Perante o início da noite africana vejo-me sozinho no meio do nada. O homem que a enfrenta acaba por se deparar consigo próprio.
Mas o Fogo é companhia. E a estranha ave que faz um barulho parecido com gotas de água a cairem, mas de uma forma electrónica, e mais a sinfonia dos quatro, cinco, seis ou sete cantos diferentes que ecoam pelo mato, rico e barulhento mato, sons psicadélicos naturais, psytrance mental, os grilos também, eles bem sabem, pode a tecnologia tudo aquilo que o Homem pode mas não faz o Homem aquilo que o Todo quer, sabe, pode e canta, tudo isso explode em sons desconhecidos, nada que antes tivesse ouvido, entranha-se, entranha-se bem fundo, a cada minuto é diferente, a cada minuto é melhor.
A Natureza é psicadélica. E o meu pensamento vai e foge. E voa. E pensa. Pensa o que rodeia e pensa-se a si próprio.
Como pode um homem rodeado de tanta vida estar sozinho? Não está.
E o Fogo acolhedor, quente, que nem Prometeu nos prometeu, a hipnotizar-me. Ajeito as brasas que se vão formando. Bebo mais um gole de vinho. E ponho mais um tarolo nas chamas. Inspiro fundo porque me invade a calma da comunhão com o Infinito. Quando inspiro inalo o aroma a parafina que os candeeiros mandam fora. Não há luz electrica. A vida afinal é tão simples. E África inteira naquele momento cheira a parafina queimada. A luz que emana desses candeeiros é tão mais viva e redonda e cheia e grossa e intensa e eu vivo-a, vivo-me e é fantástico. Rio-me sozinho.
Ajeito outra vez as brasas. Bebo mais um gole de vinho. É noite. Embrulhado na névoa que exala dos candeeiros, aquecido pelas brasas que estalam e crepitam, penso que tenho fome. Bebo mais um gole de vinho. Está na hora de pôr a carne ao lume.
Ler os teus últimos textos, deixou-me um cheiro a África e uma vontade de lá voltar... lindo e ao mesmo tempo triste, principalmente no que respeita a Maputo..
ResponderExcluirExcelente. Fui crítico confesso do teu estilo... mas estou feliz por admitir que vejo evolução e que gosto muito desta evolução. Sente-se que a "pena" não é mais do que um outro membro que te liga directamente ao papel. Mais uma vez, excelente.
ResponderExcluirps: eram rãs, Lebreiro, eram rãs que faziam o tal chinfrim psicadélico
Abraço