Os leõs caminham em fila indiana. Atrás da leoa. Comunicam pelas caudas. Agem em equipa. Parecem fuzileiros, tropas, soldados, fazem o mesmo que os homens fazem na guerra. São guerreiros. São seres em guerra. Guerra constante e permanente. Descansam durante o dia e lutam pela vida durante a noite. Vão pela estrada porque não querem ser picados pela mamba preta que habita o mato. Ali vão eles. Se não matarem morrerão de fome. Vê-se uma girafa ao fundo. Mas eles não a vêem. Ela por hoje safa-se. Amanhã sabe-se lá. A irmã dela morreu a semana passada nas garras dos primos dos que aqui vão agora. Coitada da girafa. Coitados dos leões que se não comessem a girafa morriam de fome. Coitados deles todos. Coitados de nós.
Ali vão eles em guerra. Guerra com os outros animais pelo seu território, pela hierarquia e pelo alimento. A vida selvagem é um estado de guerra natural. E eu a vê-la.
Também o Homem é assim, ocorre-me naquele momento. Também o Homem já viveu e muito dele ainda vive como aqueles leões que vão ali à minha frente.
Aquilo que nos distingue dos animais é precisamente a capacidade de vivermos em paz. E de repente lembro-me que somos todos o mesmo. E talvez seja maior a diferença entre o homem pacífico e o homem beligerante do que entre o homem beligerante e o animal irracional. Guerreiros há muitos. Resta a nobreza daqueles que não têm alternativa.
Está ali uma impala. Foge rapidamente e tenta obter a atenção dos leões. Estranho comportamento para uma impala. Estará louca? Não. Corre é o sério risco de se sacrificar para salvar o pequeníssimo impalita que está aconchegado naquele pequeno buraco do qual ela quer retirar as atenções. E ainda dizem que o amor é só dos homens. Mas a impala safa-se. E o filho passa despercebido. Por hoje. Amanhã é outro dia.
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