terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O RACISMO E A IGUALDADE

Se alguém num comício se referisse à Chanceler Merckel como "a mais loirinha" ou ao ex-presidente do PSD Marques Mendes como o "mais baixinho" ninguém diria que eram acusações racistas e - ou preconceituosas. No entanto, esse tipo de afirmações não se fazem, e bem, porque se entende que no debate público não interessam as características particulares dos indivíduos: apenas os seus argumentos. Ora, nesse sentido, à primeira vista, as declarações do Arménio Carlos da CGTP sobre o "escurinho" do FMI apenas demonstram a falta de nível e de educação que imperam por aqueles lados. Mas, apesar disso, podemos sempre fazer uma pergunta: porque é que o Arménio Carlos fala do "escurinho" e não fala do "baixinho"? E aí é que está o preconceito escondido: é que para o Arménio Carlos falar do "escurinho" não tem nada de mal (e em si não tem) mas já não compreende que apontar uma característica física de uma pessoa no debate político é uma coisa que não se deve fazer, que ele normalmente não faz e que, apenas neste caso - da raça -, é que resolveu fazer. O que há de racista nas declarações do Sr. Carlos não é o facto, em si mesmo, de apelidar o Sr. Selassie de "escurinho" que configura apenas uma evidente falta de educação: o que é profundamente racista é que o Arménio Carlos não vê nada de mal em apontar questões físicas ao Sr. Selassie quando não o faz a mais ninguém. Ou seja: sentiu-se à vontade para ser mal educado para com o "escurinho" quando não o é para com os "clarinhos". Depois vem o João Soares defender o Arménio Carlos: diz ele que "o etíope é mesmo escurinho". A lógica é exactamente a mesma. Mas há mais: enquanto que estes senhores, porque são de esquerda - logo humanistas e defensores dos pobres e oprimidos -, se sentem à vontade para fazer este tipo de afirmações, já qualquer pessoa de direita que se atrevesse a qualificar quem quer que fosse pelas suas características pessoais seria rapidamente crucificado. Alguém tem dúvidas? Estão a ver um deputado do PSD ou do CDS a chamar "escurinho"a alguém - imagine-se o desplante! - e o que não haveria de vir das bancadas da esquerda. É que aqueles que agora defendem o Arménio Carlos são os mesmos que se assumem como os portentosos arautos da igualdade: são os fiscalizadores do "politicamente correcto" (dos outros); são os defensores das "quotas" e  das "descriminações positivas"; em suma: são os impositores de uma igualdade de facto tão detestável quanto impossível. As declarações do João Soares deixam bem à vista como toda essa suposta igualdade esconde uma noção profundamente preconceituosa do mundo: não só o Sr. Selassie é "escurinho" como é tratado por "etíope" sem merecer ser sequer tratado pelo seu nome. Gostaria o João Soares que algum político alemão se referisse a si publicamente como "o português é mesmo gordinho"? Se calhar não. Mas esta obsessão com as diferenças é intrínseca da esquerda, dita dos valores humanistas. Se não veja-se: a verdade é que apenas se podem dar quotas a quem é escolhido em função da sua diferença. Já pelo contrário, a verdadeira igualdade está em tratar-se as pessoas por igual independentemente de serem brancos ou pretos, mulheres ou homens, altos ou baixos, gordos ou magros. A verdadeira igualdade é a liberdade do estigma: é a indiferença perante a diferença. E é por essa razão que tanto as "quotas igualitárias" como as declarações do Sr. Arménio Carlos configuram um belo exemplo de como a maior hipocrisia vem sempre daqueles que se acham superiores aos demais: os mais racistas acabam por ser afinal aqueles que mais acusam todos os outros de racismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário