domingo, 18 de abril de 2010
SOU LOUCO, PORTANTO
Quando damos por nós a intuir que a forma como os outros interagem, pensam e actuam nada tem que ver com a forma como nós interagimos, pensamos e actuamos só se pode tirar uma conclusão: não fazemos parte desse mundo. E cria-se, dessa forma, uma espiral de desconexão solitária que num assomo de ascensão ilusória nos liberta da interacção com os que nos rodeiam, por um lado, mas que, por outro, nos mostra claramente que, estando tudo errado, os loucos só poderemos mesmo ser nós. Eu vivo num mundo onde a palavra conta, onde a frontalidade se assume e onde a coragem vibra; vivo num mundo onde as ligações emocionais superam as materiais, onde as coisas valem a pena quando a alma não é pequena. Vivo num mundo onde a mesquinha pequenez atávica e cobarde fica à porta. Mas pelos vistos, esse meu mundo não é mais do que isso mesmo: o meu mundo. Sou louco, portanto.
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de uma "louca" para um querido amigo:
ResponderExcluir"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. "
Beijinhos