terça-feira, 23 de novembro de 2010

MANIFESTO ALENTEJANO: A CRUZADA PELA ROLHA DE CORTIÇA


Documentário: "Forest in a Bottle" from EcoLogicalCork.com on Vimeo.


Sou um Alentejano de coração. Costumo por lá andar, quer perdendo-me por entre os seus sobreiros e oliveiras, quer mergulhando no azul único do seu oceano atlântico. Uma costa irrepetivel, imensa e selvagem que delimita o fim da Europa e o começo do fim do mundo: depois do Alentejo não há mais o mundo dos homens. E é nesse estertor final da civilização europeia, dita Portuguesa porque diferente do resto da Europa, que se penetra num mundo mágico e improvável. Desde as planícies que nos inundam de um espaço que o continente já perdeu, até aos montes que nos oferecem vistas sem fim, alentejanar é perdermo-nos. É irmos à deriva por uma terra batida que acaba nunca, respirando o picante das estevas para depois, limpando o suor purificador que nos escorre pela fronte, descansar por debaixo da cortiça de um sobreiro, sonhando que - nas palavras do poeta - haja paz do lado de lá dos montes. Fechar os olhos e deixar a brisa percorrer-nos o corpo ouvindo, ao longe, os diferentes cantares do pássaros ou o badalo de uma vaca e, enlevados, deixarmo-nos sonhar. Alentejo é liberdade porque nos faz sonhar; porque podemos sonhar. E, à noite, com um jarro de barro cheio do espesso e aveludado tinto, sentados numa mesa de madeira com pregos de ferro, comungar com o Outro sobre o que é isto de ser humano. Venha a açorda que amanhã é outro dia. E ri-se a alentejana, com aquele seu ar sabido e simultaneamente tímido; fugidia, mas uma mulher de armas: são bonitas as alentejanas. No Alentejo vive-se outro mundo: não há Chanel, Sephora ou Zara, nem há IPad's, Iphone's ou wireless; também não há betos, dredes ou nigga's, homo, hetero ou metro sexuais. No Alentejo há homens e mulheres: levantados do chão, como os Trovoada, espraiam-se pela planície sem fim. Vivem e morrem dentro da taipa e debaixo dos sobreiros, desde sempre e para sempre. Não há tempo, há gente. Gente que vive e morre como gente que é e não como o píxel televisivo que gostaria de ser. Identidade: Alentejo é viver porque permite viver como verdadeiros homens e mulheres que são.

Depende o montado Alentejano e toda a vida única que nele habita de comprarmos nós - sim, depende de nós -  garrafas de vinho com rolha de cortiça: sem rolhas de cortiça, desapareceria a indústria da cortiça o que tornaria o sobreiro numa árvore não rentável. E depois seria uma questão de tempo até vermos qualquer outra coisa no seu lugar. E toda a vida selvagem do Alentejo depende do sobreiro. Para mim uma garrafa de vinho sem rolha de cortiça não é uma garrafa de vinho. Não o é por questões culturais, enófilas e, também (como o documentário comprova) ambientais. Nós podemos verdadeiramente fazer a diferença e o Alentejo agradece. Espalhemos, portanto, a boa nova: comprando garrafas enrolhadas com cortiça e recusando as roscas metálicas ou as rolhas plásticas contribuímos directamente para a preservação sustentável de uma das belezas naturais de Portugal, e do mundo, bem como do seu único e irrepetível modo de vida.


*[E os senhores da Quinta do Côto com o seu marquetinzinho oportunista a impingirem a rolha metálica de rosca [ah, é tão mais fácil, rápido e eficaz; é novo, moderno; é o progresso que vem do estrangeiro; infiéis! Traidores! Pequenos ajudantes de Satã que formam esta sociedade IKEA, higiénica e de plástico que vive no imediato e tem, que nem as criancinhas, de ter tudo o que quer , sem trabalho, agora e sem esforço; coitadinhos dos humanos retrógados que ainda têm que sacar rolhas de uma garrafa; irra, não se pode sequer ter trabalho com uma rolha (gosto, seus robóticos humanóides, abrir uma garrafa de vinho é um gosto, um prazer)] mas, dizia eu, esses senhores da Quinta do Côto, na esperança de fazerem mais uns cobres, tentarem vender mais mesmo que nunca tão mau o seu vinho tenha sido como o é hoje, a esses senhores grito-vos, em plenos pulmões: ide-vos empalar no poste mais próximo! De preferência um bem alto e pejado de ferrugento arame farpado. Ignorantes oportunistas.]

Um comentário:

  1. E usem um poste de inox ou de qualquer material higiénico, importado da China e com manual de instruções de montagem de designers escandinavos, para que a penetração seja mais suave a lubrificada e com selo de aprovação da UE, porque vocês não são portugueses nem são nada, não valem o escarro de um agricultor alentejano orgulhoso do seu produto de qualidade e das suas raizes. Merecem ser banidos de qualquer adega.

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