sexta-feira, 28 de março de 2008

PORTISHEAD LX 27.03.2008 (II)










Eu tomei conhecimento dos Portishead através de uma música ("Roads")que configurava a banda sonora de um obscuro filme de 1995, "Little Criminals". Comprei então o album "Dummy" e rendi-me aos encantos do recém-nascido trip hop, devo ter passado largos meses a ouvir esse álbum quase todos os dias. Quando em 1997 sai "Portishead", fiquei igualmente deslumbrado tornando-se para mim evidente que os Portishead configuravam uma das minhas bandas preferidas. A seguir o regalo de ouvi-los com a orquesta de Nova Iorque (1998). E depois dez anos até sair o novo álbum. Aliás, o álbum ainda não saiu (sai dia 28 de Abril), mas o mundo mudou e agora com a internet e o peer to peer ja podemos ouvir o que a banda de Bristol tem para nos dizer. A música está diferente, admito que não estava à espera, estão mais experimentais, mais agressivos, por isso se a primeira impressão quando comecei a ouvir as novas músicas foi de alguma surpresa, essa surpresa resultou em novo encanto depois de ver e ouvir o concerto de ontem. Fantástico. Para mim o dia 27 de Março, porque nunca se sabe o que a vida nos traz a seguir, há-de ser sempre o dia em que vi os Portishead ao vivo. Espero poder repetir.

"We Carry On" Live



E já agora descobri aqui perdido pelos recantos e encantos do YouTube, um clip do filme "Little Criminals" onde, precisamente nesta cena, ouvi os Portishead pela primeira vez. Aqui fica.


"Roads" em "Little Criminals




Fica o agradecimento à banda de Beth Gibbons (voz fantástica, podemos também encontrá-la no álbum "Cinema" de Rodrigo Leão), de Geoff Barrow (deu o nome à banda da sua cidade natal)e de Adrian Utley (guitarra). Para acabar aqui fica o single frontal de "Third", uma música em que o seu título demonstra tudo. Primeiro estranhei, depois entranhei. Mas ao vivo foi fantástica, pôs o Colisu a vibrar.

"Machine Gun"



E, claro: OBRIGADO RAQUEL! Grande prenda!

quarta-feira, 26 de março de 2008

PORTISHEAD LX 27.03.2008

Amanhã cá estarão os Portishead no Coliseu de Lisboa (hoje é no do Porto)a lançarem a sua digressão mundial de apresentação do seu primeiro disco nos últimos dez anos chamado "Third", com lançamento previsto para o próximo dia 28 de Abril, que sucede assim a Dummy (1994) e Portishead (1997). É uma honra pra nós e um prazer para mim que lá estarei...

Aqui ficam dois novos temas do novo álbum ja apanhado pela net:

"The Rip"



"Hunter"

terça-feira, 25 de março de 2008

BLONDE REDHEAD (II)

"Dr Strangeluv"

LIFE 4 SALE










In DN, 25.03.2008

"Comprador ficará com emprego e amigos de Usher

"Olá, o meu nome é Ian Usher e estou farto da minha vida", é a frase com que o britânico que decidiu vender a sua vida na Internet recebe os visitantes no site www.alife4sale.com. Aos 45 anos, o homem garante não estar a pensar suicidar-se, apenas já não suporta os objectos que lhe lembram a vida que tinha com a ex-mulher na Austrália. E, por isso, decidiu colocar tudo à venda. Mas quem entrar no leilão no site eBay a 29 de Junho não pode comprar só móveis e quadros. Pode levar a casa, o carro, o emprego e até os amigos de Usher.

A base de licitação será de um dólar australiano (60 cêntimos de euro). Mas basta olhar para as fotografias da vivenda do britânico, em Perth, na zona ocidental da Austrália, para ver que os lances vão subir.

"Quando o leilão terminar, vou sair de casa apenas com a roupa do corpo, a carteira e o passaporte", garante Usher, que promete manter os internautas informados sobre o seu destino. Este homem nascido em Darlington, Nordeste de Inglaterra, diz querer mesmo começar do zero.

Mas não hesita em revelar o passado. Depois do liceu, Usher viajou para Israel, onde trabalhou num kibbutz (aldeia comunitária). Formado em Educação, trabalhou para os caminhos-de-ferro antes de se instalar por conta própria. Homem dos sete ofícios, visitou a Austrália pela primeira vez com a namorada, Laura. Casaram em 2000 e, um ano depois, mudaram-se para Perth.

Depois do que define como um "choque", Usher vive agora "sozinho numa casa que foi construída para viver" com a mulher. Mas está empenhado em livrar-se dessas memórias.

E não só. Usher vai "vender" também os amigos. No site, estes explicam como os convenceu a alinhar numa "ideia original" e garantem "estamos ansiosos por fazer novos amigos".

Quanto ao emprego, Usher convenceu a empresa onde trabalha como comercial na venda de tapetes a dar uma oportunidade a quem comprar a sua vida. O vencedor do leilão, terá direito a duas semanas à experiência, renováveis por três meses. Se correr bem, pode obter um emprego fixo. Uma oferta aliciante, cujo desfecho será conhecido a 29 de Junho, quando o leilão terminar."

ANNIE HALL

Um dos maiores filmes de sempre.

HARUKI MURAKAMI, "CRÓNICA DO PÁSSARO DE CORDA"




















"Fui até ao jardim, levantei a tampa do poço e espreitei. Lá dentro reinavam as mesmas trevas profundas de sempre. Conhecia agora muito bem o poço, como se fosse uma extensão do meu próprio corpo: a sua escuridão, o seu cheiro, o seu silêncio haviam-se convertido numa parte de mim. Num certo sentido, conhecia melhor o poço do que conhecia Kumiko. Era evidente que bastava fechar os olhos para me recordar dela, de cada pormenor do seu rosto, do seu corpo, para trazer à memória os seus gestos, a sua maneira de andar. Tinha vivido seis anos com ela na mesma casa. Ao mesmo tempo, porém, tinha a sensação de que havia coisas que diziam respeito a Kumiko que era incapaz de recordar com nitidez. Ou, se calhar, não estava assim tão certo das minhas recordações.
(...) Passava das onze quando, não arranjando mais nada em que pensar, desci pela escada até ao fundo do poço. Como de costume, enchi os pulmões de ar, para verificar a atmosfera: era a mesma de sempre, cheirava a mofo, mas dava para respirar. Às apalpadelas, pus-me a procurar o taco que tinha deixado encostado à parede. O taco não estava lá. O taco não estava em lado nenhum. Tinha desaparecido sem deixar rasto.

Sentei-me no chão, no fundo do poço, e encostei-me à parede.
Suspirei várias vezes. Eram uns suspiros vazios, sem ponta de esperança, como o vento que sopra caprichosamente atravessando por entre vales áridos e sem nome. Depois de ter suspirado tudo, esfreguei as bochechas com ambas as mãos. Quem poderia ter levado dali o taco? Canela? Era a única possibilidade que me vinha à ideia. Mais ninguém sabia da sua existência, e só ele poderia descer ao fundo do poço. Por que carga de água se lembraria Canela de levar o meu taco? Decididamente, era uma coisa que não conseguia compreender - melhor dizendo, era apenas uma das muitas coisas que eu não conseguia compreender.
Não tinha outro remédio senão passar sem o taco. Não havia de ser nada. Vendo bem, o taco não passava de uma espécie de talismã protectos. Mesmo sem ele, de certeza que ia correr tudo bem. «Da primeira vez também não tive problema nenhum para chegar até aquele quarto quarto sem levar protecção, pois não?», pensei para comigo mesmo. Depois de me convencer a mim mesmo, puxei a corda e fechei a tampa do poço. A seguir entrelacei os dedos das mãos em torno dos joelhos e fechei lentamente os olhos no meio da escuridão profunda."

in "A Crónica do Pássaro de Corda" de Haruki Murakami.

ALBERT CAMUS, "O ESTRANGEIRO"




















"Acordei, porque alguém roçou por mim. Por ter fechado os olhos, a sala pareceu-me ainda mais branca. Na minha frente não havia uma única sombra, e cada objecto, cada ângulo, todas as curvas se desenhavam com uma pureza que me fazia mal aos olhos. Foi neste momentoque entraram os amigos da minha mãe. Ao todo, eram uns dez, e passavam em silêncio, nesta luz tão crua. Sentaram-se sem que uma só cadeira rangesse. Eu via-os como nunca vira ninguém até então, e nem um pormenor das suas caras ou dos seus fatos me escapava. Não os ouvia, no entanto, e custava-me crer que fossem reais. Quase todas as mulheres usavam um avental e o cordão que as apertava na cintura mais lhes realçava a barriga inchada. Nunca havia notado que as barrigas das mulheres velhas eram tão grandes. Os homens eram quase todos muito magros e traziam bengalas. O que me impressionava nas suas fisionomias era que eu não lhes via os olhos,l mas unicamente uma luz sem brilho, no meio de um ninho de rugas.Quando se sentaram, a maioria deles olhou-me e abanou a cabeça embaraçadamente, os beiços comidos pelas bocas desdentadas, sem que tivesse percebido, ao certo, se me estavam a cumprimentar ou se era apenas um tique. Julgo que me cumprimentavam. Foi nesse momento que reparei que estavam todos em frente de mim, balançando as cabeças, em volta do porteiro. Por instantes, tive a impressão ridícula de que estavam ali para me julgar.
Pouco depois, uma das mulheres começou a chorar. Estava na segunda fila, escondida pelas outras, e eu não a via muito bem. Chorava dando pequenos gritos, regularmente: parecia-me que nunca mais pararia de chorar. Dava a ideia de que os outros não ouviam. Estavam encolhidos, tristes e silenciosos. Olhavam o caixão, a bengala ou qualquer coisa, e não tiravam os olhos desse único objecto. A mulher continuava a chorar. Eu estava muito admirado porque não a conhecia. Gostaria de não a ouvir mais. Não o ousava dizer, porém. O porteiro debruçou-se sobre ela, falou-lhe, mas ela sacudiu a cabeça, disse qualquer coisa e continuouo a chorar com a mesma regularidade. O porteiro veio então para o meu lado. Sentou-se ao pé de mim. Ao fim de um longo momento, informou-me, sem me olhar: «Era muito amiga da saenhora sua mãe. Diz que era a única amiga que tinha e que fica sem ninguém agora.»
Ficámos assim durante longos instantes. Os suspiros e soluços da mulher iam-se fazendo mais raros. Por fim, calou-se. Eu já não tinha sono, mas estava cansado e doíam-me os rins. Era o silêncio de todas aquelas pessoas que me era penoso, agora. De tempos a tempos, ouvia apenas um ruído estranho e não conseguia compreender de que se tratava. Acabei por adivinhar que alguns dos velhos chupavam o interior das bochechas, deixando escapar esses barulhos esquisitos. Estavam tão absortos nos seus pensamentos que nem davam por isso. Tinha mesmo a impressão de que esta morta, ali deitada, nada significava para eles.Mas, hoje, creio que se tratava de uma impressão falsa."

in "O Estrangeiro" de Albert Camus.

segunda-feira, 10 de março de 2008

THE DECAPITATOR



Londres procura Jack, decapitador de anúncios

por Maria João Espadinha

In DN, 10.03.2008

"Um artista anónimo está a "encher de sangue" as ruas de Londres. O desconhecido está a modificar os anúncios da cidade graças ao Photoshop (software para tratar fotografias), em que corta a cabeça dos protagonistas dos anúncios, dando-lhes um aspecto sangrento e macabro. E nem sequer David Beckham, célebre futebolista inglês, escapa, como se vê nas imagens.

Procura-se Jack, o decapitador de anúncios, diz o jornal El Mundo. O motivo que move o autor é desconhecido, que até agora não se pronunciou sobre a sua "arte". A única evidência é que quiosques, outdoors e até jornais aparecem manchados de sangue. Nenhum espaço publicitário escapa impune ao decapitador, que ataca anúncios de qualquer temática: fast-food, perfumes, seguros, telecomunicações e até filmes.

O artista conseguiu, inclusive, danificar a contracapa do jornal britânico The London Paper, e colocou no YouTube um vídeo em que explica o processo de elaboração do seu feito (http/www.youtube.com/watch?v =1IfGjXibDQs). Encapuzado durante todo o vídeo, este demonstra como não é difícil modificar a contracapa de um jornal para que apareçam por toda a cidade diferentes versões da mesma edição. No original, aparece um sorridente Beckham a promover um novo telemóvel; na versão alterada, o futebolista está decapitado.

O processo é fácil. Tudo começa com o sequestro de um exemplar do jornal. O decapitador digitaliza a página e, graças ao Photoshop, cria a nova imagem do anúncio, com o protagonista sem cabeça. Imprime várias vezes esta imagem e cola-a em vários exemplares do periódico. O último passo consiste em intercalar, antes da distribuição dos jornais nas ruas, alguns destes exemplares falsos entre os jornais originais, fazendo com que o ardina realize o resto do trabalho sem perceber o que aconteceu.

Graças a esta técnica, o decapitador conseguiu que o protagonista do filme Bee Movie, o cozinheiro do KFC e a protagonista do anúncio da Moët &Chandon tenham algo em comum com Beckham: a cabeça cortada.

Na Internet, esta arte tem sido identificada com détournement, um conceito criado pelo capitalismo, distorcendo-o para lhe dar um significado criativo. Há ainda quem ache que se trata de uma acção de marketing viral."

ver os outros ataques do Decapitador aqui