segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O SENTIDO DA VIDA

Não sei bem como começar esta história. Não sou escritor, pelo que penso que não saberei escrevê-la de forma conveniente. Para piorar ainda mais o nível de dificuldade da tarefa apesar do indelével interesse da mesma não sei bem como apresentar a história que vos quero contar. Há histórias que são inventadas e as pessoas gostam, imploram mesmo para as ouvirem por mais de uma vez – ai Adérito, conta lá ao Júlio como foi daquela vez que estiveste em Barcelona. Outras são meramente relatos fidedignos e, por essa estrita razão, assumem-se como mais um pequeno pixel na pastosa massa que compreende a nossa realidade. Nada de especial, a realidade, seja ela tida como mágica ou mero espasmo temporal, a verdade é que é real – igual para todos., portanto banal. Que há de especial então que mereça ser contado? Não sei responder a tal questão, no entanto, por vezes, não haverá maior sucesso ao contar uma história do que a mais fina certeza da sua veracidade: - garanto-te que foi assim mesmo que se passou, dirá o narrador ufano do seu feito de contador de histórias, e o pasmo será geral, precisamente porque se assegura a veracidade do relato que se apresenta. No presente caso, a história que pretendo contar será, por um lado uma invenção da minha mente, porque tudo o que penso não deixo de, até certo ponto, inventar. Por outro lado, porque sei que é real, então a história também o será. Uma invenção real, portanto. Como definir a história então? Por ventura poderei começar por afirmar que é uma grandessíssima merda. É melhor assumi-lo já. Uma poia contada. Uma bosta verbal veiculada por quem não tem nada melhor do que fazer do que aborrecer alguém com um pedaço insignificante da sua desinteressante vida pessoal. É assim a solidão. Até um pedaço de presunto que se alojou na cova de um dente durante três irritantes dias se torna motivo de conversa. Então, como vai, perguntou ele - o velho – em tom apressado, próprio de quem apenas assegura o cumprimento de uma obrigação social; ai, Sr. Castelo – disse a velha -, nem queira saber – e não quer mesmo – a ciática não me larga e – agarra-lhe o braço – agora com a mudança do tempo está pior, insuportável, sou uma desgraçada da vida, que terrível coisa esta, apenas estou para aqui à espera que a terra se abra e me engula por ela adentro, pelo magma do manto até ao núcleo de ferro, arderei no Quinto dos infernos, arderei – quero ser cremada, sabia? – arderei até não haver mais nada por onde arder. É uma história também. Uma história que ninguém quer ouvir. A solidão dos homens faz-se plena de histórias que ninguém quer ouvir. Por essa razão, não sei sequer porque quero eu contar a história que quero contar e que, por ventura, ninguém quererá ouvir. Talvez porque, penso eu, esta história, apesar de ser uma merda, é uma merda linda. Perfumada, perguntarão vocês? Também. Se um perfume é cheiroso ou não será uma matéria de subjectiva opinião. Mas é uma merda linda, mais do que perfumada, é bonita. Intensa. Estruturalmente bem feita. Uma merda mas uma merda perfeita. Não deixa de ser uma merda, atenção; é simplesmente a merda mais extraordinária do mundo. Talvez a verdadeira razão por detrás de tal vontade contadora de histórias seja o facto desta história encerrar dentro de si própria o mais profundo e desejado tesouro que a humanidade , desde sempre, procurou. Como assim?! Um tesouro? – acenas com um tesouro e todos te seguirão, disse o Sr. Laurentino -  exacto, respondo eu: encerra a história que vos vou contar o segredo para a compreensão do sentido da vida. Não pode ser, isso é impossível, ninguém sabe com toda a certeza qual o sentido da vida, dirão vocês. Bem, responderei eu, quem ler a minha história, lê-la bem, mesmo bem, ficará a saber qual o sentido da vida. Ah, conta, então – o marqueting faz sempre efeito – por favor elucida-nos com a tua suprema sapiência. Ora, pois com certeza. Então a história reza assim: [voltar ao início]

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