terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
A (VERDADEIRA) CIVILIZAÇÃO \ Um grito da Bélgica
Enquanto no sul da Europa se criavam civilizações avançadíssimas que desbravavam os mistérios do mundo ao mesmo tempo que viviam as suas vidas rumo a um ideal de felicidade humana no qual os prazeres gastronómicos - e o vinho! - tinham lugar primordial, enquanto isso, os bárbaros do norte da Europa urravam e decoravam-se com ossos e chifres nas cabeças ao mesmo tempo que chafurdavam nos lamaçais invernosos em que pastavam. Hoje, na Europa, querem que sejamos todos bárbaros: até o bacalhau, essa divindade marítima que apenas os ignorantes não sabem salgar, até o bacalhau, querem barbarizar. E, para cúmulo, acham-se os maiores. Acham que sabem. Talvez esteja na hora de perceberem que certezas não as há, que verdades só no campo da fé e que a vida - a vida feliz! - precisa de um pouco mais de apreciação do percurso do que meramente viver obcecado com os fins. Isto, os bárbaros não percebem; e isto tenho eu medo que nós, Portugueses, sábios da vida milenar, fruto desta barbaridade em que se tornou a vida contemporânea, nos venhamos a esquecer. Hoje, para o jantar, um tinto Alentejano; porque as zurrapas que esta gente bebe - e não exagero! - nem para limpar os pés. Para comer? Ainda não sei. Mas mete azeite bem lusitano, alhos e coentros; porque o que esta gente para aqui enfia pela boca abaixo nem um cão lusíada esfomeado lhe tocava. E o azeite deles? Nem para olear portas. Bárbaros loucos! Não foi à toa que Ulisses se deu ao trabalho de ir tão longe fundar Lisboa: a verdade é que Portugal é a salvação da civilização. A última esperança!, pois que para além de Olivença, civilização é coisa que já há muito que não há; e foi precisamente por isso que nos idos de quatrocentos, cheios de génio, optámos pelo mar. E enquanto o mar existir e nele ecoarem imemoriais murmúrios em português; enquanto as amendoeiras de Trás-os Montes florirem e as ondas banharem esse imenso Alentejo; e enquanto o Pantagruel, nem que passado de mão em mão, for lido pelas novas gerações, cá haveremos de continuar. Hão-de ir à vida os bárbaros (que não a viveram) e Portugal sobreviverá. Para isso, rogo aos deuses: que não nos esqueçamos!; que nos lembremos do que somos! E sobra, finalmente, no fundo bem português, uma secreta e serena tranquilidade: enquanto houver ventos e mares a vida vai continuar.
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