Sinto a necessidade, e já vem tarde, de justificar a súbita, se bem que previsível, aparição daquela fotografia ali no topo da barra do lado direito do blog: sim, eu apoio o Professor Cavaco Silva. E se me quiserem ler até explico porquê. Existirão, na minha perspectiva, dois rótulos com que podemos epitetar as personagens do jogo político. Em primeiro lugar, serão os políticos. O político é alguém que se distingue por ter a capacidade de iludir a realidade antes de ele próprio se desiludir com ela. Será, portanto, um vendedor de sonhos, um progressista, um semeador de ilusões: o político assume um conhecimento (que não tem) do futuro e entusiasma os restantes com a discrição de algo que não existe (o amanhã). Naturalmente, quando o amanhã, com todas as suas incertezas e na sua plena complexidade chega tende a ser diferente do rudimentar sonho do político. Com toda a naturalidade, desmentido pela realidade, após gastos inauditos num sonho por concretizar, sobra ao político culpar (quem?) , o mundo, pois claro. Destes temos aos pontapés: e por isso estamos como estamos. A outra categoria de personagem política é o Estadista. O Estadista distingue-se por ter a capacidade de não se iludir por sonhos descabidos e, ao contrário do político, não pretende iludir ninguém porque já está ele próprio, o Estadista, desiludido com a realidade. Ele não pretende conhecer, ele conhece. Ele não faz crer que compreende; ele compreende,
de facto. Porque sabe que a realidade é complexa compreende que não pode mudar tudo o que imaginaria poder ser mudado e, por esta singela razão, consciente das suas naturais humanas limitações, pretende apenas contribuir para que as pessoas, através de correctas e simples medidas, possam genericamente viver melhor. É um conservador, portanto: a vida já é complicada o suficiente para que um qualquer vendedor de sonhos a complique ainda mais. Do político progressista sobra, normalmente, um declínio no nível de vida e uma dívida que alguém terá de pagar; do Estadista deriva, normalmente, uma melhoria generalizada das condições de vida. E que se poderá pedir mais a uma personagem da política se não que contribua para que aqueles que o elegeram vivessem
melhor? Em Portugal, políticos tivemos e temos muitos; Estadistas, tivemos poucos e vivos só temos um. Apenas o Professor Cavaco Silva conseguiu fazer com que, com muitos erros e defeitos, certamente, após a sua passagem pelo Governo as condições de vida, a saúde financeira e económica do país e o bem-estar económico e social conhecessem verdadeira e
factual melhoria. E, neste caso, uma melhoria abissal. É, efectivamente, um Estadista, alguém em que eu consigo
confiar. Apesar de ter desejado um primeiro mandato mais interventivo, entre o que aqui se descreve e os dois ou três semeadores de sonhos contradizentes a cada semana que passa que se lhe opõem, a escolha não se me afigura difícil; nada difícil, diria mesmo óbvia.