sexta-feira, 12 de novembro de 2010

OS POLÍTICOS E O ESTADISTA

Sinto a necessidade, e já vem tarde, de justificar a súbita, se bem que previsível, aparição daquela fotografia ali no topo da barra do lado direito do blog: sim, eu apoio o Professor Cavaco Silva. E se me quiserem ler até explico porquê. Existirão, na minha perspectiva, dois rótulos com que podemos epitetar as personagens do jogo político. Em primeiro lugar, serão os políticos. O político é alguém que se distingue por ter a capacidade de iludir a realidade antes de ele próprio se desiludir com ela. Será, portanto, um vendedor de sonhos, um progressista, um semeador de ilusões: o político assume um conhecimento (que não tem) do futuro  e entusiasma os restantes com a discrição de algo que não existe (o amanhã). Naturalmente, quando o amanhã, com todas as suas incertezas e na sua plena complexidade chega tende a ser diferente do rudimentar sonho do político. Com toda a naturalidade, desmentido pela realidade, após gastos inauditos num sonho por concretizar, sobra ao político culpar (quem?) , o mundo, pois claro. Destes temos aos pontapés: e por isso estamos como estamos. A outra categoria de personagem política é o Estadista. O Estadista distingue-se por ter a capacidade de não se iludir por sonhos descabidos e, ao contrário do político, não pretende iludir ninguém porque já está ele próprio, o Estadista, desiludido com a realidade. Ele não pretende conhecer, ele conhece. Ele não faz crer que compreende; ele compreende, de facto. Porque sabe que a realidade é complexa compreende que não pode mudar tudo o que imaginaria poder ser mudado e, por esta singela razão, consciente das suas naturais humanas limitações, pretende apenas contribuir para que as pessoas, através de correctas e simples medidas, possam genericamente viver melhor. É um conservador, portanto: a vida já é complicada o suficiente para que um qualquer vendedor de sonhos a complique ainda mais. Do político progressista sobra, normalmente, um declínio no nível de vida e uma dívida que alguém terá de pagar; do Estadista deriva, normalmente, uma melhoria generalizada das condições de vida. E que se poderá pedir mais a uma personagem da política se não que contribua para que aqueles que o elegeram vivessem melhor? Em Portugal, políticos tivemos e temos muitos; Estadistas, tivemos poucos e vivos só temos um. Apenas o Professor Cavaco Silva conseguiu fazer com que, com muitos erros e defeitos, certamente, após a sua passagem pelo Governo as condições de vida, a saúde financeira e económica do país e o bem-estar económico e social conhecessem verdadeira e factual melhoria. E, neste caso, uma melhoria abissal. É, efectivamente, um Estadista, alguém em que eu consigo confiar. Apesar de ter desejado um primeiro mandato mais interventivo, entre o que aqui se descreve e os dois ou três semeadores de sonhos contradizentes a cada semana que passa que se lhe opõem, a escolha não se me afigura difícil; nada difícil, diria mesmo óbvia.

2 comentários:

  1. Há que ter sempre muito cuidado com os exageros de avaliação.
    É que o Dr. Cavaco Silva, tendo feito muitas coisas boas também cometeu erros que se estão agora a pagar. Po exemplo, foi o pai do "monstro" por ele próprio classificado como tal. Não fosse a Dr.ª Manuela Ferreira Leite ter tido a coragem de suspender os automatismos de promoção e carreiras na Função Pública e já teríamos chegado ao ponto de hoje há alguns anos. Por outro lado a prática de "Estadista" tem muito que se lhe diga. Veja-se o folhetim da candidatura à Presidência da República sacrificando decisões críticas para o País em prol do seu próprio calendário. Estamos onde estamos por causa do Governo e não só. Também por causa da "ponderação inactiva" do Sr. Presidente.
    Tenho algumas dúvidas que o saldo para o País seja positivo.

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  2. Erros todos cometem e todas as avaliações são exageradas, porque individuais - que eu saiba a independência de perspectiva é atributo de deuses e de aldarabões: não sou nem um nem outro. Aliás, nem se afirmou o contrário; na criação do "monstro" é preciso fazer as devidas comparações da realidade económica e financeira do país a cada - seu - tempo e presumir que muitos dos problemas e erros não seriam compensados - resolvidos é um processo de intenção: a culpa do assassinato do serial killer é do pai dele? Também, mas acima de tudo não; afirmar que a "ponderação inactiva" é um cálculo eleitoral é outro processo de intenção: talvez seja uma estrita interpretação constitucional (ler a constituição e ver que poderes e circunstâncias se faz dela talvez fosse um bom debate presidencial para que não haja surpresas Sampaianas - ou essa interpretação alargada é que estava certa? -; quanto ao saldo, cada um faz o balanço que quer, talvez se possa preferir o desnorte da alegria, o vazio da nobreza ou o radicalismo do marxismo. A cada um a sua ilusão. Abraço.

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