segunda-feira, 18 de março de 2013

A JANELA

Aqui há uns tempos atrás eu falava do quão estreita era a janela de oportunidade para Portugal: entre a inevitabilidade de colocar as contas em dia e o único caminho viável para tal desiderato ser a efectiva reforma do Estado, o caminho era estreito, muito estreito, de facto. Infelizmente, a janela parece estar a fechar-se: temos um Governo que, apesar de voluntarioso, não consegue perceber que a saída da crise passa essencialmente por um abandono do socialismo estatista que nos conduziu à crise e por uma efectiva criação de condições para a economia recuperar: o que o Governo deveria estar a negociar com a troika não deveriam ser mais pontos percentuais no deficit por forma a adiar os cortes da despesa; pelo contrário: deveria negociar prazos mais alargados para deficits se estes fossem motivados por um corte nas receitas fiscais (que acompanhariam os cortes profundos na despesa): aí pedir-se-ia tempo para a economia recuperar, aumentando as receitas no futuro, não por via de aumentos fiscais mas, sim, através do crescimento económico. O tempo que o Governo pede - ao mesmo tempo que a reforma do Estado vai ficando por fazer - é para pagar mais tarde, mais dívida e com uma economia mais depauperada pela extorsão fiscal a que entretanto nos vai obrigando. Assim não vamos lá: com este Estado a economia atrofia logo a espiral recessiva torna-se inevitável. Ao mesmo tempo, o Governo desbaratou o capital político fundamental para garantir lastro às difíceis reformas (que ainda teria que fazer) com, entre medidas difíceis a conta gotas que pouco adiantam no que concerne à cura da doença, a esdrúxula  manutenção do Dr. Relvas no Governo (lá continua e continuará até ao fim). Assim, com diminuída margem de manobra para o mais difícil - que estando por fazer não deixa de ser inevitável - é cada vez mais pequena a possibilidade de sucesso. Para piorar a questão temos uma oposição demagógica, desonesta e profundamente irresponsável que não distingue o interesse nacional da ânsia de voltar ao controlo do Estado (e dos seus negócios) pelo que a ideia de que no PS poderia estar uma ajuda ao resolver da situação é uma quimera tão ridícula quanto considerar que o pasteleiro é o homem certo para ajudar a emagrecer. Pelo caminho, temos uma extrema-esquerda que vale vinte por cento dos votos a afiar as facas para o colapso económico iminente e uma muito salivada eventual oportunidade única para tomas as rédeas à questão. No meio disto tudo ficam os verdadeiros entalados: os Portugueses. Começo seriamente a duvidar da capacidade (ou utilidade) do actual Governo cumprir o seu mandato: de que serve uma retórica liberal se as políticas são as mesmas de sempre, entenda-se, mais e mais impostos ao mesmo tempo que os mesmos de sempre lá vão continuando nos seus negócios à sombra do Estado? Agora, do que não duvido - nem por um segundo! - é da absoluta necessidade de os mandatos parlamentares democraticamente eleitos serem escrupulosamente cumpridos: eleições antecipadas seria o desbaratar completo do positivo que este Governo alcançou. Sobrará, eventualmente, a responsabilidade do Presidente da República. Será que podemos contar com ele? Não sei. Aquilo que sei é que este diagnóstico de Rui Rio continua absolutamente correcto: "para Portugal chegar onde chegou, tiveram de ser cometidos muitos erros. Por desonestidade, porque há pessoas que percebem estar a fazer mal, mas interessa-lhes fazer mal. Por fraqueza de personalidade, porque há quem perceba que tem de ser diferente, mas não tem força interior para combater o que acha que tem de ser combatido. E por pessoas que pensavam estar a fazer bem, mas eram ignorantes".

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