quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A ESTUPIDEZ VIRTUOSA

"O maior perigo. Se não tivesse havido sempre uma maioria de homens para os quais a disciplinas do seu espírito - «a sua racionalidade» - constitui uma questão de orgulho, uma obrigação, uma virtude, sentindo-se ofendidos ou humilhados por todas as fantasias e divagações do pensamento, na sua qualidade de amigos do «bom senso comum», a humanidade já há muito teria perecido. (...) Continuamente, esta crença, enquanto crença universal, inspira náusea e uma nova cupidez nos espíritos mais subtis; e o ritmo lento que é aqui exigido para todos os processos espirituais, esta imitação de tartaruga que é reconhecida como norma bastaria para transformar artistas e pensadores em apóstatas. É nestes espíritos impacientes que irrompe um verdadeiro prazer na loucura, porque a loucura tem este ritmo alegre! São necessários intelectos virtuosos - oh, quero usar uma palavra que não deixe margem para dúvidas - é necessária a estupidez virtuosa, metrónomos inexoráveis para os espíritos lentos, para que os devotos da fé total permaneçam unidos e prossigam a sua dança: é uma necessidade de primeira linha que tal comanda e exige. Nós, nós somos a excepção e o perigo - temos de andar sempre na defensiva! Bom, há alguma coisa a dizer a favor da excepção, na condição de que ela não queira transformar-se em regra."

Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência (1882)

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