quinta-feira, 12 de novembro de 2009

SOMOS DOIS

"Tenho de dizer que não gosto nem da forma nem da substância da actividade governativa do primeiro-ministro, basicamente porque não lhe reconheço um projecto digno desse nome para o País e porque a arrogância me incomoda. Aliás, sempre entendi a arrogância como uma espécie de fraqueza.
Mas gosto ainda menos de ver uma das mais altas individualidades do Estado envolta em suspeitas e dúvidas (justas ou injustas), corrosivas da confiança dos Cidadãos na Democracia e demolidora para as Instituições. As desgraças dos adversários políticos não me contentam nem um pouco. E ainda se fossemos um País com um tecido social forte, sempre a sociedade teria respostas independentes e lá estaria, por si. Agora, um País habituado a depender dos Poderes Públicos, estando parte das estruturas e agentes políticos, ao mais alto nível, sob suspeita, é insustentável. Há clarificações que a transparência exige. Mesmo que o Governo apareça agora aparentemente tão dócil, tão dialogante, nada apaga esta situação dramática".

Paula Teixeira da Cruz, in CM

PAÍS A SAQUE

A história está toda aqui.

JÁ ERA TEMPO DE ALGUÉM O DEMONSTRAR

Há pouco jornalismo em Portugal que caiba no conceito de jornalismo de investigação.
“Quase nada o que é feito em Portugal cabe no jornalismo de investigação porque se baseia em fontes não identificadas e não garante que as coisas tenham uma verdade. O que sai do jornalismo de investigação tem de ser uma verdade que resiste ao tempo”, defendeu em declarações à Lusa o autor da tese cuja dissertação, orientada pela historiadora Magda Avelar Pinheiro, mereceu 19 valores.(...)
Segundo o trabalho, um jornalismo de investigação foge à agenda institucional ou, quando eventualmente a acompanha, fá-lo com propósitos de denúncia ou de revelação de situações não desejadas pelas entidades que a estabeleceram e selecciona os seus temas entre aqueles cuja relevância pode eventualmente mudar um juízo de valor dominante.(...)
Outro dos pontos da grelha refere que o jornalismo de investigação não é equívoco nem insinua - é afirmativo e factual, fornecendo os elementos necessários para que o público faça livremente o seu juízo de valor ponderado e autónomo."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PORTUGAL É O PAÍS QUE MAIS ENVELHECE NA UE

"Desde 1990 houve 28 milhões de abortos na União Europeia. Tantos como a população de Malta, Luxemburgo, Chipre, Estónia, Eslovénia, Letónia, Lituânia, Irlanda, Finlândia e Eslováquia"
Dá que pensar, no mínimo. A questão do aborto vai também para além dos argumentos de quando começa a vida ou de quando pode - deve haver liberdade de escolha. Há um imperativo categórico simples: Se toda a gente abortasse não nascia ninguém e era o fim da Humanidade. O mesmo imperativo categórico vale para o suicídio. Podem dizer-me que ninguém pode impedir-me de me suicidar mas não me digam que se todos o fizéssemos seria uma coisa 'boa'. Não seria. O problema da nossa sociedade dita 'moderna' é que cada vez mais a ponderação entre o 'bom' e o 'mau' têm menos peso face ao interesse pessoal. E isso para mim é 'mau'. Faz-me , no mínimo, muita confusão ver tantos a defender o direito à escolha, outros a defender o direito à vida quando, sejam os abortos legais ou ilegais, a questão deveria ser sempre como permitir que possibilidades de vida abortadas se transformem em vidas efectivas. E se o argumento de isto ser a 'boa' coisa a fazer de uma perspectiva moral não chega, que sirva o do interesse geral: Precisamos dessas vidas para rejuvenescer a nossa sociedade, para perpetuar a nossa cultura e os nossos valores, para continuar a nossa sociedade, para viabilizar a nossa espécie e, se mais nada serve, para pagar a nossa reforma. No final a diferença será sempre entre o interesse geral e os interesses particulares imediatos. Estes últimos tendem a ser egoístas (e pouco inteligentes pois tendem a ser contrários ao interesse particular a longo prazo, se estivermos todos pior então eu também estarei pior) e, interessante curiosidade, o interesse geral tende a ser 'bom' porque trata do bem de todos. É tão simples e, no entanto, como sempre, o debate fica pela superfície ideológica e dogmática. Ou pelo menos em Portugal, no que ao aborto diz respeito, assim foi. Legalizou-se e mais nada se fez. Típico da solução do menor esforço. A factura segue depois.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

DA ESTUPIDEZ DO INTERESSE AVALORATIVO

Um pequeno exemplo como a acção em nome de interesses particulares mas sem valores éticos e morais (que são universais) se transforma numa acção contrária aos superiores interesses de todos nós.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

HOLANDA VS PORTUGAL (XXII)


Num restaurante em Portugal, no final de uma refeição, somos questionados "se estava bom". Na Holanda perguntam-nos: "did you enjoy?". A diferença é, talvez, subtil mas parece-me que também profunda. Perguntar se estava bom é colocar em questão a qualidade do produto. Se respondermos "não" estamos a dizer que a refeição não era boa. É uma qualificação em relação à refeição. Já no caso holandês pergunta-se se apreciámos, logo a qualificação é em relação à nossa opinião sobre a refeição. Por outras palavras, os holandeses não questionam a qualidade do que servem; já os portugueses fazem (aparentemente) depender a qualidade da refeição que servem da opinião daqueles que a desfrutam. Podemos interpretar esta dicotomia como sendo falta de confiança dos portugueses mas isso não me parece o suficiente porque a comida portuguesa (estou convicto disto) é a melhor do mundo. A questão é outra: Os portugueses perguntam se estava bom porque querem o reconhecimento da qualidade que sabem que têm. E isso é o temperamento de um artista. Os holandeses, por outro lado, seguem uma receita que sabem dar bons resultados. É o traço da organização e do método. O cozinheiro português é um artista romântico. O cozinheiro holandês é um engenheiro eficiente. Sendo que as generalizações são sempre imprecisas, perigosamente vagas e, por vezes, até enganadoras, este traço dicotómico parece-me abrangente à cultura dos dois povos. Um mais romântico e sonhador, outro mais metódico e organizado. Os holandeses são o produto do trabalho árduo de querer sobreviver graças às vantagens da racionalidade humana. Já os portugueses são o sonho improvável de uma terra única e, por isso, um sonho irrepetível. São a corporização da emoção sentimental da luta por uma identidade. São Portugal. Os holandeses querem ser competentes, bem sucedidos e racionais. Já os portugueses querem ser os melhores do mundo e esse sonho romântico é o que faz de nós portugueses. Não tenho dúvidas que falta método e organização em Portugal. Mas isso arranja-se. Já aos holandeses falta-lhes, simplesmente, serem mais portugueses. E isso já não se arranja tão facilmente. Sorte a nossa, azar o deles.

CASCAIS, PORTUGAL