: a nossa identidade. [No dia em que a essência for outra coisa diferente do que aquilo que tem sido nos últimos - pelo menos - dez mil anos deixaremos de ser humanos] Partindo do pressuposto que o fim último da vida será a felicidade, esta nunca residirá no desejo de transformação da nossa essência mas sim no processo de compreensão, e posterior aceitação (não se pode aceitar o que não se compreende) da nossa própria identidade. Só aquele que se aceita como é poderá ser feliz; o que se auto-recusa viverá sempre na fuga de si próprio: como um cão atrás da sua cauda.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

QUARTOS ESCUROS


O Quartos Escuros faz sete anos (é ligeiramente mais novo que o pensamentos desblogueados) e eu é que tive direito a um poema. Um abraço ao João.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A GRANDE FARSA

"Toda a vida dos mortais não passa de uma comédia, na qual todos procedem conforme a máscara que usam, todos representam o seu papel, até que o contra-regra os mande sair de cena."

Erasmo de Roterdão, O Elogio da Loucura, XXIX (1509)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CONSUMISMO MODERNISTA (II)

Pressupõe a leitura disto.

O problema deste eterno rodopiar na roda do consumismo é que a ânsia que alimenta a roda onde corremos para lado nenhum é criadora, acima de tudo, de insatisfação: viver na roda do consumismo é viver numa insatisfação constante nunca apaziaguada por mais coisas que se adquiram. E nessa espiral insana alimentada pela voracidade da novidade - na ilusão de que desta vez é que a felicidade vai chegar - cria-se dívida, dívida e mais dívida. E assim perdemos a nossa liberdade: vendem-nos sonhos e cobram-nos pesadelos.

CONSUMISMO MODERNISTA

O consumismo modernista pode ser traduzido pela arte de desejar o novo, o mais eficaz e o moderno com o intuito de se gastar o dinheiro que não se tem a comprar aquilo que não se precisa. Como o novo é sempre o que vem do amanhã então o que se acumulou do ontem é o velho, o ineficaz e o antiquado; a procura da novidade, por esta razão, é perpétua. No entanto, apesar dos elementos que perfazem a novidade serem diferentes, o objecto dessa procura é sempre o mesmo: a novidade. Concluindo: o movimento da procura do novo é eterno rumo ao mesmo de sempre; ansiando-se em permanência pelo que não se tem, corre-se sempre para o mesmo lugar, obtendo-se o mesmo de sempre. Como um hamster numa roda.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A INFANTILIZAÇÃO, O CULTO DA JUVENTUDE; A IGNORÂNCIA

"Se os mortais decidissem desiludir-se do amor pela Sofia [conhecimento], e preferissem o comércio com a Folia, nenhum deles chegaria a velho, todos gozariam a felicidade da juventude perpétua."

Erasmo, O Elogio da Loucura, 1509

O HUMANO

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DESABAFO

Nesta sociedade com tão poucos valores e tão profundamente infantilizada não consigo compreender como é que ainda me surpreendo quando sou alvo da mais que expectável falta de educação; a falta de respeito pelo próximo é o exemplo mais flagrante da cobardia e da fraqueza de carácter.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A GÉNESE CRISTÃ DA EUROPA (UMA PERSPECTIVA AGNÓSTICA)

Há muito anti-cristianismo por aí. Muito modernismo que vê os valores cristãos como algo que não faz - ou não deveria fazer - parte da nossa sociedade. Parece-me que há uma importante distinção a fazer entre aquilo que é o dogma da Igreja (que podemos ver como a verdade, como uma interpretação da verdade ou como uma mentira) e os valores cristãos. Se a posição que tomamos perante o dogma é eminentemente privada já a segunda é eminentemente pública: o respeito pelo próximo, a tolerância, a noção de comunidade e que a felicidade é partilhada em paz e com respeito pelo Outro são valores de todos, que afectam todos. Posso não ver o dogma da Igreja como a minha verdade mas vejo os valores do Cristianismo como os meus valores. São, aliás, os nossos valores. Porque a Europa se fundou assente no Cristianismo:
"Para agora importa recordar, apenas, que essa Ordem [a Ordem de Cister] presidia, em todo o Mundo Cristão, à organização político-militar, ofensiva e defensiva, contra o mundo muçulmano. Para isso fundou diversas ordens de monges guerreiros, que ràpidamente se espalharam por todos os reinos cristãos, instalando-se junto à Corte dos Monarcas, constituindo o seu estado maior militar, ao passo que, simultaneamente, uma apertada rede de mosteiros fornecia aos Estados cristãos a ajuda intelectual e moral que veio a constituir o núcleo da civilização cristã capaz de apagar os fulgores do progresso islamita. Entre essas Ordens assim creadas, destacaram-se, entre nós, as dos Templários, Santiago, e Avís, verdadeiros potentados militares que, ao serviço de D. Afonso Henriques, estão na base da fundação do reino de Portugal.
Todas essas Ordens, posto que dessiminadas pelo orbe cristão, estavam directamente ligadas à casa-mãe de Cister, em Claraval, por forma que S. Bernardo, suprema autoridade de toda a organização, dirigia seguramente, da solidão da sua cela, não só a ofensiva geral da cristandade, no período da Reconquista, como a política diplomática dos Monarcas obedientes ao Vigário de Cristo na terra".
Costa Brochado, A Conquista de Lisboa aos Mouros, 1952; p. 18 [mantive o Português da época]
É importante compreender que, apesar de muitas lutas motivadas por disputas de poder, muitas cisões e muito sangue, o advento de Europa tolerante, aberta e respeitadora é uma consequência directa da identidade europeia. Os nossos valores só serão europeus na medida em que concordarem com um processo valorativo que une a génese com o momento presente. Somos, por isto mesmo, todos cristãos na nossa identidade, nos valores que partilhamos. A recusa dos valores do cristianismo hoje em dia representa, portanto, uma recusa da nossa origem e daquilo que nos é comum; representa uma tentativa de criação de uma nova identidade. Se é certo que novos valores não serão forçosamente piores - ninguém de bom senso advoga a não-tolerância ou o não-respeito pelo próximo - preocupa-me a erosão do sentido de comunidade. É importante percebermos que os valores do cristianismo não são importantes por serem cristãos: são importantes porque são nossos. Se esquecermos a nossa identidade comum, como poderemos construir um futuro em conjunto? Este ponto pode parecer menos importante para quem defenda os valores universais modernistas do "somos todos iguais no mundo inteiro" mas representa um problema: os Chineses têm uma cultura própria, os Americanos também e os indianos idem; ninguém duvida que os Árabes a têm. Se não souber a Europa manter a sua identidade (concorrencial com o resto do mundo) será colonizada. Aos poucos e poucos, pela atomização crescente, o individualismo, o consumismo, a não-identidade valorativa lá vai a Europa definhando, incapaz de manter uma curva de natalidade que assegure o futuro desta civilização milenar. Porque não há uma comunidade que sobreviva sem um entedimento comum sobre os valores que partilha, o ataque aos valores que nos unem (e a recusa de aceitar com orgulho de onde vimos e o que representamos) será apenas mais uma pedra no túmulo do nosso desaparecimento.

A GUERRA

O sábio sabe, porque ninguém nasce ensinado, como é ser ignorante; o ignorante, porque não sabe, desconhece o que é ser sábio. Por estas duas singelas razões, o sábio consegue colocar-se no papel do ignorante ao passo que o ignorante não se consegue colocar no papel de ninguém. O sábio, através da empatia - a capacidade de se colocar no papel do Outro - percebe a inutilidade de tudo, coisa que lhe transmite a serenidade da aceitação; já o ignorante vê a serenidade do sábio e por isso cobiça-lhe a sabedoria. E assim, da inveja dos ignorantes, se faz a guerra.

ERNÂNI LOPES, UM GRANDE PORTUGUÊS

                                                            
                                                                        [1942 - 2010]

BE THE LIGHT

Josh Ritter, "Lantern", So Runs the World Away (2010)