segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DO EGOÍSMO

Nietzsche diz-nos que "o egoísmo é a lei da perspectiva aplicada aos sentimentos, segundo a qual o que está próximo parece grande e pesado e, conforme nos afastamos, todas as coisas vão perdendo grandeza e peso". E, de facto, apenas assim se explica a leviandade com que tratamos quem lá ao longe, em continentes exóticos e distantes, todos os dias morre de fome sem nenhuma câmara a mostrar o horrível sofrimento, tal como as lágrimas que se gritam histericamente pelo facebook quando alguma tragédia onde, por força do sensacionalismo mediático, através dos telejornais, nos entram os estropiados pela casa adentro. Ficam próximos, emocionamo-nos e choramos, recolhemos bens e dinheiro, enviamos, deixam de ser notícia, passam a estar longe e, por isso, logo são esquecidos porque novamente pequenos e leves se tornaram com a distância entretanto reconquistada. É esse o poder dos media: escolher com quem não somos egoístas por uns instantes. A mesma lei se aplica aos velhos: ponham-nos numa casa de velhos, que morram lá porque longe da vista, longe do coração. Ou à sociedade: quanto mais individualizada é, menos partilha comunitária há por isso, com a distância, logo passamos indiferentes pelos problemas do outro. Não estamos distantes porque somos egoístas; somos egoístas porque estamos distantes.

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