9 MESES E UMA VIDA INTEIRA
por VM
Sou mãe.
Dita a sabedoria popular que as mulheres são mais organizadas, especialmente as mães- autênticas máquinas capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Olá, sou o Zé Manel das mães, muito prazer! Sim! Eu sou aquela incapaz de sair de casa em menos de hora e meia, que anda pela rua a semear casaquinhos de malha e bonecos de peluche enquanto tenta ver onde pisa no meio das três mil toneladas de coisas que um pequeníssimo ser hoje em dia não prescinde. Não avisam nos folhetos de planeamento familiar mas deviam: se tem menos de 1m e 60 e/ou a força de um periquito anémico não tenha filhos!
Ainda fico surpreendida com as curvas da minha vida. Os filhos são uma viragem na vida dos filhos de outros. Reparei que a minha mãe tinha vida antes de ser minha mãe...só agora, que também sou mãe de alguém. E no entanto, já não concebo qualquer ideia de vida sem a Matilde (também conhecida como o pequeníssimo ser, possuidor de 3 mil toneladas de coisas). Lá está, nem mais! É mesmo uma viragem na vida. Começa na gravidez, a início é apenas um leve despertar...era a mesma...talvez com uns numerozitos a mais de sutiã, o que, no meu pobre caso, nem era mau de todo. Depois veio a velha máxima “gravidez não é doença”, lembrava-me sempre disso, logo pela manhã, enquanto forçava pela garganta as ampolas de magnésio, as vitaminas, o cálcio e mais sei lá o quê, novamente imprescindíveis ao bom desenvolvimento do pequeníssimo ser...e pensar que as índias lá p’rás Amazonias não tomam ampolas de magnésio! Tsss...que barbaridade!! Lê-se por aí nas revistas da especialidade que a gravidez nos transmite um estado de graça emocional, se com isso querem dizer que tão depressa se chora a ver um episódio do Anjo Selvagem como em seguida explodimos porque pela milionésima vez querem pôr-nos a mão na barriga para “sentir o pontapé”, ok...confirma-se. E num dia perfeitamente igual aos outros, pumba, espinha gelada! Mas o que é que eu ando a fazer?!! Meu Deus, vou ser mãe!! Ah pois...a par da barriga descomunal carrega-se também o peso da responsabilidade. Enterramo-nos em livros tipo “10 passos fáceis para a maternidade” ou “A mãe perfeita”...perda de tempo...mas sempre nos dá a sensação de que estamos a fazer algo para controlar a situação...o que será que lêem as índias lá p’rás Amazónias? Na volta, as entranhas de algum bicho menos sortudo... E para provar que a natureza, ao contrário das mães, é perfeita, eis que chega o nono mês. Não se cabe em lado nenhum, é um trabalhão para se calçar sapatos (geralmente uns bons 3 números acima do habitual) e o magnífico “andar-pinguim” parece ser a única forma do nosso corpo se movimentar- regra geral em idas incessantes à casa de banho. Acaba-se logo o medo, medo de ser mãe, medo do parto, o que for... E então chega o dia D e dentro do dia D chega a hora H e dentro da hora H chega o momento exacto, o nanossegundo preciso em que está mais um pequeníssimo ser entre nós e sentimo-nos o instrumento de um milagre divino. É qualquer coisa épica que nos transforma o olhar. Somos todos filhos de alguém, que no seu nanossegundo preciso, se sentiu um instrumento de um milagre divino. O mundo faz sentido assim. Quantos dedos tem? Pergunta estúpida, mas foi a 1ª coisa que disse na presença da Matilde. E tenho muito orgulho de dizer que tem 20!
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