domingo, 13 de janeiro de 2008

NGALA, O GUERREIRO DA NOITE

Os leões seguiam a leoa em fila indiana. A noite caía e começava a envolver tudo o que rastejava pelo mato africano. Os leões paravam volta não volta para cheirar. Antes de partirem, estavam a dois metros de mim. Não tinha uma porta nem uma janela. Um metro e meio talvez. É grande o leão. Ele olha para mim. Tem força o olhar do leão. Puro. Forte. Poder sem culpa. Vida sem interrogações.
Os leõs caminham em fila indiana. Atrás da leoa. Comunicam pelas caudas. Agem em equipa. Parecem fuzileiros, tropas, soldados, fazem o mesmo que os homens fazem na guerra. São guerreiros. São seres em guerra. Guerra constante e permanente. Descansam durante o dia e lutam pela vida durante a noite. Vão pela estrada porque não querem ser picados pela mamba preta que habita o mato. Ali vão eles. Se não matarem morrerão de fome. Vê-se uma girafa ao fundo. Mas eles não a vêem. Ela por hoje safa-se. Amanhã sabe-se lá. A irmã dela morreu a semana passada nas garras dos primos dos que aqui vão agora. Coitada da girafa. Coitados dos leões que se não comessem a girafa morriam de fome. Coitados deles todos. Coitados de nós.
Ali vão eles em guerra. Guerra com os outros animais pelo seu território, pela hierarquia e pelo alimento. A vida selvagem é um estado de guerra natural. E eu a vê-la.
Também o Homem é assim, ocorre-me naquele momento. Também o Homem já viveu e muito dele ainda vive como aqueles leões que vão ali à minha frente.
Aquilo que nos distingue dos animais é precisamente a capacidade de vivermos em paz. E de repente lembro-me que somos todos o mesmo. E talvez seja maior a diferença entre o homem pacífico e o homem beligerante do que entre o homem beligerante e o animal irracional. Guerreiros há muitos. Resta a nobreza daqueles que não têm alternativa.
Está ali uma impala. Foge rapidamente e tenta obter a atenção dos leões. Estranho comportamento para uma impala. Estará louca? Não. Corre é o sério risco de se sacrificar para salvar o pequeníssimo impalita que está aconchegado naquele pequeno buraco do qual ela quer retirar as atenções. E ainda dizem que o amor é só dos homens. Mas a impala safa-se. E o filho passa despercebido. Por hoje. Amanhã é outro dia.







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