quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
RECORDAÇÕES FRIAS
Infelizmente para nós, ocidentais impregnados de iluminada razão, a emoção recebida em dados momentos esconde-se pela cortina de fumo representada pela nossa vontade sobre o que quereríamos que essa emoção recebida fosse. Mas a emoção recebida depende de quem a emite. E nós, no engano da nossa vontade, desejando que alguém deseje, somos levados ao auto-engano. Mas não dura. Porque a memória não engana. Recordamos o que nos acontece e, de repente, mesmo que na altura tenhamos desejado isto ou aquilo, há recordações cheias de emoção, recordações cheias de força; daquelas que nos fazem sentir outra vez; que nos emocionam porque, naquele momento, no instante em que tal recordação foi criada, recebemos algo, sentimentos e emoções, recebemos aquilo que nos preenche e dá sentido à vida. E perante tais recordações emocionamo-nos retribuindo ao vazio aquilo que recebemos. Mas há outras recordações. Existem aquelas que não nos transmitem tais emoções. Recordações que vêm vazias de conteúdo, duas pessoas, um abraço, mas falta ali qualquer coisa: são recordações frias. Podem vir como uma surpresa, mas são o desvendar da realidade da comunhão emocional: não podemos recordar com intensidade algo que não foi vivido com intensidade outra que não a ilusão da nossa própria vontade; não podemos retribuir ao vazio aquilo que não nos foi dado.
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