"Originality is the one thing which unoriginal minds cannot feel the use of. They cannot see what it is to do for them: how should they? If they could see what it would do for them, it would not be originality."
John Stuart Mill, On Liberty (1859)
quarta-feira, 30 de maio de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
SAUDADES DO FUTURO
Quando andamos a ansiar pelo que não se tem de forma particularmente aguda saímos do nosso tempo presente e dividimo-nos entre a antecipação de um momento futuro que se quer alcançar e uma certa insatisfação - que a falta do objecto de desejo causa - pelo momento presente. O agora sabe a pouco comparado com o muito que o depois - aquele depois particular - pode vir a saber. Se for este processo de ansiedade insatisfeita vivido única e exclusivamente por um indivíduo, poder-se-á pensar que vivendo ele uma ilusão do que podendo vir a ser, ainda não o sendo - não existe de facto - acaba por recusar a realidade daquilo que é: o presente. E quem recusa o que tem em nome de uma mão cheia de sonhos? Um louco, talvez. No entanto, na rara circunstância de ser essa ilusão (a que se prefere à realidade, a tal loucura, portanto) partilhada a dois e tudo muda de figura: então a ilusão, porque confirmada por outrem, não poderá deixar de ser, de certa forma, real. Talvez seja essa a loucura que o Amor permite: partilhar-se o que ainda não é. Mas mais ainda: porque aí, nessa peculiar circunstância, apesar da ansiedade, apesar do desejo do futuro, apesar das esperanças desmedidas, apesar de tudo o que nos oferece as saudades de um futuro inspirador, também o momento presente, apesar de pleno de ansiedade, se revela como bom pois, também ele, a par das ilusões, é pleno, cheio, intenso e, acima de tudo: partilhado. Talvez seja isso também o Amor: uma ansiedade partilhada, uma ansiedade que exalta o futuro mas vive o presente. Mas a ansiedade oscila entre a esperança e o receio - e assim não poderia deixar de ser - porque deparando-nos nós com algo que se revela súbita e inexplicavelmente como importante ou, quiçá, fundamental, a mera ideia de perder aquilo que em parte já se tem, acrescida da perda do infinito que se ambiciona vir a ter, revela-se como um risco assinalável, terrível e assustador. E aí quer-se agarrar e anseia-se ainda mais! Mas o agarrar é serenidade meramente aparente porque quanto mais se tem, maior é o risco de se perder. E na verdade nada efectivamente se tem: apenas se vive. No final: é a batalha eterna entre o Medo e o Amor; e todas as nossas armas são tudo ilusão e esperança. E como não poderia deixar de ser assim se o Futuro é ele próprio a ilusão que ainda não é? Talvez o Amor seja isso então: apesar de se saber uma ilusão, acreditar-se que então somos nós tão ilusórios quanto aquilo pelo qual ansiamos, fazendo desses anseios então, por oposição à ilusão que somos nós próprios e pela força da vontade e da crença, tudo o que de mais real se pode vir a aspirar viver. E então a ansiedade ganha um novo nome: chama-se viver, viver de facto. Porque quem não sente o Amor não viveu ainda! E só as pedras não têm medo.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
ESTADO LADRÃO, ESTADO CABRÃO
Ora, o caso é este: o cidadão livre e orgulhosamente detentor do seu direito à propriedade privada compra uma propriedade imobiliária; o Estado vira-se e diz que o uso que o cidadão pode ter na sua propriedade está condicionado por um conjunto de regras. Até aqui tudo bem. Agora, o cidadão, naturalmente, quer saber que uso pode ter afinal na sua propriedade. O mais elementar bom senso diz que o Estado, aquele que restringe os direitos do cidadão, teria a obrigação de informar o cidadão em causa sobre que restrições são estas que são aplicadas sobre a sua propriedade privada (a garantia da liberdade individual). No entanto assim não é; ou melhor, informar o Estado até informa mas não sem antes aproveitar-se da sua posição para extorquir dinheiro ao incauto cidadão através de taxas. No meu caso, para um pedido de informação prévia sobre a minha propriedade, paguei 50€ à Câmara Municipal. Passado um mês fui informado que o meu pedido seria recusado se não pagasse a devida taxa à CCDRA (Comissão Coordenadora do Desenvolvimento Regional do Alentejo) o que veio a perfazer o acréscimo de mais uma taxa de 309€. Passado outro mês recebo do ICN (Instituto da Conservação da Natureza) uma carta a avisar que o meu pedido seria extinto por falta de pagamento antecipado de uma terceira taxa que eu desconhecia por completo (nem tinha obrigação de conhecer pois o meu pedido de informação prévia foi feito à Câmara Municipal) no valor de mais 369€. E os termos da carta são "pagamento imediato", "extinção imediata", pague por transferência, dinheiro ou cheque, o que quiser, MAS JÁ. Em conclusão, meramente para satisfazer o meu direito a saber o que o Estado me deixa fazer na minha propriedade o mesmo Estado cobra-me 728€ só em taxas. É um belo negócio, não é? Roubados, extorquidos e explorados! E para quê? Deve ser o "estado-social" e a "solidariedade nacional", com certeza. Ou isso, ou a incompetência de um Estado corrupto e mal gerido: o socialismo, portanto.
terça-feira, 3 de abril de 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
DO CONSERVADORISMO
A propósito disto, ocorre-me dizer que, contrariamente ao julgo popular, o conservadorismo ideológico tem pouco ou nada que ver com os "conservadores dos valores sociais". O conservadorismo ideológico parte da predisposição ontológica onde, não havendo uma solução para o dilema humano e social (pessimismo antropológico), no risco de uma escolha ser má ou desastrosa, deve sobrar aos indivíduos a responsabilidade das suas próprias escolhas porque não pode nunca ser o Estado a forçar algo do qual não se pode estar certo que seja a solução correcta. O conservadorismo ideológico é então, por natureza, liberal na economia e, também, nas opções privadas de cada um. Já o "conservadorismo dos valores", muito influenciado pela doutrina social da igreja, visa a manutenção de uma determinada ordem social assente em valores que interferem directamente com a vida privada dos seus cidadãos e com as suas opções particulares: é, portanto, neste aspecto anti-liberal. Se no PSD a tensão ideológica é entre os conservadores e progressistas ideológicos (liberais vs social-democratas clássicos) - uma tensão mais evidente no campo económico - já no CDS o debate ideológico será muito mais no campo dos valores. A verdade é que em Portugal não há um partido liberal e dada a génese social democrata do PSD e a democrata-cristã do CDS, os conservadores-liberais ontológicos não têm, definitivamente, a vida facilitada nem um poiso que possam mesmo chamar de seu.
Assinar:
Postagens (Atom)