terça-feira, 29 de dezembro de 2009

SOBRE O DISCURSO DA MODERNIDADE

Tenho de dizer que me irrita. Muito. Irrita-me o facto de haver uma conotação evidente entre o novo e o bom. Basta ver um qualquer anúncio para perceber que devemos comprar determinada coisa porque é nova. E porquê? Porque se essa coisa é nova, então é boa. E isto é o que me entra nos nervos. Será que esta gente não percebe que a novidade tanto pode ser boa como má? Dizer que o novo é bom é a assumpção da identidade acrítica perante a mudança. A mudança não é um valor per si. É uma consequência da aceitação de algo novo que foi entendido como bom. Não se muda só por mudar. Muda-se quando vale a pena. Quando é para melhor. E, evidentemente, nem sempre é assim.
Esta idiótica ideia de que o que é novo é forçosamente bom leva ainda a outra imbecilidade: A ideia de que o que é velho é mau. O que não falta por aí é essa ideia glorificada em clínicas de operações plásticas e nessas personagens trágicas que para aí andam, todas com a mesma cara, coitadas. Logo, os valores, porque são velhos são maus. Isso é coisa do século passado. Logo, a tradição porque é velha é má. Logo, os nossos pais, porque são velhos são maus. Experiência? Que nada. Infantil idiotice, enfim. E é assim, nesta triste ilusão de uma modernidade ansiada, desejada e nunca sentida que as eternas crianças caminham, rindo e cantando, rumo ao abismo, que sendo novo não se entende como abismo, fugindo de um lobo mau que só foi idealizado por um qualquer escritório marquetista na tentativa de vender mais um computador Magalhães, ou outro lixo plastificado qualquer. No culto do futuro, aniquilam-no. Na busca de uma cenoura imaginária, morrem de fome.

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