PERSPECTIVAS
por VM
Hoje fiz uma coisa que me acostumei a evitar, fui a um centro comercial, em plena hora de ponta- fim de semana. Não tinha realmente escolha, um amigo faz anos amanhã e eu fui lembrada disso ontem. Resultado: aquela porcaria estava a abarrotar de pessoas encarneiradas num consumo ignorante, todas com o seu Visa em punho, na busca do sentido da vida em pequenas compensações. Mal entrei, preparada para pôr a minha cara de aluada (melhor maneira de se imiscuir na tribo dos consumistas, nem muito alegre, nem muito preocupada...simplesmente ausente, como os manequins das montras), tive uma surpresa... o perfume de alguém visitou-me. Era outra pessoa, obviamente, mas o cheiro era tão familiar. Há coisas que nem filmes nem fotografias nos conseguem duplicar, são essas as coisas que realmente nos fazem falta.
A morte é um conceito que não combina com a sociedade de consumo. Praticamente desde que nascemos estamos cientes dela mas parece que 30 anos a pagar uma casa nos tranquiliza, nos hipnotiza, sei lá... Recentemente dei de caras com a morte, ponto a favor: tratamento de choque p’ra por a vida em perspectiva. O que raio andamos aqui a fazer? A cultura do belo, do jovem, do plástico... Somos cada vez mais falsos tanto individualmente como em sociedade. E quando uma pessoa se depara com a impotência perante a morte parece que os filtros cor-de-rosa nos são retirados dos olhos. A morte não é bela e muito menos jovem. Não há maneira de a contornarmos com falsidade. Toca-nos a todos porque um dia nos toca mesmo. E ingénua, tomei tudo isto pela dinâmica de um jogo de computador. Descobri que do lado de cá não se passa de nível com a chave mágica e pontuação bónus. Os momentos marcantes não resultam em alterações drásticas do interface gráfico. Do lado de cá vive-se ao nanossegundo. Não interessa se começa uma guerra ou se morre alguém. Direita ou esquerda, chuva ou sol, pepsi ou coca-cola?
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